A lua cheia brilhava intensamente no céu, iluminando a pequena cabana isolada na floresta. Dentro do pequeno cômodo escuro a garota respirava com dificuldade, tentando controlar o tremor em suas mãos. Seus olhos, dois lagos azuis, estavam fixos na porta, que ameaçava abrir a qualquer momento.
Do lado de fora, ela podia ouvir os passos pesados e desequilibrados de seu pai bêbado. O som dos vidros quebrando e dos gritos dele reverberavam pela casa, fazendo-a encolher-se ainda mais. Cada noite era uma batalha para sobreviver, mas naquela noite, algo estava diferente. O silêncio súbito a assustou mais do que os gritos.
De repente, um uivo distante ecoou pela floresta, penetrando o silêncio da noite. Lorelai se levantou lentamente, indo até a janela para olhar lá fora. A escuridão parecia mais ameaçadora do que nunca, e a sensação de estar sendo observada a fez recuar. O uivo se repetiu, mais próximo desta vez, e ela sentiu um frio na espinha.
Sem aviso, a porta da casa foi arrombada com um estrondo, e Lorelai ouviu o som de garras arranhando o chão de madeira. O cheiro metálico de sangue inundou o ar, e ela soube que algo terrível havia acontecido. Movida pelo instinto de sobrevivência, ela abriu a porta do quarto apenas uma fresta, apenas o suficiente para espiar.
A visão que encontrou a paralisou de horror. Seu pai jazia no chão, o corpo destroçado e sem vida. Sobre ele, um enorme lobo negro, com olhos brilhantes e selvagens, levantou a cabeça e a encarou. O animal rosnou, mostrando os dentes afiados manchados de sangue, e em um segundo, avançou na direção dela.
Lorelai gritou, fechando a porta com todas as suas forças, mas o lobo a derrubou com facilidade. Ela tentou recuar, mas suas pernas estavam paralisadas pelo medo. O lobo avançou rapidamente, e tudo o que ela pôde sentir foi uma dor aguda quando a pata do lobo acertou seu rosto, jogando-a contra a parede.
A escuridão envolveu Lorelai, e sua última visão foi dos olhos selvagens do lobo se aproximando antes que a inconsciência a tomasse por completo.
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Lorelai despertou em um ambiente estranho, o cheiro esterilizado de desinfetante preenchendo o ar. A luz branca e forte do teto a cegava momentaneamente enquanto ela tentava se situar. Ao se mexer, sentiu uma dor latejante na cabeça e no rosto. Lentamente, percebeu que estava em uma cama de hospital, com bandagens cobrindo partes de seu rosto.
Sua mente estava enevoada, fragmentos confusos de memórias piscando rapidamente, mas sem se conectarem. Tentou lembrar-se do que havia acontecido, mas tudo parecia um borrão. Uma sensação de pânico começou a crescer em seu peito. Onde estava? O que havia acontecido com ela?
— Finalmente, você acordou. — Uma voz suave interrompeu seus pensamentos.
Lorelai virou a cabeça lentamente para ver uma mulher desconhecida ao lado da cama. Ela tinha uma expressão gentil, com olhos preocupados e um leve sorriso nos lábios. Sua aparência já não era tão amigável quanto sua expressão, tinha a pele pálida e olhos acinzentados.
— Quem é você? — Lorelai perguntou, a voz rouca e fraca. A mulher se aproximou um pouco mais, puxando uma cadeira e sentando-se ao lado da cama.
— Meu nome é Helena. Eu estava fazendo uma caminhada na floresta quando encontrei você. Você estava inconsciente, machucada... eu chamei uma ambulância. Eles disseram que era um milagre você estar viva. — Lorelai franziu a testa, tentando forçar sua mente a lembrar.
— Eu... eu não lembro de nada. O que aconteceu comigo?
Helena hesitou por um momento antes de responder.
— Os médicos disseram que você sofreu um trauma muito grande. Às vezes, isso faz com que as memórias fiquem bloqueadas. É uma forma do seu cérebro te proteger.
Lorelai fechou os olhos, tentando puxar qualquer memória, mas tudo continuava em branco.
— Meu pai... onde está meu pai? — apavorava a vaga ideia de tomar uma bronca ou algo pior, mesmo que fosse vítima de um acidente. Helena abaixou o olhar, a expressão mudando para algo mais sombrio.
— Lorelai, quando te encontramos, você estava sozinha. Não havia ninguém mais por perto.
A resposta de Helena não trouxe alívio, apenas mais perguntas. Lorelai tentou sentar-se, mas uma onda de tontura a fez desistir.
