A governanta, o sacerdote-mor e o general, todos sumiram de repente na calada da noite. Os burburinhos e a tensão logo estavam se espalhando pelo palácio, como a nevasca. Contudo, a vitória contra a insurreição na fronteira oeste havia elevado os ânimos, principalmente depois que o rei anunciou que daria uma grande festa. A verdade era que desejava mostrar a Eslen que ainda estava no controle. Mal sabia ele que era exatamente isso que o cunhado desejava. Sentado sobre a muralha, um sorriso se formava ao ver um de seus homens de confiança se aproximando dos barris de vinho. Seria uma noite agitada. Pela primeira vez, quis visitar o memorial para a irmã. Caminhou lentamente pelo local, tendo cuidado de não pisar nas flores que se enramavam pelo chão, e então, fitou o túmulo com seus olhos secos, sem lágrimas. Deslizou seus dedos gentilmente pelo granito branco, fechou os olhos, reforçando seu juramento e então, sentiu a noiva recostando a cabeça entre os músculos de suas escápulas. Q
A verdade era que os contos de fadas não terminam no “final feliz”. Havia muito depois dele. E isso ficou bem evidente quando, após Eslen ascender ao trono, viu-se cheio de trabalho a fazer. O casamento foi apressado e não houve sequer festa, apenas oficializaram numa pequena capela. Sua primeira ação foi ouvir o povo.Sentado em seu gabinete, lia todos os documentos enviados pelos guardas e não demorou muito para chegar à conclusão de que as reivindicações eram somente o que já lhes era de direito.“Como conseguem pagar todos esses impostos e ainda comer?”, pensou consigo mesmo, ficando mais irritado ainda com o antigo monarca.Foi tirado de seus devaneios quando os assessores o informaram sobre o início dos julgamentos. Sentou-se em seu trono e esperou. A primeira ré era uma mulher de aparência cansada, acompanhada por duas crianças magras, todas usando roupas surradas. – Majestade… – ela murmurou, seus olhos baixos, sem conseguir encará-lo. – Por favor, não me prenda, irei pagar
Foi necessário empregar bons meses trabalhando na recuperação da população, agricultura e, enfim, da expansão no comércio. Quase deixaram os cofres reais vazios, mas valeu a pena.Agora o importante era reconquistar a confiança dos reinos vizinhos. A primeira reunião estava próxima e a ansiedade aumentava a cada dia. Naquela manhã, enquanto caminhava pelos corredores do palácio, Eslen notou a esposa no jardim e rapidamente foi assolado pela sensação de que ela não estava bem. – Um momento – disse aos conselheiros, e se aproximou dela. – Sentindo-se sozinha? – perguntou por suas costas. – Não. Quero dizer, não é isso – ela murmurou, ainda perdida em seus pensamentos.E como ele permaneceu em silêncio, apenas ouvindo, ela continuou:– É que não é um bom momento…As palavras saiam num tom decrescente, ao mesmo tempo em que seus olhos desciam para o próprio ventre. E ao ver isso, o rei arregalou os olhos.– Eu vou ser pai? – perguntou surpreso e então, um grande sorriso surgiu em seu
Caminhando pelos corredores escuros do castelo, equilibrando a lamparina sobre seus pesados livros, Rosely pensava no que poderia fazer para ajudar o marido quando, de repente, sentiu um par de mãos puxando-a para dentro de uma sala adjacente. Quase gritou com o susto, derrubando tudo no chão, e então, apertou o peito aliviada ao reconhecer de quem se tratava.– Ser rei está me deixando louco – Eslen desabafou baixinho, enfiando o rosto entre o ombro e o pescoço da esposa.– E você tem guardado tudo para si mesmo… – ela respondeu com um sorriso gentil, aproveitando a proximidade para acariciar os cabelos dele.Sentiu seu corpo sendo erguido do chão e quando deu por si, estava tendo suas costas depositadas nas almofadas confortáveis da sala de estudo. Suspirou, sentindo-o colar o rosto ao seu ventre, já bem mais aparente e aproveitou aquele momento tão necessário.– Quero te ver em vestimentas de gestante – ele disse de repente, esboçando um sorrisinho de pai orgulhoso.– Ora, não me l
