Hoje eu teria aula efetivamente, pela primeira vez depois de uma semana de organização. Esse fim de semana, Dri e eu fomos em um baile, um tipo de festa típica da região onde moramos. Depois de um dia cheio de divertimento eu dormi muito tarde, estava quase dormindo na sala de aula.
- O menina gênio! Vira aqui para trás.
- O que foi, Clayton?
- Você está bem?
- Deixa ela! Parece que foi atropelada por um caminhão.
- Não consegui dormir direito, Adyne!
- Está aí uma coisa que você não precisa dizer. Está estampado na sua cara, igual a um outdoor na esquina da principal sinalizado com luzes vermelhas piscantes!
- Nossa, que exagero, Clay! Ela não está tão ruim assim, só mais quieta que o normal!
- O que já deu para perceber que ela está muito ruim, ela fala pelos cotovelos!
- Quando você deixa!
Deitei novamente nos braços até a professora entrar. Nesse dia aprendi que eu conseguia odiar uma matéria mais que as minhas forças poderiam aceitar. A primeira aula de física! Antipatia total pelas duas, professora e matéria! Nunca senti tanto tédio na minha vida, comecei a rabiscar uma das folhas do meu caderno, escrever versos e trechos de músicas.
- O que está fazendo, mocinha?
- Nada, professora! Apenas escrevendo.
Ela pegou meu caderno e olhou-o.
- Onde está a matéria que você disse que estava escrevendo?
- Quem falou em matéria? Eu falei que estava escrevendo, apenas isso, a matéria veio por sua conta!
Ouvi metade da turma soltar risadinhas, inclusive a colega que estava sentada ao meu lado, Grenda! A professora ficou furiosa, olhou-me e jogou meu caderno em cima da minha classe.
- Dirija-se já para a direção e me aguarde lá! - Estava saindo da sala. – Ah! Leve seu caderno junto com você!
- Sim, senhora!
Voltei e peguei meu caderno, junto peguei a lapiseira.
- Deixe isso aí, eu falei o caderno, acha que sou burra? Irá anotar o que você lembra.
Larguei a lapiseira e saí com meu caderno na mão pensando, é burra sim, eu não havia pensado nisso ainda. Passei na sala ao lado, olhei quem era que estava dando aula, vi que era o professor de matemática, Otávio, enfiei minha cabeça discretamente na porta, olhei para o menino que estava sentado na primeira classe e cochichei.
- Oi, me empresta uma caneta, depois eu te devolvo.
Ele pegou uma no estojo e esticou a mão, eu a peguei e saí acenando para o professor que correspondeu o gesto. Sentei no chão na frente da diretoria e fiz algumas anotações do que eu vagamente lembrava, arranquei as folhas do meu caderno que continham o que eu realmente estava fazendo, dobrei e coloquei no bolso. Minha querida professora, ou melhor, Laura, minha ex-professora de português chegou, ela era vice-diretora.
- O que está fazendo aqui no horário de aula?
- A professora de física aparentemente não gostou das minhas anotações e me mandou para cá!
- A Silvia?
- Sim.
- Mas o que você estava anotado?
- Para ser sincera. – Puxei as anotações verdadeiras do bolso. – Eu estava fazendo isso durante as explicações.
- Mas por que estavam no seu bolso?
- Por que eu anotei as explicações no caderno enquanto esperava, arranquei essas e guardei para ela não poder me acusar de nada.
- Me entregue isso! – Ela pegou meus rabiscos e colocou na máquina picotadora de papel. – Agora sente-se aqui e espere ela vir.
Para minha grande surpresa, Silvia, a professora de física, era a diretora da escola, mais surpresa ainda fiquei quando descobri que mais da metade dos professore apenas a suportavam. Ela entrou aos gritos.
- Essa garota acha que é quem para perturbar minha aula?
- Abaixa o tom ao falar com os alunos, você não está falando com a sua mãe! O que ela fez para você?
- Ela me desrespeitou na frente da turma inteira.
- De graça?
- Ela não estava prestando atenção na aula, olhe o caderno dela, veja as maravilhosas anotações que ela fez!
Ela arrancou o caderno da minha mão e jogou no balcão. A vice-diretora pegou o caderno e falou olhando para ela.
- Essa não é a sua matéria?
Silvia pegou o caderno quase sem acreditar.
- O que é isso, menina?
- Sua matéria, professora! Está tudo aqui, pelo menos até a hora que fui obrigada a me retirar da sala, tomara que alguém mais tenha prestado tanta atenção quanto eu, pois irei precisar copiar o restante da matéria de alguém!
- SAIA DAQUI!
- Sim, senhora!
- SAIA!