— Eu preciso lembrar. Eu preciso saber o que aconteceu.
— Eu sei. — Helena disse suavemente, colocando a mão sobre a de Lorelai. — Mas por agora, concentre-se em se recuperar. Os médicos vão te ajudar a lembrar quando seu corpo estiver mais forte."
Lorelai assentiu lentamente, sentindo-se exausta. Ela se afundou nos travesseiros, deixando os olhos fecharem enquanto a dor e a confusão lentamente se transformavam em uma espécie de resignação. Ela sabia que as respostas viriam com o tempo, mas a sensação de algo terrível espreitando nas sombras de sua mente não a abandonava.
Lorelai estava sentada na beira da cama do hospital, sentindo-se muito melhor fisicamente, embora sua mente ainda estivesse um turbilhão de emoções. Ela olhava pela janela, observando o movimento das árvores ao vento, tentando fazer sentido do que lhe havia acontecido. Sua cabeça ainda latejava de vez em quando, mas os médicos garantiram que isso iria passar.O som de batidas suaves na porta a trouxe de volta à realidade. Dois policiais entraram, acompanhados de Helena, que parecia preocupada, mas deu a Lorelai um sorriso reconfortante.— Senhorita Lorelai? — começou um dos policiais, um homem de meia-idade com um olhar sério. — Nós temos algumas informações sobre o que aconteceu com você e seu pai.Lorelai assentiu, sentindo o coração acelerar. O policial continuou, escolhendo as palavras com cuidado.— Parece que seu pai foi atacado e morto por uma fera. Encontramos marcas e evidências que indicam um grande animal, possivelmente um lobo.As palavras pairaram no ar, pesadas. Lorelai
A vida na casa de Helena e sua família começou a se estabilizar para Lorelai. Ela se recuperava gradualmente dos ferimentos, e a presença amorosa de sua nova família adotiva trouxe conforto e segurança para sua mente atribulada. Uma nova rotina se estabeleceu, e Lorelai encontrou uma fonte de trabalho no bar e mercearia da família.Ela começou a trabalhar ao lado de Miguel, o filho mais velho de Helena. Miguel era um jovem gentil e prestativo, e logo se tornou um companheiro de trabalho confiável para Lorelai. Juntos, eles serviam os clientes e organizavam os produtos nas prateleiras, criando uma dinâmica amigável e eficiente.Uma tarde ensolarada, enquanto estavam trabalhando no bar, Lorelai viu seu reflexo no espelho atrás do balcão. As cicatrizes em seu rosto, resultado das garras do lobo, estavam visíveis, mas já começavam a cicatrizar. Ela tocou suavemente as marcas, ainda sem se recordar do terror daquela noite fatídica na floresta. Logo, os amigos de Miguel chegaram. Eles eram
O início do fim de semana chegou e Lorelai estava ansiosa por um momento de relaxamento. Helena sugeriu que ela passasse algum tempo com Beatriz, a filha adolescente, e Lorelai prontamente concordou. Após passearem pela cidade, comprando para Lorelai algumas novas roupas, elas passaram no mercado e compraram itens deliciosos, pois decidiram fazer um piquenique no campo próximo à casa, aproveitando o clima ensolarado e a brisa fresca.Enquanto saboreavam os sanduíches e conversavam sobre assuntos triviais, Lorelai viu uma oportunidade de abordar o assunto de Josh. Ela perguntou casualmente sobre ele, esperando obter alguma informação útil.— Então, Beatriz, você conhece bem o Josh, certo? — Lorelai perguntou, tentando não parecer muito interessada. Beatriz assentiu com um sorriso.— Sim, ele é um cara legal. Um pouco reservado às vezes, mas sempre prestativo! Sempre nos ajuda com o que é necessário e nunca pediu nada em troca.Aquela não era a resposta que Lorelai esperava ouvir. — Vo
A semana começou com a rotina pacata de Lorelai na mercearia. Ela cumprimentava os clientes com um sorriso, arrumava os produtos nas prateleiras e ajudava Miguel no caixa. Tudo parecia normal, mas algo estava mudando dentro dela.Enquanto trabalhava, Lorelai começou a sentir um mal-estar estranho se apoderando dela. Uma sensação de desconforto pairava em sua mente, e ela percebeu mudanças sutis em seus sentidos. Os sons ao seu redor pareciam mais nítidos, mais vívidos, como se suas orelhas estivessem captando cada ruído com uma intensidade incomum.Além disso, ela sentia uma fome insaciável, uma ânsia por comida que não podia ser saciada. No entanto, sempre que tentava comer algo, sentia um enjoo terrível, como se seu corpo rejeitasse qualquer alimento normal.Lorelai lutava para entender o que estava acontecendo com ela. Era como se algo dentro dela estivesse despertando, algo primal e instintivo que ela não podia controlar.A sensação de mal-estar atingiu o ápice quando Lorelai se v
