Capítulo 4

-Mocinho você passou dos limites.-Disse Elisa se retirando da sala e indo ajudar seu filho.

-Foi só uma brincadeira sem maldade.-Disse Daniel tentando se justificar.

-Obrigado por acabar com um ótimo momento.-Respondeu Rodrigo antes de seguir Elisa.

-Eu não acredito que vocês vão cuidar daquele idiota.-A indignação começara  transparecer na voz de Daniel.

-O único idiota aqui é você.-Gritou Lana com um tom de voz estridente.

-Você não vai defender aquele cara.-Respondeu incrédulo.

-Sinceramente hoje eu fiquei com vergonha de ser sua namorada.-As palavras o atingiram como um tapa, mas ele se segurou, Lana percebendo isso praguejou mentalmente ser tão impulsiva.

-Você não viu o que ele fez no último jantar.-Tentou se justificar com a voz murcha.

- Nossa um grande crime, ele simplesmente não gostou de você.-Bufou já se encaminhando para porta.-Sinceramente está sendo muito difícil gostar.

-Onde você vai?-Pergunta ele com dor.

-Eu preciso ficar só.-Disse Lana o dando as costas e saindo.

       Daniel enfim percebera gravidade dos seus atos, mas era tarde demais para se arrepender, conhecia a Elisa muito bem, ela sabia ser bastante explosiva, e pelo que viu de Anthony ele não era muito diferente, até cogitou um pedido de desculpas, porém percebeu que naquele momento só iria piorar as coisas. Concluiu que estava sobrando naquela casa e decidiu voltar para o apartamento onde morava com seu pai, subindo em sua bicicleta seguiu seu caminho.

       Lá tomou um banho frio e refrescante, secou-se e vestiu uma cueca boxe, provavelmente seu pai não voltaria naquela noite,então podia se permitir relaxar, porém ainda pensava na grande besteira que fizera mais cedo, só agora que a ficha havia caído, tinha sido de fato um grande escroto, como pôde chegar tão longe por uma birra? Lana tinha razão, o grande problema com Anthony foi o fato de que ele não se rendeu ao seu charme, e muito menos deu chance para que se tornassem amigos.

        Mais uma vez deixou se levar pelo ego e o mesmo o cegou, Anthony provavelmente estava cansado e sentindo dificuldade em se adaptar a mudança, quem não se sentiria dessa forma? Bom ele não, pois adorava mudanças, mas ninguém era obrigado a ser como ele, visto que o mesmo não era e nem queria se tornar um modelo para ninguém.

       Deitou-se no sofá, e ligou a TV, no entanto não conseguiu relaxar como planejava, pois não conseguia tirar Anthony de sua mente. Lembrava-se da expressão em seu rosto ao comer o cupcake envenenado e agora não via a menor graça, porém assim que lembrava-se de sua atitude arrogante voltava a se sentir magoado, esses dois sentimentos predominavam dentro dele, até que pouco a pouco seus pensamentos foram mudando.

        Primeiro se pegou pensando na aparência de Anthony, seu cabelo crespo e volumoso, subitamente sentiu uma vontade de acariciá-los, sentir o cheiro deles, depois lembrou- se do olhar; intenso e penetrante, o nariz grande combinava perfeitamente com o resto do rosto, e por fim chegou a boca, carnuda e desenhada, como seria o beijo dele?

        Já sentia o coração se acelerar, no entanto o ápice chegou ao lembrar de como o conheceu, a imagem do corpo nu de Anthony inebriou sua mente, era magro, porém levemente definido, já havia percebido que o mesmo possuía um porte, sua coluna se mantinha ereta e isso deixava seu bumbum arrebitado, desejou estar novamente em sua frente, mas de outra forma, sem brigas e sem raiva, somente tocando seu corpo, sentindo a textura da pele dele.

       A lembrança do encontro de seus corpos, o fez estremecer e por fim explodir após uma sequência de toques.

