Sofia Hernandez – Janeiro, 2022Entro em seu quarto desesperada por não ver o que queria. Tento conter o pânico, enquanto meu lado lógico grita que que ela só sumiu por poucos minutos. Meu celular apita. "Achei, está na árvore." Solto o ar aliviada e vou direto para o jardim. Lá no alto, erguida orgulhosamente está minha casa da árvore parecida saída de outra vida. Subo as escadas que estão mais firmes do que nunca depois da reforma que passou 5 anos atrás. Escuto sua risada desleixada antes de ver seu rosto. - Eu tenho certeza que não está escrito isso, papai - Minha garotinha olha para o livro pousado em suas pernas enquanto suas costas estão apoiadas contra o peito de Ethan. - Não me culpe, culpe o livro. Está bem aqui. - Ethan aponta para um trecho da página rindo. Seu rosto infantil se contorce em uma careta e eu sei que ela não vai parar até ter a resposta que quer. - Não papai, isso não está certo. Essa palavra não é chulé, eu sei como é a palavra chulé e não é essa -
"Akai ItoUm fio invisível conecta os que estão destinados a conhecer-se...Independentemente do tempo, lugar ou circunstância...O fio pode esticar ou emaranhar-se,mas nunca irá partir."- Antiga crença chinesa.***Sofia AdamsQuando eu era criança e assistia todos aqueles filmes de comédia romântica eu sonhava acordada. Para mim era quase sagrado aquele enredo de mocinha conhece mocinho, se apaixonam, passam pelo grande clímax de uma briga e depois são felizes para sempre. Esperava ansiosa a minha vez de se apaixonar perdidamente chegar. Achava que seria mágico e instantâneo, que quando eu visse meu grande amor, eu saberia. Acontece que para minha surpresa e choque total descobri que filmes mentem. E que são raras as pessoas que encontram o amor para a vida toda.Quando eu vi meu amor pela primeira vez ele estava tirando sujeira do nariz e comendo enquanto eu só conseguia sentir nojo e curiosidade ao mesmo tempo. Minha mãe dizia que aquilo era feio e ruim, mas se ele estava come
Sofia Adams - Outubro, 1994Saí de casa e corri pelo quintal completamente feliz com o que tinha acabado de conseguir. Meus pés descalços tocavam a grama verde e tropeçavam em algumas pedras no caminho. Olhei para esquerda e para direita indecisa sobre para quem deveria contar primeiro. Por fim, decidi correr para a esquerda. Com certeza Ethan adoraria saber, estava tão animado quanto eu, ainda que não desse o braço a torcer. Ethan vinha agindo como um adulto chato ultimamente. Eu o encontrei saindo de casa quando o abracei animada. Ethan estava acostumado aos meus rompantes e logo me abraçou de volta. Havia uma clara diferença de tamanho entre nós, ele estava ficando mais alto a cada dia, tinha feito onze anos mês passado e parecia que eu estava ficando para trás com meus poucos sete anos de vida. Eu detestava a diferença de idade, meu consolo era não ser tão distante de Nick. - Ei Ethan, papai concordou em fazer uma casa na nossa árvore, não é legal? - minha voz estridente e
Sofia Adams - Fevereiro, 2012Suspiro cansada das lembranças e tomo outro gole da bebida na minha frente. Tento focar em algum ponto pra ver se as lágrimas dispersam dos meus olhos, mas já estou ficando tonta demais para controlar meu choro.Lembro do dia em que Anne se mudou e que nesse mesmo dia começamos a montar nossa casa na árvore. Meu pai ficou doido com cinco crianças ao redor dele. Mas foi legal. Levou duas semanas para que estivesse pronta e até lá todos nós já tínhamos uma cicatriz nova da nossa construção e nossa amizade já estava firmada de um jeito que ninguém sabia explicar. Nós éramos o que éramos. E foi bom enquanto durou. Se eu soubesse como as coisas seriam depois eu teria aproveitado mais. Esfrego meus braços e mãos continuamente marcados pelas minhas unhas e meu dedo resvala na cicatriz que tinha no punho ao tentar martelar um prego na casa sem que meu pai visse. O Barman, George, me lança um olhar de soslaio tentando averiguar se eu estava bem. Não estava. Est
