Era quinta à noite. Hanna estava sentada, de forma inquieta, no banco do ponto de ônibus mais perto de sua casa. Seu coração estava acelerado, suas mãos suavam e uma ansiedade cada vez maior a consumia por dentro. Não sabia direito o que fazer em relação a tudo que sentia, muito menos como seria aquela festa. Tinha medo de estragar tudo e não conseguir seguir o plano sugerido por Mia e Eros.
Será que daria certo?Um forte vento agitou os fios soltos do seu cabelo castanho curto, amarrados com uma pequena trança lateral atrás de sua cabeça. Ela sorriu, olhando para o contorno preto que calçava. Se perguntou se Noah a acharia bonita naquela roupa, em seu vestido da Akatsuki, batom negro e sobretudo da mesma cor. Seu visual gótico, em um todo. Esperava que sim, afinal tinha lhe dado trabalho pensar em algo distinto do que ela havia usado naquela boate — na noite de todos aqueles acontecimentos inesperados que foram responsáveis por mudar o rumo de tudo.Um sJá fazia vinte minutos que estava ali, escorada em um balcão perto da cozinha. Seus olhos castanhos vagavam por todos os presentes, reconhecendo um e outro. Hanna acenou, vendo Mia e Eros a distância. O homem negro estava vestido com uma calça azul escura e com uma camiseta cor-de-leite, meia manga social, destacando seu corpo forte e as tatuagens em seu dois braços. Seu dread estava solto, até o meio de suas costas, e ele mantinha um sorriso ligeiro em seus lábios carnudos.Foi inevitável para a jovem Fiore não estranhar o fato de Guerra não estar vestindo seu habitual colete. Ela já tinha se acostumado a vê-lo usando-o, tanto que ele parecia até outra pessoa quando estava sem. No entanto, vestido ou não, sua beleza era notável. Tanto por ela, quanto por todos ao seu redor. Isso ninguém podia negar.Enquanto Eros mantinha sua atenção nas pessoas que passavam à sua volta, Mia olhava fixamente para algo atrás de Hanna. Por isso, a jovem conseguiu ver muito bem a maq
Como as coisas acabaram naquele estado? Hanna não sabia, apenas girava um copo de vodka entre seus dedos e encarava o líquido dentro dele com suas bochechas enrubescidas. Ele era convidativo, igual aos outros três que ela havia consumido depois de presenciar aquela cena. Como Noah pôde fazer isso com ela depois de lhe dar aquele anel presente em seu dedo? Claro, ela não tinha certeza de nada e, infelizmente, não podia cobrar nada. Uma realidade lamentável, odiava ter que admitir isso, mas era.Se ele tivesse esperado só mais um pouco… Ah! Seu plano teria dado certo e, agora, ela teria sua "verdade idealizada" ressoando em seus ouvidos. Mas, não, ele não esperou. Ou foi ela que não o fez ao presumir as coisas sem antes averiguar totalmente a situação?Tanto fazia, já não importava a resposta. Ou era isso que ela tentava impor a si mesma? Perguntas sem respostas, e vários "e se" sem um pensamento final. Nada além disso.Hanna balançou a cabeça, vir
Era meio-dia, de sexta. Hanna estava deitada no sofá da sala de sua casa, olhando para o teto. Uma enxaqueca forte atormentava sua mente cansada, proveniente da bebedeira da noite anterior, lhe proibindo de fechar seus olhos e cair em um sono tão necessitado. Ela suspirou fundo, tentando mais uma vez recordar dos acontecimentos depois de ver Noah e Jéssica juntos.Não conseguiu se lembrar de muito — e a maioria do que se lembrava eram apenas borrões e conversas ininteligíveis. Nada parecia fazer sentido, além de, claro, o que ela tinha visto antes de cair na bebedeira. Pensando bem, isso também não era muito esclarecedor. Aquela aproximação podia ser qualquer coisa, e não algo tão íntimo como imaginava.Se fosse, talvez estivesse julgando Noah mal? Era mais que provável, principalmente quando — alguns de seus borrões mais "claros" — eram ele ao seu lado na piscina da festa e em outro lugar à beira mar. Se ele estava com ela, mesmo que não se recordasse do conteúdo
