Narrador
— Não estamos namorando mais. — Christofer admitiu, friamente. Em algum momento seu irmão ia saber, de qualquer jeito.
O olhar de Christofer estava perdido.
Aquela revelação explicava por que o mais novo parecia tão derrotado e sem energia. Não era só por causa do ferimento enorme e inflamado em sua perna.
Otávio não sentia tanta empolgação em incomodar seu irmão quando o via assim, tão humilhado e diminuído. Otávio olhou para Christofer com certa incredulidade, seus olhos tremeluziram, como se uma esperança tênue estivesse nascendo.
— Eu sinto muito. — Otávio disse, parecendo realmente lamentar. — Sei o quanto gostava dela.
Como Christofer poderia se sentir sabendo que o motivo de seu término estava ali lamentando algo que ele mesmo causou? E
LucianaSubitamente, senti que aquele era o momento mais importante da minha vida. Eu não saberia explicar.Eu queria tocar a mão dele, mas, diante de seu olhar decepcionado, eu não sabia se poderia. Aquilo me angustiou demais. Ele sempre foi tão doce, tão meu, tão amável.Ele não era mais meu?— Chris… — Eu me aproximei, um pouco incerta se ele queria minha presença ali ou não.— O que você quer? — Ele falou sem vontade. Analisei bem seu rosto, ele me olhou com amargura. Christofer nunca tinha me olhado daquele modo.Ele estava cansado.— Quero saber se está bem. — Falei, analisando-o. Seu rostinho estava lindo como sempre, seus braços pareciam intactos. Acho que o problema foi somente na perna, mesmo. — Você se machucou muito?— Como me achou? &md
LucianaEle me rejeitou.Ele não me queria mais.Como consegui transformar o amor lindo que Christofer sentia por mim em desprezo e rancor?Eu fiz isso com ele.Eu não o merecia.Eu me acostumei a chorar. Chorei no carro, no elevador, e no corredor. Quando cheguei ao meu apartamento, eu já não tinha mais lágrimas. Contudo, precisava chorar mais porque me lembrava dele em toda parte. A cama era o mais difícil. Eu tinha medo de olhar para a cama e minha mente materializá-lo ali como uma miragem.Minha cabeça latejava, eu precisei tomar um dipirona em gotas para fazer efeito mais rápido.— Eu te amo. — Eu repetia, abraçada à almofada da sala. — Eu te amo tanto! Por que demorei tanto a perceber?Aparentemente, eu iria me acostumar a chorar até dormir de agora em diante.Acordar com os ol
LucianaSenti um pouco de ansiedade pela situação em que Christofer nos encontrou. Otávio apertava meu pulso com um pouco de truculência, talvez eu tenha sido um pouco desproporcional em minhas palavras, mas externei apenas os sentimentos horríveis que eu carregava desde que fui enganada por ele.— Chris? — Falei, num tom mínimo. Ele não me olhava, sua atenção era somente em Otávio.Ele me odiava, mesmo.— Mandei soltá-la. — Christofer disse uma vez mais. Eu podia jurar que a veia bifurcada do punho dele estava prestes a explodir, ainda que sua voz fosse invernal.Otávio escarneceu um pouco e me libertou. Ele tinha visto o irmão antes de ouvi-lo, já olhava para trás um segundo antes de eu ouvir a voz do mais novo.Confesso que meu coração me impulsionava a correr at&eacut
NarradorAlessandra estava obstinada a largar a faculdade por um tempo. Ultimamente, tinha se ocupado em distribuir currículos por toda a parte. Queria criar seu filho sozinha. Ela não ia nunca permitir que o maldito do pai se aproximasse da criança, ou sequer pensasse ter algum direito sobre ela algum dia.Ela precisava manter seus planos em segredo. Se Luciana soubesse dos intuitos dela, iria insistir em ajudar, e Alessandra não queria isso. Seu desejo era não depender de ninguém, precisava lidar com as consequências de seus atos, ainda que não fosse a única culpada. Não deixaria ninguém carregar sua cruz.Arrumada para ir à rua com uma roupa discreta, ela ia saindo do prédio. Quando olhou para a calçada, notou alguém sentada ali. Luana estava esperando-a há algum tempo, sem toda aquela aura rebelde ao redor.&mda
NarradorLucas ficou completamente destroçado ao perceber que havia sido um brinquedinho para a vingança de Alessandra e se afastou dela com lágrimas nos olhos. Ele colocou o que tinha nas mãos sobre uma mesinha e limpou o beijo. Seus olhos estavam avermelhados, ele queria chorar.— Sai daqui! — Gritava Luana, apontando para a rua. — Sai da minha casa, sua vagabunda biscate!Ela desceu mais alguns degraus, mas Alessandra já estava indo embora, e disse:— Eu ainda não terminei de me vingar de você, sua tosca! — Respondeu Alessandra, queimando de ódio.Sair daquela casa foi um prazer. Ela fez uma verdadeira bagunça e, com certeza, Luana estava irritada até com o próprio irmão.Foi só colocar o pé na rua que a consciência da ruiva começou a pesar. A sensação se i
Luciana— Você... — Otávio começou a falar olhando para mim, assim que chegou à sala de estar, mas eu o cortei.— Sou a filha da Amélia. — Exclamei abruptamente, antes que ele terminasse de me reconhecer. — Você deve ser o médico que minha mãe chamou. Siga-me, por favor. Vou levá-lo aos aposentos dela.Se Otávio mostrasse que me conhecia, iriam desconfiar que ele poderia me ajudar a fugir. Por sorte, ele entendeu rapidamente o significado da minha atitude.— Imediatamente, senhorita. — Ele fez uma mesura a Maurício e me seguiu.Uma coisa que não posso negar é o profissionalismo de Otávio.No passado, eu confundi essa característica com afeto.Otávio deve ter visto que aquela chácara era bem isolada, provavelmente teve trab
Luciana— O quê? — Christofer indagou, e eu pude sentir a dor imensa em sua voz. Ele não ficou surpreso, ficou amargurado. — Diga que é mentira, Luciana.— Não é o que está pensando! — Tratei de garantir. Era muito simbólico estar na casa do homem por quem já fui apaixonada, o mesmo homem que disse que agora tinha interesse em mim. Ainda mais àquela hora da manhã.— E o que eu estou pensando, Luciana?! — A voz dele estava cheia de rancor. Eu tenho certeza que ele estava esmagando o celular com as mãos.— Chris, eu fui sequestrada. — Soltei de uma vez, para que ele soubesse antes de desligar o telefone na minha cara e tirasse suas próprias conclusões de frases soltas.Ele emudeceu de novo. Eu não sei se a ligação caiu, ou se ele tinha jogado o celular contr
NarradorLuciana acordou um pouco indisposta. Dormir à tarde não era particularmente do agrado dela.Ela se lembrou que estava no apartamento de Christofer, que, por sinal, estava vazio. O relógio da parede marcava 17:32. Não foram muitas horas de sono, mas ajudaram para que a dor dela se aliviasse. Ela encontrou alguns remédios sobre a mesa, gentilmente separados, acompanhados por um copo cheio de água. Eles iriam aliviar sua dor de cabeça. Ela sorriu ao se lembrar de como Christofer era cuidadoso.Ela ingeriu os remédios e sentiu um dissabor pelo gosto amargo. Achou melhor tomar um banho para aliviar o mal-estar. Quando a água caiu em seus cabelos, ela viu um fio levemente avermelhado escorrer por seu corpo novamente. Ainda restava sangue em suas feridas, e ela os limpou pacientemente, sentindo arder um pouco.Após o banho, ela limpou as gotículas