Lorelai estava sentada na beira da cama do hospital, sentindo-se muito melhor fisicamente, embora sua mente ainda estivesse um turbilhão de emoções. Ela olhava pela janela, observando o movimento das árvores ao vento, tentando fazer sentido do que lhe havia acontecido. Sua cabeça ainda latejava de vez em quando, mas os médicos garantiram que isso iria passar.
O som de batidas suaves na porta a trouxe de volta à realidade. Dois policiais entraram, acompanhados de Helena, que parecia preocupada, mas deu a Lorelai um sorriso reconfortante.
— Senhorita Lorelai? — começou um dos policiais, um homem de meia-idade com um olhar sério. — Nós temos algumas informações sobre o que aconteceu com você e seu pai.
Lorelai assentiu, sentindo o coração acelerar. O policial continuou, escolhendo as palavras com cuidado.
— Parece que seu pai foi atacado e morto por uma fera. Encontramos marcas e evidências que indicam um grande animal, possivelmente um lobo.
As palavras pairaram no ar, pesadas. Lorelai sentiu uma mistura de choque e, surpreendentemente, um certo alívio. Seu pai, uma figura que sempre lhe causara medo e dor, não estava mais ali para machucá-la. Ela tentou disfarçar esse alívio, mas os sentimentos conflitantes eram difíceis de esconder.
— Eu sinto muito, Lorelai. — Disse o outro policial, uma mulher com voz suave. — Isso deve ser muito difícil para você. Nós precisamos saber se você tem algum familiar que possamos contatar, alguém que possa cuidar de você.
Lorelai balançou a cabeça, os olhos marejados.
— Não... eu não tenho ninguém. Era só eu e meu pai. — Helena, que estava ao lado dela, colocou uma mão reconfortante em seu ombro.
— Ela pode ficar comigo. — Disse Helena, olhando para os policiais. — Eu posso cuidar dela até que encontremos uma solução melhor. — Os policiais trocaram um olhar e depois assentiram.
— Isso é muito generoso da sua parte, senhora Helena. Vamos precisar de algumas informações para formalizar isso, mas parece uma boa solução por enquanto.
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Lorelai, um pouco mais recuperada, agora estava sentada no banco de trás do carro de Helena, observando a paisagem passar. Eles dirigiram por um bom tempo até chegar a uma área mais isolada, longe da cidade e da floresta onde Lorelai fora encontrada.
A casa de Helena era grande e acolhedora, situada em uma colina com uma vista deslumbrante para os campos verdes. Lorelai saiu do carro e olhou ao redor, notando o contraste entre o ambiente tranquilo e seguro e a casa onde vivera com seu pai.
— Bem-vinda ao nosso lar. — disse Helena com um sorriso, guiando Lorelai para dentro. — Quero que você conheça minha família.
Ao entrarem, foram recebidos por dois jovens, um homem e uma mulher, ambos com semblantes amigáveis. O mais velho, um jovem adulto de cabelos escuros e olhos gentis, se apresentou como Miguel. A mais nova, uma adolescente de cabelos cacheados e sorriso radiante, se chamava Beatriz.
— Eduardo, meu marido, está no escritório. — Disse Helena, indicando a direção. — Ele vai ficar muito feliz em conhecê-la.
Lorelai sorriu timidamente, sentindo-se um pouco tímida com tantas pessoas novas ao seu redor. A casa era acolhedora, decorada com fotos de família, livros e plantas. Tudo parecia tão diferente de sua vida anterior. Ela não pôde deixar de sentir curiosidade.
— Helena, por que vocês vivem tão longe da floresta onde me encontraram?
Helena parou por um momento, parecendo pensar antes de responder.
— Nós gostamos da tranquilidade aqui. A floresta é um lugar que visitamos frequentemente, mas nossa casa sempre foi aqui. Achamos que é o melhor lugar para criar nossos filhos, longe da agitação da cidade.
Lorelai assentiu, aceitando a explicação, mas ainda intrigada. Algo na maneira como Helena falou a deixou com a sensação de que havia mais do que ela estava dizendo.
— Vou mostrar seu quarto. — Disse Helena, quebrando o momento de silêncio. — Espero que você se sinta em casa aqui, Lorelai.
Subindo as escadas, Lorelai foi conduzida a um quarto aconchegante com uma cama de dossel e janelas amplas que deixavam a luz do sol entrar. Ela se sentou na cama, olhando ao redor, sentindo uma estranha mistura de paz e desorientação.
