Mashallah, minha sorte finalmente mudou

Jade Al-Kudsi

Desde que consegui esse emprego, tenho me sentido abençoada. O salário é ótimo, e me livrei do aluguel do apartamento decadente onde morava. Além disso, a generosidade da senhora Donatella ao me oferecer o quarto de hóspedes só intensificou essa sensação. Nunca na minha vida comi tão bem ou desfrutei de uma cama tão cheirosa e confortável.

Suspiro, relembrando o quanto sofri ao longo da minha vida. Meu passado foi marcado por uma infância dolorosa e cheia de desespero. Tudo começou com a morte prematura da minha mãe quando eu tinha apenas doze anos. Meu pai nunca conseguiu superar essa perda, o que afetou sua saúde, levando-o gradualmente à deterioração. Ele faleceu poucos anos depois.

E as dificuldades não pararam por aí. Fui retirada de casa, da comunidade árabe onde morava, e enviada a uma instituição para jovens órfãs. Infelizmente, as outras meninas não me acolheram bem. Enfrentei momentos difíceis e me perguntei o motivo pelo qual elas me tratavam com hostilidade. A senhora que cuidava de nós uma vez mencionou que a inveja motivava esse comportamento. Mas como poderiam sentir inveja da minha desgraça?

Resumindo, minha jornada foi repleta de desafios até chegar a este momento. Balanço a cabeça, afastando as lembranças tristes, e me aproximo da janela para admirar a bela propriedade como se estivesse em um sonho.

Mashallah, minha sorte finalmente mudou, e é isso que escolho acreditar!

🌞🌚🌞🌚🌞🌚🌙

Quinze dias depois...

Jade

Los Angeles, a cidade que nunca dorme, oferece uma excelente vida noturna. Ganhando pouco e vivendo para pagar contas, passei a maioria dos meus finais de semana em casa, com uma tigela de pipoca no colo, assistindo à vida pela televisão. O bom é que sou bem eclética em relação a filmes, gosto de todos os gêneros.

Mashallah, meu fado mudou, pois consegui um bom emprego. Agora posso usar a pequena reserva que antes era destinada às contas para sair hoje.

Observo o lindo convite negro com o nome "Oak" impresso com letras douradas, que minha amiga Natasha comprou para mim.

Nos conhecemos quando eu trabalhava para os Hamed, ela como ajudante de cozinha e eu como babá de uma garotinha da mesma idade que Bianca. Ambas ficamos desempregadas quando nossos patrões foram para o Egito, mas tanto ela quanto eu conseguimos bons empregos. Natasha está trabalhando para uma família rica em Beverly Hills, no mesmo bairro onde estou empregada.

Vou até a janela e a abro um pouco, encarando a noite quente de céu estrelado. Abaixo de mim, está a linda piscina iluminada.

Essa gente literalmente nada em dinheiro! É só olhar para este lugar, com o bando de seguranças que rondam os jardins e os empregados que servem essa rica senhorinha.

Saio da janela, pego minha bolsa e sigo em direção à saída. Agora, tenho a oportunidade de aproveitar a vida noturna de Los Angeles, algo que antes estava além das minhas possibilidades. A sensação de liberdade e mudança é revigorante, e sinto-me abençoada por finalmente poder desfrutar de momentos como este.

Horas depois...

Jade Al-Kudsi

Quando Natasha e eu entramos na Oak, meu corpo inteiro estremece de excitação. Não que eu me deslumbre facilmente com as coisas, mas o lugar é simplesmente maravilhoso e sinto como se estivesse pisando nas nuvens.

—Deus! —minha amiga geme ao meu lado —Parece que entramos em uma festa de um poderoso sheik árabe.

—Eu também tenho essa sensação.

—Um conselho, não se engane com os homens daqui. Eles não seguem os preceitos que você tanto preza. Então, não vá entregando seu coraçãozinho para qualquer um. Se conhecer alguém, vá devagar.

—Não se preocupe comigo. Eu nunca procuraria um homem para namorar nesse ambiente. Vim apenas para dançar e espairecer.

—É isso aí, garota!

—E quanto a você?

—Estou na pista. Se surgir alguém interessante, não vou me dar por vencida, e eu sei separar as coisas.

—Não vá por esse caminho. Tenha cuidado.

Ela acena concordando:

—Vamos dançar?

No meio da pista de dança, ao som da bela música de Khaled, El Arbi, fico de frente para minha amiga, que começa a se requebrar e mover os braços.

Rio para ela e, fechando meus olhos, entro no ritmo da música da minha terra, sabendo muito bem o que fazer com minhas mãos e quadris.

O Árabe Oh, oh, sou o árabe, filho dos bosques e dos faisões, esta é a prova, esta é a prova, sim. O sábio, o sábio, sem mulher, esta é a prova.

—Jade, todo mundo está parando para ver você dançar —ela diz alto no meu ouvido, e eu a olho como se saísse de meu transe.

Realmente, os homens observam cada um dos meus movimentos; seus olhos me avaliam, medindo suas chances de se aproximar de mim. As mulheres me encaram com os lábios torcidos.

Encaro minha amiga:

—É que eles nunca viram uma verdadeira árabe dançando.

Fecho os olhos e continuo minha dança. Hoje é uma noite em que quero extravasar sem me importar com ninguém.

Sou o árabe, ser viúvo é minha sina, esta é a prova. Esta é a prova, sim O sábio, o sábio, sem mulher, esta é a prova Perdão, esta é a prova, sim. Oh, oh sem flores, sem felicidade, oh, deixe-me dormir, esta é a prova sim, esta é a prova. Sou o árabe, ser viúvo é minha sina, esta é a prova. Esta é a prova sim.

Segundos depois, ouço palmas ao meu redor, seguindo o ritmo da música. Allah! Imagine se eu estivesse usando roupas de dança em vez deste vestido. Embora ele seja preto, curto e cheio de brilhos.

Eu sei que estou bonita.

Sorrio para todos e continuo minha dança.

Sou o árabe, filho dos bosques e dos faisões, esta é a prova. Esta é a prova, sim O sábio, o sábio, sem mulher, esta é a prova Perdão, esta é a prova, sim. Oh, oh, sem flores, sem felicidade, oh, deixe-me dormir, esta é a prova sim, esta é a prova. Sou o árabe, ser viúvo é minha sina, esta é a prova. Esta é a prova sim.

Ao final da música, mais palmas, mas desta vez direcionadas a mim. Sorrio sem jeito e entro no ritmo da nova música que começa.

El Alem Allah de Amr Diab.

 

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