Ficamos apenas eu e Martin. Eu por ainda ser menor de idade não podia fazer muita coisa pela empresa. A emancipação que o casamento me deu não mudou o fato de que eu só faria dezoito anos em quatro meses. Martin estava perdido e eu o ajudava no que podia, mas não podia tomar decisão alguma sem a sua presença e nada podia ser assinado por mim, então meu irmão ficou sobrecarregado. Uma certa manhã Sabrina e eu saíamos da empresa após uma reunião com meu irmão, ele precisou da nossa ajuda para um projeto. Como a empresa ficava próximo a nossa casa, optamos por ir a pé. Quando chegávamos em casa notei algo estranho e sai na frente de Sabrina que falava ao celular com o namorado.
Na frente da casa havia muito lixo e nos muros estava pichado dezenas de ofensas. Eu sabia que eram todas para Sabrina por causa do teor das palavras.Eram coisas como:Macaca, Preta imunda, preto tinha que ser escravo, cabelo duro, entre outras coisas horríveis.Sabrina que estava distraída noEu sabia que a calmaria que vivíamos nos últimos dias, ao menos no que se dizia respeito a Estevão, era falsa. Ele estava a solta e provavelmente tramando alguma coisa.Me obriguei a manter a calma. Minha mãe estava num manicômio, minha prima em estado grave num hospital e minha família precisava do meu apoio.Meu aniversário chegou, mas não foi a data feliz que eu imaginei que seria quando eu fizesse dezoito anos. A idade chegou agora, mas a maturidade chegara bem antes disso.Cristian preparou uma festa surpresa com a ajuda de sua mãe e Uli. Sorri, mas não estava realmente feliz. Minha mãe não estava ali participando daquele momento. Meu pai não estava também. Era como se eu não tivesse esse direito. Comemorar mais um ano de vida quando meu pai estava morto, minha mãe doente e minha prima mal. A única pessoa que me restava naquele momento era meu irmão. Martin era minha única família agora. Claro que Cristian e Cristhie eram tudo para mim, mas a lacuna que meu
Estevão estava na cozinha. Uli deixara cair os pratos ao vê-lo ali. Seus cabelos estavam mais compridos, seus olhos tinham um ar abatido de alguém que não dormia há semanas, pude ver isso quando ele se virou para Cristian. O olhar que ele lançou a ele era doentio.-Você!-O que quer aqui Estevão?-Vim até a casa da minha esposa e encontro você aqui?-Ela não é sua esposa.-Chega! Não tenho que te ouvir, vim buscar Belinda.-Ela não vai a lugar nenhum.-Ah ela vai.Ele pegou Uli pelos cabelos e a colocou a frente do corpo, engatilhou uma arma na cabeça dela.-Uli!-Gritei e sai de trás de Cristian.-Belinda não!Estevão olhou para minha barriga e seus olhos se encheram ainda mais de ódio.-Você vai ter outro filho com esse desgraçado?Eu não respondi. Martin chegou de repente.-Mas que...-Quietinho aí cunhado.-Estevão?-Eu mesmo. Aproveita que você entrou e tranca a porta.Martin obedeceu. Estevão ap
Não podia haver momento pior para surgir um problema, mas apenas não podia deixar de me preocupar com minha mãe. Liguei para todos os possíveis lugares que ela podia estar. Estevão ofereceu ajuda e eu rejeitei.-Eu posso cuidar disso sozinha, obrigada.-Se quiser posso mandar alguns contatos meus a encontrarem.-Não é necessário. Eu imagino que tenha ido para uma das residências de minha família. Martin já está se encarregando dela e vai me avisar assim que ela aparecer.-Se você prefere assim.-Prefiro. Meu foco agora é cuidar de você.-Me sinto lisonjeado. - Falou e se aproximou de mim. Seus lábios roçando meu pescoço. Eu fiquei apreensiva. Lutei bravamente para dominar meu ódio. Uma onda de fúria me invadiu, mas eu a mantive sob controle.-Estevão eu...-Eu sei Belinda, não est&aacu
