Após algum tempo a vida foi voltando ao eixo, não sou capaz de dizer que voltou ao lugar, porque nada volta simplesmente ao lugar depois que foi quebrado em mil pedaços. Mas ao menos pude ver o sorriso de Belinda outra vez. Ela estava radiante. A cada dia mais bonita. Sua mãe se recuperava a olhos vistos e aos poucos todos conseguiram superar suas perdas.
Martin estava finalmente livre de seus complexos e assumira seu relacinamento com Lucca. Sabrina que sempre foi inteligente tornou-se uma excelente profissional na sua área. Eu retomei a faculdade, nunca quis ser engenheiro. Eu sonhava em fazer cinema. Então estou cursando o último ano. Já se passaram quatro anos desde o julgamento de Belinda. Ela não fala sobre o tempo que passou na prisão. Eu não insisto. Mas nossa felicidade tinha que ser mais uma vez provada. Nosso amor precisava de mais uma prova. Eu estava na cozinha preparava algo para Bella. Haviam vários dias que ela não estava bem. AlguMinha mala estava sendo colocada no carro enquanto Belinda me observava. Ela chorava. Eu não era capaz de compreender o motivo dela ter me tirado de sua vida se isso a machucava. Me machucava.Não me despedi dela. Não era realmente uma separação para mim, então eu não via razões para despedidas. Quinze minutos depois eu chegava a casa de minha mãe. Ela não falou comigo. Sabia que eu não queria conversa. Fui direto para meu antigo quarto. Caí na cama na esperança de dormir, mas isso foi impossível. Gordas lágrimas molhavam o meu rosto e travesseiro. Chamei por Belinda, querendo desesperadamente que ela me ouvisse e viesse me buscar. Obviamente ela não ouviria, então gritei. Gritei o mais alto que consegui. Ela não ouviu. Nem minha mãe. Ela não subiu para ver o que havia ocorrido, provavelmente porque já sabia.Não sei ao certo se tomei a decisão correta, mas naquele momento me pareceu, senão a mais correta a mais acertada. Mas isso não impediu minhas lágrimas, nem a vo
Elas estavam deitadas lado a lado. As duas mulheres da minha vida. Ambas pálidas, seus rostos tão belos perderam o brilho da vida. As pessoas a minha volta, apesar de conhecidas, pareciam estranhas para mim. Me olhavam com piedade, sorriam para mim é cochichavam entre si, achando que eu não ouvia. "Coitadinho, está sozinho agora"."Tão moço, pobrezinho"."Deve ser difícil, perder esposa e filha assim, de uma vez só".Eu não me sentia assim. Eu estava só, mas me culpava. A culpa era minha. Eu merecia sofrer. Cada lágrima era pouco para mim. Toquei o rosto frio de Belinda, sua pele que um dia teve a consistência de
Peguei no sono pensando nas causas da perda de memória da minha esposa. Acordei sobressaltado com uma batida na porta. Olhei na direção da cama de Belinda, ela ainda dormia. Bateram na porta novamente e eu me levantei para atender. Era Uli.-Eu trouxe um lanche.-Obrigada Uli.-Ela ainda está dormindo?-Perguntou apoiando a bandeja no criado mudo.-Sim.-Por que não estão no quarto grande?-Ela não quis.A expressão de Uli mostrava dúvida.-Ela não se lembra de nós Uli.-Como não se lembra de nós?-De mim e dela, para ela, nos conhecemos há apenas alguns dias.-Meu bom Deus!-Eu não sei o que fazer.-Se acalme senhor, a menina já o amava nessa época.-Não sei, ela não parece me amar agora.-Ela está confusa. Imagine se o senhor acordasse imaginando ter dezesseis anos e alguem lhe dissesse que tem vinte e um, se casou duas vezes, tem uma filha doente e espera outro, o senhor não ficaria confuso?-Talvez, Uli, mas o que mai
Peguei no sono pensando nas causas da perda de memória da minha esposa. Acordei sobressaltado com uma batida na porta. Olhei na direção da cama de Belinda, ela ainda dormia. Bateram na porta novamente e eu me levantei para atender. Era Uli.-Eu trouxe um lanche.-Obrigada Uli.-Ela ainda está dormindo?-Perguntou apoiando a bandeja no criado mudo.-Sim.-Por que não estão no quarto grande?-Ela não quis.A expressão de Uli mostrava dúvida.-Ela não se lembra de nós Uli.-Como não se lembra de nós?-De mim e dela, para ela, nos conhecemos há apenas alguns dias.-Meu bom Deus!-Eu não sei o que fazer.-Se acalme senhor, a menina já o amava nessa época.-Não sei, ela não parece me amar agora.-Ela está confusa. Imagine se o senhor acordasse imaginando ter dezesseis anos e alguem lhe dissesse que tem vinte e um, se casou duas vezes, tem uma filha doente e espera outro, o senhor não ficaria confuso?-Talvez, Uli, mas o que mai
