O clima estava maravilhoso na primeira manhã a bordo do Savannah, o moderno navio a vapor onde viajavam. Para Ivy, este era um presságio de que tudo correria bem.
Infelizmente, as duas amigas não puderam explorar o navio como gostariam. O acesso da terceira classe era limitado apenas aquele piso, e como distração, além de olhar o mar, tinham apenas um salão de jogos e um salão comum, onde as pessoas se reuniam falando alto, cantando e contando piadas.
O refeitório também era separado apenas para aquela classe. Possuía longos bancos de madeira, onde vários passageiros ocupavam a mesma mesa. Segundo ouvira falar, isso era considerado um luxo para a classe econômica, que as companhias de viagens passaram a adotar, pois, em outros tempos a terceira classe tinha que levar os próprios alimentos.
Na cabine, além das camas e um pequeno armário para guardar os pertences, havia uma pia, onde poderiam se lavar, mas, a casa de
O navio demorou muito mais do que o previsto na Espanha, só seguiram viagemà noite, daquele mesmo dia. Deveriam chegar à Itália em três dias, se tudo corresse bem e as paradas não fossem tão longas.Os dois dias que se seguiram foram tranquilos e as noites, como sempre, bem animadas, na área coletiva da terceira classe. Ivy realmente se divertia e se sentia livre naquele ambiente, festejando com aquelas pessoas e conhecendo um lado diferente da vida. Seria hipócrita se dissesse que não sentia falta de todos os luxos que tinha e de todos os privilégios que a sua posição social proporcionava, no entanto, a liberdade de agir e se comportar alí, era algo que desejava provar a muito tempo.Era a sua última noite a bordo do Savannah, no dia seguinte desembarcariam na Itália e aproveitariam ao máximo a estadia por lá. Tudo exatamente como sonhou durante os últimos anos.Estava dançando com um rapazote italia
Aquela foi uma noite bem longa para Ivy, ela não saberia explicar o motivo, mas, sempre que fechava os olhos a imagem daquele olhar de fogo a devorando, vinha em sua mente perturbá-la, e também podia ouvir as vozes da sua cabeça que sussurravam perguntas que ela jamais poderia responder."E se tivesse ficado?""E se não tivesse corrido como uma criança com medo?"Não era do seu feitio correr ou fugir de qualquer desafio, pelo contrário, sempre fora julgada por sua ousadia e atitudes, consideradas indevidas para uma dama. No entanto, naquela noite, de forma nada planejada, estava agindo com medo e até timidez. "Ele também estava olhando pra mim."Era essa a frase que permanecia na cabeça de Ivy, enquanto ela se afastava, no balanço das águas. Por mais que ela estivesse em uma cidade tão encantadora, cercada por todo luxo e liberdade que só seria possível para um cavalheiro, o único pensamento que vinha lhe roubando os sentidos era exatamente esse.Após o episódio no barco, pelo restante do caminho e durante o resto daquela noite em que mal pregou os olhos, não havia outra coisa na qual conseguisse se concentrar. Os olhos de gelo, de um azul tão profundo, o cabelo escuro que realçava ainda mais o seu olhar, o tamanho e a personalidade imponentes. Tudo naquele homem a atraía, de uma forma que jamais imaginou ser possível.Sempre havia idealizado a sua vida livre e independente. Sabia que chegaria o momento em que teria que se casar com alguém, os seus pais, com certeza, se certificariam disso. No entanto, nunca se imaginou feliz07
– Milady, a senhorita perdeu o juízo de vez! – disse Lunna, assim que Ivy retornou ao quarto luxuoso que as duas dividiam e lhe contou o que havia acontecido e o que haviam combinado para o dia seguinte.– Meu coração já ficou tão aflito hoje, ao vê-la partir com ele, sozinha, e agora me diz que pretende fazer o mesmo amanhã?– Calma, Lunna. Eu não pretendo ir sozinha, você irá comigo dessa vez. Eu não quero passar impressões erradas nesse primeiro encontro oficial. Amiga, eu sei que isso tudo parece loucura, mas, é algo que não dá pra explicar, eu só sinto que preciso viver isso antes de voltar para o faz de conta da minha mãe. É a minha única chance real de fazer o que eu realmente quero.Ivy caminhou até a cama e se jogou nela, imaginando como tudo seria no dia seguinte.– Você está apaixonada por ele? – perguntou Lunna, afinal, nunca tinha visto a sua lady se comportar daquela maneira com um cavalheiro.–
