LOUISE ALBUQUERQUE
— Você não tem medo de morrer, Louise? – Marcelo esbravejou no mesmo instante que segurou meu braço esquerdo, forçando o meu corpo a girar para encará-lo.Ele dá dois passos para frente e seu semblante é de puro ódio como se realmente quisesse fazer mal a mim, o que me assustou, porque era a primeira vez que o via desse jeito.
— Demorou, mas o que a minha mãe sempre disse que aconteceria, aconteceu agora. – Um sorriso de decepção se formou nos meus lábios.
— O quê? Eu não posso ficar puto e te chamar de vagabunda?
— Não estou falando disso, meu querido. Quantas vezes te xinguei de coisas piores quando você errava? Isso é normal para mim.
— Então é o quê?
— Você quer me bater.
— Eu jamais te bateria. – Ele soltou o meu braço e se afastou. — Só quero que você escute a minha explicação e o motivo real para eu não te querer perto daquele idiota do Cigarro e não fuja de mim como fez agora.
Olho ao redor e vejo dois seguranças da universidade prontos para me defender se o meu ex namorado tentar algo e isso me deixa mais tranquila.
— Desculpa, mas eu não quero te ouvir. Cansei das suas mentiras, desculpinhas e especialmente, da sua manipulação psicológica comigo. Me deixa seguir a minha vida, por favor.
Pego o meu celular, destravo a tela e mando mensagem para o meu pai pedindo ajuda. Conheço bem o Marcelo e sei que ele pode surtar por eu estar querendo terminar de uma vez por todas.
— Dois anos de namoro e você vai me resumir a uma traição em um momento de fraqueza? – Seus olhos marejam e eu me sinto culpada por estar dando um fim ao nosso relacionamento.
— Sinto muito, Marcelo. Eu juro que tentei esquecer, mas não consigo. Todas as vezes que te encontro, eu lembro dos dois aos beijos naquele bloco de carnaval. Eu não consigo te perdoar.
— O que você quer de mim? – Ele questionou nervoso. — Me fala como eu posso consertar isso, amor. Me fala o que você quer.
— Acabou.
Senti outra tontura e o Marcelo me segurou, não deixando de aproveitar o momento de fraqueza para me abraçar.
— Vamos comer alguma coisa? – Sua mão alisa minhas costas, me causando um leve tesão.
— Eu não quero transar.
— Tudo bem. Só quero que você coma para não ficar desmaiando por aí.
— Você vai se aproveitar de mim.
— Nunca te obriguei a nada. Você que é viciada na minha rola. – Ele brinca, me fazendo soltar uma gargalhada nervosa.
No final, aceitei o convite do Marcelo e avisei ao meu pai que iria chegar mais tarde que o habitual, então fomos para a minha lanchonete favorita e durante o caminho optamos pelo silêncio.
Não estou a fim de conversar com ninguém, apenas quero comer e ir para a casa descansar.
— Chegamos. – Marcelo avisa assim que para o carro diante da lanchonete.
Saí do carro rapidamente e fui em direção a lanchonete sem esperar por ele.
— Pra onde você vai com tanta pressa? Não esquece que sou eu que vou pagar o lanche.
— Óbvio que vai, cara. – Viro minha cabeça ligeiramente para trás e completo: — Olha bem para a minha cara e ver se eu sou alguma otária que vai gastar dinheiro tendo um macho ao lado?
— As feministas enlouqueceriam ao ouvir isso.
— Por mim, nem feministas existiam. – Dou de ombros.
Escolhemos uma mesa, sentamos um na frente do outro e logo uma garçonete muito simpática nos trouxe dois cardápios com opções de combos com lanches e pratos feitos.
— Nunca entendi qual teu problema com o feminismo. – Ele fala sem tirar os olhos das opções de pratos.
— Birra! – Rebato com sinceridade.
— Como assim?
— Há alguns anos me envolvi em uma treta no Twitter por causa de uma disputa ridícula entre fãs da One Direction e do Justin Bieber, então fizeram um exposed tour com todas as beliebers e no meu caso, ficaram zombando do meu corpo por eu estar acima do peso.
— Ainda não entendi o que isso tem a ver com feminismo.
— Todas as envolvidas na exposição eram feministas.
— Sinto muito, mas você tem que ver...
— Eu não tenho que ver nada. – O interrompo rispidamente. — Eu quase morri depois dos hates que recebi, Marcelo. Meu transtorno alimentar, minha fobia social e toda merda de ser humano que sou hoje é por culpa delas.
— Não vou te forçar a escutar meu ponto de vista, porém espero que um dia você consiga enxergar que o movimento feminista é importante para caralho em um país misógino como o nosso, principalmente para as mulheres que nasceram na favela.
— Se é tão importante para mulher negra e pobre, por que a maioria das feministas que tomam conta da mídia são brancas e ricas?
— Então, eu estou dizendo que o movimento feminista é importante e não que ele não tenha falhas, afinal quem faz parte dele são pessoas e seres humanos erram.
— Tipo você me trair?
— Não. O que eu fiz tem mais a ver com outro assunto do que pela minha criação machista.
