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O primeiro dia/A turma em aula

Primeiro dia de aula no ensino médio, ansiedade tomava conta de mim, será que eu teria tantos problemas nesta escola como eu tinha na outra? Cheguei direto no local onde os nomes estavam escritos em folhas fixadas, na parede do saguão da escola, logo encontrei meu nome, turma 101 do turno da manhã. Estava ali, meu nome em meio a tantos outros, senti um braço por cima do meu ombro sendo levemente apoiado largando seu peso devagar e apontando com o dedo um nome na mesma lista em que meu nome se encontrava, Clayton da Silva. Fui virando com meus olhos acompanhando o braço, ele estava parado pouco atrás de mim, mais ao lado direito. Ele me deu sorriso o qual acabei correspondendo. Então ele apontou com a cabeça para a lita, logo entendi o que ele queria, peguei sua mão e apontei meu nome na lista, Keisla Albert.

- Bonito nome! – Ele falou. – Você não é daqui, não é mesmo?

- Obrigada. Sou sim!

- Com um nome desses?

- O que tem meu nome?

- É muito diferente, olha para a lista e veja, principalmente os sobrenomes. Acha mesmo que o seu é comum? – Ele não me deu tempo de responder. – Mas é lindo! Vem aqui comigo, irei te apresentar algumas pessoas.

Ele me puxou até um grupo de pessoas que estavam conversando. Fiquei sem saber o que dizer, sou meio envergonhada quando não conheço as pessoas.

- Quem é ela? – Perguntou um dos meninos.

- Ela será minha nova colega, seu nome é muito bonito. Fala para eles!

- Oi. Meu nome é Keisla!

- Oi Keisla, Eu sou a Adyne não dá muita bola para esse doido. Ele é muito palhação! Mas seu nome é muito bonito mesmo, seremos colegas de turma, você parece ser bem nova, qual a sua idade?

- Eu tenho quatorze, terminei o ensino fundamental um ano antes.

- Ah! Deve ter sido difícil para você! Nós todos aqui temos quinze anos, estudamos todos juntos aqui nesta escola, queremos que se sinta bem junto conosco.

Apenas dei um sorriso e agradeci.

- Vocês irão assustar nossa colega nova.  Olhe, não precisa ficar aqui conosco, entendemos que pode ser difícil o primeiro dia de aula quando não se conhece ninguém, só queremos que você fique mais confortável.

Nisso escuto meu nome no meio da multidão.

- Keisla?

Virei e avistei um rosto familiar, minha professora de português, aliás, minha ex-professora de português.

- Prof. – Cheguei a respirar aliviado neste momento.

- Vocês não sabem mesmo como receber uma colega nova, querem que ela desista no primeiro dia?

- Não, Sora! Queríamos fazer com que ela se sentisse a vontade conosco.

- Venha comigo, Keisla. Por que veio para uma escola tão longe de sua casa?

- Eu não havia conseguido em nenhuma outra.

- Nenhuma? Mas como você não passou nas provas daquele colégio que você tanto queria?

- Não entendo, prof.! Acho que era para ser assim. Quase não consegui escola, se minha mãe não tivesse um conhecido que é radialista e colocou a boca no mundo, eu acho que não teria conseguido nem esse daqui.

- Que ruim, muito estranho você não ter passado, logo você! Mas que bom que está aqui, pode confiar naquela turminha que recebeu você! Eles são bons alunos. Nem todos tão bons quanto você, mas são muito esforçados!

- Eu realmente estava me sentindo desconfortável com tanta amabilidade. Acho que a senhora sabe que na minha outra escola não era assim, achei que eles estavam tentando me pregar uma peça, sei lá! A menina nova, vamos ver como se comporta, ainda mais da maneira que foi!

- Deve ter sido o Clayton, ele não é nada reservado, isso assusta um pouco às vezes. Mas ele é uma pessoa muito boa. Você pode dar uma oportunidade para conhecê-los?

- Claro que sim, estou precisando conhecer algumas pessoas fora do meu mundo!

- Você continua dançando naquele grupo artístico?

- Sim, é a única coisa que faço por mim, sem meus pais me incomodarem.

