Capítulo Oito


LOUISE ALBUQUERQUE

Acordei ouvindo alguém vomitar a alguns metros de distância e permaneci com os olhos fechados tentando entender o que havia acontecido na noite anterior, porque tenho quase certeza que esse não é o meu quarto e eu sei disso por causa do excesso de calor no local. 

Como nunca vou dormir com o ar condicionado desligado e eu sempre coloco na temperatura de 20ºC para quando eu me despertar do sono me sentir no próprio Polo Norte, fico preocupada imaginando qual foi a asneira que cometi durante a festa da faculdade para me encontrar na cama de um desconhecido.

Só falta eu ter praticado sexo casual com algum macho retardado.

O ato nada inteligente e muito menos responsável de ir à uma reunião com dezenas de pessoas presentes em meio ao caos que o mundo se encontra atualmente, ocorreu, principalmente, pelo fato de eu precisar espairecer ou ia acabar surtando sem o Marcelo no meu cotidiano. Pode parecer burrice, e talvez realmente seja, mas eu o amo tanto e está sendo extremamente difícil dizer adeus a ele.

Eu sinto falta das suas mensagens pela manhã, das nossas ligações na hora do almoço e dos nossos programinhas noturnos de casais. Só de pensar dos beijos, abraços e sexos altas horas da madrugada, sinto vontade de chorar.

Meus pais me aconselharam a começar a fazer terapia, pois, segundo a opinião deles, me tornei emocionalmente depende do meu ex namorado e isso pode agravar meus problemas psicológicos já existentes desde quando eu era uma adolescente estúpida que amigava com qualquer ser humano que me dava um pouquinho de atenção e, no final de tudo, acabava sempre ferrada.

Infelizmente, algumas pessoas não souberam lidar com a minha personalidade forte e com o fato de eu ter milhões de privilégios desde o momento que o meu espermatozóide ganhou a corrida. Por medo de ser julgada, teve uma fase que eu sempre escondia o quão meus pais são ricos e só depois percebi que as pessoas iam me odiar de qualquer jeito, então me tornei insuportável durante um bom tempo como uma forma de me proteger. Isso durou até conhecer o Marcelo e ele despertar o melhor em mim.

Agora o mesmo se foi, me deixando sozinha e sem perspectiva do que fazer da minha vida, afinal, tudo o que eu planejava para o meu futuro era pensando na gente como um casal e não eu sozinha, ficando para titia.

Queria falar que cansei de correr atrás de um cara que desistiu facilmente de um namoro de dois anos e que eu mereço muito mais do que ele pode me oferecer, mas a verdade é que só quero um homem ao meu lado todas as manhãs ao acordar e todas as noites ao dormir. E não importa o que os outros falam sobre nós dois, eu vou fazer de tudo para tê-lo de volta e ninguém irá me impedir de concretizar meu objetivo, nem mesmo a minha mãe.

Suspiro fundo sabendo que eu preciso cair fora daqui imediatamente, então abri os meus olhos com a intenção de tentar me lembrar onde eu estou, mas acabei enxergando apenas uma luz que vinha de uma porta entreaberta, que parecia ser o banheiro, e ao escutar o som da descarga, tive certeza absoluta.

Ok, hora de levantar e correr para longe desse lugar antes do desconhecido voltar pro quarto.

Ergui meu corpo com pressa, girando para o lado com o propósito de sentar na beira da cama, porém me atrapalhei ao tentar ficar em pé, porque pisei em alguém, que resmungou um palavrão, e como se não bastasse, bati a mão em algum objeto que estava ao lado da cama e ele caiu no chão.

— Puta que pariu! Que caralho é esse? – Uma voz masculina soa alto e raivosa no escuro.

— Me desculpa, por favor. – Peço completamente nervosa.

— O que aconteceu? – Uma garota negra com cabelos enrolados até a altura dos ombros escancara a porta e acende a luz do local, revelando um quarto bastante desorganizado e um homem sentado em um colchão improvisado com o rosto todo molhado.

Olhei o copo de plástico caído em cima do lençol e me bati mentalmente por ser tão desastrada.

— Foi sem querer, moço. – Falo envergonhada. — Me desculpa.

— Só assim para o Felipe acordar antes de meio dia. – A garota zomba e se aproxima de mim com um sorriso sincero. — Você está melhor, Lou?

— Como você sabe o meu nome? – Franzo o cenho ao mesmo tempo que me levanto da cama.

— Uai, foi o nome que gemi baixinho quando estávamos fazendo o nosso ménage. – Ela gira o dedo apontando. para nós três, me fazendo arregalar os olhos e abrir minha boca em surpresa.

Meu Deus do céu.

Eu não acredito que transei com um casal.

Como que se respira, senhor?

— Relaxa, magrela. A Nathalia tá zoando. – O moreno diz enquanto limpa o rosto encharcado.

