CAPÍTULO 4: Destinada

Helena Dcastelli

“Silêncio, Heitor”. Estávamos conversando através dos pensamentos.

“Eu sei”. Irritou-se ele, tínhamos saído da cabana, ficamos invisíveis, mas todo cuidado era pouco, e não podíamos chegar perto de Lucas.

“Você já repetiu isso 500 vezes.”

Estávamos procurando um caminho sem lobisomens por perto, sabia que Lucas provavelmente tinha espalhado nosso cheiro.

“Por aqui”. Heitor me chamou, mas tinha muitos lobisomens por lá também. “Tem muitos deles”.

“Sim, Heitor. Onde você acha que a bruxa se escondeu?”

“Está perto, ela também quer falar conosco, teve alguma visão?”

“Não, mas ela está me mostrando algo, ela está facilitando. Vamos! — Disse eu agitada”. Corremos e nos deparamos com uma casa antiga no meio de um jardim. Então, tornamo-nos visíveis novamente.

— Então é aqui! — Heitor exclamou. Uma energia forte ondulou da casa, e parecia que o chão iria nos engolir, a reação de Heitor foi rir, ele balançou a cabeça para os lados como se não acreditasse no que estava vendo — Ela é forte — Observou, nos encaramos sorrindo.

— Mas não o suficiente — dissemos juntos em voz alta, apontamos as mãos para a casa e esmagamos ela como um pedaço de papel.

Heitor me olhou.

— Você acha que ela é uma traidora? 

— Você sabe o que eu acho e sei que concorda comigo.

— Ela ajudou as criaturas que mataram nossa mãe, que destruíram nossa família — Disse ele.

Assenti. Fomos em direção ao casebre e retiramos os destroços da casa apenas com o poder do pensamento e vimos a bruxa em meio aos destroços.

— Ela pensou que pudesse confiar em nós — disse Heitor.

— Ela se enganou — Rebati.

— Ela não parece ruim, os sentimentos dela estão confusos, parece que nos conhece — Heitor parecia tão confuso quanto a bruxa, balancei a cabeça na tentativa de afastar a ideia de que aquela bruxa era a vítima da história, ela era somente alguém que traiu o clã. Se não fosse ela, talvez não tivéssemos errado tanto.

— Quem não nos conhece, Heitor? Todos os bruxos sabem de nós! — Disse eu tentando dissipar da cabeça dele a ideia de poupá-la.

— Mas ela não é do clã! Ela é uma desgarrada, e quem somos nós Helena para julgar alguém que quebrou as regras do clã? — Encarou-me sério, franzi o cenho, ele tinha que insistir nisso?

A mulher ficou de quatro no chão e começou a cuspir sangue, olhei para ela e a empurrei de volta ao chão com o pé, fazendo-a gemer de dor.

— Helena! Ela precisa nos dizer algo, uma pista, nos dizer o motivo por trás de estar ajudando os lobisomens a se esconder há tantos anos.

Amarramos a bruxa em uma árvore, e ficamos observado ela.

— Eu torturo ou você tortura? — perguntou Heitor.

— Ninguém tortura ninguém — Disse Lucas surgindo da floresta, ele caminhou até Zelda e começou a desamarrá-la.

Heitor tentou impedi-lo, mas eu o paralisei. “Como não o sentiu?”. Perguntei para meu gêmeo. 

“Esqueceu que estamos em uma alcatéia cheia de lobisomens irmã”. Bufei, as habilidades de Heitor eram mais poderosas que isso, talvez ele não quissesse matar a bruxa de verdade.

Lucas continuou o trabalho em desfazer as amarras da nossa vítima, Heitor novamente tentou intervir, mas continuei impedindo-o.

— Mas ele...

— Zelda vai nos dizer tudo, nem que não queira — Disse eu. 

“Se realmente quisesse que ele não nos atrapalhasse tinha detectado a aproximação dele, agora é tarde”. Heitor arregalou os olhos e apertou os punhos indicando que não estava nem um pouco feliz com a minha atitude.

