Foi questão de segundos. Os olhares começaram a se virar um a um. Primeiro, alguns convidados distraídos perceberam e arregalaram os olhos. Em seguida, os fotógrafos, que imediatamente começaram a disparar flashes em sua direção. O burburinho aumentava a cada passo que ela dava. — Ela não estava morta? — Pensei que tivesse morrido. — Isso não pode ser real… É a Senhora Belmont? As vozes sussurradas se espalharam como fogo em pólvora. A incredulidade se misturava com espanto e admiração. Afinal, o nome de Cássia Belmont havia estampado manchetes quando foi dada como morta, e agora ela estava ali, viva, radiante, como uma aparição vinda do além — mas com um propósito bem real. Henrique foi um dos últimos a perceber o que estava acontecendo. Ele ainda ria de algo que acabara de dizer quando notou o silêncio ao seu redor. Franziu o cenho, sentindo a atmosfera mudar. Algo estava errado. Quando se virou, encontrou Cássia parada à sua frente. Linda. Impecável. Sorrindo suavemente. P
O som das portas se fechando ressoou pelo salão como um golpe de martelo. Um estalo seco. Definitivo. Os olhares se voltaram para os imensos portões duplos agora selados. Nenhuma entrada. Nenhuma saída. A festa de gala, antes repleta de risadas e brindes, mergulhou em um silêncio pesado, sufocante. O brilho das joias, dos vestidos luxuosos e dos ternos impecáveis nada significava diante do que estava por vir. Então, passos firmes ecoaram pelo ambiente. Um homem de terno escuro atravessou a multidão, seu olhar afiado fixo em um único alvo. Henrique. — Henrique Belmont — a voz de um agente soou alta e clara, rompendo a tensão no ar —, você está preso. O tempo pareceu desacelerar. O ar do salão, antes perfumado por champanhe e arrogância, agora exalava medo. Henrique mal teve tempo de reagir. Sentiu o aperto firme no braço quando foi imobilizado, mas sua mente ainda lutava para processar o que estava acontecendo. — Você está sendo indiciado por tentativa de homicídio, corrupção
O calor da mão de Molie apertando a sua fez Cássia sair do torpor momentâneo. Ela piscou algumas vezes, tentando organizar seus pensamentos, enquanto seu coração batia mais rápido do que gostaria. — Cássia… — Molie disse, a voz baixa, mas firme. — O Charles me disse que precisava encontrar o Dimitri. Aquelas palavras caíram como um peso sobre os ombros de Cássia. Dimitri. O nome ecoou em sua mente, carregado de mistério e preocupação. Antes que pudesse perguntar mais alguma coisa, dois homens se aproximaram. Seus passos eram calculados, seus olhos atentos ao redor. Marco e Bruce, membros de confiança da equipe de Charles. — Senhora Belmont — Marco começou, com a postura rígida e profissional. — Charles nos pediu para acompanhá-la até em casa e garantir sua segurança. Cássia franziu a testa. — Segurança? Mas por quê? Bruce, um homem alto e de olhar sério, trocou um rápido olhar com Marco antes de responder: — O Charles disse que a noite ainda não acabou. Aquela frase fez um ar
Assim que Cássia, Molie e James entraram na casa, foram recebidos por um silêncio quase assustador. O eco de seus passos ressoava pelo enorme hall de entrada, tornando o ambiente ainda mais sombrio. Molie franziu a testa e olhou ao redor como se esperasse que, a qualquer momento, a governanta aparecesse de trás de um dos enormes móveis polidos. — Tá... Isso tá esquisito — comentou, cruzando os braços. — Onde estão os empregados? Esse silêncio está me dando arrepios. Cássia suspirou e passou a mão pelos cabelos, sentindo o peso da noite finalmente desabar sobre seus ombros. — O Marco estava vigiando a casa desde cedo e disse que Henrique dispensou todo mundo. Molie arregalou os olhos. — Como assim todo mundo? Nem uma alma viva? — Nem um gato para miar — confirmou Cássia, caminhando até a sala de estar. James, por sua vez, parecia bem mais tranquilo. Ele olhou para o imenso sofá de couro, analisou por um breve instante e, sem cerimônia, se jogou nele como se fosse dono da casa.
