Capítulo 4 √

Ava Brown √

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Como se já não bastasse estar nesse maldito hospital há quase vinte e quatro horas, ainda aparece o meu sogro, um verdadeiro idiota, invadindo o quarto de Bryan e começando a me insultar como se aquela fosse a recepção mais calorosa do mundo.

Eu admito, não estou no meu melhor estado. Afinal, estou aqui desde as quatro da manhã do dia anterior. Nem consegui ir em casa para trocar de roupa. Tive que pedir à Catherine para alimentar meus cães, que deveriam ter sido levados para a mansão antes do casamento. Mas como tudo estava uma verdadeira loucura, optei por deixá-los no meu apartamento até ontem, quando iriam para um hotel para pets até meu retorno da Escócia. Com o acidente inesperado de Bryan, tudo se tornou uma bagunça tremenda, e eu nem tive tempo de verificar como eles estavam.

Segundo Catherine, meu apartamento estava de cabeça para baixo e os cães fizeram a festa no meu sofá novo. Bem, não tenho do que reclamar. É um preço baixo a pagar pela minha desatenção e pela decisão de criar dois dobermans em um apartamento.

Tenho eles há três anos, um presente de aniversário de Vincent e Catherine. Eles são extremamente treinados e eu os mimo como se fossem meus próprios filhos. Além disso, são ótimos cães de guarda quando necessário.

Voltando ao hospital, Bryan passou por uma cirurgia esta manhã e precisou de uma transfusão de sangue. Felizmente, meu tipo sanguíneo é doador universal. A cirurgia e a transfusão correram bem. Estou feliz que Bryan esteja bem. Por mais irresponsável que ele tenha sido, não queria vê-lo nessa situação. Os médicos disseram que ele está estável e que deverá acordar em breve, pois ainda está sob o efeito dos sedativos da cirurgia.

Quanto a mim, estou um caco. Estou exausta e tudo o que mais queria era um bom banho e a minha cama. Ainda estou vestindo calças de malhar, o moletom de Bryan, uma sandália que uso para caminhar do quarto para o banheiro sem tocar no chão frio de madrugada, e meu cabelo está um desastre.

Não comi direito e estou sobrevivendo à base de bolachas e outras besteiras compradas na cantina do hospital. Bryan está internado em uma área reservada para pessoas com dinheiro. Injusto, eu sei, afinal todos merecem o mesmo tratamento, mas não posso reclamar do sofá que tem no canto do quarto. É bem melhor do que uma poltrona e foi ele que me salvou durante o sono diurno.

Agora são por volta das 01h40 da manhã. Apenas o barulho das máquinas é ouvido nesta ala do hospital. Todos estão dormindo, pelo menos espero. Sigo para o pequeno sofá, lamentando por não ter tomado meu café, pois aquele idiota simplesmente me agrediu. Será que Bryan aceitaria estar em outro lugar que não fosse aquela casa?

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Agradeci tanto a Vincent esta manhã quando ele entrou no quarto com um enorme café nas mãos e algo que não fosse comida da cantina do hospital, que por pouco não o beijei. Mas, tenho juízo suficiente para não beijar o marido da minha prima.

Segundo ele, Cathe embarcou esta manhã com destino a Istambul, onde passará alguns dias antes de seguir para Veneza e só então retornar aos Estados Unidos. Cathe é modelo e atriz, e Vincent, um artista em tempo integral. Eles se conheceram em uma exposição de arte em Londres e não se desgrudaram mais. Já se vão sete anos de um dos melhores relacionamentos que já vi.

Eles são os únicos que sabem a verdadeira natureza do meu relacionamento com Bryan. Cathe insiste que acabaremos nos apaixonando, mas, como já expliquei antes, Bryan não me atrai. Ele é bonito, sim, mas não é o tipo de homem que gosto.

Saí do banheiro após um banho revigorante. Vince, com tempo livre esta manhã, se ofereceu para ficar com Bryan no hospital, permitindo que eu pudesse vir para casa, tomar um banho, comer algo e dormir um pouco.

Antes de vir para a mansão, passei no meu apartamento, alimentei meus cães e agradeci mentalmente a Cathe por ter deixado comida suficiente para eles. Logo depois, coloquei-os no carro e os levei para o Pet Hotel. Mesmo sem viajar, optei por deixá-los lá enquanto Bryan está no hospital. A adaptação deles à mansão já será difícil, considerando que não estão acostumados com estranhos. Não preciso prolongar isso para eles.

Passo meus cremes pela pele, e o cheiro de rosas misturado ao de frutas cítricas se espalha pelo ambiente. Esses são meus dois aromas favoritos no mundo. Penteio meus cabelos, agora mais curtos e escuros, um pouco acima dos cotovelos, tingidos de um preto intenso que contrasta com minha pele levemente bronzeada.

Saio do banheiro envolta em meus roupões e quase tenho um ataque ao ver aquele homem sentado em minha cama, me observando com um semblante sério, como alguém que acabou de receber uma notícia ruim.

— Não acreditei quando fui informado por James que você teve a audácia de pisar o pé na minha casa — ele diz com frieza, me fazendo revirar os olhos com desdém.

Ignoro suas palavras e também sua presença. Eu realmente deveria aprender a trancar a porta do quarto. Mas, pensem comigo, eu também estou me adaptando. Moro sozinha desde os dezoito, então nunca tive esse tipo de problema.

Volto-me para o closet, procurando algo para vestir. Só preciso de algo confortável e algumas horas de sono antes de retornar ao hospital. O problema é que, em uma casa tão grande, parece que ninguém sabe o significado da palavra "privacidade".

O babaca egocêntrico que tenho a infelicidade de chamar de sogro invade meu closet, me fazendo virar para encará-lo com raiva.

— Está maluco? Por acaso não sabe o sentido da palavra privacidade? — grito, perdendo a pouca paciência que me restava.

— Estou na minha casa e entro onde eu quiser. Diferente de alguém como você, que está vivendo de penetra em algo que não é seu — ele diz com frieza, aproximando-se de mim.

— Pode sair ou ficar, sinceramente, não ligo para sua presença — digo com desdém, voltando a pegar um conjunto de moletom e escolhendo minha roupa íntima. Visto a calcinha ainda de roupão, enquanto meu querido sogro continua parado no meio do closet como uma estátua.

— O que acha que está fazendo? — ele pergunta ao me ver desatar o nó do roupão.

— Estou trocando de roupa para dormir, e você? — pergunto, erguendo o roupão para subir o shorts.

Ouço ele pigarrear e reviro os olhos com aquela cena. Pervertido.

— Estou avisando que você não é bem-vinda nesta casa.

— Ótimo, o recado foi dado. Agora, se puder fazer o favor de sair, eu agradeceria. Sabe, por mais que Bryan e eu tenhamos um relacionamento aberto, não acho que ele gostaria de saber que seu pai, mal me conhecendo, já estava me comendo com os olhos. Família não está inclusa no nosso acordo — digo calmamente, antes de me virar para ele e ameaçar abrir o roupão.

— Sua... como ousa dizer que estou... você... Eu realmente espero que esteja aproveitando a mansão, pois essa sua mordomia não vai durar para sempre — ele diz com raiva, antes de sair do closet pisando fundo.

Momentos depois, ouço a porta do quarto bater. Um sinal claro de que estou sozinha novamente. Termino de me vestir, saio do closet, tranco a porta para evitar mais surpresas, fecho todas as cortinas para que o sol não entre, ligo o ar-condicionado do quarto e me jogo na cama, enrolada nos edredons.

Finalmente, um tão merecido descanso.

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