GiovannaPouco tempo depois, nós, mulheres, ficamos no sofá tomando café fresquinho e jogando conversa fora. O ambiente era leve, com risadinhas e confidências triviais, enquanto os homens conversavam num canto mais reservado. Mas logo percebi que não era apenas uma conversa casual... eles haviam cercado Lucas. Os gestos contidos, os olhares cruzados, aquele ar de conspiração no ar. Estavam tentando convencê-lo de algo, era evidente.Ouvi meu nome de repente, como se alguém tivesse acionado um alarme dentro de mim, e só então me dei conta de que falavam comigo.— Giovanna querida, está com a cabeça no mundo da Lua?Sorri, um tanto sem graça, sentindo o rubor subir às minhas bochechas.— Desculpe-me.A verdade é que quando estou ao lado de Lucas, é quase impossível me concentrar. Minha atenção se volta para ele como se meu corpo inteiro estivesse em alerta constante, guiado apenas pelos sentidos. Cada sorriso dele parece me arrancar de mim mesma. Cada vez que seus olhos procuram os meu
LUCAS— Quero falar com você em particular. — Disse com firmeza, sem esconder minha autoridade.— Tudo bem.— Não aqui. Vamos até a biblioteca.Ele me olhou por alguns instantes, mas não respondi. Apenas me afastei em direção à biblioteca, certo de que ele me seguiria. Assim que entrou, fechei a porta com força controlada.— Quero que se afaste de Giovanna.Antony reagiu com uma expressão que mesclava surpresa e mágoa.— Somos amigos.— Não aceito não como resposta. Sua interferência a tem confundido. Tem feito mal a ela.— Não ajo com piedade, ao contrário de você.Senti o sangue ferver.— O que sabe sobre mim?Agora sua expressão mudou. Não havia mais mágoa, apenas seriedade. E talvez... um tipo estranho de compaixão.— Você não a ama, Lucas. Quero que desista desse casamento. Se o fizer, estou pronto a assumi-la.Aquela frase atingiu em cheio um lugar dentro de mim. As sombras que antes me envolviam desapareceram. Tudo fazia sentido agora. Ele sempre a quis.— Dio. Fala a verdade!
Momentos depois, Ruan nos levou de carro até o heliporto, onde pegamos o helicóptero. Felipe vibrou com o passeio. Ele já tinha andado nele, mas era menorzinho, e agora seus olhos brilhavam como se fosse a primeira vez. Lembrei da ocasião em que fomos todos conhecer o Cassino, quando ainda era uma novidade em nossas vidas. Tantas coisas pareciam promissoras naquela época... e hoje tudo parecia mais nublado, mais incerto.Durante todo o trajeto, Lucas e eu não trocamos uma palavra. O silêncio entre nós não era apenas a ausência de som, era um vazio carregado de tudo o que não conseguíamos dizer.Felipe, por outro lado, estava em êxtase. Falava sem parar, apontando tudo, fazendo perguntas, querendo a atenção do Lucas a cada segundo. Era como se o mundo todo dele girasse ao redor daquele homem. Nunca vi uma criança se apegar tanto a alguém.E isso... me comoveu. Mas também me confundiu.Porque mesmo sabendo que Lucas não me oferece a segurança que preciso, paradoxalmente, ao lado dele eu
LUCASEla vai embora e eu fico ali, bebendo, afundado no sofá, remoendo suas palavras. Me condoo com sua rejeição. Me levanto, encho novamente o copo e volto a me sentar. Seus olhos... Dio, aqueles olhos demonstram tanta convicção em me afastar que só de me lembrar, meu estômago se contrai de raiva.O que diabos eu ainda estou fazendo aqui?Que se dane!Eu não vou ficar preso a uma mulher!Se ela pensa que eu estou nas mãos dela, pode esquecer!Viro o uísque de uma vez só, coloco o copo vazio na mesinha de centro, pego as chaves do carro e saio de casa como um touro enfurecido. Caminho até a garagem onde minha Ferrari vermelha me espera, reluzente.Dirijo pelas ruas movimentadas de Las Vegas até chegar a uma boate afastada, uma que eu já conheço bem. Entrego o carro ao manobrista e, assim que entro, vou direto para o bar.A reconheço de longe pela silhueta, pelos cabelos cor de fogo. Me aproximo. Sim, é Helena... alguma coisa. Nem lembro o sobrenome.— Olá. Será que uma garota linda c
