Ava Brown ✓ A manhã deveria ter começado de forma tranquila. Eu queria que fosse assim. Mas, no momento em que coloquei os pés na cozinha, soube que isso era pedir demais.Benjamin estava parado perto da cafeteira, ainda vestindo apenas a calça do pijama, com a postura relaxada demais para alguém que havia sido jogado no meio de um escândalo. Ele sequer ergueu os olhos do jornal ao ouvir meus passos, apenas deslizou uma xícara na minha direção como se nada tivesse acontecido.— Dormiu bem? — perguntou, como se fôssemos um casal comum discutindo banalidades matinais.Revirei os olhos, pegando a xícara e me encostando no balcão.— Sério? Depois de ontem, é isso que você tem para dizer?Benjamin finalmente ergueu o olhar, arqueando uma sobrancelha.— Você queria que eu dissesse o quê, Ava? Eu já disse que isso vai passar.A paciência que eu tentava manter desde a noite anterior se desfez num estalar de dedos.— Vai passar? Você está brincando comigo? — cruzei os braços, sentindo meu tom
Ava Brown ✓ . ~~~•~~~~•~~~~•~~~~ DIAS DEPOIS — Senhora Brown... Senhora Brown, é verdade que a senhora tentou subornar um jornalista para impedir que as matérias fossem publicadas? — Senhora Brown, é verdade que a senhora e o senhor Cooper estão finalmente divorciados? — Senhora Brown, o que tem a dizer sobre as alegações feitas pela mãe do senhor Bryan Cooper? O senhor Benjamin Cooper é realmente tão abusivo? — Senhora Brown, é verdade que vocês estão impedindo o senhor Bryan de ver a própria filha? Eu vou explodir. Eu vou matar alguém. Cada vez que um desses desgraçados abre a boca para despejar mais uma pergunta carregada de veneno, sinto um impulso quase incontrolável de arrancar a câmera de suas mãos e arremessar contra suas caras irritantes. O som dos flashes, os microfones sendo enfiados na minha direção, as vozes sobrepostas, tudo isso é como um zunido ensurdecedor, uma pressão constante que faz meu sangue ferver. E talvez, só talvez, a primeira pessoa que eu mate sej
Ava Brown ✓ SEMANAS DEPOISSempre gostei do Natal. Das luzes piscando nas janelas, do cheiro de canela e chocolate quente no ar, da música suave tocando ao fundo, embalando a cidade em uma atmosfera quase mágica. Mas, acima de tudo, sempre gostei da sensação que essa época traz – de esperança, de recomeço.Se eu tivesse que definir meu ano em uma palavra, talvez fosse caos. Mas hoje, sentindo a serenidade que se instalou nos últimos dias, prefiro acreditar que gratidão seja a escolha certa.Na sala principal da mansão, a árvore de Natal se ergue imponente, brilhante com suas luzes douradas e enfeites coloridos. Pequenos bonecos de neve pendem dos galhos, laços vermelhos adornam os ramos e, no topo, uma grande estrela ilumina tudo ao redor. Kira está ao meu lado, seus olhos brilhando de antecipação enquanto ela observa nossa obra-prima. Fizemos um bom trabalho.Benjamin entra na sala trazendo uma bandeja com xícaras fumegantes de chocolate quente, e o aroma doce se espalha pelo ambien
Benjamin Cooper ✓ Athena mantém o olhar firme no meu, mas, por um breve momento, vejo algo diferente ali. Pena.— Seu pai nunca foi um homem perfeito — ela começa, sua voz suave, como se cada palavra que saísse de sua boca tivesse o peso de uma rocha prestes a despencar sobre mim. — Mas ele sempre amou você. E, por mais difícil que seja para você acreditar agora, ele amou a sua mãe também.Eu engulo em seco, tentando não explodir. Minha mandíbula se contrai com raiva.— Não me venha com essa merda de amor, Athena. Isso não justifica nada.Ela me encara com aquela calma que sempre me incomodou. Como se eu fosse apenas mais uma peça em um jogo que ela já sabia o final.— Eu não estou justificando, Bryan. Estou apenas te dando os fatos. Seu pai e sua mãe tiveram um começo intenso, apaixonado. Ao menos era isso que parecia para todos ao redor. Benjamin era louco por Louise, e esse sentimento, sim, era verdadeiro. — Athena faz uma pausa e caminha até um canto da sala, voltando com duas xí
Ava Brown. Dias atuais. Ao lado de Benjamin, eu admirava a árvore de Natal, que agora se erguia majestosamente na sala, iluminada e perfeitamente decorada. Bom, "perfeitamente" talvez fosse um exagero. Kira ainda a rodeava, inspecionando-a com aquele olhar crítico, como se estivesse prestes a apontar um erro fatal na decoração. E, honestamente, depois do caos que foi montar essa árvore, eu não duvidava que algo tivesse passado despercebido.Só Deus sabe o quanto foi difícil chegar nesse resultado. Para começar, os enfeites foram comprados de última hora, porque os últimos dias foram um turbilhão. Entre a rotina frenética de fim de ano, as férias de Kira – duas semanas de energia ininterrupta – e a brilhante ideia de organizar uma ceia natalina para amigos e família, mal tivemos tempo de respirar.Aliás, a ceia foi decidida com um timing impecável: faltando exatos sete dias para o Natal. Sete. Não um mês, não quinze dias. Sete. Enviamos os convites, recebemos confirmações de todos...
