LUCASAcordo com uma sensação estranha.O quarto ao meu redor é um lugar desconhecido, e por um instante me sinto deslocado. Mas, aos poucos, as lembranças voltam e me situo dentro dessa história que agora é minha vida.Uma opressão incômoda pesa sobre meu peito, como se algo estivesse fora do lugar.Como se tudo estivesse errado.Levanto-me lentamente, massageando as têmporas. Minha cabeça ainda lateja levemente, um eco desagradável da ressaca. Vou até o banheiro e deixo a água correr antes de entrar no chuveiro.Primeiro, a água está morna. Depois, vou reduzindo a temperatura aos poucos, até que o frio intenso percorre minha pele como um choque elétrico.Talvez eu mereça esse castigo.Talvez precise acordar para a realidade de uma vez.Depois de sair do banho, visto uma bermuda escura e uma camisa leve. Vou procurar minha adorável esposa.O quarto de hóspedes está vazio.Na sala, encontro Helena, que me informa que Giovanna foi dar uma volta na praia.Droga.A angústia me atinge ant
LUCASO sol das dez horas reflete sobre o mar, criando uma paisagem de tirar o fôlego. O brilho dourado dos raios solares se mistura ao azul profundo do céu, sem nenhuma nuvem para ofuscá-lo. O branco das ondas se dissolve no verde-turquesa do oceano, formando uma paleta vibrante e ardente, como se a própria natureza celebrasse a grandiosidade do verão.Respiro fundo, absorvendo o ar fresco e salgado, sentindo o calor acolhedor do sol contra minha pele.Estou do lado de fora da propriedade, esperando Giovanna.Uso um calção de banho azul-céu, estou sem camisa, descalço, e pela primeira vez em muito tempo, me sinto tranquilo. A conversa de mais cedo com ela dissipou parte da tensão, e agora posso apenas aproveitar o momento.Que bom que ela abriu os olhos.Ela percebeu que precisa de mim.Que ninguém poderia assumir o lugar que ocupo ao seu lado. Nenhum substituto.Sou eu quem deve estar aqui. Sou eu quem foi designado para esse papel.Sinto um misto de pena e dever.Nos últimos seis m
LUCASEla saiu.E eu me senti impotente.O gosto amargo da rejeição grudou na minha garganta, se espalhando pelo meu corpo como veneno.Maldição.Agora que finalmente a via com outros olhos, agora que queria levá-la para a cama, agora que aquela barreira da estranheza havia se dissolvido... ela me negava.O mundo era injusto.Hoje eu entendo.Nosso arranjo, por mais conturbado que tenha sido no início, será bom para nós.Será prazeroso para mim.Giovanna é linda.E o mais irônico de tudo isso?Só agora, agora que ela é minha, que eu realmente percebo o quanto.Minha?Não.Quase minha.O pensamento me enche de raiva.Sigo até a sala, pego a garrafa de Jack Daniel’s e sirvo um copo. Bebo de uma só vez, o líquido queimando minha garganta.Sirvo outro. Bebo novamente.Espero alguns segundos. Depois, mais uma dose.Mas nada disso dissolve a inquietação dentro de mim.O desejo.A frustração.Então, num impulso, vou até o quarto de Giovanna.Abro a porta sem bater.E sou recebido pela visão
GIOVANNALas Vegas Lucas e eu continuamos na mesma. Já faz um mês que estamos "juntos", mas não estamos. Ele tem viajado muito, e eu me sinto cada vez mais sozinha dentro desse casamento.Na última conversa que tivemos, Lucas me disse que essa era sua última viagem e que, depois, colocaríamos nossas vidas nos eixos. A ideia de tê-lo de volta, retomando de onde paramos, e eu tendo que controlar minhas reações à mera presença dele, me deixa inquieta. Meu corpo ainda reage a ele de formas que me irritam. Minha mente se divide entre o desejo e o medo. Tanto que, quando Antony me ligou, acabei cedendo ao convite para esse encontro.A primeira vez que ele me ligou perguntando como eu estava foi uma semana depois da minha estranha lua de mel. Omiti detalhes e disse que estava tudo bem. Mas ontem, quando ele me ligou novamente, eu já havia bebido um pouco. Passava das oito da noite, as crianças dormiam, e a solidão pesava mais do que eu conseguia suportar. Acabei desabafando ao telefone e cho