Sofia Adams - Novembro, 1997- Por quê mesmo essa casa é azul? - Perguntou Anne antes de subir pelas escadas da nossa casa na árvore.- Eu não sei, Ethan que escolheu quando estava ajudando papai a pintar - Respondi dando de ombros a seguindo.- Ah, então tá explicado - Disse Anne pensativa.- O quê? - Perguntei.- É azul por quê é sua cor favorita, todo mundo sabe disso e ele sempre faz tudo pra te agradar - Respondeu Anne chegando no topo e entrando na casa.Não questionei, era verdade.Ethan mesmo com quatorze anos era meu melhor amigo ele já não brincava comigo e com Anne, éramos apenas garotinhas de dez anos, mas eu gostava que ele conversava comigo sobre coisas sérias.Ele era o único que me tratava igual. Ele sabia que eu era uma criança esperta e eu me sentia assim perto dele. Ele ainda saía com Nick e Tom, principalmente para jogar bola ou videogame e estava ficando mais próximo do irmão mais velho de Nick, Eddie. Se eu fosse admitir isso me irritava um pouco também... Era
Sofia Adams - Março, 2012Anne entrou no meu apartamento horrorizada com meu estado. Eu estava bêbada. De novo. Céline Dion tocava ao fundo a música do Titanic e eu com uma garrafa na mão gritava a plenos pulmões enquanto dançava com minha garrafa me sentindo a própria Rose dona da porra do mundo. - NEAR, FAR, WHEREVER YOU ARE I BELIEVE THAT THE HEART DOES GO ON - (Perto, longe, onde quer que você estejaCreio que o coração segue em frente)- Mas o quê? - Anne estava dividida entre estar assustada e confusa e então seus olhos caíram para as minhas roupas. Eu usava uma camiseta social preta grande demais para ser minha, uma cueca samba canção e um suspensório. - São dele? - Ela perguntou cautelosamente, mas ela sabia a resposta. Eram dele. Eu estava arrumando minhas malas quando as encontrei enterrada em uma montanha de roupas minhas. Peguei cuidadosamente em choque inundada pelo turbilhão de lembranças que aquilo me trouxe. Eu sabia que não deveria cheirar. Mas cheirei e então
Sofia Adams - Março, 2012Eu odiava aviões. Tinha um pavor tão grande que não cabia em mim. Mas aqui estava eu, enfurnada em um prestes a decolar em direção a Las Vegas. Para minha sorte seriam poucas horas de vôo.Eu podia aguentar, certo? Ouvi as turbinas começarem a ganhar força e o avião tremer se preparando para levantar vôo. Deus do céu, alguém me tira daqui! Respirei fundo e apertei a mão de Anne que estava do meu lado e ela sorriu para mim. Tom ao seu lado dormia profundamente e não tinha nem 5 minutos que embarcamos. Como ele conseguia? Anne, prática como sempre, cuidou para que ficássemos com as poltronas do meio do avião, dessa forma sentaríamos os três sem precisar nos separar. Agradeci internamente por isso, se eu estivesse sozinha em um avião já teria pirado há muito tempo e tentado sair nem que fosse pela descarga. Comecei a pensar em nossa primeira viagem a Vegas na tentativa de me distrair do pânico crescente na boca do meu estômago. Graças a Deus foi uma viage
Sofia Adams – Março, 2012Era engraçado como em qualquer lugar que fosse eu soubesse encontrar o caminho do álcool como ninguém. Acho que meu corpo farejava a bebida, como um super poder. Eu era a Super Bêbada. Credo, acho que já estava surtindo efeito. Olhei para o lado e vi um cabelo loiro muito familiar, aparentemente Anne farejava o cheiro da diversão só para poder interromper. Ela era a Super Certinha. - Meio cedo para beber, não acha? - Perguntou Anne sentando ao meu lado no bar. - Meio cedo para sermão, não acha? - Devolvi e em seguida tomei mais um gole do meu copo. Anne comportada como sempre pediu um suco de laranja. - Soso, são onze e meia da manhã, o que você está fazendo? - Perguntou.Suspirei. - Eu tive um pesadelo. Esse lugar traz lembranças demais - Sussurrei esfregando meus braços. Dizer as palavras em voz alta só tornava tudo mais real. Após um minuto de silêncio em que Anne olhou atentamente para os vergões em minha pele, ela se manifestou.- Entendo - Respon