Capítulo 03
Depois de garantir a Emma que estaria lá amanhã, Mark recebeu outra ligação. Dessa vez, foi Sarah, minha melhor amiga.

— Mark, você conseguiu falar com Alice? Ela tem um ultrassom marcado para amanhã de manhã. — A voz preocupada de Sarah soou pelo telefone.

Sarah foi a única que ficou ao meu lado depois que me casei com Mark. Ela era amiga dele primeiro, mas percebeu a verdade por trás de sua máscara.

O único apoio que senti no meu casamento veio da amizade de Sarah.

Mark parou por um momento, então debochou: — Ultrassom? Que ultrassom?

A voz de Sarah ficou incrédula. — O exame de gravidez. Está marcado há semanas. Não me diga que você esqueceu…

— Estou tentando ligar para ela há dias. — Sarah continuou. — Alice não está atendendo minhas ligações e não respondeu a nenhuma das minhas mensagens. Estou ficando preocupada.

Ele debochou mais uma vez. — Preocupada? Sobre o quê? Outra de mentiras dela?

A voz de Sarah ficou incrédula. — Alice é sua esposa, Mark. Ela pode estar grávida de um filho seu. Você não se importa nem um pouco?

Mark a interrompeu com raiva. — Sarah, você era minha amiga primeiro. Não deixe Alice te enganar com suas mentiras. Ela está apenas inventando essa gravidez para evitar ajudar Emma. Ela sempre foi egoísta e manipuladora.

Ouvi Sarah suspirar pelo celular. — Mark, eu te conheço há dez anos, mas me parece estranho agora. O Mark que eu conhecia nunca trataria sua esposa assim.

— Diga a Alice que ela tem uma última chance. — A voz de Mark ficou fria. — Se ela não concordar em doar seu rim para Emma, eu vou pedir o divórcio. Eu não vou deixar o egoísmo dela matar a mulher que eu amo.

A mulher que ele amava não era eu. Nunca seria eu.

Mark desligou antes que Sarah pudesse responder, seu rosto se contorceu de raiva.

Seu colega se aproximou. — Alguma notícia sobre sua esposa? Ouvi dizer que ela não atende ligações há dias.

Ele respondeu com total desinteresse. — Provavelmente escondida em algum lugar, tentando me fazer sentir culpado. Ela é boa em bancar a vítima.

O detetive mais velho balançou a cabeça com tristeza. — Eu estava no seu casamento, Mark. Você estava tão feliz naquela época. O que aconteceu com vocês dois?

Não pude deixar de lembrar daquele primeiro jantar depois do nosso casamento, quando ele me levou para conhecer Emma.

Eu estava usando meu melhor vestido, nervosa sobre conhecer a velha amiga de Mark. Naquela época, eu não sabia que ela era seu primeiro amor.

O restaurante era de luxo, todo de cristal e luz de velas. Emma estava sentada lá como uma rainha, perfeita em seu vestido de grife.

Seu olhar me analisou, os lábios se curvaram em um sorriso inocente e fingido. — Mark, querido, quem é essa... dona?

Eu tinha apenas 23 anos, cinco anos mais jovem que ela. Mas Emma me fez sentir velha e malvestida.

Instantaneamente, o rosto de Mark se tornou sério.

Eu podia ver o constrangimento e a raiva em seus olhos. Não pela crueldade de Emma, mas por eu envergonhar ele diante de seu precioso primeiro amor.

— Alice. — Ele murmurou entre dentes. — Vá para casa e troque de roupa. Você parece que está indo a um mercado e não a um restaurante fino.

Minhas bochechas queimaram de vergonha. O vestido tinha me custado um mês de salário, mas ao lado da roupa elegante de Emma, poderia muito bem ter sido um saco de batatas.

— Eu... eu sinto muito. — Eu sussurrei, lutando contra as lágrimas.

— Vá embora. — Ele respondeu, nem mesmo olhando para mim. — Emma e eu faremos o pedido primeiro. Tente voltar com uma aparência apresentável.

Essa foi a primeira rachadura no meu casamento perfeito.

— Senhor. — Um jovem policial se aproximou com registros de casos. — Eu verifiquei os relatórios, nenhuma pessoa desaparecida foi registrada nos últimos dias.

— Uma esposa desaparecida e a família nem percebeu? — Outro policial se perguntou em voz alta. — Que tipo de relacionamento eles tinham?

— Que tipo de marido não se importa quando sua esposa desaparece? — Mark murmurou.

Suas palavras envolveram meu fantasma, cheias de uma verdade difícil de enfrentar.

Mark se preocupava mais com o cadáver de um estranho, mas nunca pensou em sua esposa desaparecida.

Quando Emma voltou para a cidade pela primeira vez, ele largou tudo para ajudar a se estabelecer.

Mas agora ele suspeitava que meu desaparecimento era apenas mais um truque para chamar sua atenção.

Talvez eu nunca devesse ter me casado com ele.

Este era o lugar de Emma em seu coração, não o meu.

O amor que deveria ter sido meu já havia sido dado a ela anos atrás.

Mark entregou o papel degradado do meu estômago para a equipe forense.

Seu colega hesitou antes de falar. — Você não acha… não acha que algo pode realmente ter acontecido com Alice? Talvez eu devesse investigar…

— Ah, qual é?! — Mark interrompeu. — Você sabe como ela é. Provavelmente está apenas se escondendo, esperando que eu venha implorar. Aposto que vai me ligar amanhã, chorando e se desculpando como sempre.

O que ele não sabia era que não haveria ligação amanhã.

Sem mais lágrimas e desculpas.

Sem mais implorar pelo amor que eu nunca tive.

Meu cadáver estava na mesa deles, e ainda assim, ele não conseguia me ver.

Eu era apenas uma substituta, uma substituta para a mulher que Mark sempre amou.

E agora, como um acessório que não era mais necessário, eu tinha sido descartado.

A única diferença de sempre era que, dessa vez, o descarte era permanente.
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