Luna estava sentada na cama, envolta em um roupão felpudo, segurando a xícara de chá com as mãos trêmulas. O calor do líquido mal parecia alcançar o frio que se instalara dentro dela depois de tudo que presenciara. Seu coração ainda batia acelerado, e sua mente insistia em reviver cada detalhe daquela cena surreal.O silêncio no quarto era quase sufocante até que Luna, incapaz de conter as perguntas que lhe queimavam a garganta, rompeu-o com a voz vacilante:— O que tem nessa cidade? O que foi aquilo que eu vi? — Seus olhos, arregalados e confusos, procuravam respostas enquanto observava Ravena recolhendo algumas roupas espalhadas pelo quarto.Ravena parou por um instante, apertando os lábios com hesitação. Ela sabia que esse momento chegaria, mas desejava que fosse de outra forma. Uma parte dela queria proteger Luna da verdade, poupá-la da escuridão que rondava aquela cidade. Mas a outra, mais racional, entendia que o que Luna testemunhara era impossível de esquecer. Ela descobriria
Naquela noite, Luna se debruçava sobre seu diário, registrando cada detalhe do que havia vivido e descoberto. As palavras fluíam com intensidade, misturando confusão, medo e uma emoção nova que crescia dentro dela. Sem perceber, sua mão deslizou pelo papel, esboçando um lobo com traços precisos, como se aquela imagem já estivesse gravada em sua mente. Ao terminar, ela escreveu, quase sem pensar: "Agora me apaixonei por um lobo." Suspirando, fechou o diário e o guardou na gaveta do criado-mudo. Sentindo a mente inquieta, caminhou até a varanda. O céu estava escuro, coberto por nuvens espessas, e o vento frio anunciava a chuva que se aproximava. Seus olhos buscaram algo na direção da floresta, como se esperassem encontrar uma resposta ali, mas tudo o que viu foi a densa escuridão entre as árvores. Permaneceu ali por mais alguns instantes, deixando o vento soprar contra seu rosto, antes de decidir voltar para o quarto. Deitou-se, puxando as cobertas sobre o corpo. Assim que fechou
Luna despertou com um sobressalto, o coração martelando no peito. O sofá de couro frio sob sua pele contrastava com o calor febril que percorria seu corpo. O escritório de seu pai estava mergulhado em penumbra, iluminado apenas pelo brilho bruxuleante da lareira. Ela piscou várias vezes, tentando entender como havia parado ali. A última coisa de que se lembrava era… a mordida. A voz dele. As presas. O sangue. Um arrepio subiu por sua espinha quando sentiu um movimento próximo. — Querida, você está bem? — Eliezer perguntou, sua voz era suave, mas havia nela um tom de preocupação. Ele se aproximou, estendendo a mão para tocá-la. Luna se afastou bruscamente, o coração acelerando ainda mais. Seu corpo instintivamente se encolheu no canto do sofá, os olhos arregalados de pavor iminente. — Não toque em mim! — Sua voz saiu mais trêmula do que gostaria. — O que... o que é você?! E aquela mulher? você a machucou?! Eliezer parou, sua expressão frustrada. — Filha, por favor, me escu
Luna respirou fundo, tentando escolher as palavras que estava prestes a dizer. O clima entre ela e seu pai havia se acalmado, mas sabia que isso estava prestes a mudar. — Pai… tem mais uma coisa que preciso te contar. Eliezer, que já estava tenso, estreitou os olhos, analisando cada movimento da filha. Ele se afastou um pouco, segurando os ombros de Luna com delicadeza. — Fale, Luna. Ela engoliu em seco, sentindo o coração acelerar dentro do peito. Sua mente gritava para que parasse, mas já era tarde demais para recuar. — Eu… eu me entreguei a Darius. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. O rosto de Eliezer endureceu, os olhos ficando perigosamente sombrios. Luna sentiu um arrepio percorrer sua espinha, mas continuou antes que perdesse a coragem. — Eu me apaixonei por ele, pai. Só que eu não sabia que ele estava noivo... Quer dizer, eu sabia, mas no momento em que aconteceu… eu não me importei. Eu só queria e ele também, e aconteceu. Sua voz falhou, e ela teve qu
