Se tivesse asas, eu voaria por você, se tivesse uma espada, eu lutaria por você. E se não tivesse mais nada, eu morreria por você
A cidade estava mesmo deserta, não se via uma alma viva na rua. Com alguns minutos de caminhada, o silêncio foi quebrado pelo estalo de um rádio portátil no cinto de Aquamarine. O barulho repentino sobressaltou Sarang e Eloni.
-- General, precisamos de reforços na doca sul, o encouraçado destruiu o arsenal – uma voz no rádio informou.
-- Peça ao tenente Bartolomeu para enviar mais tropas. Achei alguns civis retardatários e vou escoltá-los para fora da cidade – ela respondeu e desligou.
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Guerra, perda, desastre, um medo paralisante. Mas não há escolha senão seguir em frente Os canhões eram ensurdecedores, mal um disparava já outro estava carregado e atirando. E do outro lado também vinham tiros, que provocavam jorros de água do mar quando erravam e produziam baques metálicos assustadores quando acertavam o encouraçado. Nem na ponte de comando Marisol se sentia segura. -- Calma – a almirante Jeanne pareceu ler seu pensamento – Daqui a pouco eles param de atirar. Os submarinos de Uminami emergiram no porto lunae, e os soldados rapidamente desembarcaram, invadindo a capital. Os lunaes no forte perceberam, e sem poder mirar com os canhões no próprio porto, passaram aos fuz
A visão daquele idoso de aparência tão indefesa surpreendeu Inaê por um momento, pois a descrição de Marisol não a preparara para tal imagem. Uma perfeita representação da fragilidade. Mas isso passou num instante quando ela se lembrou que ele era o rei, o responsável por toda a dor que a jovem presenciara no caminho até ali. E veio à sua mente uma sucessão de imagens. A Ilha Delfim em ruínas. Alika hospitalizada, possivelmente paralítica. Marisol trêmula de medo em meio aos destroços de casa. &nb
Inaê bateu dolorosamente na superfície agitada do mar. O pouco ar que restava em seus pulmões escapou por sua boca e flutuou para cima na forma de pequenas bolhas. Enquanto afundava lentamente no silêncio escuro e frio, uma parte da jovem se sentiu aliviada. Até agora não percebera o quanto estava cansada, que vinha lutando sem descansar há dias que mais pareciam anos. Não fazia nem um mês que completara dezenove, mas em sua concepção, aquele dia fora séculos atrás. Estava tão cansada, queria descansar. Talvez fosse bom fazer isso ali, no mar, que sempre esteve com ela. Se unir a ele agora, se tornar um com o seu tão amado oceano não parecia tão ruim. Ficar para sempre naquela tranquilidade verde e azul, e reencontrar sua mãe e Sar
Com o tempo, esqueci quem sou e dos meus companheiros. Eu mudei, como a espuma à deriva no oceano -- Por que você insiste em voltar? – o rei inspirou fundo para conter a raiva. Inaê balançou a cabeça. -- É que eu não podia ir sem antes me despedir apropriadamente, Serpe. Os olhos do rei se arregalaram. Aquamarine alternou confusa o olhar entre os dois. O que é Serpe? Por que o rei reagiu assim? -- Onde escutou esse nome? – ele perguntou entredentes. -- Isso não é o importante agora. Voc
Aquamarine, a mulher que provou a dor e a raiva do mundo para se tornar a líder do maior de todos os continentes -- Cessar fogo! Todos os lunaes, recuem! Com a surpresa da ordem, até os delfinos pararam, e todos voltaram a cabeça para a general. -- Povo de Lunae, de Uminami, e meus irmãos da Ilha Delfim – Inaê pegou o megafone – Não há mais razão para lutarmos. Sua nova rainha, seguindo a última ordem de seu rei, diz que os lunaes não devem mais combater com nenhum outro povo. Os soldados lunaes bradaram de
Os faróis de Lus se alarmaram com a visão de uma frota se aproximando, mas ao notarem que não eram de Lunae, o príncipe Roque foi imediatamente informado. Quando o Deus Guerreiro atracou, ele recebeu a princesa Inaê no cais. Não estava mais na cadeira de rodas, mas se apoiava em muletas. -- Seja bem-vinda. A cerimônia será amanhã. -- Será um prazer comparecer. Mas antes devemos mandar os lunaes prisioneiros para casa. Naquela tarde os jovens soldados embarcaram num enorme zepelim que os levaria para Lunae, cansados, mas agradecidos por voltar. Alika esperava o irmão na porta
À medida que o tempo passa, as gerações se sucedem, cometem erros, repetem-nos, superam-nos e deixam seus nomes na história O dia seguinte foi dedicado ao enterro dos caídos em batalha, que não eram poucos. Janaína recebeu a honra máxima de soldado a serviço da Ilha Delfim, a Medalha Orca, e os membros da Força Policial atiraram para o alto em sua homenagem. Marisol não parou de chorar em nenhum momento do funeral. Tristão foi o primeiro a prestar condolências. Dario e Inaê aceitaram formalmente, enquanto Marisol o abraçou, soluçante. E apesar de não haver um túmulo para Sarang ali, algumas lágrimas que Inaê derramou naquele dia foram para ela. &nb
A jovem se retesou, pega completamente de surpresa. Em contraste, o restante do salão estava relaxado e sorridente. Deviam ter discutido o assunto com antecedência. Ela tentou se esquivar. -- Ainda sou menor de vinte e um anos, legalmente eu não... -- A lei diz que uma menor pode ser rainha se a anterior se aposentar, não houver mais candidatas e tiver apoio da população. É o seu caso – explicou um ministro. -- Essas guerras me cansaram, Inaê – Ondina suspirou – Novos tempos exigem uma nova liderança. -- E quem melhor que a princesa que liderou tantos para o