ETTORE FERRARIEstou consciente de tudo. Ouço as pessoas ao meu redor, sinto as enfermeiras mexendo no meu soro, arrumando meus travesseiros e cobertores, ouço o barulho da máquina à qual estou ligado, mas não consigo me mexer ou falar, e isso é desesperador para mim. O que mais me faria feliz neste momento é poder abraçar minha mulher e me ajoelhar diante dela, suplicando seu perdão, mas não consigo. Ouvir suas palavras me confortam de algum modo, talvez estar aqui não seja de todo ruim, não se for para tê-la ao meu lado. É claro que a situação em que me encontro é horrível, pois adoraria tocar meu anjo, dizer o quanto sou louco por ela, o quanto esperei por ela, o quanto sou completamente apaixonado por tudo que venha dela. Mas estou preso nessa cama, em coma, sem chances de poder dizer qualquer coisa para confortá-la. Depois de alguns longos minutos sinto ela se levantar da cama, meu coração aperta só de pensar que ela se vai, e vou ficar aqui sozinho.— Até logo, meu amor… Volte
VIOLLETA FERRARICINCO MESES DEPOISEstou no quarto onde Ettore continua a definhar em cima da cama. Minha barriga está cada dia maior, meus pés estão mais inchados devido ao meu estágio avançado de gravidez. Em poucas semanas vou ter o meu bebê, não quis saber o sexo, pois guardo a esperança de que Ettore acordará e juntos saberemos o sexo do nosso filho, ainda que, a cada dia que se passa, eu fique mais preocupada com o seu estado, pois nada se altera.Pietro ficou no lugar do irmão, assumiu todas as suas responsabilidades, na sede quem está na frente de tudo é ele. Surpreendi-me com o quanto está sendo forte, fazendo as melhores escolhas pelo seu irmão. Sempre que preciso de conforto, ele está ao meu lado.Quando não estou aqui, Sandra é quem está, mas em momento algum o deixamos sozinho. Ela também está sofrendo muito com a possibilidade de que Ettore não volte, e imagino que seu coração de mãe esteja ainda mais destroçado que o meu. Eu tento nem pensar nessa possibilidade, pois s
VIOLLETA FERRARIAbro meus olhos, que agora doem com a claridade, e sei que estou num hospital. Desespero-me pelo bebê e por não saber o que vai acontecer a partir de agora. Sinto uma dor muita forte na minha cabeça, minha barriga e todo meu corpo também estão doendo. Escuto passos apressados de longe e ouço a voz, desesperada de Sandra, próxima a mim.— Dios mio, o que aconteceu com ela? Ela vai ficar bem? E o bebê, como ele está? — Ouço Sandra falar, e em seguida, meu pai, também desesperado, fala:— Por favor, me falem o que aconteceu com minha filha e o bebê! — Ele diz com a voz embargada. — Doutor, por favor, me diga algo! — O carro em que sua filha estava foi encontrado capotado a alguns quarteirões daqui. Quando os paramédicos chegaram ela já estava inconsciente e sangrando muito, teremos que fazer uma cesárea de emergência, não podemos esperar mais.— Diga como ela está. Ela está bem, doutor? Por favor, não me esconda nada, só tenho ela e meu neto, não posso perder os dois a
Ettore FerrariMais uma vez, ouço Violleta se sentar do meu lado e colocar minha mão sobre sua barriga. Sempre que faz isso, sinto o bebê se mexer como se soubesse que é o seu pai quem o está tocando naquele momento. Não sei descrever a felicidade que me dá todas as vezes que ela me faz sentir essas coisas. Tocá-la, sentir o calor de sua pele, e ao mesmo tempo nosso bebê, me faz sentir cada vez mais vontade de me levantar dessa cama e abraçá-la com toda minha força, e beijar sua barriga.Sei que faz algum tempo que estou neste estado, pois sua barriga está maior em comparação a quando cheguei aqui. Não sei quanto tempo faz, mas me desespero toda vez que vejo que vou perder minha consciência novamente. Sempre que isso acontece, vejo coisas horríveis, insuportáveis, que me causam dor, sofrimento, parece uma espécie de inferno pessoal onde o desespero, o choro, e os gritos das pessoas ao meu redor torna tudo cada vez mais horripilante. Às vezes acho que vou enlouquecer se ficar mais temp
