CAPÍTULO 4

ZOE

*

Meu mundo era limitado, mas minha mente tinha uma infinidade de coisas que eu gostaria de experimentar, uma dessas coisas, era me apaixonar perdidamente pela primeira vez, e sentir todas as sensaçõe que um relacionamento amoroso poderia proporcionar.

Pensar nisso enquanto ouvia o meu professor falar sobre onde ele já havia trabalhado, era estranho, pois era como se ele pudesse de alguma forma ouvir os meus pensamentos.

— Então Zoe, quando foi que surgiu esse desejo pela medicina?

— O desejo não é meu, pra mim, a única anatomia humana interessante, são as partes do meu próprio corpo.

Na mesma hora o meu pai me repreendeu, enquanto o professor olhou para o meu decote descaradamente, sorte a dele que os meus pais estavam olhando diretamente pra mim, e não viram o que eu vi.

Aquele olhar parecia queimar a minha pele, e estranhamente senti a minha vagina esquentar, assim também como as maçãs do meu rosto.

— Tenho certeza que farei você mudar de opnião ao longo do tempo, Zoe.

Ele falou com um sorriso disfarçado, e eu tive que desviar o olhar pra não deixar transparecer aquilo que eu estava sentindo.

— Bom, agora que vocês já foram apresentados, vou deixar você ir resolver suas coisas Victor, me avise quando você já estiver totalmente livre para iniciar.

— Poderei iniciar amanhã mesmo, tudo o que eu tenho para resolver, resolverei hoje.

— Que maravilha, gostei do comprometimento. Amanhã às 08:00?

— Pra mim está ótimo.

Antes dele ir embora, ele olhou para mim e sorriu. Fiquei pensando até quando eu aguentaria aquele sorriso, que parecia zombar de mim.

— Ate amanhã, Zoe.

— Até, professor.

A palavra “Professor’’ parecia dançar dentro da minha boca, eu me senti uma pervertida.

— O que você achou dele, Zoe?

Minha mãe perguntou asssim que ele foi embora, enquanto o meu pai me encarava, esperando também pela a minha resposta.

— Antes de eu dizer o que achei dele, quero fazer uma proposta para vocês dois.

Eles se entreolharam, seus olhares eram de desconfiança.

— O que você quer pedir dessa vez?

Meu pai perguntou.

— Prometo dar tudo de mim, me esforçar, dedicar todo o meu tempo para os estudos. Mas se eu passar, quero ter liberdade de sair, conhecer pessoas, fazer amizades e…

— Nada de namorados.

Meu pai me interrompeu, pois ele já sabia que era exatamente isso que eu iria falar.

— Então não espere grandes coisas de mim.

— Você já viu a vida que você leva, Zoe? Você tem tudo o que qualquer garota gostaria de ter, o minimo que estamos pedindo é que você estude e passe nessa prova.

— Perguntem a qualquer garota da minha idade, se elas trocariam a liberdade delas por isso que vocês chama de ‘’Tudo”, vocês esquecem que pessoas precisam socializar, principalmete nesse meio que vocês querem me inserir. Eu preciso de um bom desenvolvimento humano pra interagir com os meus futuros pacientes, vocês querem que eu seja excelente em tudo, mas na verdade estão criando um robô. Vocês querem falar sobre o minímo que eu preciso fazer? Pois eu vou falar do mínimo que vocês precisam fazer, me deixem viver minhas próprias experências, permitam que eu caia, e aprenda a levantar, que eu quebre a minha cara, que eu encontre o caminho para a minha própria felicidade. É dever de vocês priorizarem isso, eu posso ter sucesso profissional, mas serei uma pessoa infeliz, graças a vocês.

Eu dei as costas para eles e caminhei em direção a casa, quando o meu pai me interrompeu.

— Tudo bem, você poderá ter um namorado após a aprovação.

Eu voltei a encará-lo, só pra ter certeza que ele estava falando sério.

— Você promete?

— Sim, mas com uma condição.

— Qual?

— Que esse namorado esteja a sua altura, não chegue aqui com um vagabundo inútil.

— O que o senhor considera inútil, papai?

— Ele precisa ser formado, ter um bom emprego, ter condições boas o suficiente para dar para você o mesmo padrão de vida que nós damos.

— Eu quero um namorado papai, não um marido.

— Você não está achando que vai sair namorando Deus e o mundo até encontrar a pessoa que você julga certa, não é Zoe?

— Sim, papai, vou namorar até achar o cara ideal pra eu chamar de marido, para eu não terminar como a minha mãe, que casou com o senhor por imposição dos meus avós.

— Zoe? O que é isso minha filha? Eu amo o seu pai.

— Que bom que você aprendeu a amá-lo com o tempo, mamãe, mas eu não sou você, nossas histórias não são iguais, e eu não vou deixar que nenhum de vocês dois escolham com quem eu vou dividir minha vida.

— Quando você se tornou essa garota tão…

— Madura?

— Não, problemática.

— Não vejo isso como um problema papai, não ainda, será um problema se vocês repetirem os mesmos erros que os meus avós cometeram com vocês. Agora vou para o meu quarto, afinal, é o único lugar que eu posso ir.

Eu saí rapidamente de perto deles, antes que as lágrimas caissem, eu já estava cheia de todas as privações, eu precisava sentir o gosto da vida, e eu iria atrás disso, nem que pra isso eu tivesse que magoá-los. Eu passei toda a minha vida sendo a filha perfeita, mas não havia perfeição nenhuma em tudo aquilo, na verdade, tudo aquilo era um verdadeiro abuso contra a minha vida.

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