Ela estava histérica gritando aos quatro cantos da sala. Voltei caminhando, entreguei a caneta para o menino, segui até minha sala, pedi licença para a professora e entrei.
- Então! Conhecendo a diretoria?
- Sim, professora! Fui convidada exclusivamente para isso.
- Tudo bem, acontece! Tome cuidado, ou ela será uma pedra no seu tênis!
- Tomarei cuidado. Obrigada.
Chegou a hora do intervalo.
- Como foi?
- Senta aqui que eu te conto.
Comecei a conta para Adyne como tinha ocorrido lá dentro, todos os detalhes.
- Esquecemos de te dizer como ela era. Desculpe. Realmente não imaginei que ela iria pegar logo no seu pé que é tão quietinha. Principalmente assim, sem motivo algum. Parece que ela olhou para você e disse, é ela!
Antuane entrou correndo na nossa sala.
- Conta tudo.
- Pode ser na hora de irmos pegar o ônibus? Prometo que não deixarei de contar nadinha, nenhum detalhe.
- Está bem, eu irei cobrar os detalhes sórdidos também!
- Combinado.
***
Aula de educação física
Hoje será o primeiro dia que terei que ficar o dia todo na escola, pois temos educação física durante o período da tarde. O professor de matemática entrou na sala de aula com sorriso enorme.
- Bom dia, turma! Sentem-se, por favor! Hoje será um dia muito especial, vocês irão escolher os líderes de turma.
Um dos engraçadinhos que senta no fundo, Trevor, gritou mais que instantaneamente.
- A garota nova com o nome bonito!
- Isso. A Keisla! Ela fez a maior proeza do mundo, enfrentou a Silvia. Eu apoio! – Disse o Clayton.
Nesse momento, eu que estava rabiscando meu caderno de cabeça baixa, levantei meu rosto. Olhando para o professor ali parado com um sorriso enorme estampado em eu rosto que até me parecia bonito, apesar da idade.
- O que? Negativo! Eu não quero isso, não sirvo para essas coisas.
Clayton colocou a mão no meu ombro.
- Se você aceitar, eu me candidato de vice para ajudar você!
Antes não tivesse acreditado... Virei para trás e peguei sua mão.
- Promete?
- Claro!
- Está bem, eu aceitarei. Só que fique claro, eu moro longe e não poderei ser muito ativa nas reuniões fora do meu período de estudos. Você mora aqui perto e está se comprometendo a me ajudar, isso inclui as reuniões.
- Fechado então, turma? Agora precisamos do professor conselheiro.
Preciso dizer que a turma toda votou nele? Nosso professor de matemática seria nosso conselheiro, e não pensem que isso irá criar um futuro romance proibido, porque não irá! Antes que as conclusões sejam tiradas erroneamente.
- Professor! – Antuane enfiou a cabeça dentro da nossa sala.
- Sim.
- Você aceita ser o nosso conselheiro de classe?
- Negativo, ele será o nosso professor! Podem ficar com a Silvia. – Trevor se manifestou.
Aliás, ele só aparece para lacrar! Positiva ou negativamente.
Otávio olhou-o. – Não sou professor exclusivo de vocês! – Olhou para Antuane ainda parada na porta e com um belo sorriso respondeu. – Eu aceitaria com muito gosto, mas já sou conselheiro de uma turma de cada turno, ficará muito complicado para mim, mas agradeço a confiança e o carinho de vocês!
Ok, não vou dizer que ele não me impressiona!
- E quem você indica?
Ele baixou a cabeça. – Assim você me coloca em uma posição difícil! Não posso escolher um colega, isso é antiético!
- Eu posso sair ali no corredor para conversar com ela, professor?
- Claro, Keisla!
Levantei e me dirigi até a porta.
- Você tem alguém para me indicar?
- Sim, coloquem a Carmen!
- A professora de química? Você ficou maluca?
- Não fiquei maluca, ela é muito legal.
- Muito obrigada, Kei! Mas acho que a turma irá cortar o meu pescoço se eu indicar ela.
- Só por causa da matéria?
- Sim!
- Você só pode estar brincando. Quer que eu vá ali com você?
- Você assume a responsabilidade?
- Claro.
- É a Silvia que está lá!
- Então não! Se vira, amiga. Irei voltar para minha aula.
- Poxa, achei que podia contar com você!
- E pode mesmo, vamos lá!
- Vamos!
Parei no corredor. – Um, dois, três...
- O que você está fazendo?
- Você não disse que iria contar comigo? Eu já comecei... Se quiser eu recomeço. Vamos! Um, dois, três... – Ela ficou me olhando. – O que foi? Não posso contar com você também?
- É sério isso, Kei?
