Ava Brown ✓ .Assim que giro a maçaneta, dou um passo rápido para trás, mal tendo tempo de sair da frente antes que uma bola de pelos furiosa e outra igualmente revoltada disparem da dispensa como se tivessem sido lançadas de um canhão.Luna e Nébula saem a toda velocidade, os pelos eriçados, rosnando baixo, os olhos vasculhando o ambiente como se estivessem prontas para eliminar qualquer ameaça no caminho.Benjamin dá um passo para trás, erguendo as mãos num gesto de rendição.— Céus, elas parecem prontas para a guerra.— Eu as conheço, e isso não é nem metade da fúria que elas podem demonstrar. — digo, tentando acalmar as duas.Leva alguns segundos de comandos firmes e um olhar sério para que elas parem de rosnar, mas ainda continuam em alerta, os corpos tensos como se estivessem esperando apenas um sinal para o ataque.— Finde Kira! — ordeno.Respiro profundamente, passando as mãos pelos cabelos enquanto encaro Benjamin, que parece genuinamente desconcertado. Ele coça a nuca, desvi
Narradora ✓ O ambiente na sala de reuniões estava carregado de formalidade e uma tensão quase palpável. Os papéis estavam espalhados sobre a mesa de mogno polido, gráficos exibiam projeções promissoras, e xícaras de café já meio frias marcavam o tempo que a conversa vinha se arrastando sem um consenso.Ava recostou-se na cadeira, cruzando as pernas com elegância, mas seu olhar afiado deixava claro que sua paciência estava se esgotando. Ela deslizou os dedos sobre a borda de sua caneta, olhando para Henry Lancaster, que parecia confortável demais para alguém que vinha contestando cada cláusula apresentada. Ao lado dele, o Sr. Gordon, um homem de meia-idade de expressão séria, analisava os documentos com atenção.— Então, para recapitular — começou Ava, sua voz calma, mas carregada de firmeza —, vocês querem que a HarvestLink Exports tenha prioridade nas rotas de distribuição internacional da B.A Global Produce, mas sem se comprometerem com um contrato de exclusividade?Henry, com seu
Narradora ✓ —Amor. — Ava disse após se separar do beijo. — Esse é o senhor Lancaster, nos conhecemos ontem à noite no bar.Ela apontou para o ruivo desconcertado à sua frente, que parecia ter se arrependido de todas as decisões que o levaram até ali.— Senhor Lancaster, esse é meu esposo, Benjamin Cooper.— É um prazer conhecê-lo, senhor Cooper. — disse Henry, estendendo a mão num cumprimento hesitante. — Ouvi falar muito bem do senhor.— Igualmente, senhor Lancaster. — Benjamin respondeu sério, sem mover um músculo para retribuir o aperto de mão. Ele manteve-se estoico ao lado de Ava, analisando o homem à sua frente com olhos atentos. — Pelo que devo presumir, sua reunião com minha esposa já terminou há algum tempo, então... o que ainda faz aqui?Henry se engasgou com o próprio ar, tossindo antes de tentar responder:— Bem, senhor... Eu... estava apenas... Veja bem, nós...Benjamin ergueu as sobrancelhas, se divertindo com a confusão do ruivo.— Seja o que for, senhor Lancaster, ten
Ava Brown ✓ A manhã deveria ter começado de forma tranquila. Eu queria que fosse assim. Mas, no momento em que coloquei os pés na cozinha, soube que isso era pedir demais.Benjamin estava parado perto da cafeteira, ainda vestindo apenas a calça do pijama, com a postura relaxada demais para alguém que havia sido jogado no meio de um escândalo. Ele sequer ergueu os olhos do jornal ao ouvir meus passos, apenas deslizou uma xícara na minha direção como se nada tivesse acontecido.— Dormiu bem? — perguntou, como se fôssemos um casal comum discutindo banalidades matinais.Revirei os olhos, pegando a xícara e me encostando no balcão.— Sério? Depois de ontem, é isso que você tem para dizer?Benjamin finalmente ergueu o olhar, arqueando uma sobrancelha.— Você queria que eu dissesse o quê, Ava? Eu já disse que isso vai passar.A paciência que eu tentava manter desde a noite anterior se desfez num estalar de dedos.— Vai passar? Você está brincando comigo? — cruzei os braços, sentindo meu tom