Enquanto Lorelai continuava sua rotina no bar e na mercearia da família de Helena, ela começou a perceber mudanças cada vez mais evidentes em seus sentidos. Já não bastasse a fome de carne fresca que a cada dia ficava mais voraz, os sons ao seu redor pareciam mais aguçados, e ela podia sentir os cheiros de forma mais intensa do que antes. Era como se seus sentidos estivessem se transformando, se tornando mais sensíveis, mais afiados.No meio da agitação do bar, Lorelai notou Josh observando-a de longe. Seus olhos escuros a fixavam com uma intensidade penetrante, como se soubesse que ela escondia um segredo. Um arrepio percorreu a espinha de Lorelai enquanto ela desviava o olhar, desconcertada pela intensidade do olhar de Josh, que se manteve em sua cola por muito tempo.À medida que o dia avançava, a sensação de que algo estava acontecendo entre eles só aumentava. Cada vez que seus olhares se cruzavam, Lorelai sentia uma corrente elétrica passar por ela, uma conexão inexplicável que a
Os rapazes morenos trocaram olhares preocupados, suas expressões se tornando ainda mais hostis com a presença de Josh e Lorelai. Antes que alguém pudesse dizer mais alguma coisa, o ar ao redor deles pareceu se eletrizar, carregado com uma tensão palpável.Sem aviso prévio, um dos rapazes avançou em direção a Josh com um rugido feroz, e em um piscar de olhos, a briga começou. Os punhos voaram, os grunhidos ecoaram na floresta, e Lorelai se viu no meio de uma batalha violenta e caótica.Enquanto a briga se intensificava, Lorelai ficou chocada ao testemunhar uma transformação assustadora. Os rapazes morenos, incluindo Josh, começaram a se contorcer e a mudar, suas formas humanas cedendo lugar a algo muito mais sinistro e selvagem.Os gritos de terror ecoaram na floresta quando os rapazes se transformaram em lobos, seus olhos brilhando com uma fúria primordial. Lorelai sentiu o coração disparar em seu peito quando uma onda de memórias dolorosas inundou sua mente.Ela se lembrou do evento
Os segredos da família de Helena começaram a incomodar Lorelai cada vez mais. Noites inquietas eram assombradas por pesadelos vívidos da noite em que fora marcada, com os olhos de Lúcifer se tornando cada dia mais vividos e assustadores em sua mente.Enquanto isso, Lorelai acompanhou a rápida recuperação de Josh, que veio seguida da primeira reunião da alcateia. Numa noite calma e gélida, após um banquete na casa de Helena, Lorelai foi apresentada a todos os membros da alcateia, que incluia os amigos de Miguel; agora toda a coisa esquisita que sentia perto deles, fazia total sentido.Na reunião, Helena falou sobre a alcateia de Lúcifer, um grupo de lobos sádicos que matavam humanos para saciar sua sede de sangue, como Lúcifer havia feito com o pai de Lorelai. Ela explicou que eles eram uma ameaça constante, sempre à espreita nas sombras, esperando por uma oportunidade para atacar.— Há algo que você precisa saber, Lorelai. — Disse Helena com seriedade, seus olhos fixos nos dela. — Lúc
Apesar dos avisos de Helena, Lorelai sabia que precisava se fortalecer e aprender a se defender para lidar com seu lado fera sem se complicar, acabando numa transformação acidental. A decisão de treinar às escondidas não foi fácil, mas ela sentia que era sua única opção. Josh, embora relutante em desafiar sua alfa, mas ainda com seus instintos de ômega presentes, concordou em ajudá-la. Ele acreditava que era injusto negar a Lorelai a chance de se defender, especialmente diante dos perigos que enfrentavam.Eles se encontravam em uma clareira isolada na parte segura da floresta, longe dos olhos atentos de Helena e dos outros membros da alcateia, mas também longe de seus inimigos. Josh ensinava Lorelai técnicas de combate corpo a corpo, mostrando-lhe como usar sua força e agilidade para se proteger.Os treinos eram intensos, mas Lorelai estava determinada a aprender. Dia após dia, ela sentia seu corpo se fortalecer e seus reflexos se aprimorarem. O tempo que passavam juntos também os apr