Três dias depois...Fernanda Castellane:Finalmente o dia de voltar a rotina de fauldade e hospital chegou, estrango a paz de uma mulher recem casada. Tem apenas três dias que comecei a morar oficialmente com Pietro, e não consigo descrever nenhuma sensação melhor do que poder dizer que tenho uma marido .Mesmo que seja por um contrato...Não importa, enquanto for válido, Pietor é meu marido e fim.E, o que me deixa ainda mais feliz é fato de ele ter me permitido mudar para o quarto dele." Vai facilitar suas lições matinais, já que as noturnas sempre nos deixam exaustos." - minhas palavras ensaiadas ecoam, mordo o lábio segurando o riso com a lembrança.Ele soltou uma risada baixa, daquelas que ele faz quando está tentando esconder que está sorrindo. Não discutiu. Só puxou o lençol de lado e me deixou entrar. Foi no segundo dia que, depois da loucura deliciosa da noite onde fui seu jantar e tive que servi a osbremessa na cama, ele me puxou de leve para o peito dele.E foi assim que p
Fernanda Castellane:O vento sopra com força leve sobre o terraço, trazendo consigo um frio discreto que arrepia meus braços por baixo do jaleco. As luzes do hospital tremeluzem à distância, e o céu, salpicado de estrelas, parece mais silencioso do que deveria.Tiago está encostado na mureta, com os braços cruzados e o olhar perdido no horizonte. Seu corpo está aqui, mas tudo no modo como se mantém afastado me diz que ele queria estar em qualquer outro lugar, longe de mim.— Me trouxe aqui só pra ficar me encarando? — ele pergunta sem virar o rosto, o tom carregado de mágoa e ironia mal disfarçada.— Ti... — minha voz sai hesitante. — Por que está se comportando assim comigo? Eu sou sua amiga...— Não. Não somos amigos, Fernanda.As palavras dele são como um tapa inesperado. Arregalo os olhos, dando um passo para trás, como se o chão tivesse se tornado instável de repente.— Nã-ão...? — sussurro, quase sem acreditar.Tiago finalmente vira o rosto, e quando nossos olhares se encontram,
Fernanda Castellane;A casa está cheia. E eu nem tinha me tocando a saudade que tinha disso.O som das vozes misturado às risadas, os passos apressados dos gêmeos correndo pelo corredor com Pietro atrás deles, tentando manter o tom sério enquanto esconde o sorriso… tudo isso aquece a minha pele, o peito, o estômago. É como se, finalmente, essa casa grande e silenciosa tivesse encontrado alma.Gabriel repousa no colo da minha mãe, Cristiane, que o embala com um movimento suave e constante, como quem já nasceu sabendo como fazer isso. Ela murmura baixinho uma antiga canção de ninar, a mesma que cantarolava pra mim quando eu era pequena e tinha pesadelos.Luciana, com os cabelos presos em dois coques meio tortos, sorri encantada. Seus olhos brilham ao ver Gabriel se mexer, e suas mãozinhas expressivas se movem no ar, contando uma história muda que só ela compreende por inteiro. Ao lado, Luciano está debruçado sobre uma caixa de brinquedos, mergulhado no próprio universo de descobertas, c
Fernanda Castellane:Gabriel já está dormindo.O peito de Pietro sobe e desce devagar enquanto ele permanece parado ao lado do berço, os olhos fixos no rostinho tranquilo do nosso filho. Ele o observa como se estivesse tentando memorizar cada traço, como se quisesse eternizar aquele momento na mente. E talvez queira.Eu estou escorada no batente da porta, exausta. Não tanto mentalmente quanto fisicamente. O cansaço pesa nos ombros, nos pés, nas pálpebras. Mas o peso maior ainda é o que ficou de Tiago. Pensar nele me deixa com o coração apertado. Triste. Ferida.Mas mesmo assim... não trocaria este momento por nada no mundo.Pietro fecha cuidadosamente o mosquiteiro do berço e então se vira. Quando seus olhos encontram os meus, algo muda no ar. Seus passos são silenciosos, firmes. Ele caminha até mim, e suas mãos grandes pousam com gentileza nos meus quadris, consigo sentir o calor de suas palmas.Seus olhos se prendem aos meus, e por um instante, não existe nada além daquele olhar.— A
