__ Como isso é possível?— Eu acho que não estamos dentro de um buraco qualquer. — Felipe falou atrás de mim.— O quê? — Me virei para ele e, ao olhar ao redor, quase desmaiei. O lugar onde estávamos era, sem dúvidas, um reino, ou o que sobrou dele. Todos mantinham o mesmo ar de surpresa que eu.— Acho que não é por acaso que estamos aqui. — Disse Lucian.— Foi de propósito. — Falamos juntos.— Resta saber, o porquê...Romeu não precisou terminar de falar, pois rosnados começaram a surgir de todas as partes da floresta. Agora sei do que era o mau cheiro e por que fomos puxados pra cá; nosso fim estava se aproximando, mas não me entregaria assim tão fácil.— O que é aquilo?De dentro da floresta, os mesmos monstros que eu vi em visão caminhavam até nós. O cheiro deles era terrível, caminhavam tortos, de suas bocas um líquido verde escorria e seus corpos eram consumidos por várias feridas. De suas mãos saíam grandes garras, que eles balançavam como se estivessem dilacerando alguém, talv
__ E então?__ Sinto muito.Não consegui me conter; meus olhos expulsavam lágrimas em excesso.__ Sente muito? ... pelo quê? - Com um medo descomunal, ousei perguntar.__ Ela está morta, Aurora.As palavras foram como uma navalha sobre a carne; meus ombros se contraíam enquanto eu chorava, minhas pernas perdiam as forças, e lentamente escorreguei até o chão.__ Sinto muito, muito mesmo. Fizemos de tudo para salvá-la, mas ela foi infectada, e não houve o que fazer. - Disse Natália.__ A culpa é minha, a culpa é minha, a culpa é minha. - Repetia incessantemente enquanto passava as mãos pelo cabelo.__ A culpa não é sua, meu amor.__ Ela morreu no meu lugar, era eu, não ela.Chorava sem parar.__ Aurora, não é sua culpa.__ Como não, tia?__ Ela lutou até o fim e em nenhum momento a responsabilizou por nada. Ela vivia dizendo que você viria; eu não acreditava nessa possibilidade. Quando ela estava prestes a morrer, pediu para eu escrever uma carta.__ Uma carta?__ Sim.__ Onde está?Com
Os olhos de Lucian brilhavam de uma maneira intensa, me perguntei quando teria o visto assim, talvez no palácio enquanto estive lá, mas não,não era, a sensação era mais antiga.O quarto do castelo abandonado era um espaço sombrio e misterioso, onde o tempo parecia ter parado para nós. As grossas paredes de pedra exibiam rachaduras e descamações devido aos talvez séculos de abandono. A madeira do piso rangeu ecoando pelos cantos escuros a cada passo que dávamos.No centro do quarto, havia uma cama majestosa com dossel, sua estrutura de carvalho maciço envelhecido estava adornada com entalhes intricados e cortinas de veludo desbotado que em outros tempos eram vermelhas e luxuosas. Sobre a cama, havia um espelho de corpo inteiro com moldura dourada desgastada pelo tempo, refletindo apenas sombras pálidas.Uma lareira de pedra, agora coberta de fuligem e teias de aranha, se destacava em uma das paredes, enquanto prateleiras de livros empoeirados recheadas de volumes antigos estavam amonto
Ainda nos perdíamos nos beijos quando fomos envolvidos mais uma vez por uma luz deslumbrante. Após seu desaparecimento, contemplamos o retorno de nossas marcas de companheiros. O lobo de Lucian, meticulosamente tatuado da minha coxa direita até abaixo do meu seio esquerdo, exibia uma expressão séria e dominadora. No braço de Lucian, a tatuagem representava minha loba, destacando sua pelagem cinza e olhos azuis claros, espelhando o lobo tatuado em mim. Ambos ostentavam feições sérias e cruéis.— Para sempre minha. - Um beijo delicado foi depositado em minha testa.— Para sempre meu.Sussurrávamos palavras e trocávamos sorrisos bobos.— É hora de enfrentarmos lá fora. - Eu disse.— Quero ficar. - Ele se aninhou em meu colo.— Meu amor, estamos aprisionados aqui e precisamos encontrar uma maneira de escapar... vivos.Ele ergueu um pouco a cabeça para me olhar.— Tem razão - uma pausa - eu lamento por sua amiga.Um silêncio pairou por um momento.— Está sendo difícil, mas não descansarei a
