Quem diabos é você?

—E como! Até pouco tempo eu não sabia direito quem morava na casa. Se a garotinha era órfã ou se os pais estavam viajando. Só obtive essa informação dias atrás, quando Donatella ganhou confiança em mim. E mais! A casa é cercada por seguranças. Quando a senhorinha sai, dois brutamontes a acompanham.

—Puxa! Eles são neuróticos mesmo!

—Pois é... —digo pensativa, e então meus olhos ficam vivos nos dela—mas não vamos mais falar sobre minha vida. Agora quero saber do seu emprego. Está feliz? Está se adaptando bem?

—Como não? De auxiliar, me tornei uma chef de cozinha! Não tem como não ficar feliz. Agora sou eu quem manda descascar batatas.

—É isso aí!

Rimos juntas, e ela começa a me contar sobre o seu dia a dia e como sua comida tem agradado.

Natasha toma o último gole do chope e me encara:

—Vamos dançar? Viemos aqui para isso, não é mesmo?

Eu termino minha água com gás e digo animada:

—Claro, além disso, não quero chegar muito tarde. O pai da Bianca chega amanhã e preciso estar bem. Não quero ficar bocejando o tempo todo na frente dele.

—Você não tem folga?

—Não, eu optei por não ter. Quero juntar dinheiro. A vida me ensinou que o futuro é incerto, e quero estar preparada para enfrentá-lo caso algo aconteça.

—Deus, Jade! Você precisa relaxar.

—Não consigo. A vida sempre foi muito dura comigo. Que me dera viver despreocupadamente como você, que tem os pais vivos para te dar cobertura caso algo ocorra de errado.

Natasha entorta os lábios.

—Tudo bem! Você venceu! Mas tente não ser tão pessimista. Coisas boas podem surgir e te surpreender também.

Meus olhos brilham emocionados nos dela.

—Inshallah!

—O quê?

—É uma palavra em árabe que usamos para dizer "Se Deus quiser".

Natasha acena com a cabeça compreendendo e sorri:

—Deus há de querer! Vem, vamos dançar.

Madrugada, três horas da manhã....

Jade

Estou em frente ao imponente portão da mansão e, como esperado, o segurança, depois de verificar se estou sozinha e desarmada, abre o portão para que eu entre. Allah! Por que tanta rigidez na segurança? Tiro os sapatos que estão me matando e silenciosamente me dirijo para a casa, que está bem iluminada, o que me faz refletir sobre como é bom que os ricos não se preocupem com a conta de luz. As luminárias da sala estão acesas, e os corredores contam com as luzes de segurança. Sorrio. Foi bom deixar de lado a imagem da garota certinha, enclausurada, e dançar sem me importar se estou chamando a atenção ou não.

Natasha quer repetir essa experiência qualquer dia, mas confesso que não fiquei muito animada. Para mim, foi apenas uma celebração do novo momento que estou vivendo, nada mais que isso. Se eu embarcar nessa ideia de "viver a vida", certamente me sentirei vazia e solitária. Sou uma garota que valoriza os afetos. Adoro beijos ao luar, flores e jantares com trocas de olhares. Não vejo graça alguma em relações casuais. Sou uma romântica incurável e desejo conhecer um homem que me leve a sério e me queira além de diversão. Infelizmente, esses lugares são frequentados principalmente por esse tipo de homem.

O segurança que me acompanha destranca a porta para mim.

—Obrigada —, digo e entro na sala.

Choque. Allah! Quase digo em voz alta ao me deparar com um homem alto sentado no sofá da sala, seu corpo musculoso virado em minha direção.

Ele pisca, como se estivesse tentando entender por que estou ali.

—Quem diabos é você? —sua voz dura rompe o silêncio.

Fico sem palavras.

Droga! Tenho certeza de que estou diante do pai de Bianca, Marcus Vicenzo Ricci. Embora Donatella tenha me liberado para sair, não gostaria que ele me conhecesse assim, chegando tarde da noite de uma balada.

Ele b**e palmas e as luzes da sala se acendem. Pisco com a intensidade.

Allah! Não sabia que a sala estava equipada com esse recurso.

Meus olhos se ajustam à luz e, então, se encontram com os lindos olhos castanhos fixos na minha direção.

Khara! Meu coração dispara contra o peito ao me deparar com o rosto mais lindo que já vi. Seus traços são perfeitos, másculos. Seus cabelos são negros e brilhantes. As sobrancelhas grossas enquadram seus olhos castanhos, que são adornados por cílios longos.

A covinha no queixo é um charme extremamente sensual. Seus lábios são bem desenhados e carnudos, deixando-me sem fôlego.

Meu fôlego!

Ele é atraente, isso é certo, mas me encara como se não gostasse do que vê. O ar fica denso com tensão, especialmente quando seus olhos percorrem minha figura descalça e descabelada.

— Quem diabos é você? —, ele repete a pergunta com a voz ainda mais dura.

— Jade Al-Kudsi.

— Jade? A babá da minha Bianca?

— Sim —, minha voz sai num sussurro.

Sua respiração fica agitada e ele olha para o relógio, o que me faz engolir em seco. Sinto uma mistura de medo e desconforto enquanto Marcus Vicenzo Ricci me encara intensamente. Seus olhos escuros parecem ler minha alma, e sua expressão séria apenas aumenta a tensão no ar.

Tento recuperar minha compostura e respondo com a voz um pouco trêmula:

— Desculpe, senhor Ricci. Eu não planejava chegar tão tarde, mas saí para me divertir um pouco e acabei me distraindo.

Ele franze o cenho, claramente insatisfeito com minha resposta.

— Diversão em uma balada? E você acha que isso é apropriado para uma babá responsável? Deve ser sua folga amanhã para estar chegando neste horário.

Engulo em seco, sentindo-me encurralada por sua pergunta. Allah! Clamo interiormente, tremendo.

— Não, não é — respondo.

Sua expressão muda, piora, e minha respiração se torna ainda mais agitada, e tudo se torna mais trágico quando ele se levanta do sofá, se agigantando, se impondo diante de mim.

Eu continuo:

— Senhor Ricci, eu sinto muito por chegar tão tarde. Foi um momento de descuido e...

— Descuido? — Ele ergue uma sobrancelha.

— Eu... eu não pensei...

— Obviamente, você não pensou. Se pensasse, entenderia a responsabilidade que tem nas mãos e não sairia por aí agindo como uma adolescente inconsequente.

As palavras dele me atingem em cheio, e sinto um aperto no peito. Ele está certo, eu deveria ter pensado mais nas minhas ações, especialmente sabendo que cuidaria de Bianca no dia seguinte.

— Senhor Ricci, entendo que esteja irritado e desapontado, e eu realmente sinto muito. Isso não vai se repetir. Eu amo cuidar da sua filha e levo essa responsabilidade a sério.

Ele cruza os braços, me analisando com um olhar duro.

 

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