- Entendo, mas não se sacrifique, aqui é diferente, as aulas são na maior parte da semana de manhã e de tarde, algumas chegando a ser até bem tarde, irá chegar de noite em casa, pois você mora quase uma hora daqui.

- Eu sei, mas nada que eu não possa ficar direto no ensaio. Até prefiro assim.

- Certo. Pode voltar lá com eles. - Estava saindo. – Espere, Keisla! E a sua amiga Drika?

- Ela também não conseguiu passar, acredita? Mas foi sorteada para uma escola mais perto de casa. Iremos nos ver nos ensaios e finais de semana.

- Pena que ficaram em escolas diferentes, tão amigas, separadas assim, deve ser muito difícil.

- Foi quando descobrimos que não passamos, daí para frente era implorar que conseguíssemos vaga em algum lugar, mesmo que separadas.

- Gosto dessa maturidade de vocês duas. Volte lá com seus novos colegas!

 Acabei não chegando até eles. Fiquei escorada no muro que tinha no corredor em que minha sala ficava, sentei nele para ser mais exata. Ali eu fiquei até que uma menina que iria ficar na turma ao lado, 102, chegou e sentou ao meu lado.

- Sozinha por opção, ou por falta de quem conversar?

- Por opção!

- Quer que eu saia?

- Não, pode ficar, meu nome é Keisla. E o seu?

- Eu me chamo Antuane! Mas todos me conhecem só por Ane. Você tem apelido?

- Meus amigos me chamam de Kei!

- Legal, Kei! Acho que iremos nos dar bem. Do que você gosta de fazer?

- Eu gosto de dançar e concorrer em festivais de dança. E você?

- Eu gosto de teatro, faço oficina todo o final de semana, podemos juntar nossas experiências e montar um grupo artístico aqui na escola, o que acha?

- Não sei, mas irei pensar sobre o assunto.

- Tem dois meninos na turma 103 que tocam violão. Posso ver com eles se gostariam de se juntar a nós, tenho certeza que deve existir outros talentos que querem fazer parte desse projeto!

- Eu disse que iria pensar.

- Eu entendi, mas já estou planejando caso você aceite. Tenho vários projetos encalhados, pois na minha escola anterior todos eram meio atravessados, não queriam fazer nada de útil para suas vidas. Você não, já está fazendo, vejo que seremos grandes amigas e parceiras. Você é muito legal!

 Apenas sorri para ela pensando que nessa escola só tem gente doida, acho que irei gostar daqui. Nunca havia sido aceita assim em lugar nenhum, parecia que eu era a pessoa mais importante do mundo. Não estava acreditando, para mim estava sendo um sonho que eu iria acordar a qualquer momento.

                                                             ***

                                                  A turma em aula

Hoje eu teria aula efetivamente, pela primeira vez depois de uma semana de organização. Esse fim de semana, Dri e eu fomos em um baile, um tipo de festa típica da região onde moramos. Depois de um dia cheio de divertimento eu dormi muito tarde, estava quase dormindo na sala de aula.

- O menina gênio! Vira aqui para trás.

- O que foi, Clayton?

- Você está bem?

- Deixa ela! Parece que foi atropelada por um caminhão.

- Não consegui dormir direito, Adyne!

- Está aí uma coisa que você não precisa dizer. Está estampado na sua cara, igual a um outdoor na esquina da principal sinalizado com luzes vermelhas piscantes!

- Nossa, que exagero, Clay! Ela não está tão ruim assim, só mais quieta que o normal!

- O que já deu para perceber que ela está muito ruim, ela fala pelos cotovelos!

- Quando você deixa!

Deitei novamente nos braços até a professora entrar. Nesse dia aprendi que eu conseguia odiar uma matéria mais que as minhas forças poderiam aceitar. A primeira aula de física! Antipatia total pelas duas, professora e matéria! Nunca senti tanto tédio na minha vida, comecei a rabiscar uma das folhas do meu caderno, escrever versos e trechos de músicas.

- O que está fazendo, mocinha?

- Nada, professora! Apenas escrevendo.

Ela pegou meu caderno e olhou-o.

- Onde está a matéria que você disse que estava escrevendo?

- Quem falou em matéria? Eu falei que estava escrevendo, apenas isso, a matéria veio por sua conta!

