Ao acordar, Inaê se viu deitada numa cama macia, como há bastante tempo não acontecia. Com a mente ainda confusa, por um instante pensou que estava em casa e tivera um sonho ruim, mas espiando por entre as pálpebras entreabertas, não reconheceu o quarto. Então a memória de enfrentar Berilo voltou.
-- Onde eu estou? – sua voz estava tão fraca, só alguém do lado da cama ouviria.
-- No hospital – Meri estava sentada junto ao leito – Está dormindo há quase um dia inteiro.
-- Eu segurei a onda, não foi? Tirei os submarinos dela? – se sentou num pulo. Meri gesticulou para que se acalmasse.
Com o cair da noite, vem a calmaria antes da próxima tempestade, o prelúdio de mais um dia vermelho Voar era muito bizarro. Na hora em que o zepelim se separou do chão, Inaê se agarrou a um corrimão no corredor e só o largou depois que a nave se estabilizou. Ela não foi a única a ter essa reação. Todos que não eram de Lus ficaram assustados, o que trouxe risos aos nativos, já acostumados. A estrutura até que lembrava um navio, porém, sem convés superior. O chão oscilava com tremores repentinos que quase derrubavam os desprevenidos. Depois de meia hora numa dança para manter o equilíbrio, Inaê desistiu e deixou-se cair sentada no meio do corredor. Foi assim que Meri a encontrou. -- O qu
Meri foi a segunda a descer pela escada de corda, também recebida por um abraço de Marisol. Jeanne e os demais tripulantes as encheram de perguntas: como chegaram ali, que máquina voadora era aquela, como funcionava e se ia ajudar contra Lunae. Meri respondeu de uma vez: -- Essa aeronave nos trouxe de Lus, mas era sua única função, não tem o dever de nos acompanhar além daqui. Agora, qual é a situação? Jeanne explicou que os navios delfinos montavam cerco a Lunae há alguns dias, mas só ontem chegara a corveta com Marisol e completara a frota. A única embarcação que tentou conseguir passar pelo bloqueio foi o destroier U
De agora em diante, que eu seja como uma tormenta e destrua tudo em nome da renovação Inaê enxugou as lágrimas antes que mais alguém notasse e tomou a carta da mão de Marisol. -- Não chore agora. Vem aqui – puxou a mão da irmã e desceram até os quartos vazios dos tripulantes, onde a mais velha deixou a tristeza sair, abafando os gritos no ombro da caçula – Não o faça na frente dos outros. Ondina me ensinou que isso deve ficar para depois. -- Inaê, não está chorando – ela estranhou ao erguer a cabeça. -- Já chorei um pouco, mas agora não é hora para isso, não podemos perder o controle – sentiram o en
Se tivesse asas, eu voaria por você, se tivesse uma espada, eu lutaria por você. E se não tivesse mais nada, eu morreria por você A cidade estava mesmo deserta, não se via uma alma viva na rua. Com alguns minutos de caminhada, o silêncio foi quebrado pelo estalo de um rádio portátil no cinto de Aquamarine. O barulho repentino sobressaltou Sarang e Eloni. -- General, precisamos de reforços na doca sul, o encouraçado destruiu o arsenal – uma voz no rádio informou. -- Peça ao tenente Bartolomeu para enviar mais tropas. Achei alguns civis retardatários e vou escoltá-los para fora da cidade – ela respondeu e desligou. &
Guerra, perda, desastre, um medo paralisante. Mas não há escolha senão seguir em frente Os canhões eram ensurdecedores, mal um disparava já outro estava carregado e atirando. E do outro lado também vinham tiros, que provocavam jorros de água do mar quando erravam e produziam baques metálicos assustadores quando acertavam o encouraçado. Nem na ponte de comando Marisol se sentia segura. -- Calma – a almirante Jeanne pareceu ler seu pensamento – Daqui a pouco eles param de atirar. Os submarinos de Uminami emergiram no porto lunae, e os soldados rapidamente desembarcaram, invadindo a capital. Os lunaes no forte perceberam, e sem poder mirar com os canhões no próprio porto, passaram aos fuz
A visão daquele idoso de aparência tão indefesa surpreendeu Inaê por um momento, pois a descrição de Marisol não a preparara para tal imagem. Uma perfeita representação da fragilidade. Mas isso passou num instante quando ela se lembrou que ele era o rei, o responsável por toda a dor que a jovem presenciara no caminho até ali. E veio à sua mente uma sucessão de imagens. A Ilha Delfim em ruínas. Alika hospitalizada, possivelmente paralítica. Marisol trêmula de medo em meio aos destroços de casa. &nb
Inaê bateu dolorosamente na superfície agitada do mar. O pouco ar que restava em seus pulmões escapou por sua boca e flutuou para cima na forma de pequenas bolhas. Enquanto afundava lentamente no silêncio escuro e frio, uma parte da jovem se sentiu aliviada. Até agora não percebera o quanto estava cansada, que vinha lutando sem descansar há dias que mais pareciam anos. Não fazia nem um mês que completara dezenove, mas em sua concepção, aquele dia fora séculos atrás. Estava tão cansada, queria descansar. Talvez fosse bom fazer isso ali, no mar, que sempre esteve com ela. Se unir a ele agora, se tornar um com o seu tão amado oceano não parecia tão ruim. Ficar para sempre naquela tranquilidade verde e azul, e reencontrar sua mãe e Sar
Com o tempo, esqueci quem sou e dos meus companheiros. Eu mudei, como a espuma à deriva no oceano -- Por que você insiste em voltar? – o rei inspirou fundo para conter a raiva. Inaê balançou a cabeça. -- É que eu não podia ir sem antes me despedir apropriadamente, Serpe. Os olhos do rei se arregalaram. Aquamarine alternou confusa o olhar entre os dois. O que é Serpe? Por que o rei reagiu assim? -- Onde escutou esse nome? – ele perguntou entredentes. -- Isso não é o importante agora. Voc