O jantar estava quase terminando quando Ingrid, sentada à mesa com Ronald, finalmente decidiu revelar a notícia que tanto aguardava. Ela havia planejado cuidadosamente como diria a ele, buscando a forma mais natural de abordar o assunto, mas mesmo assim seu coração batia forte. Respirando fundo, ela falou com uma voz calma, porém determinada. — Ronald, apareceu uma oportunidade maravilhosa — começou ela, forçando um sorriso que misturava excitação com apreensão. — Uma turnê de desfiles pela Europa. E como estou no começo da gravidez, acho que seria perfeito aproveitar essa chance antes de a gestação avançar. Ronald, que estava distraído com o final da refeição, parou abruptamente. O choque foi evidente em seus olhos. Ele olhou para Ingrid, tentando processar o que ela acabara de dizer. Desfiles internacionais? Grávida? As palavras não combinavam. — Ingrid, você está falando sério? — Ele perguntou, sem esconder a incredulidade em sua voz. — Como você pretende viajar para o exterior
Ingrid chegou à Itália em uma manhã ensolarada, o ar mediterrâneo tocando suavemente seu rosto enquanto o motorista a levava até o hotel luxuoso onde ficaria hospedada durante a turnê. O Grand Hotel di Milano era imponente, com sua fachada de mármore branco e detalhes em ouro que exalavam elegância . Ao chegar, foi recebida com um tratamento de estrela, e ao entrar no saguão, avistou algumas das modelos mais famosas do mundo, todas ali para o mesmo propósito: a turnê de desfiles que percorreria a Europa. Ela se sentiu poderosa naquele ambiente. Afinal, aquele era o seu mundo, o mundo pelo qual tanto havia lutado. Ingrid sorriu ao se lembrar de tudo o que deixara para trás no Brasil, e com um breve suspiro de alívio, pensou que estava exatamente onde deveria estar. Naquela noite, uma reunião foi convocada com o famoso diretor Richard Willians. Ele, conhecido por sua exigência e perfeccionismo, entrou na sala com uma presença magnética, e todas as modelos pararam de falar ao vê-lo. Ri
Com Ingrid no exterior, Ronald finalmente começava a se sentir mais leve. Era uma sensação estranha, como se uma nuvem pesada que pairava sobre sua vida tivesse desaparecido por um tempo. Ele não conseguia entender por que a presença de Ingrid o incomodava tanto, mas sabia que, desde sua partida, a paz reinava dentro dele. Enquanto isso, Carla continuava suas visitas regulares à casa de Hermínio, onde ele fazia suas sessões de fisioterapia. Hermínio, sempre rabugento no início, já havia começado a se afeiçoar a Carla de maneira inesperada. E naquele dia, após o término da sessão, Hermínio, sentado em sua poltrona favorita, parecia pensativo. Ele olhou para Carla com uma expressão de tristeza misturada com arrependimento, como se algo estivesse prestes a explodir dentro dele. — Carla, sente-se aqui por um momento — pediu Hermínio, com um tom mais suave do que o habitual. Carla, sem saber o que esperar, obedeceu e se sentou à sua frente. Ele a olhou por um longo tempo antes de começa
Depois da intensa conversa com Hermínio e de testemunhar o mal-estar que ele sofrera, Carla não conseguiu tirar uma ideia da cabeça: a verdade sobre Davi. Durante todos aqueles anos, ela guardara o segredo de que Ronald era o pai de seu filho, e agora, com Hermínio tão frágil e vulnerável, o peso do segredo parecia insuportável. A culpa a consumia. Ela sabia que Hermínio merecia conhecer o bisneto antes que fosse tarde demais. Naquela mesma noite, Carla tomou uma decisão. Ela não podia mais carregar esse fardo. Davi era fruto de seu relacionamento com Ronald, e Hermínio, com sua saúde cada vez mais delicada, precisava conhecer o bisneto. Então ela telefonou para Hermínio no dia seguinte. — Hermínio, eu queria te avisar que vou almoçar no domingo, na sua casa, tenho uma surpresa para você que eu acho que vai adorar — disse ela, com um leve sorriso, tentando esconder a tensão em sua voz — Surpresa? Do que se trata, Carla? — Você vai ver no domingo. Prometo que vai gostar. Ela já s
O domingo amanheceu sereno, mas dentro da casa de Hermínio, a atmosfera era de pura expectativa. Ronald e Hermínio estavam impacientes, cada um perdido em pensamentos sobre a tal surpresa que Carla prometera. Hermínio, sentado em sua poltrona habitual, tentava disfarçar a ansiedade, mas seu olhar estava fixo na porta. A cada som, ele se mexia na cadeira, como se esperasse que Carla entrasse a qualquer momento com a resposta para seus mistérios. Pouco antes do horário combinado, o cardiologista de Hermínio chegou. Seu semblante sério contrastava com a calma que tentava transmitir ao paciente. — Hermínio, vim mais cedo hoje. Quero ter certeza de que você está bem antes desse almoço importante — disse o médico, ajeitando sua maleta e aproximando-se de Hermínio, que franziu a testa, agora mais intrigado do que nunca. — Médico? Eu estou bem... por que tanta precaução? — Hermínio questionou, a impaciência transbordando em sua voz. O médico sorriu, tentando acalmá-lo. — Sabemos que emoç
Davi corria pelo jardim com uma energia contagiante, sua risada ecoando pelo vasto quintal da casa de Hermínio. O menino estava radiante com a presença de Ronald e Hermínio, especialmente ao ver como o bisavô, que antes parecia tão frágil, agora se movia com uma disposição renovada. Hermínio, ao lado de Ronald, apoiava-se no andador, mas a expressão em seu rosto era de pura felicidade. Ele parecia ter rejuvenescido vários anos em questão de minutos, como se a chegada de Davi tivesse lhe dado um novo motivo para viver. — Você viu isso, Ronald? — Hermínio disse com uma risada leve, os olhos fixos no bisneto que explorava o jardim. — Acho que esse menino vai me manter vivo por muitos anos ainda. Ronald sorriu, emocionado ao ver o avô tão cheio de vida. O cardiologista, que havia ficado por perto para garantir que tudo estava bem, observava a cena com um sorriso discreto. Ele, também tocado pela emoção do momento, percebeu que Hermínio estava estável, e decidiu que era hora de partir.
Ronald acompanhou Carla até sua casa, ele foi para buscar a mala de Davi que iria passar uma semana na casa de a Ronald e Hermínio seu bisavô que acabará de conhecer. Carla e Ronald agora estavam no quarto de Davi, cercados por brinquedos e pequenos pertences espalhados pelo chão. O clima era carregado, não de tensão, mas de algo que ainda oscilava entre o alívio e o desconforto. O silêncio entre eles durava apenas alguns segundos, mas parecia se estender muito mais. Ronald, com uma camisa casual e o semblante pensativo, olhou para Carla enquanto ela dobrava uma pequena camiseta de Davi. Ele, finalmente, quebrou o silêncio. — Carla, eu ainda tenho que me acostumar com essa ideia de já ter um filho. — disse Ronald, a voz um pouco hesitante, mas com um tom sincero. — Mas confesso que me sinto muito feliz. — Um leve sorriso atravessou seu rosto, algo raro em meio à complexidade dos sentimentos que o envolviam. Carla, parada à frente da cama de Davi, sentiu um nó se formar em sua garg
Na casa de Hermínio, a presença de Davi trouxe uma nova energia. O garoto corria pelos amplos corredores da mansão, explorando cada canto como se estivesse em uma grande aventura. Para Hermínio, que até poucos dias atrás nunca havia conhecido o bisneto, essa semana estava sendo como um presente inesperado. Ele observava Davi com um olhar misto de curiosidade e afeto, admirando a vitalidade e inocência da criança. Às vezes, Hermínio se via pensando em tudo o que havia perdido ao longo dos anos, mas tentava não deixar que esses pensamentos dominassem o momento. Zefa, a fiel governanta, estava sempre por perto, ajudando a cuidar tanto de Hermínio quanto de Davi. Ela, que sempre teve um carinho especial por Ronald, agora se via encantada pelo pequeno Davi, ajudando-o com as refeições, acompanhando suas brincadeiras, e, claro, zelando pela saúde e bem-estar de Hermínio, que ainda estava em processo de recuperação. Era uma rotina cansativa, mas Zefa estava feliz com a novidade que o menino