MALU

Vincenzo ou Bernardo, nem sei mais como devia chama-lo... Também qual diferença isso faria? Depois do jeito frio e bruto como me tratou, pouco me importava descobrir quem ele era na realidade.

Apesar que pelo pouco que o observei parece ser um homem amargurado e tenho quase certeza que ele nunca foi amado de verdade por alguém. Por isso não sabe o que é amar, ele se sente o dono mundo, como se ele pudesse fazer tudo que quiser com qualquer mulher que ele desejar… Com certeza toda essa exposição na mídia e essa bajulação dessas mulheres taradas o deixaram se sentir o dono do mundo... o chefão e o todo poderoso.

— Ai Malu, querendo ou não você também deve ter sua porcentagem de culpa nisso tudo. Pois, sempre foi fanática e enlouquecida por esse homem gostoso... Ai... ele me queima inteira e sinto tudo latejar só de pensar em suas mãos tocando meu corpo.

Foco Malu... Foco... Não perca o foco... Ele foi um grosso e um miserável desde o início com você. Primeiro por te tratar como uma mercadoria, segundo por permitir que aquele verme do Jairo te batesse daquela maneira e terceiro por tirar sua virgindade como se fosse um verdadeiro animal. Fosse não... ele é sim um animal. Gostoso... Mas, não deixa de ser um ogro com suas atitudes.

Como uma fanática sempre fui muito interessada por sua vida e tudo o que dizia respeito ao cobiçado Vincenzo Torricelli. Mas, agora percebo que esse homem perfeito nunca existiu e na minha frente existe somente um sujeito misterioso, que mesmo tentando demonstrar frieza e auto controle, tinha certeza que existia algo muito maior por trás de toda essa pose de chefe da máfia.

Confesso que isso ativou a minha curiosidade e até gostaria de saber sobre o seu passado, o que o tornou esse homem rude e cruel, sem dó e nem piedade de machucar alguém, principalmente uma mulher.

Será que ele tem família, o que aconteceu com ele pra ser assim?

Eu sofri muito na vida, mas jamais quis descontar todo mal que me fizeram em alguém desse jeito.

Será que no fundo ele tem sentimentos?

Será que é capaz de gostar de alguém, de amar alguém, de sentir compaixão, dor ou tristeza?

— Ai! Esquece Malu... definitivamente ele é um homem sem emoções.

Estava perdida em pensamentos quando Angel entra no quarto mascando um chiclete e sentando ao meu lado dizendo:

— Olá lindinha, sou sua babá hoje viu .

— Olá Angel... já estou bem crescidinha para ter babá. — falo sorrindo

Angel era uma ruiva linda, com cabelos longos encaracolados, lábios carnudos, em torno de 1.72 de altura, cintura fina, bumbum arrebitado, seios fartos que eram evidentes serem silicones, olhos esverdeados intensos e marcantes... Enfim, tinha um corpo maravilhoso e era uma mulher de parar o trânsito.

— Olha lindinha, você deu muito azar dessa vez hein… — disse ela me olhando

— Porque diz isso? — pergunto logo em seguida arqueando a sobrancelha

— Porque pelo visto você seria a acompanhante do gostosão do nosso chefe, mas como ficou mal assim, ele levou a hiena com ele. — ela fala e fico confusa

— Hiena? Porque a chamam assim? — pergunto em seguida

— Porque ela sente prazer com a desgraça dos outros. Não percebeu como ela gargalhava quando o desgraçado do Jairo te agredia no salão na frente de todos? — Angel fala me olhando

— Ela é uma desgraça mesmo. Mas, a hora dela vai chegar. — respondo ainda com um pouco de dor

— Toma cuidado com a hiena hein... essa mulher não é de brincadeira Malu. Mas, voltando ao assunto sobre o gostosão. Olha ele demorou meses pra levar a Rebeca com ele e com você tudo tem sido muito diferente. — Angel fala e logo abro um sorriso, mas fecho na hora lembrando do que ele me fez

— Jura? — Perguntei séria fingindo desdém

— Sim lindinha! E olha só, você chegou ontem e já ia passear com aquele Deus grego gostoso. — Angel fala e sinto uma raiva se apossar do meu corpo

— Ele é um deus grego por fora, mas é o diabo e um animal por dentro. Eu o odeio! — falo furiosa

— Como assim lindinha? Ele é perfeito!A noite foi tão ruim assim? — Angel pergunta sem compreender

— Péssima é apelido. Foi a pior noite de toda minha vida. No começo até foi bom, mas depois... Ele é um grosso, cruel, frio e sem sentimentos Angel. Olha como ele me deixou? Me maltratou e praticamente me estuprou mesmo sabendo que eu ainda era virgem... e que a primeira vez de uma mulher a marca para sempre. — falo com voz embargada segurando o choro

— Que merda! Desgraçado! Sinto muito lindinha! Não sabia que ele tinha uma pegada forte assim a ponto de machucar e ainda por cima não se importaria por ser a sua primeira vez. Miserável! — Angel fala sentando ao meu lado

— Talvez não tenha e não seja tão animal assim. Mas comigo sei que foi de propósito, ele mesmo falou que queria me maltratar para que eu aprendesse como as coisas funcionam por aqui. E como pôde ver ele conseguiu. — falo com lágrimas nos olhos e um pesar na voz. Angel me abraça com carinho, me deita em seu colo e acaricia meu cabelo enquanto fala

— Canalha! Como pode te maltratar desse jeito? Sei que conselho se fosse bom ninguém daria de graça e sim venderia. Mas, gosto de você desde que te vi chegar aqui na La Casa e por isso vou falar. Tome cuidado e não se apaixone por ele Malu… — Angel começa a falar, mas não a deixo concluir

— Hã? Eu? Me apaixonar por esse cafajeste? Que não tem respeito por ninguém? E ainda é frio, calculista, vingativo, maldoso… Jamais Angel! Nunca! Quero esse desgraçado bem longe de mim. E farei de tudo para fugir o mais rápido possível desse inferno e nunca mais ter que vê-lo. — falo pensativa

— Cuidado… você já percebeu que ele não é um príncipe. — Angel fala e isso me deixa ainda mais triste, por saber que me iludir como uma imbecil por amar uma capa de revista.