— Que outro assunto, Marcelo?
— Vamos comer, amor? Preciso de você viva.
— Para continuar fodendo minha buceta? – Pergunto em tom de deboche.
— Ué, a gente terminou, certo?
— Claro, mas achei que você ia tentar transar comigo.
— Não. Se não for para namorar sério, seremos só amigos ou conhecidos.
— Por quê?
— Não vou conseguir te tratar como um objeto sexual. Isso iria bagunçar sua mente.
Esbocei um sorriso e ele me retribuiu.
Pedimos nossos lanches e mais um prato de comida, porque o meu ex namorado insistiu para eu comer algo mais saudável também.
Enquanto estávamos comendo, ficamos conversando sobre política e eu tenho que admitir que os argumentos do Marcelo são os melhores e todas as vezes que ele me conseguia me fazer pensar sobre determinado assunto, colocava uma semente esquerdista na minha mente.
Apesar de ter crescido em meio ao tráfico de drogas e mesmo sabendo da possibilidade dele estar envolvido até o pescoço em práticas ilegais, eu conseguia notar que não era o que ele queria para o seu futuro, inclusive iniciou um curso de graduação à distância ano passado e é um dos melhores alunos da sua turma.
No início, ele ficou um tanto quanto inseguro por já estar com 29 anos na época e se achar velho demais para entrar na faculdade, mas eu o incentivei a se matricular.
Nós temos os nossos problemas, entretanto o Marcelo nunca vai deixar de ser uma parte importante da minha vida. Querendo ou não, a nossa ligação é muito forte. Talvez só não fomos feitos para ter um relacionamento amoroso, talvez uma amizade seja bacana.
Só preciso controlar essa vontade de dar para ele três vezes ao dia.
— Eu não ia te bater naquela hora. – Marcelo muda de assunto repentinamente. — Tava enciumado pra porra, mas nunca iria te agredir e desculpa ter te chamado de vagabunda.
— Geralmente, eu gosto quando você me xinga. – Sorrio com malícia e ele me mostra o dedo do meio.
— Viu? É você que provoca.
Gargalho alto e tampo a minha boca ao observar que atraí os olhares dos outros clientes para mim.
— Você conhece o Felipe lá da faculdade? – Indago ao me recordar da pequena intromissão dele na minha conversa com o moreno.
— Ele é filho de um inimigo do meu pai.
— Meu Deus, o que o filho de um traficante faz na minha universidade?
— Por que o espanto? O teu colega de turma é filho de um político envolvido em um escândalo de corrupção e nunca te vi questionar o porquê ele estar lá.
— Descansa, militante. – Rodo os olhos.
— Vai revirar os olhos assim quando eu tiver metendo com força nessa bucetinha apertada.
Sinto minha vagina pulsar com a sua provocação e mordo meu lábio inferior tentando disfarçar o efeito da sua frase sobre mim.
LOUISE ALBUQUERQUEPor mais que eu não quisesse dar um fim na nossa noite, o Marcelo parecia decidido a se afastar de mim a qualquer custo e não entendeu o motivo da otária da sua oficialmente ex namorada estar parada ao seu lado sem conseguir dizer um simples tchau.Alguém me dá um tiro na testa para eu parar de ser tão estúpida?— Tá tudo bem aí? – Ele pergunta me encarando com aflição, porém sem tirar as suas mãos do volante como se quisesse fugir de mim o mais rápido possível.— Por que é tão fácil para você me esquecer? – Indago sentindo um nó na garganta. — Eu não signifiquei nada na sua vida?— Não é isso, amor. – Sua mão direita desce até a minha coxa esquerda, iniciando um carinho gostoso e meu olhar acompanha o movimento dela. — Eu só não quero forçar a barra contigo, porque sinto que já fiz isso muitas vezes desde que... você sabe.Sim, eu s
FELIPESIMÕESAs aulas foram suspensas por 15 dias na faculdade, podendo ter uma prorrogação de mais 15 dias como uma medida de prevenção contra o coronavírus. O reitor, mesmo achando um exagero como qualquer pessoa que apoie cegamente as falas desonestas do atual presidente, cedeu uma pequena férias para que a comunidade acadêmica pudesse ter uma reclusão social após algumas manifestações de repúdio dos diretórios e centros acadêmicos de cada unidade sobre as aulas continuarem normalmente com uma epidemia rolando pelo mundo a fora.O que os alunos fizeram para comemorar o pequeno recesso forçado? Isso mesmo, a porra de uma festa no estacionamento do Campus de exatas.Mais burros que isso só quem votou em um jumento para presidência, e eu que vim para a muvuca universitária depois que a minha amiga me ligou chorando falando que estava passando mal em um banheiro.