Enquanto os outros seguiam para a cozinha, Cássia sentiu que precisava trocar de roupa. A noite tinha sido longa e cheia de reviravoltas, e a última coisa que queria era ficar naquele vestido luxuoso que, apesar de lindo, estava começando a pesar em seu corpo como uma lembrança do que havia acabado de acontecer. Subindo as escadas rapidamente, ela entrou em seu quarto e foi direto para o closet, pronta para pegar algo confortável. Mas, ao abrir as portas, seu coração quase parou. O closet… estava vazio. Seus olhos se arregalaram. Onde estavam suas roupas? Seus sapatos? Suas joias? Seu cérebro demorou alguns segundos para processar a cena diante dela. Prateleiras vazias, cabides sem nada pendurado, gavetas abertas e completamente desertas. Era como se alguém tivesse apagado sua existência daquele lugar. A raiva começou a subir por sua espinha como fogo. — Aquele desgraçado!Henrique não apenas tentou matá-la, como ainda teve a ousadia de apagar qualquer traço de sua presença na
Depois do jantar, todos se recolheram aos seus quartos. O silêncio tomou conta da casa, mas, para Cássia, o descanso parecia impossível. Deitada na enorme cama, seus olhos fixavam o teto, mas sua mente vagava. Charles. Desde que ele desapareceu naquela noite, seu coração não encontrou sossego. Ela se virou para o lado, depois para o outro, e finalmente desistiu de tentar dormir. Levantando-se, caminhou até a sacada de seu quarto, que dava vista para o jardim iluminado pela luz fraca dos postes. Dois agentes estavam lá fora, vigiando a casa, atentos a qualquer movimento suspeito. Foi então que ela viu. Um carro surgiu na estrada escura, aproximando-se em ritmo constante até parar diante dos agentes. A porta se abriu, e um homem saiu. Charles. O coração de Cássia acelerou de imediato. Mesmo sob a pouca iluminação, ela reconheceria aquele porte em qualquer lugar. Alto, imponente, mas com uma postura sempre tranquila. Ele trocou algumas palavras rápidas com os agentes, mas, assim q
Charles se foi. Ele simplesmente entrou naquele carro e desapareceu na escuridão, levando com ele algo que Cássia nem sabia que lhe pertencia: a própria paz. Ela ficou ali, parada na soleira da porta, os olhos fixos no vazio da estrada, como se, por um milagre, ele pudesse voltar. Mas tudo o que restou foi o som distante do motor se dissolvendo na noite e o peso esmagador da ausência dele. — Algum problema, senhora? A voz grave de um dos agentes a trouxe de volta à realidade. Cássia piscou algumas vezes, tentando se situar, e apenas balançou a cabeça em um gesto silencioso de negação. Mas era mentira. Tinha um problema. O problema era que Charles havia ido embora. Com um suspiro pesado, ela fechou a porta, girou a chave devagar e se virou, caminhando com passos lentos e arrastados de volta para o quarto. Cada passo parecia mais pesado que o outro, como se um peso invisível a puxasse para baixo. Ao entrar no quarto, ela nem se preocupou em acender as luzes. Apenas seguiu até a
Quando os primeiros raios de sol atravessaram as cortinas do quarto, Cássia abriu os olhos devagar. O peso da noite anterior ainda a sufocava. O travesseiro estava úmido, resultado das lágrimas silenciosas que derramou enquanto tentava dormir. Ela não queria se mover. Seu corpo parecia pesado, como se tivesse correntes invisíveis a prendendo ao colchão. Fechou os olhos de novo, desejando, por um instante, que tudo não passasse de um sonho. Mas não era. Charles tinha ido embora. Henrique estava preso. Sua vida tinha virado de cabeça para baixo—de novo. Suspirou fundo e forçou-se a levantar. "Vamos lá, Cássia. Você já passou por coisa pior." Mas, enquanto colocava os pés no chão frio, percebeu que essa era a maior mentira que já havia contado para si. Porque, por mais que tivesse vencido sua batalha contra Henrique, por mais que agora fosse livre, o vazio que Charles deixou, parecia mais difícil de suportar do que qualquer outra coisa. Levantou-se devagar e foi até o espelho. Seu