— Que brincadeira de mau gosto! – Solto uma gargalhada nervosa e volto a respirar aliviada. — Se eu tivesse participado de uma orgia, o meu pai mudaria o testamento e daria a minha parte da herança para o meu irmão.

— Não sabia que você tinha um irmão. – Nathalia falou como se me conhecesse há anos e essa informação fosse algo que ela deveria saber.

— Tenho dois irmãos, mas a garota já está deserdada desde que se casou com um cantor sertanejo.

— O que teus pais tem contra músicos? – Ela suspende a sobrancelha como se estivesse pronta para me afrontar.

Por que as pessoas parecem que estão sempre dispostas a brigar por qualquer motivo bobo? Que coisa chata!

— Contra cantores, nada. – Tento parecer o mais gentil possível. — O problema é o que o cara era casado e tem dois filhos, entende? A minha irmã foi a amante durante quase um ano.

A garota fez somente uma feição desaprovadora antes de voltar para a cama e deitar-se.

— Você não vem? – Sua mão dá dois tapinhas do lado vazio do colchão.

— Eu tenho que ir embora.

— São 4h da manhã. — O tal Felipe informa depois de olhar no celular. — Dorme aí com a Nathy por hoje e amanhã te levo em casa.

— Eu agradeço a oferta, de coração, só que eu não conheço vocês. – O encaro séria e o vejo revirar os olhos.

— Deveria ter pensado nisso quando negou ir para a casa com o seu namorado, né?

— Que namorado?

— O Marcelo. Ele e você são noivos ou algo assim, certo?

Minha mente está caótica e eu só consigo recordar de alguns acontecimentos da noite passada.

Onde que o Marcelo entra nisso tudo?

Será que ele estava na festa com a Arlene e por isso eu bebi tanto a ponto de esquecer o que se sucedeu durante a festa?

— Eu não lembro de nada. – Confesso, sentindo minha cabeça latejar de dor pela primeira vez e meus olhos lacrimejarem.

— Não chora, cara. Odeio ver mulher e criança chorando. – O rapaz bem aperfeiçoado diz um tanto quanto desesperado e a sua amiga cai na gargalhada.

A risada dela é tão gostosa de se ouvir que contagiou nós dois e a acompanhamos durante alguns segundos.

— Mil perdões pelo trabalho que estou dando. – Sou sincera, intercalando o meu olhar entre eles. — Não costumo agir dessa maneira desenfreada.

— Olha pra mim, Louise. – A Nathalia chama a minha atenção para ela e eu obedeço. — Eu não queria falar sobre isso às 4 da manhã, mas nós fomos drogadas na festa, por isso não lembramos de nada e eu estou passando mal.

— Eu fui estuprada? – Questiono, temendo a resposta.

— Não! – Felipe e Nathalia gritam juntos.

— Cara, vocês estavam vestidas, intactas e, com certeza, foram drogadas sem querer ou tomaram algo que não era para nenhuma das duas. Todo mundo sabe que os universitários da nossa faculdade fazem de tudo para encherem o cu de entorpecentes para pagar de descolados. – O cansaço na voz dele é evidente assim como a vontade de me deixar despreocupada e confortável na presença dos dois.

O observando mais atentamente tenho a impressão de já tê-lo visto em algum lugar e o mesmo percebe isso ao sorrir de lado.

— Sou o cara que disse que seria seu escravo sexual.

Puts, logo ele?

— O filho de traficante? – Minha língua é mais rápida que a minha mente.

— Não. – Nathalia responde por ele e ainda completa: — O Felipe é o filho de uma das maiores empresárias do ramo de cosméticos no Brasil e o pai? Quem se importa com ele?

Senti que ela está defendendo o amigo e eu fui inconveniente com uma pessoa que não conheço.

— Mais uma vez, desculpa. Eu não tenho muito filtro e jeito para falar com as pessoas.

— Tudo bem, Louise. Só deita aí e quando amanhecer te levo para a sua casa, porque agora tô cansadão.

Bufei frustada antes de assentir.

De qualquer maneira, ninguém tinha culpa das minhas atitudes impensadas, por esse motivo decidi ceder e voltar para a cama, contudo, antes de deitar, vi um aquário ao lado de onde eu estava deitada e simplesmente, tinha uma cobra dentro dela.

— Por que tem uma cobra no seu quarto? 

— Porque ela mora aqui. – Felipe respondeu simples. — Agora vai dormir.

— Como vou dormir com um animal asqueroso ao meu lado?

— Asqueroso é a tua buceta, garota! Eu tô te ajudando na maior boa vontade desde ontem à noite, mas não vou deixar você falar do Al Capone desse jeito.

— Para com isso, Cigarro! – A garota intervém. — A menina só não é acostumada com animais exóticos.

Eu acho que devo falar algo, mas estou petrificada olhando para o monstrinho preso no vidro.

Quem em sã consciência cria uma cobra dentro de casa?

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo