Não vi Carter o dia todo. Nossa comunicação se limitou a trocas de e-mails objetivos e diretos, como se estivéssemos jogando uma partida de xadrez silenciosa.Na hora do almoço, saí com Colin e Matt para compartilhar as novidades.Matt me parabenizou e disse que me apoiava, mas… algo parecia diferente. Ele estava mais quieto do que o normal, como se algo o incomodasse. Será que ficou chateado por eu estar saindo do setor? Talvez.Já Colin… bem, ele nunca foi de falar muito mesmo.Ainda assim, vou sentir falta do Matt. Aqui, nesta sala enorme e impecavelmente organizada, fico completamente sozinha. Meu contato com Carter, pelo visto, acontecerá principalmente à distância, por mensagens e demandas inesperadas.Mas, para ser sincera, não tive tempo para sentir tédio. O trabalho é muito mais dinâmico do que eu imaginava. Me manter ocupada foi fácil, e até gostei do ritmo intenso.Suspiro, fecho a última aba do computador e deslizo os dedos sobre o botão de desligar. Está na hora de ir par
— Me envie os documentos até amanhã de manhã. Eu te dou um retorno durante a semana — finaliza, encerrando a chamada com um toque decidido.O silêncio se instala por um instante. Aproveito para limpar a garganta, chamando sua atenção de forma meio hesitante. Ele me lança um olhar de canto, desconfiado.— Stewart, a que horas chegaremos? — pergunta, desviando-se de mim.— Em cinco minutos, senhor.Ryan volta a deslizar os dedos pelo celular, despreocupado.— Fique tranquila... Você irá se sair perfeitamente bem.Eu franzo a testa.— Perdão... Você está falando sobre a entrevista?Um sorriso sacana brinca em seus lábios.— Estou brincando. Não sou tão cruel a ponto de jogá-la na cova dos leões logo na primeira vez.Uma risada baixa escapa de sua boca, e ele volta a levar o telefone ao ouvido. Mas antes, por um breve segundo, seus olhos sorridentes cruzam os de Stewart pelo retrovisor.O que quer que aquele olhar tenha significado, me deixa com a estranha sensação de que estou prestes a
O ar ao redor da mesa muda sutilmente. O jeito como Carter a encara tem algo de desafiador, como se estivesse testando seus limites. A jornalista inclina a cabeça, e sua autoconfiança vacila. Suas bochechas ficam levemente coradas.Ela está perdendo o controle da entrevista. E Carter sabe disso.A jornalista leva alguns segundos para se recompor, mas logo retoma a entrevista, agora se concentrando em perguntas mais técnicas sobre as pesquisas tecnológicas da Carter Corp. Sem dúvida, percebeu que tentar desestabilizar Ryan Carter é um desafio quase impossível. Melhor evitar armadilhas e seguir por um terreno mais seguro.Observo meu chefe enquanto ele responde com precisão cirúrgica. Nada o surpreende, nada o tira do eixo. Ele articula cada palavra com a calma de quem já nasceu comandando, sem pressa, sem hesitação, como se tudo estivesse sob seu controle absoluto.— Senhor Carter, agradeço por seu tempo e por compartilhar essas informações conosco. — A jornalista finalmente encerra a
Quando finalmente chego em casa, minha primeira parada é verificar CandyEspero encontrá-la agitada, correndo pela sala como um filhote animado, mas, para minha surpresa, ela está enrolada em si mesmo, uma bolinha felpuda adormecida no meio do sofá.Sorrio com a cena e me aproximo devagar, sentando-me ao seu lado para não incomodá-la. Então, me deixo cair contra as almofadas com um longo suspiro, fechando os olhos por um instante.Que dia.Minha mente vagueia, e, inevitavelmente, a entrevista com Carter surge em minha lembrança. Seu olhar seguro, a maneira como ele virou o jogo contra a jornalista, o jeito como ele parece sempre um passo à frente de todo mundo…(...)— O que você aprendeu com esse momento, senhorita Martin?A voz de Carter soa calma e firme, carregada com aquela confiança irresistível. Ele me observa com uma taça de coquetel na mão, os olhos brilhando sob a luz suave do terraço.O vento noturno faz meus cabelos dançarem, e eu percebo que estamos do lado de fora do pré