GIOVANNAEmbora ele tenha me parado, me bloqueando com seu corpo, ele não parece ter aquela confiança desconcertante de antes. Sua calma zen se foi. Consigo ler em seus olhos um certo nervosismo. Um tato para lidar comigo.Eu fico inquieta sob a intensidade dele, quente e excitada de um jeito incômodo.—Giovanna. Quero muito que tudo dê certo entre nós. —Ele diz sério. —Você falou em fidelidade que ela está dentro do nosso coração, pois eu a tenho comigo. Sei que agi errado em não respeitar isso no começo. A forma como agi na nossa lua de mel também prejudicou muito nossa relação, mas eu estou disposto a mudar por sua causa. Eu sinto desejo de estar com você. Eu olharia seu rosto por horas. Adoro seus lábios. Dio, Gio, estou louco por você. Não precisamos transar, só quero te abraçar. Conversar com você.Ele passa longos segundos olhando para a minha boca com um fascínio explícito antes de voltar a olhar nos meus olhos. Meu coração bate descompassado, a respiração errática. Eu gostari
As crianças começam a cantar a canção lindamente, de um jeito harmonioso. Felipe procura nossos olhos o tempo todo. Discretamente, observo Lucas, que enxuga as lágrimas com frequência. Ele parece não se conter de emoção. Eu também não. Fungo, inclinando o corpo à frente para pegar um lenço de papel da caixa de Kleenex na minha bolsa. Limpo as lágrimas que escorrem e o nariz. Lucas continua com os olhos fixos em Felipe, como se nada mais existisse ao redor.Quando a apresentação termina, vejo um Lucas completamente comovido, enxugando os olhos com um lenço que tira da jaqueta — sem nem se importar em esconder. As palmas explodem no auditório, pais igualmente emocionados, e nós nos juntamos a elas.Não há como não se emocionar.Lucas se ajeita na cadeira estreita e se vira para me olhar.—Nunca senti o que estou sentindo agora. Felipe é um presente... assim como Marcello. Somos afortunados. —As palavras saem doces, carregadas de ternura.Sorrio emocionada.—Verdade. Vem, vamos falar com
Geralmente erra mais quem decide cedo do que quem decide tarde; sei que nosso casamento não se iniciou por vontade de Lucas, mas por uma obrigação com a família e benefício dela. Na verdade, ele se sacrificou.Por isso tenho sido paciente. Tentando levar tudo da melhor forma possível. Assim como existem dois lados de cada história, existem dois lados de toda pessoa. Um lado que revelamos ao mundo e outro que mantemos escondido. Lucas me prometeu fidelidade. Ele me disse coisas que eu esperava ouvir desde o início. Eu estava me valendo dessa promessa.E então, ele será fiel? Ou disse tudo aquilo para me conquistar, por causa da promessa que fez ao pai dele, que ele faria o casamento dar certo?Um pai para os meus filhos, sangue de seu sangue. Sangue dessa família inescrupulosa....Sim, eu irei à festa. Ficarei anônima na multidão. Irei me valer do disfarce da fantasia. Ver como Lucas se comporta nela. Isso será o ponto chave para minha total entrega. Raquel com certeza estará lá. E hav
Ela dá um gritinho do outro lado.—Que bom!—Renata, eu resolvi ir sem Lucas saber. Não quero que ele me reconheça lá.—Como? Eu ouvi direito? Sem Lucas saber? Dio, Giovanna. O que você tem em mente?—Eu e Lucas estamos nos acertando. Ele me fez promessa de fidelidade, disse que deseja que nosso casamento dê certo. Então, quero observá-lo de longe, e ver como ele se comporta lá. Preciso de respostas. Quero tirar a imagem que ele deixou de italiano sedutor.—Giovanna, você me surpreendeu agora. Dio! Então preciso comprar alguns acessórios.— Acessórios?— Sim. Peruca e uma máscara. — Eu senti um arrepio na espinha pelo jogo que eu estou entrando.— Obrigada Renata. Não conta nada para ninguém, por favor.Ela dá um suspiro.—Espero que ele se comporte e que você tenha sua resposta. Vocês fazem um casal tão bonito. Felipe está tão apegado a ele. — Ela se calou por um tempo e meu coração estava pequenino com as falas dela. —E se ele não se comportar?Eu respiro fundo e digo resoluta:—Nos