— Eu não consegui dormir, então resolvi vir olhar algumas coisas aqui. Você está melhor? — perguntei, abraçando-a. Eu sinto um peso enorme na consciência, eu falei tanto da Mikaela pelas traições dela, mas fiz exatamente a mesma coisa, eu acabei traindo a Nora. — Eu estou bem — massageia as têmporas. — Só minha cabeça que está estourando. Acho que exagerei nos drinks ontem. — faz uma careta divertida. — É, você exagerou bastante. Estava até divertido ver minha esposa toda soltinha dançando. — Ela estreita os olhos. — Eu paguei muito mico ontem? — neguei com a cabeça — Bruno, você está mentindo pra mim, pela sua cara eu paguei mico sim. — Não. Você não pagou mico, só se divertiu, ok. — Você não está falando a verdade. Ai que vergonha eu passei.— Você não passou vergonha, só se divertiu. A minha mãe adorou quando você decidiu ensiná-la a fazer a dancinha do tik tok. — contei, rindo. — Bruno, eu não fiz isso — negou quase chorando, e eu dei risada — Você está rindo! Bruno, você
MIKAELA Eu olhei a cara do Bruno procurando algum resquício de dúvida na sua decisão de me mandar embora, mas não tinha nada. Ele parecia até se divertir com a minha situação, ou melhor, parece não, ele está se divertindo com o meu desespero. — Você está me mandando embora por causa do que aconteceu entre nós aquele dia? — perguntei, ele suspirou, impaciente. — Você ainda tem dúvidas, Mikaela? Você achou que uma noite de sexo iria me fazer mudar a decisão, que eu iria parar com minha vingança? Você está muito enganada. — Sua risada desdenhosa soa alta. — Eu não pensei nada, Bruno. Eu sei que você nunca vai desistir da sua vingança e me perdoar. Eu conheço você o suficiente para saber que se tivesse alguma chance de perdão, você jamais me colocaria em um trabalho desse. — Ele estreita os olhos quando eu termino minhas palavras. Olho em seus olhos. — Você não precisa me mandar para o Rio de Janeiro, eu não vou provocar você ou criar situações. Eu não quero complicar sua vida — Sua
Eu não tenho muitas amigas aqui, aliás, não tinha nenhuma, até a nova contratada chegar, a Mikaela. Nos damos bem assim que nos conhecemos, ela é um amor, mas parece muito mal, tadinha, a gente ver nos olhos dela que a vida dela não é nada fácil. Eu faço o possível para ajudar, quase morro de dor no corpo, meus músculos ficam moídos, mas eu dou conta de todo o trabalho sozinha quando ela não está bem.Eu já percebi que entre ela e o chefe tem algum problema, não deve ser nada simples, porque o chefe fez ela se desculpar com um cliente escroto; isso nunca aconteceu, no máximo era uma advertência e pronto. Hoje o chefe veio e a Mika conversou com ele no escritório por alguns minutos, ela saiu de lá péssima. Depois de terminar as tarefas que o Marcelo designou para mim, eu resolvi ir até o quarto dela, meu coração doeu quando ouvi o choro, ela ainda mentiu dizendo que estava tudo bem. Eu resolvi não insistir, ela pode querer ficar sozinha, mas quando estava saindo ouvi um barulho alto.
