Diário: Até agora o nosso plano está dando certo, mas já pensamos num segundo plano.
O bebê copo de leite está forte e bem de saúde. Ele fica no jacazinho de taboca, na Senzala, escrava Mudinha vai até ele para amamentar no dia e a noite eu fujo com a ajuda de Thabó e vamos para a Senzala onde fico um pouco com Thabó, amamento e dou amor para o nosso bebê.
Eu me arrisquei a pedir para coronel Antero para que me deixasse fazer uma visita para tia Tereza Santina o que foi negado aos gritos.
Thabó chamou Sabina e pediu para que me desse um recado e ao ouvir esse recado era para eu tomar muito cuidado em relação ao meu estado físico e ao bebê copo de leite.
Thabó contou para Sabina que ‘Um olho só’ descobriu o bebê copo de leite na Senzala e foi falar para coronel Antero Ferrão, ele disse:
-Coronel Antero, a nega Mudinha deu a luz a um menino branco. O que eu faço com ele? É branco que doí as vistas. ‘Um olho só’.
-Ora, ora,
Diário: Não que eu deseje o mal para o meu pai, o poderoso coronel Antero Ferrão, mas eu e Thabó vivemos de ‘catar’ as migalhas de tempo e oportunidade para ficarmos juntos e dar carinho e amor para o nosso bebê. Coronel Antero Ferrão está com muita febre, ‘Um olho só’ já buscou médico na cidade que receitou medicamentos, chás e muito repouso. E é claro que eu e Thabó aproveitamos para irmos para a nossa cabana de pau-a-pique com o nosso bebê. ‘Um olho só’ aproveita e bebe cachaça em exagero e dorme cedo. Thabó me aguardou abaixo do chiqueiro dos porcos já com o nosso bebê no cestinho de taboca. Ele está saudável e cada vez mais lindo. E esta crescendo, já movimenta as mãozinhas e com os pezinhos, sorri e balbucia. Thabó tem muita cautela e amor pelo o nosso filho. Nós contamos com os raios da lua para clarear o caminho em que passamos e com a sorte e a proteção da Virgem Maria para que não sejamos atacados por bichos selvagens, já que passamos próxim
Diário: Eu, João Carlos Thabó Baptista, filho de Ana Clara Ferrão Gregório Baptista e Thabó, chamado carinhosamente na infância de bebê copo de leite, atendo ao pedido de meu querido e amado pai, Thabó: Assim é com imenso prazer que eu escrevo palavras tristes ditadas por meu pai com o objetivo de finalizar o diário de minha querida e brava mãe, a sinhazinha Ana Clara. Já fazem vinte anos que numa fuga em busca de liberdade e dignidade que aconteceu o ‘pior’ mas foi a partir desse ‘pior’ que hoje eu João Carlos Thabó Baptista sou um homem livre, sei ler e escrever e agora vou anotar as tristes e dolorosas palavras de meu pai Thabó. Meu pai relembra a fuga, conta que tinha tudo para ter dado certo, ele, minha mãe e minha avó Sabina combinaram tudo, e assim naquela madrugada vó Sabina fingiu ir até a lavoura de mandioca e foi para a cabana de pau-a-pique, chegando lá meu pai Thabó, minha mãe Ana Clara e eu ainda bebê embarcamos na carroça. Meu pai Thabó
O meu pai tem loucura com fazendas antigas, sempre que encontra uma que esteja para vender, ele a compra, às vezes até com pertences antigos dentro delas. Sempre fala que pode ser encontrado no meio das ‘velharias’ algo com valor ou serventia. Em pleno ano de 1924 o meu pai acabou de fechar a compra de uma fazenda velha que teve o seu ‘vigor’ e alta produtividade por volta de 1822/1840. Então, eu me chamo Catarina Diniz Sá filha de Diniz Sá Mendes. E foi mexendo num baú empoeirado guardado no porão da velha casa, numa fazenda que meu pai comprou que eu encontrei a mais bela e triste história de amor narrada num velho diário datado de 1822. A sua narrativa em letras quase apagadas, escritas com os instrumentos, pena e tinteiro começam a história por volta de 1805. Diário: Eu Ana Clara Ferrão Gregório Baptista nasci em 1805 na Fazenda Engenho Escondido, cidade de São Joaquim de Iboré-Minas Gerais-Brasil, filha de coronel Antero Ferrão Gregório Baptista e de min
Diário: Numa manhã de domingo, dia de ir à missa na capelinha acompanhada e vigiada por Sabina, eu encontro a flor copo de leite na escada. Esse é o sinal que Thabó deixou, é como se fosse o convite para irmos tomar banho no rio. Após a missa, eu falei que iria confessar e que logo estaria em casa, Sabina seguiu para o casarão para preparar o almoço e eu fui por um caminho secreto que dava no rio. De longe eu avistei a cor mais linda, Thabó de costas, sentado numa pedra, e aguardando. Doce visão para uma mulher apaixonada. Sua costa nua parece com uma pétala da flor violeta negra rara. Tentei aproximar sem que ele me visse e passar a mão em suas costas, mas Thabó tem o sentido aguçado, e se vira pensando serem os passos de um animal selvagem. Ele sorriu e pegou a minha mão para irmos para um lugar no rio bom para nadar. Eu não poderia nadar com todas as roupas, e o mais incrível que acolhidos pela a mata e ouvindo o coro dos passos eu não me senti acanhada em
