O dia seguiu arrastado depois da conversa com Enzo. Tentei ao máximo me concentrar no trabalho, mas minha mente insistia em reviver cada detalhe do nosso encontro. Eu odiava o efeito que ele ainda tinha sobre mim, e isso só me irritava mais.Afundei na papelada sobre minha mesa, analisando contratos e revisando relatórios. Se existia algo que me fazia esquecer dos problemas, era me perder no trabalho. Mas, mesmo assim, a cada intervalo entre um documento e outro, minha mente vagava para os olhos de Enzo, para a forma como ele me olhou, como se ainda tivesse algum direito sobre mim.— Está tudo bem? — A voz de Murilo me trouxe de volta à realidade. Ele estava encostado na porta da minha sala, segurando um copo de café e me observando com um olhar curioso.— Sim. Só tentando manter minha sanidade. — Suspirei e estiquei os braços, sentindo a tensão acumulada nos ombros.Ele entrou, puxando uma cadeira e se sentando de frente para mim.— Isso tem nome e sobrenome, né? — Ele disse, arquean
Esse dia parecia não ter fim. Como pulei o almoço, minha assistente pediu um café para mim, e agradeci.Assim que o lanche chegou, ela se sentou ao meu lado e sorriu.— Obrigada pelo lanche! Enquanto como, revise este documento para mim, por favor. — Camile me encarou animada.— Você não me trata como secretária igual os outros fazem com as suas.— Já estive no seu lugar, Camile, e tive um excelente mentor que viu potencial em mim e me incentivou. Vejo o mesmo em você.Ela me olhou de maneira estranha.— Não tem medo de que eu possa tomar o seu lugar? Muitos não ajudam justamente por isso.— O sol brilha para todos. Assim como brilhou para mim, vai brilhar para você. Eu era apenas uma faxineira, trabalhava com minha mãe, e, aos poucos, graças a pessoas que viram meu potencial, consegui crescer.— Por isso você chegou onde chegou... e ainda vai muito longe, chefinha!Sorri para ela. Enquanto eu comia, ela analisava os documentos que entreguei. Deixei alguns erros propositais para testa
Enzo Albuquerque Estava jogado no sofá da minha casa, tomando meu uísque, quando Ana Luiza veio à minha mente. Ela estava muito diferente da menina por quem me apaixonei anos atrás. A AnaLu do passado era insegura, tinha olhos doces e gentis. Já a AnaLu de hoje era uma mulher forte, determinada, e seus olhos perderam aquela inocência. Mas quem poderia culpá-la? Eu era o responsável por isso. Estava quase fundido ao sofá, mergulhado em lembranças do passado, quando a voz da minha irmã me trouxe de volta ao presente. — O que está fazendo aqui, Rafaela? — perguntei, encarando-a. Ela sorria. — Não posso visitar meu irmão querido? — Hum! Brigou com a mãe de novo? — perguntei, e ela deu de ombros. — Quem brigou comigo foi ela. Você conhece dona Heloíse melhor do que ninguém. Dessa vez, cismou que eu tenho que me casar. Aff! Minha irmã se jogou no sofá ao meu lado, tomou o copo da minha mão e virou o resto do líquido de uma só vez. — Rafa, isso é forte para você. Ela revirou
Ana Luiza Martinelli Estava me arrumando para ir trabalhar quando meu celular tocou. Olhei para o visor e vi o nome da minha mãe piscando.— Oi, mamis! Bom dia! Como vocês estão?— Oi, minha filha! Estamos bem, e você? E o seu irmão? Tem visto ele?Minha mãe sempre se preocupava conosco, mesmo já sendo adultos.— Seu filho está ótimo, focado nos estudos e no trabalho. Dá até orgulho do nosso menino. — Meio que me sinto mãe do meu irmão, já que passei a cuidar dele para que a senhora pudesse trabalhar.— Fico tão feliz em ver que vocês estão bem! Filha, te liguei para avisar que as passagens já estão compradas e que chegaremos essa semana. Tem alguém aqui que não para de sentir saudades.Respirei fundo ao ouvir minha mãe falar.— Filha, aconteceu alguma coisa? Você parece que não se animou quando eu disse que chegaremos essa semana.— Não é isso, mãe… é que surgiu um problema.— Que tipo de problema?— Lembra que eu te disse que a empresa onde trabalho havia sido vendida e que conhece