- Você não quer que eu entre na sua sala para enfrentar uma professora que me odeia e ainda por cima defender uma professora que vocês odeiam tendo que expor as qualidades dela? Eu que pergunto se é sério isso!
- Ei, vocês duas, já deu tempo até de fazer a votação e a apuração dos votos, entre, Keisla! Irei passar matéria nova.
- Desculpe, amiga. O professor está me chamando. Fica minha indicação, vocês não irão se arrepender.
Entrei na sala e sentei-me na minha cadeira.
- Por que demorou tanto?
- Ela queria que eu entrasse a turma para falar!
- Deu! Você duas podem prestar atenção, por favor.
- Desculpe, professor! – Cochichei para Adyne, que agora senta ao me lado, pois discutiu com o Clayton. – Depois te conto.
O sinal soou para troca de matérias no terceiro período, o qual ficaríamos sem aula, pois ainda não tínhamos professor para aula de literatura.
- Me conta tudo!
- Tudo o que?
- Você falou que depois iria me contar tudo que aconteceu quando foi falar com a Ane.
- Ah, isso! Já havia esquecido.
- Kei, vem aqui.
Levantei e fui para o corredor.
- Incrível, eu falei que você havia sugerido a professora Carmen e todos aceitaram!
- Que bom! Você pode me desculpar?
- Pelo que?
- Querer que você entrasse na sala e enfrentasse a Silvia! Na verdade eu estava com medo dela, eu precisava de uma pessoa para me apoiar.
- Tá tranquilo. Sua professora está vindo, você tem que entrar na sala.
- Valeu, amiga!
Voltei e meus colegas estavam jogando stop, também conhecido como adedanha ou adedonha, é uma brincadeira em grupo, na qual os jogadores devem ser rápidos com as palavras, onde cada tema, os jogadores devem encontrar uma palavra que comece com a letra sorteada.
- Quero jogar!
- Na próxima rodada, e pode ir para lá, não é para ficar ouvindo nossas respostas.
- Credo, eu me garanto, tá!
Levantei fazendo uma careta, fui para a quadra de futebol.
- Quer jogar?
- Espera, irei tirar meu sapato e já vou.
Eu estava com um sapato com um salto considerável, e não conseguiria jogar, tirei-os e fiquei de pés descalços.
- Entra no outro time.
- Eles estão sem camisa! Não posso jogar com eles...- Oh, esperta! Olha ao seu redor, tem outra menina jogando futebol?- Ah, não! É verdade. – Dei um sorriso e me coloquei na linha da zaga.Entramos intervalo adentro jogando, eu acabei saindo logo em seguida, pois havia um número considerável de meninos querendo jogar. Juntei meus sapatos, minhas meias e fui até uma torneira que fica perto de um banco para poder lavar meus pés e esperá-los secar sem ter que caminhar muito para não sujá-los novamente.- Você pensou sobre o grupo cultural?Veio um dos meninos de outra turma falar comigo.- Ainda não havia pensado nisso, na verdade, eu já havia até esquecido disso! Mas eu acho que vocês podem criá-lo sem mim. Já estou achando que tenho coisas o suficiente para me preocupar.- Você pode só partic
O sinal bateu, levantei do banco onde eu estava deitada. Joguei o walkman na mochila e me dirigi para a sala de aula. Quando cheguei a professora estava largando suas coisas na mesa.- Com licença, professora! Desculpe, eu estava do outro lado da escola e não imaginei que a senhora viria tão rápido para a sala.- Pode entrar, coloque seu chiclete no lixo.Tirei o chicle da boca largando-o na cesta de lixo. Sentei abrindo a mochila e derrubando meu walkman no chão. Clayton se abaixou e pegou-o me entregando.- Desculpa por hoje mais cedo, eu não quis ofendê-la quando chamei-a de burra!- Eu sei! Obrigada.- Pronto, agora posso começar a aula?- Sim, claro, professora! Fique a vontade. – Respondeu Clay.Ela ficou apenas repassando a matéria, pois não tinha como passar matéria nova devido a pouca quantidade de alunos na aula.Fiquei a aula int
- Keisla!- Isso... Eu sou o Leandro, caso tenha esquecido, sou o secretário do Grêmio. Preciso que você assine a ata da reunião. - Olhei-o largando minha mochila no chão, peguei o livro ata, assinei e devolvi em silêncio. – Você está bem?- Sim. Tome.Peguei minha mochila e tomei o rumo da quadra. Nessa altura o banco que fica embaixo da árvore estava cheio. Sentei na beira da quadra, até que fui chamada para jogar, de tarde não estava muito diferente do período da manhã, poucos alunos por causa da greve dos ônibus, o professor de educação física acabou nos liberando muito mais cedo.- Você ficará esperando ônibus ali na parada sozinha?- Estou pensando em ir pegar ônibus no paradão do centro, lá eu tenho quatro alternativas, não preciso ficar esperando só dois espec&i
