MARCELO Ontem a noite a Mikaela passou mal outra vez, ela desmaiou no quarto e acabou machucando a cabeça quando caiu. A sorte dela é que a Brenda estava lá e ouviu, ou as consequências poderiam ser bem ruins. Eu sei que o objetivo do Bruno é se vingar pelo que a Mikaela aprontou com ele no passado, mas sinceramente, eu não concordo com nada disso. É visível que a Mikaela não está nada bem, há dias que ela mal consegue parar em pé, mas o Bruno insiste nessa vingança idiota. Ele ainda tem sentimentos por ela, isso ficou bem claro ontem, dava para ver o pânico explícito no seu rosto quando a Brenda disse que a Mikaela estava mal, esse pânico só piorou quando ele viu o estado dela, mas a raiva o cega. Eu até tentei falar com ele, mas o cara é orgulhoso demais parar aceitar conselhos. — Bruno, viu agora, olha só como ela está. Não tem condições de fazer ela continuar trabalhando, ela precisa de acompanhamento médico! — falei, depois que a Mikaela entrou para sala de emergência. O Brun
BRUNO Eu não deveria me sentir assim por causa de uma mulher que me enganou e humilhou, mas eu estou muito preocupado. Ver a Mikaela caída com aquele sangue ao redor da sua cabeça e o quarto completamente bagunçado, me deixou muito perturbado. Eu não fico tão ansioso assim desde que a Amanda caiu da árvore e quebrou o braço. Eu entrei na enfermaria para vê-la e foi mais um baque que tive, a Mikaela está com um monte de tubos espalhados pelo corpo e agulhas nos braços, isso está longe de ser algo simples. — É o senhor que está acompanhando a paciente? — Uma enfermeira perguntaou, aproximando-se de mim.— Sim. — Acompanhe-me , por favor. O doutor quer falar com o senhor. Só pela sua fisionomia séria, eu já imagino que isso não vai ser nada bom. — Bom dia, doutor. — cumprimentei, assim que entrei no consultório. — Bom dia. Pode se sentar, por favor. — aponta a cadeira. — Então, senhor...— Bruno. — Então, senhor Bruno. O caso da sua amiga é muito complicado. — Senti um nó se form
— Eu não diria que eu desisti, só que eu aceitei que não vou conseguir dessa vez. — Ela fala calmamente e essa sua reação me incomoda muito. — Você fala isso assim? Você realmente não tem medo da morte, Mikaela? — Ela negou, sorrindo. Seu objetivo é me irritar. Minha gargalhada soa alta, nervosa. Minha vontade é sacudir essa mulher com força; ela não pode estar falando sério. Eu respiro fundo, tentando me acalmar, depois puxo uma cadeira e me sento ao lado da cama. — Quando você ficou doente a primeira vez? — Ela estreita os olhos quando ouve minha pergunta; morde o lábio inferior; parece se em dúvida se me conta ou não. — Você não quer resolver as coisas, Mikaela? Eu estou te oferecendo uma chance de falar. Aproveite, seja sincera comigo ao menos uma vez. — Bruno, eu sempre fui sincera com você. Eu te amo de verdade e sempre te amei. Muito — mais uma vez o som da minha risada ecoa junto ao barulho dos aparelhos médicos. — Amou tanto que me traiu e ainda foi embora com um ve
— Ela ajudou você? — Minha voz sai arranhada, é como se tivesse uma bola de arame na minha garganta. Enquanto estou lutando para digerir, essa história absurda, ela continua:— Ela me salvou. A Danda me achou desacordada na rua e me levou ao hospital; pagou a conta, me comprou comida e depois que eu ganhei alta médica ela me levou para sua casa. Eu moro no quartinho dos fundos da loja de conveniência dela. — Por que você não voltou ao Brasil? — Porque eu não tive condições, e nem coragem. Três meses depois eu comecei a sentir dores na barriga. A menstruação durava o mês inteiro e as cólicas eram terríveis. Eu fiz exames e descobri a doença, um tumor maligno no útero que se estendeu aos ovários; segundo os médicos, a causa foi a falta de cuidados e o excesso de abortos em um curto período de tempo. Eu destruí a minha vida quando entrei naquele carro, Bruno. Eu fui gananciosa e deixei meu interesse pela vida luxuosa falar mais alto que o meu amor por você e me lasquei. — Ela ri novam