Depois que Enzo finalmente saiu do meu escritório, bufando como se eu fosse a culpada por alguma coisa, me joguei na cadeira e encarei a pilha de papéis que ele havia deixado sobre minha mesa. Eu realmente não precisava daquilo, mas, ao mesmo tempo, quanto mais ocupada estivesse, menos tempo teria para pensar no beijo que ele roubou.Eu queria esquecer. Esquecer o passado, esquecer Enzo, esquecer tudo.Mergulhei no trabalho com mais afinco do que o necessário, digitando relatórios, revisando contratos e organizando documentos. Meu objetivo era terminar tudo rápido para sair e me preparar para o jantar com Richard. Eu precisava daquilo. Precisava de uma distração.Quando finalizei o último documento, olhei o relógio e vi que já estava na hora de ir para casa. Peguei minha bolsa e saí do escritório sem olhar para trás.Assim que entrei no meu apartamento, fui direto para o banho. Deixei a água quente escorrer pelo meu corpo, relaxando meus músculos tensos. Fechei os olhos e inspirei pro
O jantar seguiu em um ritmo agradável, mas carregado de provocações. Richard me olhava com aquele brilho malicioso nos olhos, e eu sabia exatamente o que ele estava pensando. Ele nunca foi do tipo discreto quando queria algo, e, naquele momento, estava bem claro que ele me queria.— Então, Ana — ele começou, deslizando a taça de vinho entre os dedos. — Você gosta de ser o centro das atenções, não é?Levantei uma sobrancelha, fingindo surpresa.— O que quer dizer com isso?— Ah, não se faça de desentendida — ele riu, inclinando-se um pouco para frente. — Você percebeu o jeito que aquele garçom te olhava, e em vez de ignorar, incentivou.Dei um gole no vinho, saboreando a bebida antes de responder.— E se eu tiver gostado da atenção? — provoquei, mordendo levemente o lábio inferior.Richard soltou uma risada baixa, balançando a cabeça.— Você adora brincar com fogo.— E você adora me ver brincando — rebati, apoiando o cotovelo na mesa e descansando o queixo sobre a mão.Ele me analisou
Após a nossa aventura deliciosa no carro, fomos para o apartamento dele e lá finalizamos o que começamos. Tomei meu banho e estava me preparando para sair quando Richard segurou minha mão.— Não acredito que você já vai embora — disse ele, me encarando.— Vou sim, preciso descansar. Amanhã trabalho.— E por que não descansa aqui?— Porque na sua casa a gente vai fazer tudo, menos descansar.Ele me encarou sorrindo, aquele sorriso safado que eu já conhecia bem. Assim que terminei de me arrumar, chamei um carro de aplicativo e fui para casa.Não durmo na casa de homem. Às vezes, prefiro que eles venham até a minha casa, nos divertimos e depois... rua. Já estava prestes a dormir quando minha amiga ligou, obviamente querendo saber detalhes do jantar, se eu me diverti, como foi... Contei tudo, e ela soltou uma gargalhada tão alta que precisei afastar o celular do ouvido.— Vocês juntos são como o fogo e o combustível! — ela disse, e precisei concordar.— Amiga, por que vocês não se assumem
Na manhã seguinte, me preparei para encarar Enzo novamente. Torci para que não nos esbarrássemos em lugar nenhum, mas o capeta, quando não vem, manda o secretário. Estava tranquila lendo meus relatórios quando Camile me avisou que Enzo estava vindo até minha sala. Respirei fundo e torci para que fosse apenas sobre assuntos de trabalho.— Bom dia, Ana Luiza! — ele disse, entrando na sala e se sentando de frente para mim.— Bom dia, senhor.Ele me encarou, claramente incomodado com a formalidade que eu estava usando.— Sabe que não precisa me chamar assim.— Sei, mas prefiro manter a seriedade. O que o senhor precisa de mim?Ele respirou fundo, incomodado com meu tom. Em seguida, me mostrou o contrato de fusão novamente e pediu que eu lesse e descrevesse os prós e os contras. Fiz o que ele pediu e entreguei a folha com minhas observações. Ele leu e, ao que tudo indicava, aprovou minhas sugestões e dúvidas. Debatemos sobre algumas delas e, depois de um tempo, ele me encarou.— Sei que já