Capítulo 02
Após a reunião na delegacia, os rostos dos policiais ficaram sérios enquanto ouviram o relatório da autópsia.

— A vítima sofreu tortura extensiva antes da morte. — Explicou o legista, mostrando fotos na tela. — Vários ossos quebrados e abuso constante.

Devido ao estado horrível do meu corpo, o reconhecimento facial foi impossível.

O prédio abandonado não foi a cena principal do crime, o que complicou significativamente a investigação.

Mark estava na frente da sala, com a mandíbula cerrada.

— Investigue toda a área. — Ele ordenou à sua equipe. — Verifique todas as câmeras de segurança em um raio de cinco quilômetros. Alguém deve ter visto alguma coisa.

— Por favor, faça outra autópsia detalhada. — Disse Mark ao colega. — Verifique se há novas descobertas e leve a análise de DNA para o laboratório. Quero saber quem ela é.

Dito isso, ele saiu com sua equipe.

Meu marido demonstrou mais preocupação com um cadáver anônimo do que jamais teve comigo.

Me lembrei do mês passado, quando dei a ele o colar do meu pai, a única coisa que me restava da minha família.

— Esse colar protegeu meu pai por trinta anos. — Eu disse a Mark, colocando o colar em volta do pescoço dele. — Agora ele vai proteger você também.

Ele sorriu naquele momento, um de seus raros sorrisos verdadeiros. Por um momento, pensei que finalmente havia alcançado seu coração.

No entanto, Emma o visitou no dia seguinte.

— Ah, essa coisa velha? — Ela debochou, tocando o pingente. — Parece tão barato, Mark. Você merece algo melhor.

Antes que eu pudesse fazer algo, ela jogou na lata de lixo da cozinha.

Eu dei um tapa nela com força. O som do estalo da minha palma contra sua bochecha ecoou alto em nossa cozinha.

A reação de Mark foi instantânea e violenta. Ele agarrou meu braço, torcendo atrás das minhas costas.

— Você ousa tocar em Emma? — Gritou irritado, seu rosto contorcido de raiva. — Você deveria ser grata por ela falar com você, sua v*dia inútil!

Ele me arrastou para o porão, me jogou escada abaixo e trancou a porta.

Por dois dias, fiquei sentada no escuro. Sem comida e água. Apenas o som da risada de Emma flutuando lá de cima.

Agora, enquanto examinava meu corpo com suas mãos gentis, ele notou: — Uma morte tão trágica. O marido dela deve estar com o coração partido.

Não pude deixar de sorrir amargamente. Meu marido provavelmente celebraria minha morte, ou talvez apenas fingisse lamentar pelas aparências.

Os dedos de Mark, cobertos pelas luvas, traçaram a longa cicatriz nas minhas costas. Sessenta centímetros de tecido elevado, indo do ombro ao quadril.

A cicatriz que ganhei salvando a vida dele em um acidente de carro há dois anos.

Estávamos voltando para casa de um jantar quando um caminhão avançou o sinal vermelho. Eu vi acontecer antes dele.

Eu não pensei, apenas agi. Desafivelei meu cinto de segurança, o empurrei para fora da porta do motorista e assumi o impacto eu mesma.

Mas depois que me recuperei, ele mal conseguia olhar para mim durante o sexo, dizendo que a cicatriz o enojava. — Você não pode usar uma camisa? — Ele falava. — Eu não quero ver essa coisa.

Ele poderia me reconhecer agora através dessa cicatriz que ele tanto desprezava?

Prendi a respiração, observando seu rosto atentamente.

Mas ele simplesmente murmurou: — Lesão antiga. Não relacionada ao assassinato.

Sua voz era clínica, distante. Parecia que isso não era mais que um detalhe em seu arquivo do caso.

De repente, seu assistente gritou: — Detetive, há papel no estômago da vítima!

Os olhos de Mark se arregalaram quando ele o pegou. — Muito degradado pelo ácido estomacal. Envie para a perícia para análise.

Nesse momento, seu celular tocou, o toque especial de Emma.

Mark tirou as luvas e foi para o corredor, com sua voz suavizando instantaneamente.

— Emma? O que há de errado, querida? Estou no trabalho.

— O tratamento de amanhã? Claro que estarei lá.

A voz doce de Emma ecoou pelo celular: — Sei que você está ocupado com este caso. Tudo bem se não puder vir. E, por favor, não force Alice sobre a doação de rim. Entendo se ela não quiser ajudar.

— Eu nunca preferia um caso em vez de você. — Mark respondeu meigamente. — E não se preocupe com Alice. Eu a amarro e a arrasto para o hospital, se for preciso. Alice não pode decidir se vai salvar a sua vida.

— Você é muito gentil. — A voz de Emma disse, com falsa preocupação. — Ouvi dizer que ela está grávida? A coitada deve estar desesperada por atenção.

— Alice não está grávida. — Mark disse. — Só está tentando evitar ajudar você. Mas não vou deixar ela se livrar disso.

Emma suspirou suavemente. — Mesmo assim, tome cuidado, tudo bem? O assassino continua solto. Eu me preocupo com a segurança de todos.

— Só se preocupe com você, querida. Não me importa o que aconteça com Alice, desde que ela não morra antes de te dar o rim.

Sua crueldade torceu meu coração fantasmagórico.

Eles discutiram meu destino tão insensivelmente, sem saber que meu cadáver estava a poucos metros de distância. Sem perceber que o rim de que Emma precisava tão desesperadamente estava agora destruído demais para salvar ela.

Minha morte foi orquestrada por Emma, mas a cegueira do meu marido tornou isso realizável e realizado.

Se ao menos Mark soubesse a verdade, que sua preciosa Emma havia planejado meu assassinato e ele estava examinando o corpo de sua própria esposa.

Mas mesmo se soubesse, ele se importaria? Ou apenas ficaria bravo porque Emma não poderia mais ficar com meu rim?
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