Há muito tempo atrás:— Aurora, volte aqui.— Me deixe em paz, mãe.— Ainda não terminamos de conversar.— Deixe-a em paz, Cristal.— Aurora é minha filha, Eric.— E minha também.Naquela noite fria e chuvosa, Aurora teve mais uma de suas inúmeras brigas com sua mãe. Mal sabia ela que ao fugir de casa, sua vida mudaria para sempre.Cansada das frequentes chateações, Aurora correu sem rumo. Seu longo vestido vermelho arrastava-se na lama causada pela chuva, seus cabelos brancos encharcados. Sem muitas opções e sem perceber seus atos, pelo calor do momento, adentrou a floresta escura, sentindo as gotas da chuva baterem em seu rosto, lhe dando a sensação de sua pele ser perfurada.Quando a jovem garota avistou a colina, correu rapidamente para lá. Seus joelhos desceram involuntariamente até o chão bruto daquele lugar. Cansada e ofegante pela corrida, mal percebeu que tinha adentrado muito a floresta.Ainda de cabeça baixa e com as mãos apertando a areia, um urro de dor chamou sua atenção.
Aurora...A noite estava tão bela; a lua brilhava intensamente. Eu estava deitada em um gramado, perto de uma grande cachoeira. Embora à noite as quedas d'água não sejam nada atraentes, algo me fazia sentir segura.— Encontrei você, meu amor.Lucian falou atrás de mim. Levantei para fitá-lo.— Faz tempo que me procuras? - Perguntei.Antes dele me responder, ganhei um beijo cheio de paixão.— Muito.— Me desculpe, acabei me distraindo com meus pensamentos.— No que pensavas?— Estava aqui idealizando algo.— Estou curioso.Passei meus braços em volta do seu pescoço e envolvi minhas pernas sobre sua cintura quando senti ser erguida por ele.— O que idealizavas, minha rosa?— Uma família com você.Um sorriso de orelha a orelha se formou em sua face.— Não vejo a hora disso acontecer...— Aurora?Ouvi uma voz distante me chamar.— Aurora?...— Aurora, ouviste-me?Acordei no quarto do palácio, com Lídia e Alma ao meu lado. Sentia minha testa molhada e fria.— Lídia?Minha voz saiu com frus
A madrugada passada foi difícil; não consegui pregar o olho. Logo cedo, todos já estavam de pé para embarcarmos na missão. Faltava apenas James e a família chegar. Resolvi sair para dar uma volta e escapar da agitação que estava dentro do palácio. Oscar logo se ofereceu para me acompanhar, parecia tão incomodado quanto eu.— Já falou com seu pai? - Ele perguntou.— Sim. E o humano, vai mesmo com você? - Perguntei, enquanto observava pequenos lobos brincarem no gramado.— Sim, ele sabe como funciona cada coisa dentro daquele prédio, será de grande ajuda.— Falei com ele mais cedo.— O que ele disse?— Implorou para que eu salvasse a amiga.— Serão longos dias para conseguirmos libertá-los... se ainda estiverem vivos. - Oscar parecia aflito.Olhei para ele.— Vamos ser confiantes. - Coloquei minha mão sobre seu ombro, e ele a beijou.— Sim.Um carro parou em frente ao palácio. Dele saíram James e a família, todos em passos bem formais. Denise, ao me ver, revirou os olhos."Eu mereço."—
A noite já havia caído há algum tempo; o dia foi extremamente cansativo para todos, principalmente devido às reclamações incessantes de Lianca.— Vamos precisar fazer uma fogueira. — disse eu. Não era realmente necessário, pois nossa visão bastava, exceto para Lídia. Além disso, os insetos começavam a nos incomodar mais frequentemente, talvez mais perturbados por nossa presença em seu território do que o contrário.— Tem uns galhos secos aqui. — comentou Felipe, jogando-os no chão.— Ótimo. Só falta o fogo agora.— Ah, isso é fácil.— Você trouxe um isqueiro? — Cruzei os braços, vendo um sorriso travesso se formar em seus lábios.— Pra quê?— Como assim, Felipe? Como acha que vamos acender esse fogo?— Trouxemos a fábrica, minha filha.O encarei sem entender.— Espere aí.Vi ele encher os pulmões de ar para logo em seguida gritar:— Liancaaaa, cospe aqui por gentileza.— Você não tem jeito, garoto. — tentei reprimir a risada, mas não foi possível, pois todos os outros começaram a sorri