Ela estava em um novo lar, com uma nova família que a acolhia de braços abertos. No entanto, as sombras do passado e a falta de respostas sobre o que realmente havia acontecido ainda pairavam sobre ela, como um eco distante na tranquilidade da nova vida que estava começando.
A vida na casa de Helena e sua família começou a se estabilizar para Lorelai. Ela se recuperava gradualmente dos ferimentos, e a presença amorosa de sua nova família adotiva trouxe conforto e segurança para sua mente atribulada. Uma nova rotina se estabeleceu, e Lorelai encontrou uma fonte de trabalho no bar e mercearia da família.Ela começou a trabalhar ao lado de Miguel, o filho mais velho de Helena. Miguel era um jovem gentil e prestativo, e logo se tornou um companheiro de trabalho confiável para Lorelai. Juntos, eles serviam os clientes e organizavam os produtos nas prateleiras, criando uma dinâmica amigável e eficiente.Uma tarde ensolarada, enquanto estavam trabalhando no bar, Lorelai viu seu reflexo no espelho atrás do balcão. As cicatrizes em seu rosto, resultado das garras do lobo, estavam visíveis, mas já começavam a cicatrizar. Ela tocou suavemente as marcas, ainda sem se recordar do terror daquela noite fatídica na floresta. Logo, os amigos de Miguel chegaram. Eles eram
O início do fim de semana chegou e Lorelai estava ansiosa por um momento de relaxamento. Helena sugeriu que ela passasse algum tempo com Beatriz, a filha adolescente, e Lorelai prontamente concordou. Após passearem pela cidade, comprando para Lorelai algumas novas roupas, elas passaram no mercado e compraram itens deliciosos, pois decidiram fazer um piquenique no campo próximo à casa, aproveitando o clima ensolarado e a brisa fresca.Enquanto saboreavam os sanduíches e conversavam sobre assuntos triviais, Lorelai viu uma oportunidade de abordar o assunto de Josh. Ela perguntou casualmente sobre ele, esperando obter alguma informação útil.— Então, Beatriz, você conhece bem o Josh, certo? — Lorelai perguntou, tentando não parecer muito interessada. Beatriz assentiu com um sorriso.— Sim, ele é um cara legal. Um pouco reservado às vezes, mas sempre prestativo! Sempre nos ajuda com o que é necessário e nunca pediu nada em troca.Aquela não era a resposta que Lorelai esperava ouvir. — Vo
A semana começou com a rotina pacata de Lorelai na mercearia. Ela cumprimentava os clientes com um sorriso, arrumava os produtos nas prateleiras e ajudava Miguel no caixa. Tudo parecia normal, mas algo estava mudando dentro dela.Enquanto trabalhava, Lorelai começou a sentir um mal-estar estranho se apoderando dela. Uma sensação de desconforto pairava em sua mente, e ela percebeu mudanças sutis em seus sentidos. Os sons ao seu redor pareciam mais nítidos, mais vívidos, como se suas orelhas estivessem captando cada ruído com uma intensidade incomum.Além disso, ela sentia uma fome insaciável, uma ânsia por comida que não podia ser saciada. No entanto, sempre que tentava comer algo, sentia um enjoo terrível, como se seu corpo rejeitasse qualquer alimento normal.Lorelai lutava para entender o que estava acontecendo com ela. Era como se algo dentro dela estivesse despertando, algo primal e instintivo que ela não podia controlar.A sensação de mal-estar atingiu o ápice quando Lorelai se v
Enquanto Lorelai continuava sua rotina no bar e na mercearia da família de Helena, ela começou a perceber mudanças cada vez mais evidentes em seus sentidos. Já não bastasse a fome de carne fresca que a cada dia ficava mais voraz, os sons ao seu redor pareciam mais aguçados, e ela podia sentir os cheiros de forma mais intensa do que antes. Era como se seus sentidos estivessem se transformando, se tornando mais sensíveis, mais afiados.No meio da agitação do bar, Lorelai notou Josh observando-a de longe. Seus olhos escuros a fixavam com uma intensidade penetrante, como se soubesse que ela escondia um segredo. Um arrepio percorreu a espinha de Lorelai enquanto ela desviava o olhar, desconcertada pela intensidade do olhar de Josh, que se manteve em sua cola por muito tempo.À medida que o dia avançava, a sensação de que algo estava acontecendo entre eles só aumentava. Cada vez que seus olhares se cruzavam, Lorelai sentia uma corrente elétrica passar por ela, uma conexão inexplicável que a
