Murilo Lewis.
Dias atuais.
O choro estridente de Arthur chama a minha atenção e olho para Vicente tentando acalmar o filho recém-nascido.
Quando Vicente me convidou para assumir a direção do hospital da sua família e ser o mentor da sua irmã eu fiquei muito surpreso, não poderia rejeitar, ele é meu melhor amigo, estava precisando de ajuda e eu sou muito grato a sua família por tudo.
Alguns meses após a morte da minha ex noiva eu resolvi me mudar e assumir a direção do Cooper Clinic. Estou a um ano no cargo e breve Hanna irá para o hospital começar seu treinamento.
- Tutu, eu sei o quanto os seios da sua mãe são bons, mas precisa colaborar com o papai - meu amigo fala balançando o garotinho.
- Vicente, que cafona esse apelido - falo rindo.
- Tem nada de cafona no apelido do meu filho - reclama - Combina com o da irmã, Tata. Que inclusive está quietinha dormindo no quarto dela.
- Quando você se tornou esse cara - aponto em descrença me referindo aos apelidos cafonas.
- Quando eu encontrei a mulher da minha vida - fala apaixonado - Você também se tornará esse cara.
- Praga uma hora dessas, Vicente? - exclamo irritado - Você sabe tudo que eu passei, não quero correr o risco de sofrer novamente.
- Murilo, precisa esquecer a Ana - suspira - Tem que seguir em frente e se bem me lembro vocês não estavam mais juntos.
- Estar ou não com ela, não anulou os meus sentimentos - reclamo.
- Que Deus a tenha - fala olhando para cima - Mas convenhamos que ela não te merecia.
- Vamos mudar de assunto - peço quando lembranças nebulosas invadem a minha mente - Vamos falar do quanto esse garoto mal nasceu e já é muito sortudo - falo sorrindo, fingindo que lembrar do meu passado não me afetou - Cadê a Angel?
- Descansando.
- E a babá?
- Angel demitiu - fala fazendo uma careta.
- Vai dizer que pegou a babá? - exclamo chocado.
- Está maluco Murilo? - questiona ofendido.
- Se bem que se tivesse pego a babá a essa hora estaríamos no seu enterro. Então por quê? - pergunto rindo.
- Minha querida esposa, nada ciumenta, sismou que a garota se preocupava mais em chamar a minha atenção do que cuidar das crianças.
Escutamos um barulho vindo da porta e Hanna entra tranquilamente, caminha até o sobrinho, o pega no colo.
- Oi tutuzinho, está com fome? - Arthur para de chorar e encara a tia com curiosidade.
- Hanna? - Vicente fala apontando para mim - Murilo está aqui. Não vai cumprimenta - lo?
- Olá Murilo, como vai? - ela pergunta sem se dá o trabalho de me olhar - Vou levar o meu sobrinho para a Angel, ele deve está faminto.
Vicente concorda e sai do meu campo de visão indo em direção a cozinha, eu corro e alcanço Hanna na escada.
- Ursinha, sobre...
- Esquece, Murilo. Já se passaram alguns meses, aprendi a lição, vamos passar por cima disso, breve conviveremos todos os dias e não quero constrangimentos entre a gente - fala serena - E por favor, para de me chamar de Ursinha - pede.
- Por favor, Hanna - seguro deu braço levemente - Deixe eu me desculpar.
- Desculpar pelo o que? - questiona brava - Por ter me beijado e depois me machucado? Por me achar tão feia a ponto de ser um erro me beijar?
- Eu nunca disse que é feia, ursinho - falo calmo - Você é linda.
- Você pareceu sentir nojo do meu beijo, se me abomina tanto por que me beijou então? - vejo magoa em seus olhos - E não coloque a culpa na bebida.
- Eu não te abomino - evito falar que a acho linda e muito atraente - Você é a irmã do meu melhor amigo, não entende o quanto foi errado aquele beijo?
- Mas foi certo transar com a minha ex amiga no meu apartamento? - questiona com raiva e fico sem ter o que falar - Sabe Murilo - suspira pesadamente - Eu já esqueci - mente - Você que insiste em me procurar para conversar sobre aquilo, não significou nada para mim e inclusive seu beijo nem é bom - despeja tudo e segue seu caminho sem olhar para trás.
O seu beijo foi o melhor que já provei ursinha - falo em pensamento.
Desde a cena que protagonizamos na festa de comemoração a minha chegada a alguns meses, Hanna se nega a falar comigo, hoje foi a mais longe que fomos em um dialogo.