Ouvi metade da turma soltar risadinhas, inclusive a colega que estava sentada ao meu lado, Grenda! A professora ficou furiosa, olhou-me e jogou meu caderno em cima da minha classe.

- Dirija-se já para a direção e me aguarde lá! - Estava saindo da sala. – Ah! Leve seu caderno junto com você!

- Sim, senhora!

Voltei e peguei meu caderno, junto peguei a lapiseira.

- Deixe isso aí, eu falei o caderno, acha que sou burra? Irá anotar o que você lembra.

Larguei a lapiseira e saí com meu caderno na mão pensando, é burra sim, eu não havia pensado nisso ainda. Passei na sala ao lado, olhei quem era que estava dando aula, vi que era o professor de matemática, Otávio, enfiei minha cabeça discretamente na porta, olhei para o menino que estava sentado na primeira classe e cochichei.

- Oi, me empresta uma caneta, depois eu te devolvo.

Ele pegou uma no estojo e esticou a mão, eu a peguei e saí acenando para o professor que correspondeu o gesto. Sentei no chão na frente da diretoria e fiz algumas anotações do que eu vagamente lembrava, arranquei as folhas do meu caderno que continham o que eu realmente estava fazendo, dobrei e coloquei no bolso. Minha querida professora, ou melhor, Laura, minha ex-professora de português chegou, ela era vice-diretora.

- O que está fazendo aqui no horário de aula?

- A professora de física aparentemente não gostou das minhas anotações e me mandou para cá!

- A Silvia?

- Sim.

- Mas o que você estava anotado?

- Para ser sincera. – Puxei as anotações verdadeiras do bolso. – Eu estava fazendo isso durante as explicações.

- Mas por que estavam no seu bolso?

- Por que eu anotei as explicações no caderno enquanto esperava, arranquei essas e guardei para ela não poder me acusar de nada.

- Me entregue isso! – Ela pegou meus rabiscos e colocou na máquina picotadora de papel. – Agora sente-se aqui e espere ela vir.

Para minha grande surpresa, Silvia, a professora de física, era a diretora da escola, mais surpresa ainda fiquei quando descobri que mais da metade dos professore apenas a suportavam. Ela entrou aos gritos.

- Essa garota acha que é quem para perturbar minha aula?

- Abaixa o tom ao falar com os alunos, você não está falando com a sua mãe! O que ela fez para você?

- Ela me desrespeitou na frente da turma inteira.

- De graça?

- Ela não estava prestando atenção na aula, olhe o caderno dela, veja as maravilhosas anotações que ela fez!

Ela arrancou o caderno da minha mão e jogou no balcão. A vice-diretora pegou o caderno e falou olhando para ela.

- Essa não é a sua matéria?

Silvia pegou o caderno quase sem acreditar.

- O que é isso, menina?

- Sua matéria, professora! Está tudo aqui, pelo menos até a hora que fui obrigada a me retirar da sala, tomara que alguém mais tenha prestado tanta atenção quanto eu, pois irei precisar copiar o restante da matéria de alguém!

- SAIA DAQUI!

- Sim, senhora!

- SAIA!

Ela estava histérica gritando aos quatro cantos da sala. Voltei caminhando, entreguei a caneta para o menino, segui até minha sala, pedi licença para a professora e entrei.

- Então! Conhecendo a diretoria?

- Sim, professora! Fui convidada exclusivamente para isso.

- Tudo bem, acontece! Tome cuidado, ou ela será uma pedra no seu tênis!

- Tomarei cuidado. Obrigada.

Chegou a hora do intervalo.

- Como foi?

- Senta aqui que eu te conto.

Comecei a conta para Adyne como tinha ocorrido lá dentro, todos os detalhes.

- Esquecemos de te dizer como ela era. Desculpe. Realmente não imaginei que ela iria pegar logo no seu pé que é tão quietinha. Principalmente assim, sem motivo algum. Parece que ela olhou para você e disse, é ela!

Antuane entrou correndo na nossa sala.

- Conta tudo.

- Pode ser na hora de irmos pegar o ônibus? Prometo que não deixarei de contar nadinha, nenhum detalhe.

- Está bem, eu irei cobrar os detalhes sórdidos também!

- Combinado.

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