MARCELO Ontem a noite a Mikaela passou mal outra vez, ela desmaiou no quarto e acabou machucando a cabeça quando caiu. A sorte dela é que a Brenda estava lá e ouviu, ou as consequências poderiam ser bem ruins. Eu sei que o objetivo do Bruno é se vingar pelo que a Mikaela aprontou com ele no passado, mas sinceramente, eu não concordo com nada disso. É visível que a Mikaela não está nada bem, há dias que ela mal consegue parar em pé, mas o Bruno insiste nessa vingança idiota. Ele ainda tem sentimentos por ela, isso ficou bem claro ontem, dava para ver o pânico explícito no seu rosto quando a Brenda disse que a Mikaela estava mal, esse pânico só piorou quando ele viu o estado dela, mas a raiva o cega. Eu até tentei falar com ele, mas o cara é orgulhoso demais parar aceitar conselhos. — Bruno, viu agora, olha só como ela está. Não tem condições de fazer ela continuar trabalhando, ela precisa de acompanhamento médico! — falei, depois que a Mikaela entrou para sala de emergência. O Brun
BRUNO Eu não deveria me sentir assim por causa de uma mulher que me enganou e humilhou, mas eu estou muito preocupado. Ver a Mikaela caída com aquele sangue ao redor da sua cabeça e o quarto completamente bagunçado, me deixou muito perturbado. Eu não fico tão ansioso assim desde que a Amanda caiu da árvore e quebrou o braço. Eu entrei na enfermaria para vê-la e foi mais um baque que tive, a Mikaela está com um monte de tubos espalhados pelo corpo e agulhas nos braços, isso está longe de ser algo simples. — É o senhor que está acompanhando a paciente? — Uma enfermeira perguntaou, aproximando-se de mim.— Sim. — Acompanhe-me , por favor. O doutor quer falar com o senhor. Só pela sua fisionomia séria, eu já imagino que isso não vai ser nada bom. — Bom dia, doutor. — cumprimentei, assim que entrei no consultório. — Bom dia. Pode se sentar, por favor. — aponta a cadeira. — Então, senhor...— Bruno. — Então, senhor Bruno. O caso da sua amiga é muito complicado. — Senti um nó se form
— Eu não diria que eu desisti, só que eu aceitei que não vou conseguir dessa vez. — Ela fala calmamente e essa sua reação me incomoda muito. — Você fala isso assim? Você realmente não tem medo da morte, Mikaela? — Ela negou, sorrindo. Seu objetivo é me irritar. Minha gargalhada soa alta, nervosa. Minha vontade é sacudir essa mulher com força; ela não pode estar falando sério. Eu respiro fundo, tentando me acalmar, depois puxo uma cadeira e me sento ao lado da cama. — Quando você ficou doente a primeira vez? — Ela estreita os olhos quando ouve minha pergunta; morde o lábio inferior; parece se em dúvida se me conta ou não. — Você não quer resolver as coisas, Mikaela? Eu estou te oferecendo uma chance de falar. Aproveite, seja sincera comigo ao menos uma vez. — Bruno, eu sempre fui sincera com você. Eu te amo de verdade e sempre te amei. Muito — mais uma vez o som da minha risada ecoa junto ao barulho dos aparelhos médicos. — Amou tanto que me traiu e ainda foi embora com um ve
— Ela ajudou você? — Minha voz sai arranhada, é como se tivesse uma bola de arame na minha garganta. Enquanto estou lutando para digerir, essa história absurda, ela continua:— Ela me salvou. A Danda me achou desacordada na rua e me levou ao hospital; pagou a conta, me comprou comida e depois que eu ganhei alta médica ela me levou para sua casa. Eu moro no quartinho dos fundos da loja de conveniência dela. — Por que você não voltou ao Brasil? — Porque eu não tive condições, e nem coragem. Três meses depois eu comecei a sentir dores na barriga. A menstruação durava o mês inteiro e as cólicas eram terríveis. Eu fiz exames e descobri a doença, um tumor maligno no útero que se estendeu aos ovários; segundo os médicos, a causa foi a falta de cuidados e o excesso de abortos em um curto período de tempo. Eu destruí a minha vida quando entrei naquele carro, Bruno. Eu fui gananciosa e deixei meu interesse pela vida luxuosa falar mais alto que o meu amor por você e me lasquei. — Ela ri novam
MIKAELA Eu não sei por quanto tempo eu chorei, ou quanto tempo eu dormi. Só sei que acordei e já não estava mais na mesma enfermaria comum, agora estou em um quarto enorme, muito bem equipado, é um hospital, mas não é o hospital onde eu estava, esse é em outra cidade. Estou em frente a uma janela, dá para ver as luzes da cidade lá embaixo, o prédio é alto demais para uma cidade do interior. Sou tomada por um enorme alívio quando penso na conversa que tive com o Bruno, sinto-me mais leve depois de falar tudo que estava entalado na minha garganta. Eu não faço ideia de como ele enxerga tudo que ouviu, se seu ódio por mim diminuiu ou aumentou, nem sei se ele acredita em mim, mas pelo menos eu desabafei. E a melhor coisa disso tudo foi ser confortada por ele; em seus braços eu me senti tão protegida, é uma pena que o abraço protetor não é mais meu. Fiquei olhando pela janela por longos minutos, pensando em tudo que aconteceu antes; meu coração pesa. O Bruno deve estar sentindo nojo de m