O vento chicoteava com maestria as copas das árvores ao pé da colina. O cheiro da maresia adentrava suas narinas à medida que ela se aproximava de seu topo. Sem fôlego, Hanna parou um pouco para descansar. Logo olhou para o céu colorido, buscando algo que não sabia se iria achar. O dia já estava em seu final e tudo indicava que logo a noite iria cair sobre eles. Apesar disso, ainda restavam alguns resquícios de luz brilhando em meio às nuvens em tom lilás. Mesmo estando muito bem agasalhada, Hanna ainda era capaz de sentir o frio penetrando lentamente em sua pele por baixo do tecido grosso.Ela esfregou suas mãos e olhou para frente. Noah andava lentamente em direção à colina, sem se preocupar se ela estava ou não o seguindo. Ela suspirou. Já era domingo, o dia que faria a tal pergunta a Bellini e tentaria entender todos os mistérios que Jéssica, propositalmente, havia colocado em sua cabeça. Ir até ali não foi uma decisão fácil. Por mais que quisesse re
Hanna não sabia o que pensar. Era tanta coisa atormentando sua mente, lhe privando de ter um pouco de paz e sossego que já não conseguia dormir direito. Já fazia quase duas semanas desde a conversa com Noah na colina, e mesmo assim ainda não tinha conseguido digerir todas as informações que foram jogadas para cima dela sem aviso prévio. Como ele foi capaz de fazer tudo aquilo?E ela? Realmente tinha o direito de ficar irritada, de julgá-lo, por tudo isso?Era evidente que não possuía as respostas. Só sentia um turbilhão de emoções incoerentes e já não tinha certeza se estava decepcionada com Bellini ou consigo mesma. Ele apenas fez algo que ela já havia pensado em fazer, e isso não a tornava melhor ou pior, apenas igual a ele.Fiore suspirou, balançando a cabeça. Às escuras olheiras abaixo de seus olhos evidenciavam as péssimas noites de sono que havia tendo desde àquela conversa. Já não sorria, desde então. Também não estava comendo direito, e i
Além de Hanna, naquele dia, havia mais quatro aprendizes de padeiro para ajudar a testar os eletrodomésticos. Dentre eles, um rosto conhecido por ela se destacava. Noemi, vestida com um avental branco sobre seu vestido verde, atraía os olhares de todos que passavam por ela. Fiore não soube como reagir ao ver uma Bellini ali, tão distraída e calma ao mesmo tempo. Se antes pretendia fazer qualquer coisa e se divertir — como seu pai havia lhe dito —, agora já não possuía essa capacidade.Como agir naturalmente perto de Noemi depois de tudo que havia acontecido entre ela e Noah? Soava impossível, ou algo bem próximo disso. Hanna tremia demais para saber.— Você está bem, filha? — Dominic perguntou, olhando de forma preocupada para Hanna. Ela piscou, percebendo que ele havia notado seu desespero.— E-Estou — gaguejou, respirando pesadamente.— Não parece.— Não se preocupe, eu só vi um rosto familiar e indesejado.— Aquela ruiva ali?
Os dias passaram mais rápidos do que Hanna desejava. Logo, já era sexta-feira, primeiro dia da festa de aniversário de Marjorie e, também, da preliminar da competição dos padeiros da cidade. Ela estava ansiosa, preocupada se conseguiria ou não ter bons resultados. Era verdade que, depois de seu encontro com Noemi e Ana, ela estava em um misto de confusão e animação. A ruiva havia lhe deixado desnorteada e com mais perguntas sem respostas — ou que ela não queria responder, não ainda. Já a morena havia a ajudado a relaxar, pela primeira vez em tempos. Com isso, havia conseguido se concentrar mais nos treinos propostos por Emma nos dias seguintes. Havia conseguido obter bons resultados aos olhos de sua mãe — algo que era um alívio, considerando a fera exigente que essa era.Balançando a cabeça, Hanna olhou para seus três amigos que lhe acompanhavam naquele momento. Eros estava vestido com seu habitual colete marrom, calças pretas e uma regata amarela. Estava escorado
O sol já estava quase no centro do céu quando Hanna colocou, novamente, seus pés na sala destinada aos quatro participantes restantes da competição de padeiros e confeiteiros de Marjorie. Ela estava ansiosa. Via seus adversários — dois deles — conversando e discutindo sobre qual seria a base da fase que aconteceria em, exatos, vinte minutos.Ela não conseguia entender como eles conseguiam agir naturalmente, daquele jeito, diante de uma pressão enorme. Principalmente, não conseguia acreditar que Bellini estava atrasado. Bem, era isso que ela imaginava ao não vê-lo ali com eles. Se não fosse isso, então tinha a opção de não ficar ali, roendo suas unhas de nervosismo e quase arrancando seus cabelos por não saber o que esperar quando saísse para o lado de fora?Queria acreditar que tinha, mesmo que não ousava perguntar a nenhum dos presentes ali se realmente podia sair e tomar um ar sem se preocupar de ser desclassificada no processo. Fiore suspirou, com a ca