Ava Brown ✓ . ~~~•~~~~•~~~~•~~~~ DIAS DEPOIS — Senhora Brown... Senhora Brown, é verdade que a senhora tentou subornar um jornalista para impedir que as matérias fossem publicadas? — Senhora Brown, é verdade que a senhora e o senhor Cooper estão finalmente divorciados? — Senhora Brown, o que tem a dizer sobre as alegações feitas pela mãe do senhor Bryan Cooper? O senhor Benjamin Cooper é realmente tão abusivo? — Senhora Brown, é verdade que vocês estão impedindo o senhor Bryan de ver a própria filha? Eu vou explodir. Eu vou matar alguém. Cada vez que um desses desgraçados abre a boca para despejar mais uma pergunta carregada de veneno, sinto um impulso quase incontrolável de arrancar a câmera de suas mãos e arremessar contra suas caras irritantes. O som dos flashes, os microfones sendo enfiados na minha direção, as vozes sobrepostas, tudo isso é como um zunido ensurdecedor, uma pressão constante que faz meu sangue ferver. E talvez, só talvez, a primeira pessoa que eu mate sej
Ava Brown ✓ SEMANAS DEPOISSempre gostei do Natal. Das luzes piscando nas janelas, do cheiro de canela e chocolate quente no ar, da música suave tocando ao fundo, embalando a cidade em uma atmosfera quase mágica. Mas, acima de tudo, sempre gostei da sensação que essa época traz – de esperança, de recomeço.Se eu tivesse que definir meu ano em uma palavra, talvez fosse caos. Mas hoje, sentindo a serenidade que se instalou nos últimos dias, prefiro acreditar que gratidão seja a escolha certa.Na sala principal da mansão, a árvore de Natal se ergue imponente, brilhante com suas luzes douradas e enfeites coloridos. Pequenos bonecos de neve pendem dos galhos, laços vermelhos adornam os ramos e, no topo, uma grande estrela ilumina tudo ao redor. Kira está ao meu lado, seus olhos brilhando de antecipação enquanto ela observa nossa obra-prima. Fizemos um bom trabalho.Benjamin entra na sala trazendo uma bandeja com xícaras fumegantes de chocolate quente, e o aroma doce se espalha pelo ambien
Benjamin Cooper ✓ Athena mantém o olhar firme no meu, mas, por um breve momento, vejo algo diferente ali. Pena.— Seu pai nunca foi um homem perfeito — ela começa, sua voz suave, como se cada palavra que saísse de sua boca tivesse o peso de uma rocha prestes a despencar sobre mim. — Mas ele sempre amou você. E, por mais difícil que seja para você acreditar agora, ele amou a sua mãe também.Eu engulo em seco, tentando não explodir. Minha mandíbula se contrai com raiva.— Não me venha com essa merda de amor, Athena. Isso não justifica nada.Ela me encara com aquela calma que sempre me incomodou. Como se eu fosse apenas mais uma peça em um jogo que ela já sabia o final.— Eu não estou justificando, Bryan. Estou apenas te dando os fatos. Seu pai e sua mãe tiveram um começo intenso, apaixonado. Ao menos era isso que parecia para todos ao redor. Benjamin era louco por Louise, e esse sentimento, sim, era verdadeiro. — Athena faz uma pausa e caminha até um canto da sala, voltando com duas xí
Ava Brown. Dias atuais. Ao lado de Benjamin, eu admirava a árvore de Natal, que agora se erguia majestosamente na sala, iluminada e perfeitamente decorada. Bom, "perfeitamente" talvez fosse um exagero. Kira ainda a rodeava, inspecionando-a com aquele olhar crítico, como se estivesse prestes a apontar um erro fatal na decoração. E, honestamente, depois do caos que foi montar essa árvore, eu não duvidava que algo tivesse passado despercebido.Só Deus sabe o quanto foi difícil chegar nesse resultado. Para começar, os enfeites foram comprados de última hora, porque os últimos dias foram um turbilhão. Entre a rotina frenética de fim de ano, as férias de Kira – duas semanas de energia ininterrupta – e a brilhante ideia de organizar uma ceia natalina para amigos e família, mal tivemos tempo de respirar.Aliás, a ceia foi decidida com um timing impecável: faltando exatos sete dias para o Natal. Sete. Não um mês, não quinze dias. Sete. Enviamos os convites, recebemos confirmações de todos...