Além de Hanna, naquele dia, havia mais quatro aprendizes de padeiro para ajudar a testar os eletrodomésticos. Dentre eles, um rosto conhecido por ela se destacava. Noemi, vestida com um avental branco sobre seu vestido verde, atraía os olhares de todos que passavam por ela. Fiore não soube como reagir ao ver uma Bellini ali, tão distraída e calma ao mesmo tempo. Se antes pretendia fazer qualquer coisa e se divertir — como seu pai havia lhe dito —, agora já não possuía essa capacidade.
Como agir naturalmente perto de Noemi depois de tudo que havia acontecido entre ela e Noah? Soava impossível, ou algo bem próximo disso. Hanna tremia demais para saber.— Você está bem, filha? — Dominic perguntou, olhando de forma preocupada para Hanna. Ela piscou, percebendo que ele havia notado seu desespero.— E-Estou — gaguejou, respirando pesadamente.— Não parece.— Não se preocupe, eu só vi um rosto familiar e indesejado.— Aquela ruiva ali?Os dias passaram mais rápidos do que Hanna desejava. Logo, já era sexta-feira, primeiro dia da festa de aniversário de Marjorie e, também, da preliminar da competição dos padeiros da cidade. Ela estava ansiosa, preocupada se conseguiria ou não ter bons resultados. Era verdade que, depois de seu encontro com Noemi e Ana, ela estava em um misto de confusão e animação. A ruiva havia lhe deixado desnorteada e com mais perguntas sem respostas — ou que ela não queria responder, não ainda. Já a morena havia a ajudado a relaxar, pela primeira vez em tempos. Com isso, havia conseguido se concentrar mais nos treinos propostos por Emma nos dias seguintes. Havia conseguido obter bons resultados aos olhos de sua mãe — algo que era um alívio, considerando a fera exigente que essa era.Balançando a cabeça, Hanna olhou para seus três amigos que lhe acompanhavam naquele momento. Eros estava vestido com seu habitual colete marrom, calças pretas e uma regata amarela. Estava escorado
O sol já estava quase no centro do céu quando Hanna colocou, novamente, seus pés na sala destinada aos quatro participantes restantes da competição de padeiros e confeiteiros de Marjorie. Ela estava ansiosa. Via seus adversários — dois deles — conversando e discutindo sobre qual seria a base da fase que aconteceria em, exatos, vinte minutos.Ela não conseguia entender como eles conseguiam agir naturalmente, daquele jeito, diante de uma pressão enorme. Principalmente, não conseguia acreditar que Bellini estava atrasado. Bem, era isso que ela imaginava ao não vê-lo ali com eles. Se não fosse isso, então tinha a opção de não ficar ali, roendo suas unhas de nervosismo e quase arrancando seus cabelos por não saber o que esperar quando saísse para o lado de fora?Queria acreditar que tinha, mesmo que não ousava perguntar a nenhum dos presentes ali se realmente podia sair e tomar um ar sem se preocupar de ser desclassificada no processo. Fiore suspirou, com a ca
Aquela tarde de sábado passou tão rápido quanto a do dia anterior. Logo o cronômetro já marcava seus últimos minutos, os competidores já demonstravam exaustão e, todos os presentes, já estavam saboreando alguma das iguarias feitas por eles. Os dois apresentadores narravam com afinco cada movimento daqueles que eram julgados. A plateia vibrava quando o som de um aumento, ou diminuição, aparecia no telão à sua frente. Naquele ponto, alguns já tinham consciência de como seria a final. Outros, por sua vez, ficavam cada vez mais indignados com o resultado. Com certeza, aquilo não estava em seus planos.Quando estava faltando dez minutos para o fim, a luz do telão se apagou e deixou a plateia inerte. Agora eles não teriam a oportunidade de saber, em primeira mão, quem seriam os finalistas. Estavam no mesmo barco dos aflitos participantes, que ainda davam tudo de si ao colocar sobre uma bandeja de metal tudo que haviam produzido. Hanna ainda tentava, em um últ