— Eu sei muito bem disso, e eu não vou ser a prisioneira dele por muito tempo, eu vou sair daqui custe o que custar. — falo com a voz embargada

— Não subestime ele, ele é muito esperto e pelo visto cruel quando deseja. — ela fala e me levanto a olhando

— Hoje posso parecer frágil e fraca. Mas, anota o que vou te dizer Angel. Esse canalha vai comer aqui ó... na minha mão. E quando estiver totalmente dominado como um cachorrinho chegará a minha vez de fazer o que tanto desejo... desaparecer desse inferno sem sequer olhar pra trás. — falo com raiva

— Ai lindinha! Que Deus te ajude viu! Porque do jeito que as coisas andam é muito difícil você se livrar do Deus grego... e mais ainda conseguir sair daqui. A última que tentou sofreu muito e não está mais aqui nesse mundo para contar estória. — Angel fala e engulo seco

— O que fizeram com ela? — pergunto assustada

— Foi estuprada e espancada até a morte. Por isso te digo, esse homem que chamamos de chefe não é um príncipe. Mas, sim um monstro disfarçado dentro daquelas roupas de grife. Muito cuidado com ele e novamente eu repito... Não cometa o erro de se apaixonar... isso nunca... entendeu? — Angel fala e balanço a cabeça em afirmativo

— Entendi Angel. E obrigada por se preocupar comigo. É muito bom saber que temos alguém com quem contar no momento difícil. Amigas? — falo sorrindo

— Claro lindinha! Amigas! — ela me abraça apertado e deito minha cabeça no seu ombro derramando algumas lágrimas.

Ela me olha e me dá um beijo na testa que me conforta. Nunca tive amigas e muito menos conseguia confiar em ninguém. Mas, Angel em pouco tempo conquistou o meu carinho, meu respeito e agora a minha amizade.

Ficamos conversando o dia todo, ela me contou que até gostava do que fazia na La Casa. Aprendeu com a vida a seduzir os homens e assim levar a única coisa que segundo ela prestava neles, o dinheiro.

Eu não entendia o lado dela, mas respeitava seu modo de pensar. Eu nunca quis me deitar com alguém por dinheiro, mas se ela gostava quem sou eu para julgar… Ela me contou um pouco sobre sua vida. Disse que foi casada com um traficante e que durante anos foi espancada por ele. Tem um filho que vive com sua única  irmã em São Paulo. E chegou até a La Casa pelas mãos do próprio marido que a vendeu como uma mercadoria. A vida da Angel teve muito sofrimento e isso me fez pensar um pouco mais nas coisas. Me fez perceber que assim como eu fui usada, sofri e chorei, outras passam por situações iguais ou até piores do que a minha.

Enquanto ela contava sobre os abusos que sofreu algumas lágrimas rolaram pelo seu rosto. Eu a abracei e assim como ela me tranquilizou, também retribui.

O dia passou voando, conversamos, brincamos e fofocamos muito. Além é claro de tentarmos bolar planos para destruir a m*****a hiena.

Chegando à noite Angel me ajudou a me levantar e tomar um banho. Terminei o banho e vesti a camisola vermelha de seda que tinha no closet. Coloquei algumas gotas de perfume, arrumei um pouco o cabelo e fiquei olhando meu rosto no espelho. Ainda estava um pouco machucado, mas nada era pior do que a ferida na alma e no coração que o Vincenzo deixou.

Antes eu desejava morrer, mas agora ao ver essas marcas pelo meu corpo e tudo que ele me causou... o que eu mais desejo é viver... me fortalecer... e lutar até o fim pela minha liberdade. Uma liberdade que me foi tirada ou melhor dizendo roubada sem nem ao menos eu ter escolha. Mas, uma coisa é certa... A minha hora vai chegar e podem ter certeza que nada será como antes. E assim como não tiveram piedade comigo também não terei com nenhum deles. E mesmo eu sempre tendo sido louca pelo falso Vincenzo Torricelli... Ele será o primeiro da minha lista e o que mais vai sofrer por ter marcado a minha vida dessa maneira tão cruel.

Penteio meus cabelos com uma escova de cerdas macias que havia no banheiro. Seguro colocando no alto e faço um rabo de cavalo. Apago a luz e saio do banheiro. Ainda de costas fechando a porta ouço a maçaneta se mover, porém sequer olho para ver quem era. Caminho devagar até a cama e coloco um joelho sobre a mesma empinando involuntariamente o meu corpo deixando minha calcinha branca de renda amostra. Apoio a mão para encostar meu corpo na cama e sinto uma mão envolvendo minha cintura me deixando completamente arrepiada. Logo em seguida àquela voz rouca, sensual e sexy que me faz engolir seco diz próxima ao meu ouvido me fazendo arrepiar:

— C@ralho! Será que cheguei no paraíso e nem fui avisado?

Meu coração acelera e não consigo dizer sequer uma única palavra. Ele me deita na cama e me olha intensamente me fazendo tremer e somente pensar:

— Meu Deus! Me livra desse demônio antes que eu caia em tentação. Como esse capeta consegue ser tão lindo e gostoso desse jeito? (...)

Continua...