Quando desceu do seu quarto para encontrar-se com Andrew, Ivy sentiu aquele familiar frio na barriga, que antecedia todos os encontros entre os dois. Sempre achou que a esta altura já estaria longe de Veneza, que toda aquela empolgação já teria ido embora, que um homem experiente e viajado, como Andrew aparentava ser, não deveria dedicar tanto tempo assim a uma simples serva, que sequer saía a sós com ele. No entanto, pelo decorrer dos acontecimentos, estava completamente enganada.Nos últimos dias, mal se separavam e ela já se via ansiosa pelo próximo encontro. Ele, por sua vez, sempre estava lá na tarde seguinte, elegante e gentil, com os olhos de gelo que sempre faiscavam quando a viam chegar e a derretiam por dentro, um pouco de cada vez.– Milady, está especialmente encantadora esta tarde– falou ele, assim que a viu chegar. – E a senhorita Evans?– Lisonjeiro como sempre, milorde. Infelizmente a senhorita Evans se s
Como uma tarde que deveria ter sido a mais maravilhosa de sua vida, estava se tornando tão desastrosa? Em um momento estava completamente envolvida em um beijo avassalador, em outro estavam discutindo sobre o futuro que não poderiam ter.O que mais ele queria que ela dissesse? Já não era esperado que em um determinado tempo ela tivesse que partir? E, o que, de fato, ele estava disposto a lhe oferecer?Se perguntava Ivy, enquanto navegavam de volta para Veneza.Se sentia culpada, acima de tudo, afinal, acabara de o rejeitar. Entretanto, o que ele queria dizer, quando lhe pediu para abrir mão de sua vida e ficar em Veneza? Voltou a subestimá-la como uma serviçal desonrada e sem dignidade, apenas por não ser abastada? Ou pior, seu próprio comportamento desajustado o levaram a subjugá-la dessa maneira, como já acontecera antes, em Londres, com outros cavalheiros?Neste caso, só lhe restava descobrir o que verdadei
– Milady, definitivamente estou falando a sério. mesmo que praticamente não paremos durante a viagem, já estamos praticamente atrasadas para voltar para Roma– disse Lunna, alarmada pelo atraso no retorno a Inglaterra, pelo terceiro dia consecutivo.– Eu sei que será muito doloroso, mas, não há nada que possa fazer sem destruir a honra de toda a sua família, Ivy. Sequer sabemos quem de fato é o senhor Smith, onde mora, o que faz da vida…Ivy sabia que a amiga estava coberta de razão. O que só tornava tudo ainda mais doloroso. Os últimos dias pareciam ter escorrido feito água pelos seus dedos e não conseguia se concentrar em mais nada. A cada encontro com Andrew, seu corpo clamava com urgência por algo mais íntimo, talvez consciente de que o tempo entre os dois estaria acabando. Ela sabia que se fosse em frente não teria mais vo
Ivy estava deitada com a cabeça no peito de Andrew, seu corpo quente e suado enroscado ao dele e as pernas entrelaçadas.Ambos estavam exaustos, mas, totalmente satisfeitos e relaxados, com aquela estranha e nova sensação de que finalmente estavam completos.Nesse momento, Andrew sentiu que talvez não valesse a pena mentir sobre quem realmente era. Não era possível que aquele sentimento tão forte não fosse genuíno e que Vivienne não fosse sincera com ele. Mas, então que segredos ela escondia? Por que insistia em dizer que era apenas uma serva de férias, quando na realidade era obviamente muito mais do que isso? Por mais que uma serva economizasse a vida inteira, jamais conseguiria fazer uma viagem como aquela, se hospedar nos melhores hotéis.Ele havia prometido a si mesmo que não iria se importar mais com aquilo, afinal, ela já havia deixado bem claro que em algum momento pretendia voltar para Inglaterra. Porém, quem sa