Não se podia negar que eu mesma havia me enfiado naquela confusão. Agi por impulso, mudei, realmente mudei. Talvez a mudança fosse necessária para passar pelo que me aguardava. Eu imagino que eu seria capaz de passar por qualquer coisa, mas não sabendo que perdi a confiança no homem que eu amo. Passamos tantas coisas juntos, nem mesmo a morte foi capaz de nós separar e ainda assim ele não confia em mim. Me sentei novamente ao lado do meu advogado. O julgamento recomeçou e a promotoria chamou duas testemunhas. Eu não ouvi o que elas disseram. Estava divagando a época em que eu era realmente feliz. Fui despertada dos meus devaneios quando meu advogado chamou sua próxima testemunha.Ele entrou e se sentou na mesa das testemunhas. Fez o mesmo juramento que eu, sobre a Bíblia. Ele não me encarou.-Senhor Montesano, conhece essa senhora?-Sim.-E quem é ela?-A minha esposa.-O senhor sabe do que ela está sendo acusada?-Sim. Homicídio.-O senhor acredita que ela tenha cometido esse crime?-Protesto! O que importa o que ele acha?-Negado! Responda a pergunta senhor Montesano.-Não, eu não acredito que ela tenha matado aquele...-Contenha-se senhor Montesano.-Desculpe- me meritissima.-Continue.-Eu não acredito que ela tenha cometido esse crime.-E por que não?-Belinda é incapaz de fazer mal a alguém.Uma chance
Após algum tempo a vida foi voltando ao eixo, não sou capaz de dizer que voltou ao lugar, porque nada volta simplesmente ao lugar depois que foi quebrado em mil pedaços. Mas ao menos pude ver o sorriso de Belinda outra vez. Ela estava radiante. A cada dia mais bonita. Sua mãe se recuperava a olhos vistos e aos poucos todos conseguiram superar suas perdas.Martin estava finalmente livre de seus complexos e assumira seu relacinamento com Lucca.Sabrina que sempre foi inteligente tornou-se uma excelente profissional na sua área. Eu retomei a faculdade, nunca quis ser engenheiro. Eu sonhava em fazer cinema. Então estou cursando o último ano. Já se passaram quatro anos desde o julgamento de Belinda. Ela não fala sobre o tempo que passou na prisão. Eu não insisto.Mas nossa felicidade tinha que ser mais uma vez provada. Nosso amor precisava de mais uma prova.Eu estava na cozinha preparava algo para Bella. Haviam vários dias que ela não estava bem. Algu
Minha mala estava sendo colocada no carro enquanto Belinda me observava. Ela chorava. Eu não era capaz de compreender o motivo dela ter me tirado de sua vida se isso a machucava. Me machucava.Não me despedi dela. Não era realmente uma separação para mim, então eu não via razões para despedidas. Quinze minutos depois eu chegava a casa de minha mãe. Ela não falou comigo. Sabia que eu não queria conversa. Fui direto para meu antigo quarto. Caí na cama na esperança de dormir, mas isso foi impossível. Gordas lágrimas molhavam o meu rosto e travesseiro. Chamei por Belinda, querendo desesperadamente que ela me ouvisse e viesse me buscar. Obviamente ela não ouviria, então gritei. Gritei o mais alto que consegui. Ela não ouviu. Nem minha mãe. Ela não subiu para ver o que havia ocorrido, provavelmente porque já sabia.Não sei ao certo se tomei a decisão correta, mas naquele momento me pareceu, senão a mais correta a mais acertada. Mas isso não impediu minhas lágrimas, nem a vo
Elas estavam deitadas lado a lado. As duas mulheres da minha vida. Ambas pálidas, seus rostos tão belos perderam o brilho da vida. As pessoas a minha volta, apesar de conhecidas, pareciam estranhas para mim. Me olhavam com piedade, sorriam para mim é cochichavam entre si, achando que eu não ouvia. "Coitadinho, está sozinho agora"."Tão moço, pobrezinho"."Deve ser difícil, perder esposa e filha assim, de uma vez só".Eu não me sentia assim. Eu estava só, mas me culpava. A culpa era minha. Eu merecia sofrer. Cada lágrima era pouco para mim. Toquei o rosto frio de Belinda, sua pele que um dia teve a consistência de