MIKAELA Eu não sei por quanto tempo eu chorei, ou quanto tempo eu dormi. Só sei que acordei e já não estava mais na mesma enfermaria comum, agora estou em um quarto enorme, muito bem equipado, é um hospital, mas não é o hospital onde eu estava, esse é em outra cidade. Estou em frente a uma janela, dá para ver as luzes da cidade lá embaixo, o prédio é alto demais para uma cidade do interior. Sou tomada por um enorme alívio quando penso na conversa que tive com o Bruno, sinto-me mais leve depois de falar tudo que estava entalado na minha garganta. Eu não faço ideia de como ele enxerga tudo que ouviu, se seu ódio por mim diminuiu ou aumentou, nem sei se ele acredita em mim, mas pelo menos eu desabafei. E a melhor coisa disso tudo foi ser confortada por ele; em seus braços eu me senti tão protegida, é uma pena que o abraço protetor não é mais meu. Fiquei olhando pela janela por longos minutos, pensando em tudo que aconteceu antes; meu coração pesa. O Bruno deve estar sentindo nojo de m
— Eu já tomei minha decisão. Não quero passar por todo o processo doloroso se nem tenho tantas chances. — Mika, você não pode desistir assim. Acha que isso é brincadeira? Você vai morrer, Mikaela, por favor, não faça essa burrada!— Brenda, não é tão simples assim. Você… vocês não entendem o quanto é difícil, é uma batalha complicada, dolorosa, eu já passei por isso antes e achei que estava tudo bem, que eu havia vencido, mas olha só, eu vou ter que passar por tudo de novo. A Brenda sentou-se na beirada da cama e me abraçou. Ela é muito sensível, pois já está chorando de soluçar. Depois de passados alguns minutos que o médico saiu, chegou um psicólogo; a Brenda nos deixou a sós e o homem me fez um imenso interrogatório. Eu até gostei da nossa conversa, durou horas. Eu já passei com psicólogos antes, mas dessa vez eu achei diferente, o homem falou tanto quanto eu.*** Eu fiquei uma semana internada. Meu ferimento na cabeça está melhor e eu estou mais forte, também, com a quantidade
BRUNO Tenho dificuldades de respirar com tudo que ouvi. Eu fiquei esses anos todos achando que a Mikaela estava estava vivendo uma vida boa, com viagens, luxo, muito dinheiro e felicidade; agora ela me conta todos esses absurdos e pior, ela está com câncer. Eu sinto como se meu coração estivesse sendo esmagado por cada palavra que ela fala; meu peito dói quando a vejo assim. Depois de desabafar tudo, ela começou a chorar descontroladamente e eu só a abracei com força. A mantive em meus braços até ela dormir; fiquei olhando ela dormindo com os olhos inchados de tanto chorar e só consegui sentir pena, pena e raiva. Como eu queria ter esse maldito desgraçado na minha frente agora para enchê-lo de pancada; acabar com ele! Como pôde fazer algo assim? É cruel demais, doentio demais. Saí do hospital depois de deixar tudo pronto para a transferência da Mikaela para o Rio de Janeiro; a Brenda vai com ela para fazer companhia. Eu sou sócio do Hospital Martin Schmutz, é um hospital com excele
— Você nunca vai mudar sua opinião sobre mim, não é mesmo ? — Ela perguntou com um sorriso forçado — Sabe, Bruno, eu só quero saber se existe algum sentimento bom aí dentro. Eu sei que você está bem, que tem uma família, e eu nunca quis atrapalhar você. Eu tinha uma passagem de volta para Nova Iorque, esse era o meu plano. — Não venha com esse papo, Mikaela. Eu só vou acreditar em você quando você for sincera, quando pensar em mais alguém além de si mesma! — Ela suspira profundamente. — Tudo bem, Bruno — se afasta — Essa conversa não vai dar em nada. Eu já disse tudo que aconteceu na minha vida esses anos todos. Eu não quero atrapalhar sua vida, não quero mais problemas. — Falou, com a voz embargada, e tentou me empurrar. Eu segurei seus braços e virei seu rosto para ela olhar para mim. — Mikaela, eu já acertei tudo aqui, apartamento para você e a Brenda ficarem, todas as despesas do hospital pagas; fiz tudo isso porque, apesar de todo o passado, eu ainda me preocupo com você, não