O escritório de Eliezer estava mergulhado em uma tensão sufocante. O silêncio entre os três homens era quase ensurdecedor.Eliezer estava atrás de sua mesa, seu olhar afiado como lâminas. Ranamés andava de um lado para o outro, os músculos rígidos pela raiva reprimida. Darius, sentado em uma poltrona, mantinha a expressão neutra, mas sua mente estava um turbilhão.— Quero saber exatamente o que aconteceu entre você e Luna — a voz de Ranamés saiu baixa, carregada de indignação.Darius inspirou fundo, cruzando os braços.— Foi apenas um momento… um impulso — ele disse, medindo as palavras. — Eu não sei explicar, mas algo aconteceu. Talvez por causa do meu lado lobo… Eu senti tudo de forma intensa, mesmo na forma humana.Ranamés riu sem humor.— "Apenas um momento"? Você tem noção do que isso causou?— Não foi intencional! — Darius rebateu. — Eu não planejei nada, não sabia que isso teria tanta repercussão.— Você traiu Taynara com uma humana! — Ranamés explodiu, batendo a mão sobre a me
A chuva castigava a terra naquela noite, como se o próprio céu estivesse furioso. Relâmpagos cortavam as nuvens pesadas, iluminando o quarto de Luna por breves instantes, enquanto trovões faziam o chão vibrar.Sentada em sua cama, apenas a luz amarelada do abajur afastava um pouco da escuridão. A caneta corria pelo diário, tentando capturar o turbilhão de sentimentos que fervilhavam dentro dela. Mas não havia palavras suficientes para descrever o caos daquele dia.Suspirando, ela largou a caneta e ergueu os olhos, pousando o olhar no porta-retrato sobre o criado-mudo. A imagem de sua mãe parecia brilhar sob a fraca luz, como se fosse uma lembrança distante de tempos mais simples.Com as mãos trêmulas, Luna pegou a foto e deslizou os dedos sobre o rosto sorridente da mulher que tanto amava.— Que saudades de você, mãe... — murmurou, a voz embargada. — Queria que estivesse aqui.Uma lágrima rolou silenciosa por seu rosto. O peso das revelações daquele dia esmagava seu peito. Tudo o que
Na manhã seguinte, Luna despertou com uma leve batida na porta.— Entra — respondeu, a voz ainda embargada pelo sono.Ravena entrou no quarto com passos firmes, deixando o uniforme escolar sobre a cama.— Seu pai quer falar com você antes de você ir para a escola. Aliás, ele quer falar com nós duas — avisou, cruzando os braços.Luna se espreguiçou e sentou-se na cama. Assim que abriu os olhos por completo, as lembranças da noite passada a atingiram como uma onda avassaladora. O calor do toque de Darius ainda parecia presente em sua pele, o peso de suas palavras ecoava em sua mente. Uma frustração tomou conta de seu peito, apertando-o.Mas ela não podia se deixar levar. Não agora.Respirando fundo, decidiu levantar e encarar o dia como um recomeço. Darius? Ela trataria de esquecê-lo.— Vou me arrumar e desço em cinco minutos — respondeu, tentando parecer indiferente.Ravena, no entanto, não se convenceu.— Como você está se sentindo? — perguntou, sua voz carregada de preocupação.Luna
A casa do prefeito estava mergulhada em um silêncio tenso quando Eliezer chegou. O clima na sala era carregado, e todos os membros do conselho exibiam expressões preocupadas. O xerife foi o primeiro a se levantar, com o olhar sombrio.— Ainda bem que chegou — ele disse, apertando a mão de Eliezer.— O que está acontecendo? — Eliezer perguntou, sentindo um arrepio na espinha.O xerife trocou um olhar rápido com o prefeito antes de continuar.— Encontramos dois corpos na floresta. Mutilados.O ambiente ficou ainda mais pesado. Eliezer franziu a testa.— Como assim, mutilados?— Foram despedaçados, como se tivessem sido atacados por um animal enorme. Mas os ferimentos... não se parecem com nada que já vimos antes — o xerife explicou, cruzando os braços.O pai de Mayson, que até então escutava em silêncio, soltou um suspiro tenso.— Isso nunca aconteceu em Landcity. Nem mesmo ataques de lobos foram registrados nos últimos anos. E agora, do nada, surgem corpos assim?O prefeito se recost