Os rapazes morenos trocaram olhares preocupados, suas expressões se tornando ainda mais hostis com a presença de Josh e Lorelai. Antes que alguém pudesse dizer mais alguma coisa, o ar ao redor deles pareceu se eletrizar, carregado com uma tensão palpável.Sem aviso prévio, um dos rapazes avançou em direção a Josh com um rugido feroz, e em um piscar de olhos, a briga começou. Os punhos voaram, os grunhidos ecoaram na floresta, e Lorelai se viu no meio de uma batalha violenta e caótica.Enquanto a briga se intensificava, Lorelai ficou chocada ao testemunhar uma transformação assustadora. Os rapazes morenos, incluindo Josh, começaram a se contorcer e a mudar, suas formas humanas cedendo lugar a algo muito mais sinistro e selvagem.Os gritos de terror ecoaram na floresta quando os rapazes se transformaram em lobos, seus olhos brilhando com uma fúria primordial. Lorelai sentiu o coração disparar em seu peito quando uma onda de memórias dolorosas inundou sua mente.Ela se lembrou do evento
Os segredos da família de Helena começaram a incomodar Lorelai cada vez mais. Noites inquietas eram assombradas por pesadelos vívidos da noite em que fora marcada, com os olhos de Lúcifer se tornando cada dia mais vividos e assustadores em sua mente.Enquanto isso, Lorelai acompanhou a rápida recuperação de Josh, que veio seguida da primeira reunião da alcateia. Numa noite calma e gélida, após um banquete na casa de Helena, Lorelai foi apresentada a todos os membros da alcateia, que incluia os amigos de Miguel; agora toda a coisa esquisita que sentia perto deles, fazia total sentido.Na reunião, Helena falou sobre a alcateia de Lúcifer, um grupo de lobos sádicos que matavam humanos para saciar sua sede de sangue, como Lúcifer havia feito com o pai de Lorelai. Ela explicou que eles eram uma ameaça constante, sempre à espreita nas sombras, esperando por uma oportunidade para atacar.— Há algo que você precisa saber, Lorelai. — Disse Helena com seriedade, seus olhos fixos nos dela. — Lúc
Apesar dos avisos de Helena, Lorelai sabia que precisava se fortalecer e aprender a se defender para lidar com seu lado fera sem se complicar, acabando numa transformação acidental. A decisão de treinar às escondidas não foi fácil, mas ela sentia que era sua única opção. Josh, embora relutante em desafiar sua alfa, mas ainda com seus instintos de ômega presentes, concordou em ajudá-la. Ele acreditava que era injusto negar a Lorelai a chance de se defender, especialmente diante dos perigos que enfrentavam.Eles se encontravam em uma clareira isolada na parte segura da floresta, longe dos olhos atentos de Helena e dos outros membros da alcateia, mas também longe de seus inimigos. Josh ensinava Lorelai técnicas de combate corpo a corpo, mostrando-lhe como usar sua força e agilidade para se proteger.Os treinos eram intensos, mas Lorelai estava determinada a aprender. Dia após dia, ela sentia seu corpo se fortalecer e seus reflexos se aprimorarem. O tempo que passavam juntos também os apr
Entre os dias de semana trabalhando no bar e os fins de semana de treinos secretos com Josh, Lorelai começou a se sentir mais forte e confiante. Miguel notou a aproximação dos dois num dia de trabalho, quando após fazer um pedido no balcão antes de se sentar, Josh não tratou a garota com a grosseria habitual. Ele não era o único desconfiado da proximidade dos dois, mas foi o primeiro a comentar sobre a situação pois era com quem ela mais passava tempo, já que trabalhavam juntos durante boa parte do dia.— Vocês dois estão passando muito tempo juntos, hein? Já estão namorando e nem me contaram? — disse Miguel, com um sorriso malicioso enquanto arrumava algumas garrafas no bar.Lorelai sentiu o rosto esquentar e balançou a cabeça rapidamente numa tentativa de afastar o calor e rubor da face. Agora sua cicatriz não passava de finas linhas brancas em seu rosto. Com seu fortalecimento, todas as suas feridas curavam numa velocidade impressionante, mas a marca continuava ali, uma lembrança