Aquela tarde de sábado passou tão rápido quanto a do dia anterior. Logo o cronômetro já marcava seus últimos minutos, os competidores já demonstravam exaustão e, todos os presentes, já estavam saboreando alguma das iguarias feitas por eles.
Os dois apresentadores narravam com afinco cada movimento daqueles que eram julgados. A plateia vibrava quando o som de um aumento, ou diminuição, aparecia no telão à sua frente. Naquele ponto, alguns já tinham consciência de como seria a final. Outros, por sua vez, ficavam cada vez mais indignados com o resultado. Com certeza, aquilo não estava em seus planos.Quando estava faltando dez minutos para o fim, a luz do telão se apagou e deixou a plateia inerte. Agora eles não teriam a oportunidade de saber, em primeira mão, quem seriam os finalistas. Estavam no mesmo barco dos aflitos participantes, que ainda davam tudo de si ao colocar sobre uma bandeja de metal tudo que haviam produzido.Hanna ainda tentava, em um últHanna estava ansiosa. O domingo mal tinha começado e ela já não sabia o que fazer. A competição seria somente no início da tarde e isso significava angustiantes horas sem conseguir relaxar ou se preparar direito.Era terrível, principalmente quando estava sentada no sofá, vendo uma reportagem sobre o clima instável de Marjorie e as possíveis chances de chuva — mesmo com o dia estando ensolarado —, com sua mãe sentada à sua frente, lhe encarando em silêncio e com uma expressão mais aterrorizante do que qualquer outra que ela já tivesse visto em toda a sua curta vida.— Mãe, pode parar de me olhar assim? — Hanna pediu, pela vigésima vez naquela manhã. Emma balançou a cabeça, negando-se a mudar de posição. — É sério, mãe. Isso está me assustando.— Queria poder dizer que essa é a intenção, mas não é — Emma murmurou, aprumando seu corpo. — Então, o que é?— Apenas vi algo que me deixou perplexa — disse, suspirando. — O que aquele… filho de l
O cronômetro zerou assim que Hanna colocou sobre a mesa seu Mont-blanc, decorado com todas as regalias que o doce pedia. Ela estava satisfeita, apesar de toda a ansiedade que consumia seu corpo durante sua preparação e que sempre roubava sua concentração. Não sabia se tinha conseguido cumprir com as expectativas postas sobre ela, muito menos se ganharia ou, no mínimo, empataria com Noah, para, assim, manter a honra e glória dos Fiore.No entanto, isso já não importava. Ela só queria ser libertada daquele lugar, o que não demorou muito a acontecer; logo Marco pediu para que ela e Bellini se retirassem e só aparecessem ali quando o nome do vencedor fosse revelado.Ela não hesitou em nenhum momento em caminhar em direção ao camarim destinado aos competidores, evitando ser notada por Emma e tentando, ao mesmo tempo, ver para onde Noah seguia após ser dispensado dali.Para sua sorte, ou não, seus olhos castanhos o encontrou bem no momento que este entrava na ár
Ao chegar na calçada, um vento frio açoitou os cabelos de Hanna, deixando-a inebriada — pela primeira vez — com o cheiro da maresia vinda do litoral. Nesse momento teve uma ideia de para onde poderia ir e ficar a sós com Bellini sem correr o risco de Emma ou Leona aparecer para estragar a felicidade dos dois.Era um ótimo lugar, um que seria surpresa para Noah e o deixaria ainda mais feliz do que aparentava estar naquele momento — ou era isso que Hanna desejava que acontecesse assim que se dirigem para seu tão aguardado destino e vissem as estrelas no céu quase totalmente límpido.— Tenho uma surpresa para você — disse ela, puxando-o para seu carro. Abriu a porta para Noah, bancando a cavaleira, dando a volta e entrando do lado do motorista o mais rápido que pôde.— O que seria, Sir Fiore? — perguntou, colocando o sinto. Em seu rosto havia um sorriso divertido e brincalhão.— Se eu te disser, não será surpresa, oh, madame Bellini — brincou, pondo