Eu nem sei por que fiquei. Acho que o desespero no olhar dela me fez ficar. Ou talvez o meu amor é que tenha falado mais alto. Eu não sei, só sei que não fui capaz de deixá-la. Desfiz minhas malas e voltei para sala. Belinda estava sentada ao piano e tocava. Me encostei no corrimão da escada e fiquei observando-a tocar. Ela tocava uma peça melancólica após a outra. Ela estava triste.Me aproximei e no instante que notou minha presença, ela parou de tocar.-Faz tempo que está ai?-Uns dez minutos. Por que parou de tocar?-Não sei...-Eu gosto quando você toca.-Eu também gosto de tocar.-Mas parece triste.-A peça?-Não, você. O que há de errado Bella?-Você nunca mais havia me chamado de Bella.-Você se lembra que eu a chamava assim?-Sim.-Então há esperança.-Sim, há.-Mas você ainda não me disse o que há de errado.-Nós... Eu. Acho que está tudo muito complicado.-Você me pediu para ficar e aqui estou. Mas não quero te v
Me levantei com cuidado para não acordar Cristian. Não resolveu muito. No momento em que eu coloquei os meus pés no chão ele abriu os olhos e me agarrou pela cintura.-Hum. Você cheira muito bem Sra. Montesano.Ser chamada de Sra. Montesano ainda era muito estranho para mim, mas ainda assim eu sorri e dei um gritinho quando ele me puxou para a cama.-Eu preciso ir a casa da minha mãe, Cristian.Ela vai se livrar de algumas coisas e quer minha ajuda.-Você não vai pegar peso, não é?-Claro que não.-Eu acho que eu não quero que você vá - Sussurra ele no meu pescoço.-Venha comigo, então. Assim você ajuda na faxina. Você fica com o peso - Digo sorrindo.-Fechado.A casa da minha mãe parecia o Monte Vesúvio após uma erupção. Haviam caixas e mais caixas com diferentes tipos de quinquilharias. Nós separavamos aquilo que ia ser útil ainda e descartávamos o resto. Eu me perguntava por q
-Ahh!Belinda gritou uma última vez e o choro do bebê encheu meus ouvidos. Aparei Theodore nos meus braços. Com uma das mãos tirei minha camisa e o embrulhei. Logo em seguida a luminosidade que eu vira antes parou ao lado do carro.Era uma ambulância e o policial que me abordara, descia dela com paramédicos.-Eu imaginei que não daria tempo e acionei a emergência.-Obrigada.-Cristian- Belinda sussurrou.Olhei para ela e fui mais uma vez tomado pelo pânico.Sua cor desaparecera totalmente. E ela desfalecia no banco de trás do carro.-Belinda!-Calma, os paramédicos vão cuidar dela.Enquanto eu segurava o bebê, eles cortaram o cordão umbilical e trouxeram uma maca para minha esposa.Colocaram- na na ambulância e eu me sentei ao seu lado. Uma enfermeira se aproximou de mim.-Preciso examinar o bebê.Entreguei meu filho a ela que fez alguns procedimentos. Eu fiquei olhando e ela sorriu.-Isso serve para
Dizem que quando morremos, passa um filme de nossas vidas diante dos nossos olhos. Acho que comigo não seria diferente se isso fosse verdade. Passei por experiências de quase morte por mais vezes do que posso contar. E em nenhuma delas vi filme algum. Mas pensei. Pensei muito em tudo o que havia vivido. E no que havia deixado de viver. Fui feliz. Sei que não estou morta. Não me sinto como se estivesse morta. Mas em um transe profundo do qual não sou capaz de me libertar. Sei disso porque ouço cada palavra que é dita próximo a mim. Ouço o desespero e a angústia de Cristian, o sofrimento da minha família e sinto a falta da minha filha. Minha filha... Minha pequena que estava tão doente. Será que o bebê tinha sido capaz de salvá-la? Queria muito acordar, abrir os olhos e mostrar a todos que estou bem. Mas me sentia cansada, como se meus músculos não me pertencessem