Capítulo 2
Cruel? Jamais imaginei que esse seria o veredicto que Theo proferiria a meu respeito.

Com pressa, enxuguei as trilhas de lágrimas que insistiam em deslizar pelo meu rosto e inspirei profundamente.

— Então, faça o aborto do meu bebê.

— Não.

Theo freou de forma abrupta, imobilizando o carro à beira da estrada, e em seguida se voltou para mim com um olhar inflamado pela raiva.

— Você está louca? Como pode pensar nisso? Eu não abrirei mão nem do seu bebê nem do bebê de Elena.

No dia seguinte, diversos guerreiros lobisomens cercaram nossa casa, e Theo me trancou no quarto, confiscando meu celular e cortando, de uma vez, meu contato com o mundo exterior.

Numa certa manhã, fui despertada pelo tumulto que vinha do piso inferior.

Ao descer, avistei Elena e sua mãe à porta, orientando os trabalhadores a transportar as bagagens para o interior da casa.

Assim que a mãe de Elena me avistou, zombou:

— Você realmente não tem vergonha, está grávida de um filho bastardo e ousa viver com Theo.

Logo em seguida, ela abraçou os ombros de Elena e prosseguiu:

— Você é uma tola, sofreu tanto por Theo! E Theo ainda não rejeitou essa mulher barata!

— Mãe, pare de falar sobre isso. Tudo isso foi minha escolha! — Disse Elena, baixando a cabeça e fingindo o sofrimento.

Enquanto a mãe de Elena conduzia as bagagens para o andar de cima, Elena me lançou um sorriso repleto de escárnio:

— E daí se você é a companheira do Theo? E daí se meu bebê não é dele? Meu lugar em seu coração é bem mais alto do que o seu.

Por alguns instantes, a encarei, e num impulso irrefreável, lhe propinei um tapa retumbante no rosto. Elena levou a mão à bochecha avermelhada, enxugou discretamente algumas lágrimas e fixou o olhar na distância.

— Aria, por que você está me tratando assim? Eu não estou tentando roubar Theo de você. —Ela chorou de maneira ostensiva.

— Aria! — Ecoou a voz de Theo por trás. — O que você fez com Elena?!

Virei a cabeça e avistei Theo furioso. Foi então que percebi: ela havia arquitetado toda a encenação para ele!

Elena rompeu em choro ainda mais intenso, atraindo também a atenção de sua mãe, que me fitou com um olhar repleto de ferocidade.

— Essa mulher traiu você. Ela engravidou de outro homem. Por que você ainda não a rejeitou? —Indagou a mãe de Elena.

— Theo, enquanto ela permanecer aqui, minha filha, Elena não estará segura! Se você não a expulsar, eu levo Elena para casa!

Elena, então, se lançou nos braços de Theo, entre lágrimas, e me brindou com um sorriso sutil.

Theo permaneceu em silêncio por um longo tempo e, no exato instante em que Elena julgava que seu ardil estava surtindo efeito, ele a empurrou suavemente e se aproximou de mim.

— Se você quiser, pode levar Elena para casa, mas eu não vou pedir que minha companheira saia.

Elena nos fitou, estupefata, e partiu enfurecida.

— Você feriu minha filha, Theo. Isso não pode continuar assim. Ela carrega seu filho e precisava se sentir amada. Agora, exijo que, ao menos, se compense com ela, lhe concedendo o melhor quarto!

Theo fixou seu olhar em mim, e compreendi que ele exigia um sacrifício. Sem demora, fui conduzida ao diminuto quarto no primeiro andar.

Theo justificou que aquela medida era pelo bem da criança de Elena e que se tratava apenas de um arranjo provisório, que duraria alguns meses.

— Não se preocupe, estou apenas tentando apaziguar temporariamente a Elena e sua mãe. Logo, lhe devolverei um quarto adequado. — Disse ele ao me transferirem.

Não levantei objeções, pois a localização do meu confinamento já não me importava, já que um novo plano se formava em minha mente.

Todos os dias, divagava sobre como escapar dali, a ponto de solicitar auxílio a Elena; para minha surpresa, a única pessoa que supostamente desejava minha partida de Theo se recusou a ajudar.

— Aria, já que Theo não quer que você vá embora, como eu poderia a ajudar? Você realmente não entende o vínculo entre ele e mim. Nós crescemos juntas e temos uma confiança inquebrável.

Naquele instante, me deparei com um brilho de determinação e seriedade nos olhos de Elena, o que me fez duvidar de minhas próprias convicções, pois parecia que Theo e Elena compartilhavam uma confiança que nenhum outro seria capaz de abalar.

Diariamente, ao retornar para casa, Theo narrava histórias de ninar para a criança que Elena carregava em seu ventre.

Sempre que ele adentrava o meu quarto, já por volta das 23 horas, eu simulava o sono.

O cômodo que me servia de abrigo se assemelhava a um modesto alojamento para criados, enquanto Elena dominava todos os ambientes da casa — um reservado para a criança, outro destinado aos seus ensaios musicais, e os demais para a armazenagem de seus pertences.

Eventualmente, Theo passou a dormir no quarto de Elena para zelar por ela, contudo, certa noite, se aproximou da minha cama e sacudiu meu ombro.

— Você está dormindo? — Perguntou ele com voz suave.

Ao notar meu silêncio, ele continuou:

— Eu sei que você não está dormindo.

Virei para o lado direito, me afastando dele.

— O que você quer?

— Aria, você realmente me odeia tanto assim agora? Você realmente não confia no meu amor por você? — Sua voz exalava uma dor profunda.

Senti, por um breve instante, uma compaixão que logo repugnei, pois, depois de tudo o que ele me fizera, como poderia eu confiar em suas palavras? Silenciosamente, derramei algumas lágrimas, mas me esforcei para não as demonstrar.

— Não se preocupe, ainda assim eu carregarei nossa criança até o fim. Mas você deve saber que me trancar aqui não é bom para nossa criança. Me deixe respirar ar fresco, devolva meu celular e permita que eu fale com minha mãe. Eu também espero ter umas conversas íntimas com minha mãe.

Theo se aproximou por trás de mim e me envolveu em seus braços.

— Tudo bem, contanto que você esteja tranquila e descansando, eu deixarei você fazer o que quiser. — Disse ele com um tom levemente excitado.
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