Aquela criatura dividia o olhar entre todos ali; seu rosto coberto por feridas me causava náuseas.— Qual de vocês eu vou trazer para o meu lado? Hum?Enquanto caminhava, seu cheiro podre se espalhava mais.— Será que bruxas? Gatos? Águia? Lobisomens? Híbridas? Ou... mas o que diabos você é, garoto?Ele olha intrigado para Abner.— Uma rena, seu burro.— Eu acho que já escolhi. - ele solta uma gargalhada aterrorizante - Eu quero a rena insolente.A criatura se aproxima de Abner; quando ele mostra as garras, concentro todas as forças nas pernas e acerto em cheio seu rosto, fazendo-o cambalear para trás e cair sentado.— Híbrida m*****a.Ele se levanta rápido e desfere um tapa em meu rosto. Sinto o gosto de sangue na boca.— Criatura miserável! - Tia Jasmine grita.As correntes se afrouxam, e uma ideia passa pela minha cabeça."O feitiço está ligado a ele."— Vai chegar sua vez, tia, não se preocupe. - Ele diz com sarcasmo.Silêncio.— Vamos brincar - ele b**e palmas- vou escolher um de
___ Ao chegarmos no local do ataque, nos deparamos com aquela mulher envolta por criaturas. Oferecemos nossa ajuda para assegurar sua fuga. - Relatou Lucian.Contemplei a mulher, visivelmente assustada. Seus cabelos castanhos e ondulados estavam desalinhados, seu rosto sujo e seu corpo exibia ferimentos em processo de cicatrização.— Como se chama? - Me aproximei, mas ela recuou dois passos.— Não precisa ter receio, não vou lhe causar mal.— Eu sei que não vai me machucar. - Ela olhou para algo atrás de mim, e percebi que Lucian estava na minha cola, atento até na minha respiração.Voltei meu olhar para ele.— Meu amor...Ele compreendeu a mensagem e, relutante, se afastou um pouco.Retornei minha atenção para a mulher.— Então? - Sorri para transmitir confiança.— Me chamo Penélope. - Ela abaixou a cabeça; sua voz era quase inaudível.— Eu sou Aurora.— Eu sei, lembro que a senhora e o seu pai me salvaram uma vez, recorda-se?Ela falava com inocência, parecia um filhote, mas a verda
Descansar nos braços do meu companheiro foi como um renovo para meu corpo. Lucian resistia a levantar da cama, e tive um trabalhão para convencê-lo a sair de lá. Confesso que minha vontade também era permanecer naquele quarto com ele, mas, como não temos noção do tempo – já que aqui sempre está escuro – não tivemos outra alternativa senão sair. Juntamo-nos aos outros, que já estavam reunidos em uma mesa de madeira desgastada, comendo algo sem muita vontade.— Como vamos nos organizar para encontrar o diário? — perguntou Felipe, quebrando o silêncio.- Alguém pensou em alguma coisa?— Sim. — Respondi, sentando-me em um toco de árvore que servia como assento.— E o que pensou, Aurora? — Perguntou Romeu.— Como já foi dito antes, vamos nos dividir em grupos. Um deles ficará responsável por ir lá fora quando a sirene tocar...— Serei responsável por esse. — Disse Lucian, sentando-se ao meu lado depois de beijar o topo da minha cabeça.Sorri para ele.— Tudo bem. E os outros, vasculharão um
__ Essa é a última caixa. - Abner expressou, com a frustração estampada em seu rosto.Após longas horas no porão abrindo caixas, eu já estava exausta, e Abner parecia estar na mesma situação, se não pior.__ Você vem? - Ele pergunta, fazendo menção de sair dali.__ Agora não, ficarei por aqui mais um pouco.Ele confirma com a cabeça e se retira.__ Enfim, sozinha. - Sussurrei, abaixando a cabeça e apoiando minhas mãos sobre a pilha de caixas ali. Meu cabelo cobria todo o meu rosto, me impedindo de ver qualquer coisa, e era exatamente isso que eu queria naquele momento....Não sei quanto tempo passei assim, mas foi o suficiente para organizar meus pensamentos. O cheiro de poeira começava a me deixar tonta. Pensei em sair dali, mas fui surpreendida por um abraço caloroso de Lucian.Me virei para ele.__ Faz tempo que está aqui?__ Não, acabei de chegar. Você estava demorando, e resolvi vir atrás de você. - Ele beija meus lábios.__ Estava refletindo um pouco. Sabe se encontraram alguma