Um som de uma respiração pesada atraiu a atenção da garota, que, apesar disso, não conseguiu forças para abrir seus olhos e descobrir quem estava ali com ela. Apesar disso, ela também não sabia exatamente onde estava, o que fazia ali e, muito menos, como tinha acabado deitada naquela cama desconfortável.Ela só conseguia se lembrar de estar em um lugar lindo, com alguém ainda mais lindo e vendo as poucas e brilhantes estrelas em meio às nuvens. Sua mente, por mais que ela tentasse, não lhe dava nenhuma informação além dessas três, fazendo a garota se questionar por alguns segundos sobre quem ela era e o que fazia no dia marcado em suas poucas lembranças.Uma voz doce e familiar atraiu sua atenção, e ela conseguiu entender o nome que ela sussurrou bem próximo de seu ouvido: Hanna. Esse era o seu nome, não era? Agora tinha certeza que havia o ouvido durante sua vida toda, mas não de uma forma tão melancólica e dolorosa — apesar de linda e bela —, como se a pessoa que
Seis anos depoisOs dedos de Hanna batucavam no estofado de umas das cadeiras do pequeno escritório ao qual ela se encontrava, trazendo um pouco de alívio para a mulher. Ela ergueu seus olhos assim que uma voz rouca chamou por seu nome, ansiosa e cheia de expectativas em relação àquela entrevista de emprego.Dessa vez vai, com certeza!, afirmou para si mesma, em pensamentos.O barulho do seu tênis ecoava pelo piso de madeira do escritório, deixando-a perplexa sobre como seriam as coisas dessa vez. Aquele som lhe trazia lembranças da sua época de faculdade, quando ainda morava em Marjorie e vivia aprontando para se sentir livre de verdade.Agora, mais velha e em São Paulo, ela não precisava de tanto esforço para ser feliz; bastava conseguir aquele emprego, por mais difícil que fosse, e tudo estaria finalmente bem. A outra coisa, que era a parte mais importante, ela já o tinha conquistado e morava com ela em seu apartamento.— Senhorita Fio
A festa era muito badalada. Vários garçons distribuíam bebidas para os convidados, enquanto estes aguardavam ansiosamente o início do desfile de moda arquitetado pela sensação do momento entre as principais modelos do mundo da moda: Eros Guerra.Hanna observava tudo com olhos curiosos, se sentindo orgulhosa por ver o sonho de mais um dos seus amigos realizados. Aquele desfile era o ápice que o rapaz desejara quando saíra de sua cidade natal, no interior, e a conheceu em Marjorie. Era o começo da glória que ele tanto queria, e isso deixava a mulher mais que satisfeita. Era tudo que ela poderia desejar para ele.Sorrindo, Fiore deixou que suas lembranças vagassem para o passado, que não era tão distante assim, e permitiu-se repassar cada momento, desde seus planos malucos para esquecer Bellini até a revelação da verdade que quase pôs tudo a perder.Eram lembranças incríveis, inesquecíveis, que faziam parte do ápice da sua juventude, embora ainda não se consi
Quando Hanna parou diante de Carlos, a primeira coisa que ele fez foi lhe abraçar, matando a saudade que ambos sentiam um pelo outro, mesmo que não tivesse passado muito tempo desde a última vez que eles haviam se visto. Noah olhou a cena com certa curiosidade, sorrindo de um jeito malicioso assim que eles se separaram.— Você estava com tanta saudade da minha florzinha assim, Carlos? — Noah perguntou, estreitando seus olhos em tom de brincadeira. O rapaz, meio envergonhado, ajeitou seus óculos e sorriu amarelo para ele.— Bem, já faz algum tempo desde a última vez… — murmurou, sem encarar as íris negras de Bellini, que riu ao ver a timidez que Carlos ainda insistia em manter com ele mesmo após tantos anos juntos.— Que isso! Eu só estou brincando. Sei que são grandes amigos — falou, batendo suas mãos nos ombros de Carlos amigavelmente.— Noah, eu já disse inúmeras vezes para não mexer com o Carlos. Ele é tímido de verdade — Hanna o repreendeu, ba
Giulia respirou fundo. Seus olhos, agora molhados por lágrimas causadas pela história da velha senhora, encaravam-na com um sorriso triste e ao mesmo tempo feliz. Não sabia direito como deveria reagir a história contada pela mais velha, muito menos se ela se encaixava com sua situação atual, no entanto, era uma sensação gratificante saber que tudo tinha acabado bem no fim, embora tivesse muitos pesares que ela não queria considerar.— Eu não entendo. Por que você me contou essa história? — ela perguntou, ao notar que a idosa não iria prosseguir mais com seu relato.— Ah, minha jovem, se você ainda não entendeu, talvez deva voltar tudo no começo mais uma vez — cantarolou, fazendo a mais nova arregalar seus olhos verdes.— Está falando sério? — questionou, surpresa. A senhora balançou sua cabeça de um lado para outro, com um pequeno sorriso em seus lábios trêmulos.— Não, só estou brincando um pouquinho com você para prolongar este momento — a respo