A verdade era que, cinco meses antes, o inspetor estava desesperado. Ele já havia feito outras investigações sobre o caso Benedict, e todas foram falhas. Entretanto, ao descobrir que a filha de um cineasta pediu transferência do departamento de Nova Iorque para o departamento de Las Vegas, o inspetor viu a oportunidade perfeita para se infiltrar na elite. Blair Collins estava acima de qualquer suspeita. O homem não quis perder aquela oportunidade, pois sabia que levaria anos até ter outra.- "Isso é tudo?" Blair inquiriu.- "Benedict também tinha envolvimento com a máfia. Ele era um dos melhores amigos de George Banks. Eu comecei a investigar meu irmão quando suspeitei de seus movimentos, e ele morreu pouco tempo depois" Spencer contou, revelando todas as partes até então encobertas do caso.- "Por que não me contou?"- "Blair, você sempre foi minha melhor opção. Ninguém chegaria tão perto de Ethan. Eu não podia correr o risco de perder essa oportunidade"- "E agora eu estou em risco,
- "Oi, meu amor" a madrinha sempre me chama de amor, e não sei o motivo pelo qual ela faz isso. Não sou seu amor. Apenas Davis é. É assim que as coisas funcionam; os pais amam seus filhos.- "Bom dia"Eu fico desconfortável quando ela me encara, confesso. Mirtes sabe de tudo sobre meu passado, pois Blosson contou. Ela me olha como um anjo cheio de amor e cuidado, como se eu fosse alguém sujo precisando de sua limpeza.- "Eu gostei das flores" comento. Sei que Mirtes fica feliz quando eu faço elogios. Ela acha que, de alguma forma, estou melhorando. Talvez eu esteja melhor mesmo. Fingindo melhor.- "Que bom, Blair. Eu gosto quando você usa rosa"Ela compra vestidos rosa, e sapatos rosa, e meias rosa. Bem, eu percebi que ela me transformou em sua bonequinha pessoal. Não posso reclamar, já que ela me mantém em sua casa e me alimenta. O mínimo que posso fazer é ser grata por tudo isso.- "Eu sei" começo a mexer as mãos, minha boa e velha mania. Faço isso quando estou começando a ficar ner
Davis pega o bolo e voltamos para a sala. Quando eu digo que a casa é grande, assim como um castelo, não é exagero. Passamos por um corredor, uma sala de jantar e uma sala vazia antes de chegarmos até Mirtes. Eu nunca entendi o motivo pelo qual ela mora aqui.- "Me diga quem você é, querido" ouço a doce voz de Mirtes dizer.Ela está inclinada, com as mãos nos joelhos. E, em sua frente, há um garotinho magro e sujo. Ele está um tanto quanto molhado também, e assim sei que a chuva já começou. Sua calça moletom é folgada em seu corpo esquelético, e ele não está usando uma camiseta.- "Você pode falar comigo" Mirtes insiste.Os grandes olhos perdidos do garoto não conseguem permanecer fixos no rosto bonito dela. Algumas mechas grossas de cabelo estão em seu rosto. Um cabelo sujo e molhado. Ele continua em silêncio.É impossível não me lembrar de quando a mesma coisa aconteceu comigo. Eu estava aqui, nesta enorme sala, silenciosa e com muito, muito medo. Blosson estava ao meu lado, mascand
Por que alguém estaria em Las Vegas, se não para usufruir do melhor que a cidade do pecado poderia oferecer? O que os livros contavam, o que os filmes mostravam, o que as pessoas viam... nada disso representava Vegas tão bem quanto os Cassinos, os clubes noturnos e o dinheiro sujo. A cidade do pecado, de fato, não era para amadores.Blair percorreu o clube movimentado, repleto de pessoas energizadas e bebidas alcoólicas. O mar de corpos era movido pelo ritmo da música, algo contemporâneo, pouco decente. A iluminação bem projetada em tons sensuais dava ao ambiente um toque de imaginação, uma dose de expectativa.Não demorou muito para que a ruiva se visse perdida, tão bem inclusa entre aquelas pessoas que mal podia enxergar o próprio vestido. Daliah estava ao seu lado, caminhando com dificuldade por entre as pessoas enquanto procuravam por um lugar menos movimentado.O fato de que as pessoas ao redor de Blair a perseguiam com os olhos era real. Elas olhavam uma primeira vez, de relance