Fernanda Castellane:O hospital está especialmente frio hoje. Não sei se é o ar-condicionado mais forte ou o fato de eu estar sentada diante da mulher que mais me despreza nesse mundo.Paula Castellane.Minha sogra.Ela está posicionada exatamente como gosta: de frente para mim, com a postura ereta e o queixo levemente levantado, como uma rainha prestes a julgar sua serva. Nem a cadeira de rodas diminui a imponência que ela faz questão de exalar. Seus olhos, frios como aço polido, me observam como se eu fosse um erro de cálculo que ela ainda não entende como foi cometido.A tensão entre nós é quase palpável.— Como tem passado, minha sogra? — pergunto com a voz suave, o sorriso no rosto tão falso quanto o dela sempre foi. A curva de deboche nos meus lábios é medida, estratégica. Quase teatral.Ela ergue uma sobrancelha, bufa. Com desdém.É querida, você não é a única que sabe sorrir com falsidade — sorrio internamente com o pensamento.— De cadeira de rodas — ela responde com secura,
Fernanda Castellane:Termino de enfaixar a mão de Pietro com cuidado, tentando não apertar demais, mas também não deixar frouxo. A gaze já está avermelhada nas pontas e a respiração dele segue pesada, silenciosa, como se cada inalação carregasse muito mais do que oxigênio. O cheiro de antisséptico ainda paira no ar, misturando-se ao nosso silêncio pesado.Ele não fala nada.E eu não pergunto.Não agora.Termino de prender a faixa no pulso dele com um grampo, solto um suspiro baixo e me afasto um pouco para observar o estrago. Seus dedos ainda estão inchados, as articulações vermelhas. A parede atrás de nós carrega as marcas de sangue seco e rachaduras no gesso.A angustia e raiva estão estampadas em sua cara, me apertando o peito. Ergo a mão, quero fazer carinho nele, para que ele se sinta melhor, mas, antes que eu possa realizar meu objetivo, o som do choro de Gabriel ecoa pela casa, cortando o silêncio, mesmo sendo um som frágil, quase sumido.— Fique aqui, Pietro. Eu vou olhar ele
Fernanda Mendonça:Concentre-se Fernanda. Você já passou por várias simulações na faculdade, respire fundo e ajude! — Pressão arterial subindo! — A voz da enfermeira corta o ar, carregada de tensão.— Precisamos acelerar — a obstetra declara, sua postura rígida transparecendo a gravidade da situação. Ela se volta para o anestesista. — Ela está estabilizada o suficiente?— Podemos começar — o anestesista responde com um breve aceno, embora o nervosismo esteja evidente em sua voz.Meu coração parece pular do peito quando o bisturi na mão da doutora reluz sob a luz fria da sala. O ambiente ao meu redor parece diminuir, cada som ampliado como se estivesse dentro de uma bolha prestes a estourar.Droga! A simulação nunca é como a vida real.A obstetra começa a incisão, suas mãos rápidas e precisas. O sangue surge na pele pálida da paciente, e o som dos instrumentos sendo passados de mão em mão enche a sala, um ritmo quase hipnótico.— Chegando na cavidade uterina — informa a Dra.Sinto o s
Pietro Castellane:— Sei que o momento é delicado para o senhor — minha secretaria começa. — Mas os novos estagiários chegaram ontem, você ainda não se apresentou a...A frase dela é interrompida pelo som agudo do meu celular vibrando em meu bolso.— Um momento, Emile — tiro o aparelho do bolso e vejo o nome da médica da minha esposa na tela. Meu coração acelera. — O que aconteceu? — Atendo imediatamente, minha voz soando mais firme do que me sinto por dentro.O silêncio do outro lado dura uma fração de segundo, mas é longo o suficiente para que meu estômago se contraia em um nó.— Senhor Castellane, o estado da sua esposa piorou. A pressão dela está perigosamente alta. Precisamos fazer o parto de emergência agora. Não há tempo, ou perderemos os dois.O peso das palavras atravessa o meu peito como um soco. A sala ao meu redor desaparece em um turbilhão de vozes abafadas e formas indistintas, como se o mundo tivesse perdido o foco. A única coisa que ouço, clara como um trovão, é o som