__ Como isso é possível?— Eu acho que não estamos dentro de um buraco qualquer. — Felipe falou atrás de mim.— O quê? — Me virei para ele e, ao olhar ao redor, quase desmaiei. O lugar onde estávamos era, sem dúvidas, um reino, ou o que sobrou dele. Todos mantinham o mesmo ar de surpresa que eu.— Acho que não é por acaso que estamos aqui. — Disse Lucian.— Foi de propósito. — Falamos juntos.— Resta saber, o porquê...Romeu não precisou terminar de falar, pois rosnados começaram a surgir de todas as partes da floresta. Agora sei do que era o mau cheiro e por que fomos puxados pra cá; nosso fim estava se aproximando, mas não me entregaria assim tão fácil.— O que é aquilo?De dentro da floresta, os mesmos monstros que eu vi em visão caminhavam até nós. O cheiro deles era terrível, caminhavam tortos, de suas bocas um líquido verde escorria e seus corpos eram consumidos por várias feridas. De suas mãos saíam grandes garras, que eles balançavam como se estivessem dilacerando alguém, talv
__ E então?__ Sinto muito.Não consegui me conter; meus olhos expulsavam lágrimas em excesso.__ Sente muito? ... pelo quê? - Com um medo descomunal, ousei perguntar.__ Ela está morta, Aurora.As palavras foram como uma navalha sobre a carne; meus ombros se contraíam enquanto eu chorava, minhas pernas perdiam as forças, e lentamente escorreguei até o chão.__ Sinto muito, muito mesmo. Fizemos de tudo para salvá-la, mas ela foi infectada, e não houve o que fazer. - Disse Natália.__ A culpa é minha, a culpa é minha, a culpa é minha. - Repetia incessantemente enquanto passava as mãos pelo cabelo.__ A culpa não é sua, meu amor.__ Ela morreu no meu lugar, era eu, não ela.Chorava sem parar.__ Aurora, não é sua culpa.__ Como não, tia?__ Ela lutou até o fim e em nenhum momento a responsabilizou por nada. Ela vivia dizendo que você viria; eu não acreditava nessa possibilidade. Quando ela estava prestes a morrer, pediu para eu escrever uma carta.__ Uma carta?__ Sim.__ Onde está?Com
Os olhos de Lucian brilhavam de uma maneira intensa, me perguntei quando teria o visto assim, talvez no palácio enquanto estive lá, mas não,não era, a sensação era mais antiga.O quarto do castelo abandonado era um espaço sombrio e misterioso, onde o tempo parecia ter parado para nós. As grossas paredes de pedra exibiam rachaduras e descamações devido aos talvez séculos de abandono. A madeira do piso rangeu ecoando pelos cantos escuros a cada passo que dávamos.No centro do quarto, havia uma cama majestosa com dossel, sua estrutura de carvalho maciço envelhecido estava adornada com entalhes intricados e cortinas de veludo desbotado que em outros tempos eram vermelhas e luxuosas. Sobre a cama, havia um espelho de corpo inteiro com moldura dourada desgastada pelo tempo, refletindo apenas sombras pálidas.Uma lareira de pedra, agora coberta de fuligem e teias de aranha, se destacava em uma das paredes, enquanto prateleiras de livros empoeirados recheadas de volumes antigos estavam amonto
Ainda nos perdíamos nos beijos quando fomos envolvidos mais uma vez por uma luz deslumbrante. Após seu desaparecimento, contemplamos o retorno de nossas marcas de companheiros. O lobo de Lucian, meticulosamente tatuado da minha coxa direita até abaixo do meu seio esquerdo, exibia uma expressão séria e dominadora. No braço de Lucian, a tatuagem representava minha loba, destacando sua pelagem cinza e olhos azuis claros, espelhando o lobo tatuado em mim. Ambos ostentavam feições sérias e cruéis.— Para sempre minha. - Um beijo delicado foi depositado em minha testa.— Para sempre meu.Sussurrávamos palavras e trocávamos sorrisos bobos.— É hora de enfrentarmos lá fora. - Eu disse.— Quero ficar. - Ele se aninhou em meu colo.— Meu amor, estamos aprisionados aqui e precisamos encontrar uma maneira de escapar... vivos.Ele ergueu um pouco a cabeça para me olhar.— Tem razão - uma pausa - eu lamento por sua amiga.Um silêncio pairou por um momento.— Está sendo difícil, mas não descansarei a