Hanna estava ansiosa. O domingo mal tinha começado e ela já não sabia o que fazer. A competição seria somente no início da tarde e isso significava angustiantes horas sem conseguir relaxar ou se preparar direito.Era terrível, principalmente quando estava sentada no sofá, vendo uma reportagem sobre o clima instável de Marjorie e as possíveis chances de chuva — mesmo com o dia estando ensolarado —, com sua mãe sentada à sua frente, lhe encarando em silêncio e com uma expressão mais aterrorizante do que qualquer outra que ela já tivesse visto em toda a sua curta vida.— Mãe, pode parar de me olhar assim? — Hanna pediu, pela vigésima vez naquela manhã. Emma balançou a cabeça, negando-se a mudar de posição. — É sério, mãe. Isso está me assustando.— Queria poder dizer que essa é a intenção, mas não é — Emma murmurou, aprumando seu corpo. — Então, o que é?— Apenas vi algo que me deixou perplexa — disse, suspirando. — O que aquele… filho de l
O cronômetro zerou assim que Hanna colocou sobre a mesa seu Mont-blanc, decorado com todas as regalias que o doce pedia. Ela estava satisfeita, apesar de toda a ansiedade que consumia seu corpo durante sua preparação e que sempre roubava sua concentração. Não sabia se tinha conseguido cumprir com as expectativas postas sobre ela, muito menos se ganharia ou, no mínimo, empataria com Noah, para, assim, manter a honra e glória dos Fiore.No entanto, isso já não importava. Ela só queria ser libertada daquele lugar, o que não demorou muito a acontecer; logo Marco pediu para que ela e Bellini se retirassem e só aparecessem ali quando o nome do vencedor fosse revelado.Ela não hesitou em nenhum momento em caminhar em direção ao camarim destinado aos competidores, evitando ser notada por Emma e tentando, ao mesmo tempo, ver para onde Noah seguia após ser dispensado dali.Para sua sorte, ou não, seus olhos castanhos o encontrou bem no momento que este entrava na ár
Ao chegar na calçada, um vento frio açoitou os cabelos de Hanna, deixando-a inebriada — pela primeira vez — com o cheiro da maresia vinda do litoral. Nesse momento teve uma ideia de para onde poderia ir e ficar a sós com Bellini sem correr o risco de Emma ou Leona aparecer para estragar a felicidade dos dois.Era um ótimo lugar, um que seria surpresa para Noah e o deixaria ainda mais feliz do que aparentava estar naquele momento — ou era isso que Hanna desejava que acontecesse assim que se dirigem para seu tão aguardado destino e vissem as estrelas no céu quase totalmente límpido.— Tenho uma surpresa para você — disse ela, puxando-o para seu carro. Abriu a porta para Noah, bancando a cavaleira, dando a volta e entrando do lado do motorista o mais rápido que pôde.— O que seria, Sir Fiore? — perguntou, colocando o sinto. Em seu rosto havia um sorriso divertido e brincalhão.— Se eu te disser, não será surpresa, oh, madame Bellini — brincou, pondo
Um som de uma respiração pesada atraiu a atenção da garota, que, apesar disso, não conseguiu forças para abrir seus olhos e descobrir quem estava ali com ela. Apesar disso, ela também não sabia exatamente onde estava, o que fazia ali e, muito menos, como tinha acabado deitada naquela cama desconfortável.Ela só conseguia se lembrar de estar em um lugar lindo, com alguém ainda mais lindo e vendo as poucas e brilhantes estrelas em meio às nuvens. Sua mente, por mais que ela tentasse, não lhe dava nenhuma informação além dessas três, fazendo a garota se questionar por alguns segundos sobre quem ela era e o que fazia no dia marcado em suas poucas lembranças.Uma voz doce e familiar atraiu sua atenção, e ela conseguiu entender o nome que ela sussurrou bem próximo de seu ouvido: Hanna. Esse era o seu nome, não era? Agora tinha certeza que havia o ouvido durante sua vida toda, mas não de uma forma tão melancólica e dolorosa — apesar de linda e bela —, como se a pessoa que
Seis anos depoisOs dedos de Hanna batucavam no estofado de umas das cadeiras do pequeno escritório ao qual ela se encontrava, trazendo um pouco de alívio para a mulher. Ela ergueu seus olhos assim que uma voz rouca chamou por seu nome, ansiosa e cheia de expectativas em relação àquela entrevista de emprego.Dessa vez vai, com certeza!, afirmou para si mesma, em pensamentos.O barulho do seu tênis ecoava pelo piso de madeira do escritório, deixando-a perplexa sobre como seriam as coisas dessa vez. Aquele som lhe trazia lembranças da sua época de faculdade, quando ainda morava em Marjorie e vivia aprontando para se sentir livre de verdade.Agora, mais velha e em São Paulo, ela não precisava de tanto esforço para ser feliz; bastava conseguir aquele emprego, por mais difícil que fosse, e tudo estaria finalmente bem. A outra coisa, que era a parte mais importante, ela já o tinha conquistado e morava com ela em seu apartamento.— Senhorita Fio