Aquele dia se repete em minha mente me acusando de trair a confiança do meu amigo, não sei bem como fui beijá-la. Estávamos dançando juntos, afastados de todos, eu tinha bebido bastante, lembro de prender minha atenção naqueles grandes olhos azuis, e depois só sentir a maciez dos lábios, sabor morango. Sem pensar, a prendi em meus braços e devorei seus lábios, enquanto passava as mãos pelo seu corpo tive um lampejo de lucidez, lembrei-me que ali era minha ursinha, a garotinha que praticamente vi crescer, a irmã caçula do meu melhor amigo, e gelei.
Murilo Lewis.Tudo bem, confesso que eu não estava preparado para ver Hanna versão mulherão, quando eu fui embora ela ainda era uma adolescente que usava aparelhos, quando eu vinha visitar sua família acompanhado da minha ex noiva eu não tinha olhos para nenhuma outra mulher. Lembro de quando eu comecei a frequentar a casa dos seus pais, eu gostava de passar um tempo com ela, sempre sentir uma vontade de cuidar e protegê-la, a minha ursinha, um dos motivos para eu achar tão errado beijá-la.Hanna não é o tipo de mulher que quero em minha cama, por mais que esteja um mulherão de fazer qualquer homem se encantar, eu sei que ela ainda é uma menina doce e ingênua. Mesmo que não fosse irmã do meu melhor amigo, não me envolveria, pois tenho certeza que não a faria feliz.Sou um homem do mundo, gosto de mulheres, não dou exclusividade e nem prioridade a ninguém, não mais, pois quando eu deixei alguém se aproximar do meu coração ele foi despedaçado.Ver a mágoa nos olhos da Hanna, depois que
Hanna Cooper.Cruzo a boate lotada, me esquivando de vários corpos suados e histéricos, que dançam ao som de Alive, do DJ Alok. Seguro um copo transparente contendo um líquido vermelho, doce, porém, muito forte, não fazia ideia do nome, e perdi as contas de quantos copos eu já havia bebido.Sigo Flora, minha melhor amiga desde o início da faculdade, andamos de mãos dadas até o outro lado da boate onde estão nossos amigos e uns conhecidos.Eu estava muito feliz que finalmente eu me formei e aprenderei o máximo que eu conseguir para um dia assumir o hospital da minha família. Esse pensamento me faz lembrar do Murilo, o grande amor da minha infância e adolescência. A forma rude na qual ele falou que foi um erro o nosso beijo e em como ele foi um babaca por ter transado com a minha ex amiga no meu apartamento.Preciso apagar qualquer vestígio de sentimento por aquele homem, vamos trabalhar juntos e não quero me machucar. Não mais.Depois do episódio da festa, onde nos beijamos e ele me m
Hanna Cooper.Sinto a claridade incomodar os meus olhos e os abro lentamente. Primeiro sinto uma dor de cabeça tão forte que parece que vai explodir a qualquer momento, depois observo o teto branco, sem lâmpada, a cama macia me parece muito aconchegante, percebo que não estou em meu quarto e que não estou sonhando.Sento-me rapidamente na cama e parece que o mundo está girando, a cabeça começa a latejar e aperto as minhas têmporas e respiro devagar algumas vezes tentando lembrar da noite anterior e principalmente tentar descobrir onde estou.Quando sinto que estou melhor, começo a avaliar o quarto com os olhos, vejo algumas janelas redondas e caminho até elas, as nuvens passam com rapidez e a imensidão azul do oceano preenche a minha visão, percebo está em um avião.- Um avião - exclamo chocada e tapo a boca com as mãos em descrença - Com vim parar aqui?! - coloco as mãos na cabeça preocupada.Noto a decoração rica e de bom gosto do quarto, sigo em passos lentos e cuidadosos até a por
Hanna Cooper.Na verdade eu estava um pouco feliz por ele ter me trazido junto, e principalmente por não ter que encarar minha família, a outra parte de mim estava nervosa, porque quanto eu prolongar, piores serão seus discursos protetores.- Você estava bêbada e desmaiada, ursinha. Eu poderia pedir para alguém fazer isso por mim, mas então, eu teria que encarar seu irmão e seu pai por ter feito isso, quando estivesse de volta.- Eles sabem desse detalhe? - pergunto insegura.- Tudinho - fala rindo.- Fofoqueiro - cruzo os braços emburrada.- Quanto a você não está feliz com a minha companhia, sinto lhe informar, mas breve conviveremos diariamente - lembra.- Somente o necessário, sei separar as coisas.- Separar o que exatamente, ursinha?- No hospital, vamos ser colegas de trabalho, vou está tão focada que não terei tempo de olhar para sua cara e lembrar o quão babaca é.- Eu já pedi desculpas pelo beijo.- Não estou falando do beijo - explodo - Na verdade você se desculpar pelo bei