Será que teríamos mais mortes na família? Sim, pois a vontade que eu tinha era de matar esse desgraçado que saía com minha mulher enquanto eu me matava de trabalhar! Fecho a torneira do chuveiro e me enrolo numa toalha, enxugando-me automaticamente. Visto uma calça preta e uma camiseta branca. Vou até o quarto de Giovanna e acendo as luzes. O cheiro do seu perfume domina o ambiente. Passo os olhos por tudo, reparando no seu bom gosto. No chão um tapete branco fofo e macio, a colcha e cortinas eram delicadas e tinham nuances de rosa. Seu quarto é tão feminino que chega a ser uma agressão. Como se ela não tivesse intenção nenhuma de se mudar desse quarto para que finalmente dividíssemos a cama. Reparei num robe branco jogado numa poltrona perto da janela.Aperto os lábios com raiva e fecho imediatamente a porta.Desci a escada com a cabeça quente. A ira novamente me domina.Giovanna está passando dos limites!Com quem ela pensa que está lidando?Dio Santo!Entro na sala de jantar. A
—Não preciso de sua caridade Lucas. —Olhei tudo ao redor. —Tenho tudo que preciso e estou bem assim. Não é porque não transamos que irei procurar outro homem.—Nunca imaginei que fosse assim, quando me casei com você, Giovanna.—Então, estamos empatados. Eu também me decepcionei com você.—Mas que diabo está querendo dizer?Eu meneio a cabeça e dou um sorriso sem humor.—Eu preciso ainda explicar?—Por favor, eu quero ouvir. Dizem que os casamentos não dão certo por falta de diálogo.Eu respiro fundo. Eu não quero falar sobre isso. Tocar nesse assunto é como se me despojasse de minha armadura.—Você se enxerga como meu salvador e me vê como uma coitadinha. E eu não quero suas migalhas Lucas. Lembre-se que disso eu entendo. Vitor era exatamente como você. Se achava o máximo. Me dava migalhas e achava que me dava muito.Lucas continua me olhando como se tivesse perdido em um dilema pessoal. Meus olhos se enchem de lágrimas.Droga!Eu me odeio por chorar na frente dele. Não entendo porqu
Dio! Esse é meu último pensamento antes de ser puxada e seus lábios tomarem os meus. Eu nunca tinha sido beijada assim antes. Sinto-me devorada. Acabo me desequilibrando e caio sobre ele.Se eu estivesse iludida, ele seria irresistível. Mas não estou... mesmo sentindo seu cheiro absurdamente bom, mesmo louca para me render diante da maravilhosa sensação de seus lábios úmidos sobre os meus. Macios, maravilhosos; do seu corpo quente, me esforço para afastá-lo. E não digo força motora pois ele não me segura forte, não força a situação, ele simplesmente me beija. Digo força interior pois meu corpo traidor o quer e muito. Eu me levanto. Umedeço os lábios. O bad boy sexy me olha resignado, então o olhar dele desce para a minha boca, seus olhos escuros observando-me enquanto eu mordo o lábio inferior.Preciso ser forte!—Não quero que isso se repita. Não, sem a minha aceitação. —Eu digo com a voz incrivelmente forte. —Você realmente não sabe com quem está mexendo. Eu não sou como essas gar
Antony se virou para mim.—Foi bom ver você. As crianças cresceram desde a última vez que eu as vi.Eu sorri para meu amigo.—Sim, crianças crescem muito rápido. E falando em crianças, o dever me chama. —Dei um beijo no rosto de Antony. Procuro os olhos de Lucas que parece tenso e procuro desanuviar o clima deixando claro que somos apenas amigos. — Vem almoçar qualquer Sábado em casa. Traga sua namorada. Julia, não é mesmo?Antony me encara antes de terminar de tomar sua bebida e coloca o copo sobre a mesa de centro.—Não estamos mais juntos. Terminamos.Eu me sinto sinceramente triste com isso. Eles pareciam tão bem.—Puxa, que pena.A forma como encolhe os ombros e gesticula deixa claro que ele não quer falar sobre isso.—Giovanna. —Sinto o cheiro de Lucas com sua proximidade e depois seu toque no meu braço. Um estremecimento de prazer percorre minha espinha. Eu o encaro. — Agora vá, eu e Antony precisamos conversar.A respiração fica presa dentro de meus pulmões quando observo seu