Era meio-dia, de sexta. Hanna estava deitada no sofá da sala de sua casa, olhando para o teto. Uma enxaqueca forte atormentava sua mente cansada, proveniente da bebedeira da noite anterior, lhe proibindo de fechar seus olhos e cair em um sono tão necessitado. Ela suspirou fundo, tentando mais uma vez recordar dos acontecimentos depois de ver Noah e Jéssica juntos.
Não conseguiu se lembrar de muito — e a maioria do que se lembrava eram apenas borrões e conversas ininteligíveis. Nada parecia fazer sentido, além de, claro, o que ela tinha visto antes de cair na bebedeira. Pensando bem, isso também não era muito esclarecedor. Aquela aproximação podia ser qualquer coisa, e não algo tão íntimo como imaginava.Se fosse, talvez estivesse julgando Noah mal? Era mais que provável, principalmente quando — alguns de seus borrões mais "claros" — eram ele ao seu lado na piscina da festa e em outro lugar à beira mar. Se ele estava com ela, mesmo que não se recordasse do conteúdoO vento chicoteava com maestria as copas das árvores ao pé da colina. O cheiro da maresia adentrava suas narinas à medida que ela se aproximava de seu topo. Sem fôlego, Hanna parou um pouco para descansar. Logo olhou para o céu colorido, buscando algo que não sabia se iria achar. O dia já estava em seu final e tudo indicava que logo a noite iria cair sobre eles. Apesar disso, ainda restavam alguns resquícios de luz brilhando em meio às nuvens em tom lilás. Mesmo estando muito bem agasalhada, Hanna ainda era capaz de sentir o frio penetrando lentamente em sua pele por baixo do tecido grosso.Ela esfregou suas mãos e olhou para frente. Noah andava lentamente em direção à colina, sem se preocupar se ela estava ou não o seguindo. Ela suspirou. Já era domingo, o dia que faria a tal pergunta a Bellini e tentaria entender todos os mistérios que Jéssica, propositalmente, havia colocado em sua cabeça. Ir até ali não foi uma decisão fácil. Por mais que quisesse re
Hanna não sabia o que pensar. Era tanta coisa atormentando sua mente, lhe privando de ter um pouco de paz e sossego que já não conseguia dormir direito. Já fazia quase duas semanas desde a conversa com Noah na colina, e mesmo assim ainda não tinha conseguido digerir todas as informações que foram jogadas para cima dela sem aviso prévio. Como ele foi capaz de fazer tudo aquilo?E ela? Realmente tinha o direito de ficar irritada, de julgá-lo, por tudo isso?Era evidente que não possuía as respostas. Só sentia um turbilhão de emoções incoerentes e já não tinha certeza se estava decepcionada com Bellini ou consigo mesma. Ele apenas fez algo que ela já havia pensado em fazer, e isso não a tornava melhor ou pior, apenas igual a ele.Fiore suspirou, balançando a cabeça. Às escuras olheiras abaixo de seus olhos evidenciavam as péssimas noites de sono que havia tendo desde àquela conversa. Já não sorria, desde então. Também não estava comendo direito, e i
Além de Hanna, naquele dia, havia mais quatro aprendizes de padeiro para ajudar a testar os eletrodomésticos. Dentre eles, um rosto conhecido por ela se destacava. Noemi, vestida com um avental branco sobre seu vestido verde, atraía os olhares de todos que passavam por ela. Fiore não soube como reagir ao ver uma Bellini ali, tão distraída e calma ao mesmo tempo. Se antes pretendia fazer qualquer coisa e se divertir — como seu pai havia lhe dito —, agora já não possuía essa capacidade.Como agir naturalmente perto de Noemi depois de tudo que havia acontecido entre ela e Noah? Soava impossível, ou algo bem próximo disso. Hanna tremia demais para saber.— Você está bem, filha? — Dominic perguntou, olhando de forma preocupada para Hanna. Ela piscou, percebendo que ele havia notado seu desespero.— E-Estou — gaguejou, respirando pesadamente.— Não parece.— Não se preocupe, eu só vi um rosto familiar e indesejado.— Aquela ruiva ali?
Os dias passaram mais rápidos do que Hanna desejava. Logo, já era sexta-feira, primeiro dia da festa de aniversário de Marjorie e, também, da preliminar da competição dos padeiros da cidade. Ela estava ansiosa, preocupada se conseguiria ou não ter bons resultados. Era verdade que, depois de seu encontro com Noemi e Ana, ela estava em um misto de confusão e animação. A ruiva havia lhe deixado desnorteada e com mais perguntas sem respostas — ou que ela não queria responder, não ainda. Já a morena havia a ajudado a relaxar, pela primeira vez em tempos. Com isso, havia conseguido se concentrar mais nos treinos propostos por Emma nos dias seguintes. Havia conseguido obter bons resultados aos olhos de sua mãe — algo que era um alívio, considerando a fera exigente que essa era.Balançando a cabeça, Hanna olhou para seus três amigos que lhe acompanhavam naquele momento. Eros estava vestido com seu habitual colete marrom, calças pretas e uma regata amarela. Estava escorado
O sol já estava quase no centro do céu quando Hanna colocou, novamente, seus pés na sala destinada aos quatro participantes restantes da competição de padeiros e confeiteiros de Marjorie. Ela estava ansiosa. Via seus adversários — dois deles — conversando e discutindo sobre qual seria a base da fase que aconteceria em, exatos, vinte minutos.Ela não conseguia entender como eles conseguiam agir naturalmente, daquele jeito, diante de uma pressão enorme. Principalmente, não conseguia acreditar que Bellini estava atrasado. Bem, era isso que ela imaginava ao não vê-lo ali com eles. Se não fosse isso, então tinha a opção de não ficar ali, roendo suas unhas de nervosismo e quase arrancando seus cabelos por não saber o que esperar quando saísse para o lado de fora?Queria acreditar que tinha, mesmo que não ousava perguntar a nenhum dos presentes ali se realmente podia sair e tomar um ar sem se preocupar de ser desclassificada no processo. Fiore suspirou, com a ca
Aquela tarde de sábado passou tão rápido quanto a do dia anterior. Logo o cronômetro já marcava seus últimos minutos, os competidores já demonstravam exaustão e, todos os presentes, já estavam saboreando alguma das iguarias feitas por eles. Os dois apresentadores narravam com afinco cada movimento daqueles que eram julgados. A plateia vibrava quando o som de um aumento, ou diminuição, aparecia no telão à sua frente. Naquele ponto, alguns já tinham consciência de como seria a final. Outros, por sua vez, ficavam cada vez mais indignados com o resultado. Com certeza, aquilo não estava em seus planos.Quando estava faltando dez minutos para o fim, a luz do telão se apagou e deixou a plateia inerte. Agora eles não teriam a oportunidade de saber, em primeira mão, quem seriam os finalistas. Estavam no mesmo barco dos aflitos participantes, que ainda davam tudo de si ao colocar sobre uma bandeja de metal tudo que haviam produzido. Hanna ainda tentava, em um últ
Hanna estava ansiosa. O domingo mal tinha começado e ela já não sabia o que fazer. A competição seria somente no início da tarde e isso significava angustiantes horas sem conseguir relaxar ou se preparar direito.Era terrível, principalmente quando estava sentada no sofá, vendo uma reportagem sobre o clima instável de Marjorie e as possíveis chances de chuva — mesmo com o dia estando ensolarado —, com sua mãe sentada à sua frente, lhe encarando em silêncio e com uma expressão mais aterrorizante do que qualquer outra que ela já tivesse visto em toda a sua curta vida.— Mãe, pode parar de me olhar assim? — Hanna pediu, pela vigésima vez naquela manhã. Emma balançou a cabeça, negando-se a mudar de posição. — É sério, mãe. Isso está me assustando.— Queria poder dizer que essa é a intenção, mas não é — Emma murmurou, aprumando seu corpo. — Então, o que é?— Apenas vi algo que me deixou perplexa — disse, suspirando. — O que aquele… filho de l
O cronômetro zerou assim que Hanna colocou sobre a mesa seu Mont-blanc, decorado com todas as regalias que o doce pedia. Ela estava satisfeita, apesar de toda a ansiedade que consumia seu corpo durante sua preparação e que sempre roubava sua concentração. Não sabia se tinha conseguido cumprir com as expectativas postas sobre ela, muito menos se ganharia ou, no mínimo, empataria com Noah, para, assim, manter a honra e glória dos Fiore.No entanto, isso já não importava. Ela só queria ser libertada daquele lugar, o que não demorou muito a acontecer; logo Marco pediu para que ela e Bellini se retirassem e só aparecessem ali quando o nome do vencedor fosse revelado.Ela não hesitou em nenhum momento em caminhar em direção ao camarim destinado aos competidores, evitando ser notada por Emma e tentando, ao mesmo tempo, ver para onde Noah seguia após ser dispensado dali.Para sua sorte, ou não, seus olhos castanhos o encontrou bem no momento que este entrava na ár