Lucas encarou-me.

— Como pode fazer isso Helena. Por quê?

Por tantos motivos, essa mulher foi uma das responsáveis pelo assassinato da nossa mãe, pensei em dizer, mas preferi o silêncio, ele não deveria saber nada sobre mim. Era o melhor. Heitor tocou no meu ombro, sinalizando que isso era o que ele pensava também. Pelo menos nisso estávamos de acordo.

— Essa sou eu, Lucas. Você não me conhece.

— Eu quero conhecer, mas você não deixa! — Lucas me encarou com intensidade e minha reação foi me afastar dele, caminhando para trás, parecia que aquele sentimento estranho iria tomar conta de mim, ele me deixava fraca, e Carjás nos ensinou a não ser fracos.

— Não — balançava a cabeça para os lados, senti quando Heitor me abraçou.

— Eles....foram enganados...não podem acreditar em...não podem acreditar nele, ele... — Dizia Zelda com dificuldade. Encaramos ela, que ainda estava no chão ferida.

— Por quê traiu os bruxos? — perguntou Heitor ainda me segurando entre seus braços.

Nesse momento, um homem surgiu da floresta e quando viu Zelda correu em sua direção desesperado.

— Zelda! Querida.

— Silas...Eu..

— Shiii — ele acariciou o rosto dela e a colocou no colo.

— Tio eu...

— Cale-se — Outros lobos apareceram — Eles tinham sumido, chamei os outros para procurá-los. Alguns lobisomens que estavam em sua forma humana não muito longe da sua cabana, eles estavam desorientados, disseram ter sentido vontade de atacar uns aos outros de repente, eu sei que isso deve ter sido obra de Heitor, eu já ouvi falar muito de você, jovem — Silas encarou Heitor e depois Lucas — Os lobos que vigiavam os gêmeos se distanciaram para impedir um banho de sangue, foi quando eles aproveitaram para sumir da cabana.

— Silas, não — Zelda sussurrou — Não é o momento.

— Mãe! — James surgiu do meio do nada, Silas a colocou no colo dele e caminhou até nós puxando Heitor de mim, fazendo-me cair no chão.

Lucas me segurou pelo cotovelo e me puxou do chão.

— Desculpe tio, isso não voltará a acontecer, Helena vai ficar comigo, James — O filho de Zelda olhou para seus alfa — Leve Heitor para uma cabana bem distante da minha, e coloque lobos vigiando-o.

Ele me colocou no colo e me tirou dali.

— Eu sei andar!

— E torturar também, queria acreditar que você não fosse capaz de fazer coisas cruéis.

— Eu fui criada para fazer coisas cruéis.

— Não!

— Sim!

Engoli em seco, e fechei os olhos. Em seguida os abri, e me deparei com seu olhar penetrante.

— Você merecia mais, Lucas.

— Você é tudo pra mim.

— Então você não tem nada!

Sabia da intensidade dos sentimentos dele por mim, e tinha medo dos meus. Aquilo era um absurdo para mim, a única pessoa com quem me importei a vida toda era apenas Heitor, e pretendia que continuasse assim.

Ele abriu a porta da cabana dele com um chute, me colocou no chão em pé, e me encarou com profundidade.

— Você é minha destinada. 

Ele deveria se afastar. Ele deveria me deixar ir. Um imenso trovão soou no céu, e uma sensação estranha se espalhou por todo o meu corpo, olhei pela janela, era noite e tudo indicava a presença dele.

Carjás está aqui. Conseguia vê-lo. 

— Helena, seus olhos estão brancos… — Lucas tentou se aproximar, mas estendi a mão afastando-o. Carjás estava à caminho. Ele nos encontraria cedo ou tarde, coloquei a mão no peito, e fechei os olhos.

“Heitor está aí?”

“Sim, e ele também. Consigo senti-lo levemente. Ele está com raiva, acha que fugimos”.

“Não podemos deixar Carjás vê-los”.

“Fazemos o combinado então?”

“Sim”.

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