- Certo. Irei apenas me arrumar. Fique aqui, ou volte para lá se quiser.- E deixá-la sozinha? Nem pensar.- Ela não ficará sozinha. Eu ficarei aqui para acompanhá-la.- Olha só. Eu não preciso de guarda nenhum, as meninas estão aqui, vocês dois podem ir agora! Nos encontramos na frente do acampamento.- Quero um assim para mim também!- Pode escolher.- Por ela pode até ficar com os dois! Não mexendo com o príncipe encantando da Kei!- Um dia... Fico imaginando, ele chegando em um cavalo lindo com seus cabelos ao vento!- Cabelos ao vento, amiga? De onde tirou isso? Você nunca gostou de homens com cabelos longos.- Sempre tem a primeira vez!Fizemos nossa apresentação e ficamos classificados para as finais no domingo. Sheila e Michele, outra amiga que não é do nosso clube, acabaram dormindo
- Silêncio total, tem certeza que eles foram na sala do Grêmio?- Certeza eu não tenho nem de que sou filha dos meus pais!Olhei-a rapidamente levemente assustada.- Como assim? Não entendi.-Você tem certeza de que é filha dos seus pais?- Sim!-Você nunca pensou, eu não pertenço a esta família?- Muitas vezes, mas quando os reunimos eu tenho certeza que nenhum dos meus parentes pertence a ela, então está tudo certo. E se eu não nasci da minha mãe, o que eu realmente acredito que há uma grande possibilidade, pelo menos eu sei eu fui escolhida para viver com eles.- Está certa! Eles estão subindo. Venha, vamos terminar de arrumar as cadeiras antes que eles cheguem aqui e vejam que não fizemos nada.Atiramos as cadeiras rapidamente espalhadas e sentamos no chão. Clay entrou correndo com uma enor
Despertando o interesseHoje meu ônibus atrasou por causa de um acidente, acabei chegando no final da primeira aula. Fiquei sentada no muro esperando o sinal tocar para entrar na sala.- Se atrasou também, Kei?- Sim, mas você mora aqui do lado.- Despertador com defeito.- Antuane!- Sim...Ela olhou para mim e sentou ao meu lado.- Você conhece bem os meninos que estudam no turno da noite?- Bom, depende. O Leandro, sim. Já o Rafael, que é quem eu acredito que você queira realmente saber. Não! Ele é novo aqui na escola.- Entendi. Imaginei que você conhecesse porque ele é amigo do Leandro.- Ih! Sei que você não me perguntou, mas o Rafael tem muitos problemas, fiquei sabendo que ele veio para cá como um castigo, digamos assim!- Ah! Castigo? Como assim?- Não sei te explicar is
- Eita! Vai levar junto?- Queria, mas minha namorada me bate se eu fizer isso! O Maik pediu para guardar o lugar para ele, Pode ser o banco do meio.- Por que ele não veio com você?- Ele acabou indo para a casa dele, a dona mãe dele estava com o capeta no coro ontem e acabou fazendo ele ir embora!- Espera, mas que hora isso aconteceu, saímos daqui depois da uma da madrugada.- Então, até aí estava tudo certo para ele ir lá em casa. Mas o “seu pai” dele, resolveu encher as “cuias” de cachaça fazendo ela ficar furiosa e nos esperar na frente do meu portão para ele ir embora, fazer o que, eu não sei, como se ele fosse fazer passar o porre do véio!- Com uma mulher daquelas, só enchendo a cara para aguentar, mesmo! Tadinho do Maik. Tenho muita dó dele quando essas coisas acontecem.- E acaba ficando
- Seu irmão mais velho?- Não, sou namorado dela! Algum problema para você?Certo, o Lorran é muito arrogante e imponente, além de ser alto e aparentemente forte, digo aparentemente, pois na verdade é pura propaganda enganosa. É tisgo de magro, igual vara de caniço! Mas valeu a pena a intromissão, na maior parte das vezes eu não gosto, mas hoje foi bom, o parceiro lá foi embora nos deixando ir deitar.Não conseguimos nem fechar os olhos.- Podem levantar para me abraçar, suas horrorosas.- Quem não tinha aparecido ainda mesmo?- Acharam que eu não viria?- Entra aqui!Sheila entrou se jogando entre nós duas.- Por que não apareceu antes?- Ai, Dri... Tivemos alguns problemas antes de sair de casa, meu tio baixou hospital e meu pai não queria mais vir. Daí ele falou c