Ettore Ferrari Olho para Violleta, toda machucada sobre a maca, com nosso filho sobre os seios, sorrindo e chorando ao mesmo tempo. Ver aquela cena me emocionou de um jeito muito profundo, e não consigo sair do lugar. Vejo os médicos tirarem o bebê dela, e ela não esboçar reação nenhuma com isso. Acho estranho, tudo parece estar em câmera lenta, vejo-a fechar e abrir os olhos, e, novamente, olhar para mim. Quando me vê, abre aquele sorriso, aquele que ela dá quando está feliz com algo, e eu poderia, deveria retribuir, se não estivesse vendo seu estado. Os médicos e enfermeiros aplicam alguma coisa nela, ela deveria reagir, mas seus sinais vitais continuam baixando, gradativamente, minuto após minuto. Olho mais uma vez para o seu rosto e vejo ela dizer, balbuciar, as três palavras que mais esperei ouvir, dela, em toda minha vida. — Eu te amo! Ela sorri, novamente, soltando um suspiro lento, e não demora para seus olhos fecharem, e os aparelhos que estão ligados a ela começare
Ettore FerrariChego em casa, e vou direto para o quarto, entro e sinto o cheiro do perfume dela como se ainda estivesse aqui. Imediatamente, as lágrimas começam a rolar dos meus olhos, de novo, e aumentam de intensidade quando vejo as coisas dela, tudo no lugar que ela sempre deixou. Pelo jeito ela ficou aqui depois dos acontecimentos da festa e em quanto eu estive em coma. A sensação do aperto na garganta e as lágrimas, me causam uma dor que não sou capaz de descrever. Me sinto sufocar, como se todo o ar do mundo fosse retirado. Tenho vontade de fazer coisas insanas, e sinto vergonha só por pensar nisso, pois agora tenho um filho para cuidar, alguém que depende de mim. Não posso fraquejar. Tomo um banho rápido e me deito na cama, tomo os remédios que o médico receitou e deixo o sono me levar, estou realmente cansado, pois foi tudo muito intenso desde a hora que levantei daquela cama de hospital.Acordo assustado, com o toque insistente do meu celular, logo cedo, sei que é o número
Ettore Ferrari— Vou deixar o senhor sozinho com ela. Ela está sob efeito dos sedativos, e não acordará por agora, mas posso deixá-lo aqui por um momento, e antes que me esqueça, ela sofreu um colapso chamado de Catalepsia Patológica, com esse distúrbio a pessoa fica com aparência de morta, seus músculos ficam rígidos, pois seu sistema para de funcionar até que ela saia do colapso, peço desculpas, pois se sua mulher não tivesse saído a tempo do colapso, teria morrido por negligência médica e eu seria o responsável. Como disse, em todos os meus anos de exercício da medicina, jamais presenciei nada parecido, e muito menos com um paciente sob meus cuidados.Prefiro não me pronunciar, pois só de imaginar que uma coisa dessa pudesse acontecer tenho vontade de matá-lo, aqui e agora. O doutor sai e eu chego mais perto, para verificar se, realmente, ela está comigo, desta vez. Sofri muito por pensar que ela me deixaria. Apenas a ideia de imaginar o resto da minha vida sem ela já é razão para
ViolletaSinto o metal frio e duro contra minhas costas, e um arrepio me assombra. Olho em volta e vejo que estou em cima de uma superfície fria, de metal, e estou totalmente nua. De imediato me levanto tentando esconder minhas partes íntimas com as mãos e sinto uma dor excruciante na cabeça. A porta dupla é aberta e uma enfermeira entra, com uma prancheta nas mãos; ela ainda não me viu, porém não demora para que isso aconteça, e quando me vê, a mulher joga o que tinha em suas mãos para o alto e dá um grito tão alto, que além de me assustar, faz com que minha cabeça doa ainda mais.— Meu Deus! — diz espantada. — Você estava morta!— Não estava, não — discordo veementemente. É claro que estou viva, ora!— Preciso chamar alguém, por favor, não saia daqui.Ela me entrega um avental branco e sai da sala. Em seguida, tudo vem em minha mente de uma só vez. Lembro-me de ter visto Ettore, antes de fechar meus olhos e escorregar para a escuridão. Meu Dante nasceu, preciso ver meu filho, saber