Ponto de Vista de MariaKane e Anya continuavam a se encarar, avaliando um ao outro mesmo depois que a situação já tinha se tornado socialmente desconfortável, e ainda continuaram.Em algum momento, percebi que eles poderiam até ter esquecido que eu existia e estava presente. Era assim tão intensa a troca de olhares entre eles. Parecia que eu tinha interrompido um momento íntimo, e por um breve instante, fiquei confusa com a tensão que parecia crepitar entre eles até que, de repente, algo se encaixou.Tentei conter o suspiro, mas já era tarde, e quando percebi, Kane já tinha desviado o olhar da minha melhor amiga e voltado para mim.— Vou estar esperando você nos campos de treinamento. — Murmurou enquanto um rubor subia por suas bochechas, e então, com um último olhar para Anya, se virou e saiu apressado.Ao meu lado, Anya soltou um súbito suspiro de alívio, mas não reagi. Pelo menos não imediatamente.Em vez disso, esperei até ter certeza de que Kane estava fora do alcance da voz ante
— Como você está se adaptando à Alcateia Sangue? — Perguntei, tentando puxar conversa.Kane não respondeu imediatamente. Em vez disso, seus olhos se estreitaram, como se ele estivesse tentando decidir se minha súbita amizade era uma armadilha.Não o culpei por isso, e ele devia ter visto a sinceridade em meus olhos porque depois de um breve momento respondeu:— É parecida em muitos aspectos com a Alcateia Sombras Carmesim... mas também... diferente. Vi o ônibus escolar descer para buscar as crianças da alcateia. Não temos isso em casa.Seus olhos brilharam com saudade por um momento, e logo em seguida ele pareceu perceber que estava divagando, porque seu olhar subitamente voltou a se concentrar em mim.— É... revigorante.Eu queria insistir, mas não tive a oportunidade, porque Kane rapidamente pigarreou.— Está ficando tarde. — Disse ele. — Devemos começar a sessão de hoje.Não era mentira. O céu estava todo manchado de rosa e laranja enquanto o sol se punha, e quando olhei ao redor, p
Ponto de Vista de MariaMal senti os braços de Kane me envolvendo para amortecer minha queda. Enquanto ele se ajeitava para me segurar melhor, a parte de trás da minha cabeça bateu no chão e tudo ficou escuro.Não sabia por quanto tempo fiquei desacordada, mas aos poucos comecei a voltar a mim, e minha consciência do ambiente foi lentamente voltando.Podia ouvir o som distante de vozes pairando sobre meu corpo deitado.— Ela está bem? — Perguntou alguém, uma loba.Kane praticamente rosnou sua resposta: — Vá buscar o médico da Alcateia agora!— N, não. — Murmurei fracamente, forçando minhas pálpebras a se abrirem. Não havia passado muito tempo, já que o céu estava praticamente da mesma cor de antes de eu desmaiar.Mesmo assim, franzi os olhos: — Estou bem. Só preciso... de espaço.Imediatamente, Kane me colocou na grama e me soltou. Por um momento, o mundo ao meu redor parecia girar num carrossel sem fim, mas quando o efeito passou, me senti muito melhor.Com cuidado, me sentei, gemen
Kane fez uma pausa por um momento, e suas sobrancelhas se franziram pensativamente.— Eu... estava me perguntando quando finalmente entraríamos em contato com isso. Não pensei que seria tão cedo...Ele desviou o olhar de mim, e algo em sua expressão naquele momento disparou sinais de alerta em minha cabeça. Mas tentei manter a calma.Disse a mim mesma que, já que ele havia previsto esta Raiz, deveria haver uma solução, mas quando perguntei como nos livraríamos dela e ele não respondeu imediatamente, senti uma nuvem começar a pairar sobre meu otimismo.— Eu... não posso me livrar da Raiz por você, Maria. — Kane admitiu finalmente.Eu já sabia que era isso que ele diria, mas as palavras soaram como o último prego em meu caixão e fiquei surpresa com as lágrimas que imediatamente brotaram em meus olhos, embaçando minha visão.Uma onda de pavor e cansaço me envolveu, e naquele momento eu queria me levantar, ir até o quarto e me trancar lá pelo resto da eternidade. Kane devia ter percebido a