Em um segundo, percebo que estou em uma posição constrangedora, algo que mais lembra uma oferta, do que qualquer outra coisa profissional. E, claro, a primeira imagem que me vem à mente é ainda menos digna de um escritório. Me levanto rapidamente, como se estivesse me afastando de algo perigoso, e, em um movimento desajeitado, coloco as folhas bagunçadas sobre a mesa, tentando, em vão, ajustar minha saia.Carter se aproxima, ainda um pouco atordoado, seus olhos seguindo o caminho das folhas espalhadas pelo chão.— Não foi nada, só... deixei cair alguns documentos — digo, tentando soar tranquila, mas minha voz denuncia minha tentativa desesperada de controlar a situação.— Talvez seja melhor eu passar mais tarde... — ele sugere, meio incerto, e há algo na sua expressão que me faz ter a sensação de estar nua.— Não! De jeito nenhum. Me fale agora — respondo rápido demais, talvez até demais. Mas eu não posso deixá-lo fugir.Disfarçadamente, empurro uma folha que estava presa sob o meu es
Depois que saímos, meus amigos me levaram a um restaurante espanhol incrível. A comida estava deliciosa, o vinho fluiu sem moderação e as risadas foram tantas que em certo momento tive que enxugar as lágrimas. Mas, como Lisa mesma disse, a noite estava apenas começando.Nosso próximo destino? A Starlite. Ou, como ela gosta de dizer, o lugar perfeito para "se acabar".Matt e Colin foram buscar bebidas enquanto eu e Lisa nos acomodamos em um dos bancos, aproveitando um momento de descanso antes da pista de dança nos chamar.— Então... Como está indo com o Senhor Intenso? — Lisa pergunta com um sorrisinho malicioso.Senhor Intenso. Esse virou o apelido oficial do Carter entre nós.— Sinceramente? Ainda tentando entender como ele funciona.— Normal, você precisa de mais tempo de convivência.— Sim, é o que eu digo a mim mesma... Mas, na verdade, acho que tenho dificuldade em confiar nele.Lisa arqueia uma sobrancelha, interessada.— Como assim?Dou um longo suspiro antes de responder.— S
O restante da tarde é consumido por um caso que Carter me passou. Aos poucos, começo a entender a complexidade disso tudo. O problema com essa empresa – como acontece com todas as gigantes – é que sua estrutura é uma teia imensa, onde tudo se conecta de forma intrincada.Sinto a dor de cabeça chegando enquanto tento mapear os vínculos entre parceiros, investimentos e projetos ativos. Para organizar melhor as informações, monto tabelas com códigos de cores, atribuindo funções e setores a cada item. No meio disso, enquanto respondo alguns e-mails, um novo alerta pisca na tela.E-MAIL DE RYAN CARTER:Está pronta para esta noite?Franzo a testa. "Pronta para esta noite?" Do que ele está falando?E-MAIL DE KATERINA MARTIN:Pronta para esta noite...?PS: O projeto que me pediu está pronto.Dou uma rápida conferida na minha agenda da semana. Nenhuma reunião, nada de entrevistas ou compromissos importantes anotados. Então, o que diabos ele quer dizer com isso? Alguns segundos depois, outra no
Quando a limousine desacelera diante do Museu Guggenheim, minha respiração fica presa na garganta. A grandiosidade do momento pesa sobre mim, como se eu estivesse prestes a entrar em um território proibido.Respira, Katerina. Não surta. Você não é uma impostora.Stewart desce primeiro e, com sua postura impecável, contorna o carro para abrir a porta.A luz dos postes e flashes de fotógrafos se mistura à iluminação elegante da entrada, refletindo no vidro do veículo. Quando ele finalmente puxa a maçaneta, eu inspiro fundo. Meus dedos deslizam suavemente sobre o tecido de seda do meu vestido enquanto ajeito a barra, reunindo coragem antes de sair.E então, coloco um pé para fora.Assim que minha sandália toca o mármore frio da calçada, percebo os olhares ao redor.Jornalistas, convidados, passantes... Todos desviam a atenção para mim por um instante, suas expressões repletas de curiosidade.Quem é essa?Como ela chegou aqui?Por que parece que está flutuando em um vestido digno de tapet