- "Dê a porra do fora" e então aquele som rouco, grave e trovoado soou.Blair não precisou estar em um local calmo para identificar aquela voz. Ela não precisou da claridade para reconhecer aquele corpo. Ela não precisou de muito tempo para saber que ele estava diante dela. Mesmo dentre centenas de pessoas, sob a baixa luz, ela o viu.- "Quem você pensa que é?" o desconhecido gritou.Ódio. Esta era a definição do que Ethan Banks estava sentindo. Fúria assassina. Nada além do homem a sua frente importava. O homem que tentara tocar os lábios de Blair. Ethan não virou-se para a mulher, não naquele momento. Ele estava ocupado demais sentindo raiva.- "Você pretende ficar aqui para descobrir?"- "Desculpe, cara. Eu estou tranquilo" o homem ergueu ambas as mãos em sinal de paz, já sabendo que não venceria aquela briga, não em seu estado bêbado.- "É o corpo dela, não meu. Se desculpe com ela" Ethan exigiu.O desconhecido virou-se para a ruiva, e proferiu um pedido de desculpas tão sussurrad
- "Pare de projetar minha vida, você não é Deus" tendo o silêncio do homem como resposta, Blair voltou a falar.- "Não foi o que eu ouvi outra noite" naquele momento, a voz do homem estava alguns níveis mais grave.A ruiva parou, apenas por alguns segundos, talvez impactada pela forma como Ethan a fazia voltar ao passado. A um momento específico do passado. Ela suspirou, irritada consigo mesma por ser tão fraca diante daquele homem.- "Eu não aceito ser a mulher que preenche seus momentos livres. Você me tem como prioridade, ou você não me tem. Decida-se, Ethan" Blair cruzou os braços na altura dos seios, como qualquer outra mulher determinada faria.Ethan fechou a distância entre eles, que não era muita. Naquele momento, a mente do homem estava divagando nas falas de Blair. Ele gostaria, de fato, de ser um cretino; de ignorar a ruiva, de a usar quando fosse conveniente, de pensar nela apenas nos momentos livres. Mas a realidade era muito, muito diferente.- "Eu não sou um homem de ro
Eles contam mentiras como se fossem piadas.Eles vão devastar seu passado,expor seus medos e usar suas fraquezas.Confie em mim, não confie neles.São mentirosos treinados,e a fazem pensar que não há falhas.Não volte ao passado,não conte seus segredos,não responda perguntas,não mostre a verdade.Confie em mim, não confie neles.Blair releu a carta mais vezes do que poderia contar. Várias perguntas rondaram sua mente, porém nenhuma delas tinha resposta imediata. Ela caminhou rapidamente até o interfone, ainda com a carta em mãos. Seu coração estava acelerado, as mãos suavam e a ansiedade rastejava lentamente para a superfície. Blair interfonou para a recepção, e não demorou muito até que fosse atendida.- "Oi, eu sou Blair Collins. Eu acabo de chegar em casa e vi que deixaram uma encomenda para mim. São flores. Eu gostaria de saber quem as enviou" ela não esperou até que a moça do outro lado da linha terminasse seu bordão profissional.- "Srta. Collins, poderia me informar o códi
Quando Blair deu-se conta do que estava fazendo, onde estava fazendo, com quem estava fazendo, uma das mãos de Ethan já estava apertando com força seus pulsos acima da cabeça. Não era exatamente doloroso mas, certamente, era mais brutal do que tudo que ela conhecia.O beijo, em si, era muito compatível, nascido de uma atração incontrolável. O fato era que os corpos já se conheciam, mas não tinham tido o suficiente para alcançarem à saciedade.Ethan bebeu todos os suspiros de Blair como se fossem combustível. Ela não podia controlar os próprios instintos, e nem fazia questão de tentar. A água que escorria por entre os corpos não era capaz de apagar o fogo que eles alimentavam.O homem levou a mão até o registro de água e encerrou a cascata que os contemplava. Em seguida, ele inclinou-se para baixo e segurou as coxas de Blair, erguendo seu corpo para cima até que ela entendesse que precisava abraçar a cintura dele com as pernas. Em momento algum eles afastaram-se, pois não seriam capaze