Bryan Cooper ✓— .Eu não sei se seria uma boa ideia. - Digo sem jeito, girando a garrafa vazia entre os dedos. - Meu pai está organizando um jantar de Natal. Sem dúvidas, ele não está esperando por mim.- Você vai parar com essa crise de autopiedade, vai levantar essa bunda dessa cadeira e vai atrás do seu pai. - Ela fala com tanta autoridade que me faz arregalar os olhos. - Quem já viu ficar lamentando o passado desse jeito? Aí, de repente, teu pai morre, vocês não fazem as pazes, e você vai carregar essa culpa para o resto da vida.- Credo, garota. - Digo, ainda assustado com suas palavras diretas.- Credo não, sou realista. - Ela dá de ombros, como se sua brutal honestidade fosse a coisa mais natural do mundo. - Vai logo, levanta daí e vai atrás da tua família.- Eu vou se você for comigo, Jujuba. - Digo, chamando-a pelo apelido que ela detesta só para provocá-la.- Se você me chamar assim de novo, eu te bato. - Ela ameaça, me fazendo rir ainda mais. - Você enlouqueceu? Nós nos con
Benjamin Cooper ✓ O telefone toca pela terceira, quarta, quinta vez, e nada.Ando de um lado para o outro no escritório, o celular colado ao ouvido, esperando que Bryan atenda. Mas tudo o que recebo em resposta é o silêncio do outro lado da linha, seguido pela voz eletrônica da caixa postal.— Droga… — murmuro, encerrando a ligação com um suspiro frustrado.Apoio as mãos na mesa e fecho os olhos por um momento. O dia foi longo, cansativo, e tudo o que eu queria era que, por uma vez, as coisas fossem simples entre nós. Mas, claro, nada entre mim e Bryan jamais foi simples.Desde aquele jantar na mansão, não trocamos mais do que algumas palavras. Ele tem conversado com Ava — o que, sinceramente, é um alívio —, mas quando se trata de mim, parece que ainda há uma barreira intransponível entre nós.Eu entendo. Sei que grande parte disso é culpa minha. Sei que errei, que fui duro demais, exigente demais. Sei que cobrei dele mais do que devia e, quando ele falhou, transformei isso num abism
14 de fevereiro Os últimos dois meses tinham sido um verdadeiro presente. Pela primeira vez em muito tempo, eu me permiti viver sem olhar por cima do ombro, sem carregar o peso do passado a cada passo. Aqui, nos Alpes franceses, a paz se tornou algo palpável, algo que eu podia tocar sempre que olhava pela janela da cabana dos meus pais e via a neve cobrindo a paisagem como um manto brilhante.E, acima de tudo, eu era grata. Grata ao destino, à vida, ao acaso – ou seja lá o que tivesse me trazido até aqui. Grata por ter Benjamin ao meu lado, por ter encontrado nele um abrigo tão seguro quanto estas montanhas que nos cercavam.O vento frio sussurrava lá fora, mas aqui dentro o ambiente era aquecido pelo fogo na lareira e pela expectativa do que ainda estava por vir. Eu estava de pé perto da grande janela, observando o céu limpo e estrelado, quando ouvi o som de passos firmes no assoalho de madeira.Virei-me a tempo de vê-lo entrar, carregando uma bandeja com o jantar. O sorriso que ele