Ponto de Vista de MariaDevia ter cochilado, porque quando acordei sobressaltada no sofá, senti uma dor no pescoço que não estava lá quando inicialmente deitei minha cabeça. Havia também uma vaga sensação de que algum tempo tinha se passado.Por um momento, minha mente permaneceu prazerosamente vazia, alheia aos acontecimentos da tarde enquanto me sentava bocejando.Então, rapidamente tudo voltou: a pulsação na minha cabeça da memória ainda selada, que parecia mais imediata que meu próprio batimento cardíaco; e o fato de que eu precisaria localizar algo não identificável para finalmente me livrar dessa sensação.A ignorância era uma virtude, observei cansada enquanto me voltava para dentro de minha mente para encontrar Márcia bocejando ao despertar.Então, ouvi o som da fechadura da porta da frente girando, e imediatamente minha pele se arrepiou em alerta.Não havia como descrever a sensação que me invadiu quando Samuel entrou no apartamento. Tudo que eu podia dizer era que parecia abs
Ponto de Vista de Maria“Shhh!” Uma voz familiar sibilou dentro do meu quarto, e do lado de fora da porta, meus dedos congelaram na maçaneta, sem se mover.— Alguém vai nos ouvir.Parecia a voz da minha meia-irmã Rosa, e um buraco doentio se abriu no fundo do meu estômago assim que ouvi meu noivo Paulo responder a ela.— E se ouvirem?Através da fresta na porta, eu espiei e os vi na minha cama com os pés entrelaçados. Paulo estava sem camisa, e Rosa estava apenas de sutiã.— Nossa Matilha vai enlouquecer. — Minha irmã ronronou, piscando os olhos para ele. Seu tom era provocante enquanto ela deslizava uma unha lentamente pelo peito de Paulo. Eu me sentia enjoada. — O Alfa Samuel odeia confusão – e além disso, Maria não vai ficar nada feliz.— Eu vou te proteger de todos eles. — Paulo disse, inclinando-se para beijar a testa dela. Ele soava confiante, à vontade, e qualquer estranho que o ouvisse pensaria que ele era um dos maiores lutadores que tínhamos. — Achei que tínhamos combinado de
Ponto de Vista de MariaDei um passo para trás antes que pudesse me conter enquanto ele se aproximava, mas o som da risada de Rosa parou Paulo, e ele a olhou, o rosto se contorcendo de raiva.— Você mordeu…— Ele começou, mas antes que pudesse dizer outra palavra a Rosa, meu pai o agarrou pela gola, puxando-o para perto o suficiente para que seus narizes quase se tocassem.— Mencione o nome de Rosa novamente e veja se eu não vou te caçar. — Meu pai avisou em um tom baixo e ameaçador. — Mesmo que você fuja e se esconda, eu te encontrarei.Olhando para ele agora, era fácil ver que Miguel Pereira era o Beta da Alcateia Sangue, e uma série de emoções lutavam dentro de mim enquanto eu absorvia tudo isso.Eu me sentia orgulhosa de sua demonstração de força, mas também magoada porque ele não hesitou em defender minha irmã quando Paulo se moveu para insultá-la. Enquanto isso, sua solução para a minha própria desgraça era me casar.Paulo deu de ombros, tirando as mãos do meu pai de sua gola e da
Ponto de Vista de MariaÀ pergunta, meu coração apertou no peito e senti um arrepio percorrer minha espinha quando sua voz poderosa me alcançou. Com lágrimas escorrendo pelo rosto, virei lentamente para encontrar o Alfa Samuel observando a cena diante dele com uma expressão de desagrado. Seus lábios estavam comprimidos em uma linha branca, e seus olhos estavam semicerrados.Suprimi um suspiro assim que meu olhar caiu sobre ele, arregalando os olhos ao vê-lo. Ele parecia aterrorizante na camisa ensanguentada que vestia. Havia respingos de sangue seco por todo o seu rosto, e suas mãos pareciam mergulhadas em um balde de tinta vermelha. Passou-se um momento antes que eu percebesse que nada disso vinha dele. Parte de sua camisa estava rasgada, mas a pele por baixo permanecia lisa e intacta, embora eu soubesse, de anos observando-o treinar, que seu corpo era um emaranhado de cicatrizes sobre músculos fortes.Ele havia voltado da batalha que tinha iniciado dois dias antes com alguns dos melh