Hanna Cooper.Um táxi nos trouxe até o hotel em que Murilo tinha reserva, em todo o caminho eu estive observando a cidade, Fortaleza é um lugar muito bonito. A suíte presidencial que ficamos hospedados é enorme e de frente para a praia.Após fazer minha inspeção pelo ambiente luxuoso, peguei o celular do Murilo e liguei para o meu irmão. Só depois que garanti mais de dez vezes que estava bem e que não sairia de perto do Murilo foi que ele desligou.- Você está fome? - Murilo pergunta atrás de mim, enquanto eu caminho para a varanda da suíte.- Um pouco - respondo.Um sorriso escapa dos meus lábios quando o sol quente toca minha pele. Amo a sensação dos raios solares esquentando a minha pele.- Ursinha - Murilo chama, e eu me viro para vê-lo na entrada da varanda. Ele sorri despreocupado, notando que me pegou distraída e ergue uma sobrancelha.- Eu perguntei se estava tudo bem se eu pedir uma comida leve.Concordo com um aceno de cabeça e volto minha atenção para as águas convidativas
Hanna Cooper.*Flashback on*Aguardo pacientemente minha babá terminar de pentear os meus cabelos, eu não gosto muito quando ela os alisa demais.Estou muito ansiosa para descer e ver meu irmão. Ele finalmente voltou para casa depois de dois meses num acampamento para meninos, ele chegou pela manhã mas eu estava na aula e quando voltei ele saiu com o papai.Eu escolhi meu melhor vestido e minha melhor sapatilha. Eu gosto de estar bonita e hoje é um dia especial, estava com muita saudade.Matilda, minha babá, termina de pentear meus cabelos e eu saio correndo para fora do meu quarto e desço as escadas, apressada.E lá está ele, em pé no meio da sala contando suas aventuras no acampamento. O irmão mais lindo que uma menina pode ter. Eu costumo passar isso na cara das minhas amigas. Sempre.- Vince - grito animada e abraço as pernas do meu irmão.Ele é muito alto, é mais velho que eu. E eu sou baixinha ainda, só tenho oito anos.Ele sorri e beija o topo da minha cabeça.- Você está maior
1 ANO DEPOIS. Hanna Cooper. Acordo sobressaltada com um som estridente ao lado da minha cabeça, bufo frustrada e morrendo de sono ainda. Bocejo preguiçosamente e passo as mãos pela cama, sentido a maciez do lençol de duzentos fios egípcios. De repente sinto cabelos na palma da minha mão, cabelos que não meus e imediatamente lembro do que aconteceu na noite passada. Coloco um travesseiro no rosto e grito frustrada. Eu cheguei de viagem ontem a noite, depois de ter passado um ano em Harvard fazendo uma especialização. Após visitar a minha família, decidi sair para comemorar e liguei para minha melhor amiga, Flora. Nós fomos para uma boate muito conhecida na cidade, perto da praia. Lá após alguns coquetéis, um homem bonito se aproximou, ele era alto, ombros largos e cabelos negros como a noite. Desde que cheguei na boate que sinto seus olhos sobre mim, confesso que gostei de me sentir desejada por um homem tão bonito. Ele se aproximou e conversamos muito, dançamos e eu acabei bebendo
Hanna Cooper.Atravesso os grandes corredores brancos do hospital em direção ao elevador que vai me levar até o andar da Administração.Dou uma ultima olhada na minha roupa e suspiro aprovando a minha escolha. Devo confessar que para minha sorte, eu fui criada por uma mãe que leva a elegância muito a sério. Ela me ensinou o gosto de se vestir bem em qualquer ocasião, seja uma festinha de aniversário ou um baile de caridade. Saber me vestir para o trabalho é como uma obrigação.É o meu primeiro dia no Cooper Clinic, então eu optei por uma saia lápis preta que vai até o meus joelhos, uma blusa branca, um casaquinho preto e um Scarpin branco.Apesar de saber que esse hospital é da minha família e que meu mentor/CEO é muito próximo, eu confesso que estou um pouco nervosa. Nesse tempo que ele já está aqui no hospital, Murilo já é conhecido por ser exigente com os funcionários.Além de atual CEO do hospital ele também é dono de uma empresa grande, que a cada dia cresce mais, alguns dizem qu