LOUISE ALBUQUERQUEAcordei ouvindo alguém vomitar a alguns metros de distância e permaneci com os olhos fechados tentando entender o que havia acontecido na noite anterior, porque tenho quase certeza que esse não é o meu quarto e eu sei disso por causa do excesso de calor no local.Como nunca vou dormir com o ar condicionado desligado e eu sempre coloco na temperatura de 20ºC para quando eu me despertar do sono me sentir no próprio Polo Norte, fico preocupada imaginando qual foi a asneira que cometi durante a festa da faculdade para me encontrar na cama de um desconhecido.Só falta eu ter praticado sexo casual com algum macho retardado.O ato nada inteligente e muito menos responsável de ir à uma reunião com dezenas de pessoas presentes em meio ao caos que o mundo se encontra atualmente, ocorreu, principalmente, pelo fato de eu precisar espairecer
LOUISE ALBUQUERQUEPassei mais de quatro horas olhando para o teto refletindo se eu deveria arriscar uma fuga desse lugar, ligar para o meu pai vir me buscar ou esperava o Felipe acordar para me levar em casa.Sim, eu sei que para você deve ser fácil levantar dessa cama e sair desse apartamento, mas para mim até mesmo um gesto simples torna-se algo bastante complexo a se fazer, porque eu penso em mil possibilidades ruins que podem acontecer durante o caminho, como por exemplo, eu ser assaltada ou morta. Apesar de não conhecer os donos desse lugar, o Felipe conhece o Marcelo e como ambos são filhos de traficantes, acredito que os dois devem respeitar um ao outro e isso deve incluir não matar as suas exs namoradas.Ou não!Não posso esquecer que o Marcelo citou que os pais dos dois são inimigos, só que não senti ódio entre eles.É, acho
LOUISE ALBUQUERQUEO Marcelo está enfurecido e não faz questão nenhuma de disfarçar seu descontentamento comigo por eu ter dormido no apartamento do Felipe, por isso saiu me arrastando pelo corredor e seguiu até o elevador sem falar uma palavra comigo.Ele me soltou assim que entramos e eu massageei meu antebraço que está latejando de dor.Nos encostamos na parede espelhada, olhando para frente e eu fiquei nervosa ao ver o Felipe sair pela porta do seu apartamento e correr na nossa direção.— Quem você pensa que é para entrar na minha casa e agredir a minha convidada, RM? – Ele coloca sua mão na porta metálica, impedindo que o elevador se fechasse.— Eu não agredi ninguém. – Meu ex namorado se defende.— Você puxou o braço de uma garota que tem a metade do teu peso e tamanho. – Felipe aponta para a área que está dolorida e ao olhar para o meu antebraço, noto que a marca da mão
LOUISE ALBUQUERQUENo instante que eu pisei em casa foi dedo no cu e gritaria com os meus pais. Eu nunca os vi tão chateados comigo como naquele momento e apesar de achar exagero, tentei entender o lado dos dois, porque o meu toque de recolher é às 1h da manhã e bem, eu estava doze horas atrasada. Sem contar que não dei notícias e passei a noite com dois desconhecidos. Claro que a última parte foi ocultada e se Deus permitir, eles nunca saberão, pois, para todos os efeitos, eu estava com o Marcelo.Melhor a minha mãe reclamar que eu sou corna mansa do que me esfolar viva por eu ter me colocado em risco durante uma festa da faculdade.— Além de chegar depois do almoço, ainda fica conversando com aquele marginal na porta da mansão. – A mulher reclama sem nem ao menos me olhar enquanto tira os pratos da mesa e segue até a cozinha.— Só estávamos resolvendo alguns p
** Contém maus tratos a animais e zoofilia. Não irei descrever em detalhes, só citar! **LOUISE ALBUQUERQUEEu devo confessar que nunca cogitei sentir tanta falta das minhas aulas presenciais na faculdade e o quanto seria difícil permanecer em casa até ser obrigada a ficar isolada para me proteger. Estava me sentindo sufocada entre as paredes da mansão, os pensamentos negativos tomaram conta da minha mente muito de repente e eu mal conseguia dormir à noite com pesadelos relacionados às ameaças do Barão.Após a invasão do Felipe ao meu quarto, eu percebi que poderia estar correndo risco de morrer e apesar de saber que devo falar para os meus pais, eu tinha medo que eles me proibissem de ver o Marcelo por contas das maluquices do seu pai. É difícil as pessoas enxergarem que o meu ex namorado e o pai dele são pessoas bem diferentes.Enfim, meu dias estão sendo monótonos demai
FELIPE SIMÕESA Louise me mandou mensagem pedindo ajuda e, de todos os crimes que pensei que um dia fosse cometer, nunca cogitei roubar uma cadela e os seus filhotes. Quando ela me contou detalhes do que havia visto, eu fiquei uns 10 minutos vomitando dentro do banheiro de tão enojado que me senti ao saber das atrocidades que esses falsos profetas estavam cometendo com animais indefesos.Tem muitas pessoas que normalizam a prática de zoofilia como um fetiche sexual e acha que tudo bem quem o faz, mas se a gente parar para raciocinar por alguns segundos é possível chegar a conclusão que os bichos são tão incapazes de consentir quanto as crianças ou mulheres bêbadas, portanto é estupro e não sexo. Se não está tudo bem fazer ter relação sexual com menores de 14 anos e garotas alcoolizadas, por que caralhos estaria ok abusar de uma cadela?É nojento c