Diário: Numa tarde de sábado resolvi caminhar numa longa estrada com flores campestres de cada lado, até parecia que alguém as plantou e cuida de tamanha beleza. Não sei se foi coincidência ou providência Divina, Thabó me aparece com a carroça indo num antigo plantio buscar mudas de mandioca. Ao ouvir o atropelo do cavalo fiquei encostada para dar caminho e eis que surge a mais bela paisagem, Thabó conduzindo o cavalo na velha carroça entre as flores que no balançar assopradas pelo o vento exalou um doce perfume. Thabó freou o cavalo e perguntou-me o que eu fazia ali. Respondi que estava apreciando as flores do campo. E assim, ele me fez o convite para acompanha-lo até o seu destino buscar mudas de mandioca. -Não será perigoso? Alguém pode nos ver. ‘Um olho só’ esta disfarçando, mas está a nos espionar. Ana Clara. - O meu destino é solitário, isolado e não demoro carrego a carroça com as mudas e voltamos. Deixo você aqui e termina de chegar a pé. ‘Um olho só’
Diário: Todo o dia Sabina passa em minhas costas sebo de carneiro e babosa para que as cicatrizes causadas pelas as chibatadas desapareçam. Eu sempre falo para Sabina que as piores e dolorosas cicatrizes estão em minha alma. Se não bastasse a perseguição de ‘Um olho só’ e a crueldade de meu pai coronel Antero Ferrão, para completar o nosso sofrimento, o negrinho Saci ouviu meu pai dando ordens para ‘Um olho só’ separar os negros na Senzala, pois ele já fechou negocio e o novo proprietário está a aguardar a ‘mercadoria’ na feira da cidade, eles vão em gaiolas-carroças até o porto e de lá seguirão de navio para longe. -Deixe os escravos mais novos na Senzala. Eu já fechei negocio nessa remessa. Deixe também próximo do casarão às gaiolas-carroças. E preste atenção ‘Um olho só’, dessa vez o negro Thabó está no ‘lote’. Sempre deixei ele fora das vendas por ele ser forte e bom de serviço, mas dessa vez ele vai também e para bem longe. Coronel Antero Ferrão.<
Diário: Aqui no Engenho, os dias e as noites continuaram os mesmos, o dia cheio de negros cuidando, trabalhando no Engenho ou levando chibatadas no tronco, de modo que a ‘liberdade’ até parece se esconder na mata com medo do coronel Antero e de ‘Um olho só’, as noites com a sua sensualidade, contando com a beleza da lua e das estrelas no céu, o coaxar dos sapos no rio, a cantiga dos pássaros e grilos em coro unido e vindo ao barulho do vento. Algumas dessas noites o som dos tambores na Senzala se faz especial. Se coronel Antero e ‘Um olho só’ já estão recolhidos em seus aposentos eu e Sabina, vamos até a Senzala apreciar a dança dos escravos e o batuque dos escravos. Assim eu e Thabó ficamos alguns minutos juntos. Temos que tomar cuidado, pois vivemos sob fortes ameaças até de: -Se eu te pego com esse negro Thabó, não sei do que eu sou capaz. Até de te matar! Ouviu Ana Clara? Coronel Antero Ferrão. Numa noite Thabó foi até a minha janela e me a
Diário: Querido diário, eu preciso desabafar o pavor que eu senti quando desci do meu quarto e lá na sala do casarão estava meu pai o coronel Antero e um homem, alto, com um chapéu caro e usando um terno de linho caro num tom de azul marinho, idade trinta anos. Assim, que eu o vi, sabia que não era algo de bom para mim. Eu mal botei o pé no ultimo degrau da escada, descendo, meu pai já foi logo me apresentando com um largo sorriso nos lábios, o que é muito raro. -Primo Luano, essa aqui é minha pedra preciosa, Ana Clara, está na hora de casar e eu tenho certeza que vai te dar uns quatro filhos como é de seu desejo. Cumprimente seu noivo, Ana Clara. Coronel Antero. -Boa noite, Ana Clara. Eu sou Luano, acabei de chegar da Europa, onde me formei em advogado. Meus pais têm fazendas na Bahia e Goiás, estava indo para Goiás e resolvi passar aqui para lhe conhecer e fazer a ‘corte’. Antero enviou uma carta para meus pais falando do encanto de filha que