Rosely viu, com surpresa, como, mesmo assolado por uma variedade de sintomas causados pelo veneno, Eslen continuava a trabalhar como se nada tivesse acontecido. E diante disso, ela pensou consigo mesma que precisava fazer algo a respeito.Remexeu nos pergaminhos enviados por Carolle.E assim, se seguiu uma série de noites em claro em seu quarto de estudo, tentando encontrar um antídoto que conseguisse neutralizar todas as toxinas identificadas. Havia conseguido neutralizadores para quase todas elas, exceto quatro – que, por algum motivo estranho –, mesmo sabendo do que se tratava, os reagentes conhecidos não funcionavam.Estava tão frustrada. Contudo, não teve tempo de se desanimar, pois, um burburinho começou a soar pelos corredores. Deixou o quarto, parando apenas para prestar atenção no que as empregadas conversavam e arregalou os olhos ao perceber que elas estavam falando sobre o veneno. Aparentemente, o culpado por trazê-lo para dentro do palácio havia sido encontrado.Entrou no
Rosely sentia seus ombros doloridos. Havia tanto em sua cabeça: o bebê chutando pela primeira vez, o veneno que ainda corria nas veias de seu amado, o medo de seus pais estarem certos… tantos problemas que a deixavam exausta. E para piorar, ainda precisava decidir se Bjorn era um aliado ou inimigo.Mal o dia amanheceu e já estava na loja de especiarias, feliz, pois, finalmente, havia conseguido preparar uma poção eficiente o suficiente para neutralizar o efeito de todas as toxinas.– Fico feliz em ajudar, mas preciso dizer que isso sairá caro – disse o alquimista depois de um tempo. – Digo, por conta dos altos impostos.– Impostos? – ela repetiu. – Pensei que numa vila tão pequena os impostos fossem menores.A verdade é que ela queria mais informações sobre o que o que havia ouvido na taverna.– Você é da capital, imagino – ele comentou com um sorriso de agastamento. – Isso é uma terra sem lei. Tenha os contatos certos e veja os olhos se fecharem para os seus delitos.E como ela apen
Rosely ouviu a decisão do marido e sorriu com orgulho, estava impressionada com o quanto ele vinha tomando boas decisões, melhorando a vida de seu povo sem ter que derramar sangue, ou mesmo usar a força. Os livros sobre diplomacia estavam sendo realmente úteis.Como de costume, retomou seu caminho pelos corredores do castelo, carregando seus pesados livros de feitiços. Acomodou-se com gazebo, sentindo o cheiro de pinho e abriu um antigo codex sobre fantasmas e aparições, lembrando-se do vulto que, constantemente retornava aos seus pensamentos.Era normal que lugares antigos tivessem espíritos, mas esse realmente parecia pedir ajuda.Foi tirada de seus devaneios quando uma moça se aproximou, enchendo uma xícara de chá e deixando-a sobre a mesinha rente à cadeira, e teria ido embora se não tivesse sido chamada. – Senhora? – questionou com um olhar acanhado. – Há algo mais em que possa ajudá-la?– Na verdade, há sim – Rosely concordou, sentando-se para observá-la. – Das servas, há algum
– Quem diria, dona Rosely agora é a rainha – Eleonore comentou com um sorriso grande depois de ler a carta enviada pela patroa. – Deve ser legal viver em um conto de fadas.– Não seja tão ingênua – o marido resmungou, mesmo que, até então, estivesse apenas ouvindo o que ela dizia. – As coisas devem estar um inferno depois de um golpe de estado, mesmo que tecnicamente o trono fosse dele por direito. O sorriso sumiu do rosto dela.– Queria acreditar que finalmente ela estava tendo bons momentos. – murmurou, agora olhando para as próprias mãos apoiadas no colo.Millan abriu a boca, sem ter certeza do que deveria dizer, mas a conversa foi interrompida quando o pequeno Thomas surgiu na cozinha, carregando com dificuldade uma cesta de amoras. Ao seu lado, Charlotte o acompanhava, como sempre, com Sebastian em seu encalço.– Está com fome? – Millan perguntou com um grande sorriso enquanto pegava o filho nos braços. – Vamos lavar as mãos.Eleonore o viu se afastando, acompanhado por Sebasti