       Ao se ver totalmente molhado, a sua ficha caiu sobre o que havia acontecido, havia desejado outro garoto, já fazia anos que considerava aquele problema resolvido, amava a Lana e tinha que ser grato a ela, pois foi a mesma quem havia o ajudado a superar aquele problema, mesmo que de forma inconsciente, iria respeitar sua namorada.

       Tomou um banho frio e lá permitiu libertar todas as lágrimas que estava segurando, aquilo não podia estar voltando, ele já havia vencido aquele mau e ido em frente, não podia ter uma recaída, guiado por esse sentimento tomou uma decisão: iria manter-se longe de Anthony.

(...)

       Já havia se passado mais de um mês desde o último incidente, Anthony agradecia o fato de que ao menos Daniel teve a decência de não aparecer mais na casa de sua mãe, a uma coisa boa saiu daquilo tudo um pouco de paz sempre seria bem vinda.

        O tempo passara e ele já havia se acostumado com a vida ali, sinceramente até tinha começado a gostar, havia começado a faculdade de Literatura, e feito uma nova amiga Suellen, passara a tarde inteira maratonando uma série na casa dela, e agora que a noite havia caído seguia para sua casa, era no mesmo bairro então poderia ir a pé sem medo.

        O céu revelara-se de um estrelado exuberante, se ele fosse poeta com certeza teria inspiração para escrever um livro naquele momento, as estrelas e a lua eram o único brilho significativo naquela rua com a iluminação fraca; se sentia em casa pela primeira desde que chegara na cidade. Aprendeu a gostar de todas as novas pessoas de sua vida.

        Sua mãe e ele tinham fortalecido sua relação, estavam mais próximos que antes e no fim percebeu que eles tinham muito em comum, Rodrigo era um cara divertido e conversador, um típico paizão, e ele achava agradável ter alguém assim por perto, apesar de que não eram extremamente próximos, e tinha suas duas amigas Suellen ou melhor Su, e de qualquer forma não havia perdido totalmente sua vida anterior, ainda tinha contato com Patty e sua avó, e nas férias poderia ir visitá-las.

         Por fim lembrou de Daniel, ele não tinha uma opinião totalmente formada sobre ele. Na verdade se perguntava se não havia descontado toda sua frustração inicial sobre ele, chegou até mesmo a esperar que ele aparecesse, e tirando a grande palhaçada que ele havia feito na última vez que estiveram juntos, chegara a achar engraçado alguns momentos que eles compartilharam.

         Ele era um garoto engraçado, e devia ser uma boa pessoa para ter tanta gente boa ao redor dele, era de fato uma pena que eles não podiam ser amigos.

(...)

      Daniel não conseguia apagar o que tinha acontecido semanas atrás, havia voltado a sentir atração por um homem, e parecia que evitar a companhia de Anthony só havia aumentado o problema, pra completar Lana tinha se tornado amiga de Anthony, e ouvir vinte quatro horas por dia o quão incrível esse garoto é não ajudava muito.

        Respirou fundo e decidiu espantar de vez aqueles pensamentos de sua cabeça, escolheu uma bela roupa, uma calça Jeans levemente justa, uma camisa polo vermelha e um par de tênis pretos com cobertura de camurça, tomou um bom banho e após se arrumar e caçou uma festa para se divertir, encontrou uma com entrada Livre no "Valery Club", aquela noite iria esquecer de Anthony; medos ou quaisquer outras prisões, aquela noite seria livre.

(...)

-Eu não gosto de festas Su.-Disse Anthony com voz lamuriosa.

-Você não foi as festas certas.-Protestou a amiga do outro lado do telefone.

- Eu acho que vou querer deixar pra próxima.- Disse tentando escapar.

-Você não vai escapar tão facilmente.

-Você é muito insistente.-Disse Anthony suspirando.

-Olha tem um rolê na melhor boate da cidade, e de graça, sabe quanto isso é raro?

-Legal.-Respondeu irônico.

-Vamos fazer um acordo.

-Fale.

-Bom, vamos a Valerie hoje, ficamos quinze minutos, se você não curtir o ambiente voltamos, fechou?

-Eu tenho escolha? - Disse vencido.

-Não.-Disse soltando uma gargalhada  maquiavélica logo depois.

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