Sofia Adams – Abril, 2012Passar dez dias com Ethan finalmente consciente dos meus sentimentos foi quase mágico. Quando o seu trabalho permitia, cada minuto nosso era gasto um com o outro. Visitamos cada ponto turístico dessa cidade, voltamos na roda gigante, conversamos no telhado até o amanhecer. Foi como a gente costumava ser. Eu e ele em nossa bolha particular com alguns beijos roubados aqui e ali. Quase me fez querer desistir de tudo e seguir ele pelo mundo. Quase. Mas aqui estava eu sentada na fonte uma última vez, olhando para Ethan já lá me esperando.Abril está chegando ao fim e o nosso prazo também.- Você decidiu o que vai fazer? - pergunto, olhando para a água imperturbável. Toco meus dedos para formar pequenas ondulações.Ethan toca seus dedos nos meus através da água.- Pensei muito nisso, e vou seguir o que sugeriu... Eu vou aceitar, conversei com minha família, em um mês vou ter uma semana de folga e vou visitá-los, por enquanto meu próximo destino é Hong Kong - diz el
Sofia Adams - Maio, 2012Entrar na casa que vivi com Nick é estranho por quê parece que foi uma vida atrás que estive aqui, não apenas dois meses. Separo todos os itens de limpeza, sacos de lixo e caixas que vou precisar. Entrar no nosso quarto é como ser atingida por um milhão de memórias nossas simultaneamente, inclusive a nossa última briga. Mesmo assim sigo firme e começo a limpar. Dobro cuidadosamente e guardo roupas de Nick que vão para a doação, encaixoto itens que não quero me desfazer e itens que sei que seus pais iriam querer. Depois de tudo separado e selado começo a limpar o quarto. Troco os lençóis, tiro o lixo e ainda encontro a caixa vazia do teste de gravidez daquela noite. Ela nunca foi uma possibilidade, fico triste pelos filhos que nunca tive dele. Mas é uma tristeza que sei agora que posso suportar, e posso fazer tudo isso sem o álcool. Ligo para Anne. Escuto seu alô sonolento do outro lado da linha, acho que a acordei.- Estou no meu quarto - digo após as sauda
Ethan Hernandez – Maio, 2014À medida que embarquei na minha jornada ao redor do mundo, pensei em Sofia todos os dias. Nós mantivemos contato esporádico através de mensagens, apenas checando um ao outro. Cada vez que recebo uma mensagem dela, meu coração se enche de alegria. Ela parecia estar indo bem, conseguiu um emprego como professora primária em uma escola perto da sua casa e o mais importante de tudo, estava sóbria. Enquanto viajo, conheço pessoas incríveis, visito lugares fascinantes e me aprofundo na minha carreira como arquiteto. Mas em cada novo local, há um vazio, uma falta que só a presença de Sofia pode preencher.Dois anos se passam rapidamente.Olho para minha última obra perto da sua conclusão. Uma casa de veraneio a beira da praia de Lanikai. Essa era a última casa em que eu trabalharia na reforma dos amigos que Sr. Miller me indicou. Depois disso um cargo de professor universitário me aguardava em Chicago, minha cidade natal, onde minha família morava. Eu estava
Sofia Hernandez – Janeiro, 2022Entro em seu quarto desesperada por não ver o que queria. Tento conter o pânico, enquanto meu lado lógico grita que que ela só sumiu por poucos minutos. Meu celular apita. "Achei, está na árvore." Solto o ar aliviada e vou direto para o jardim. Lá no alto, erguida orgulhosamente está minha casa da árvore parecida saída de outra vida. Subo as escadas que estão mais firmes do que nunca depois da reforma que passou 5 anos atrás. Escuto sua risada desleixada antes de ver seu rosto. - Eu tenho certeza que não está escrito isso, papai - Minha garotinha olha para o livro pousado em suas pernas enquanto suas costas estão apoiadas contra o peito de Ethan. - Não me culpe, culpe o livro. Está bem aqui. - Ethan aponta para um trecho da página rindo. Seu rosto infantil se contorce em uma careta e eu sei que ela não vai parar até ter a resposta que quer. - Não papai, isso não está certo. Essa palavra não é chulé, eu sei como é a palavra chulé e não é essa -
"Akai ItoUm fio invisível conecta os que estão destinados a conhecer-se...Independentemente do tempo, lugar ou circunstância...O fio pode esticar ou emaranhar-se,mas nunca irá partir."- Antiga crença chinesa.***Sofia AdamsQuando eu era criança e assistia todos aqueles filmes de comédia romântica eu sonhava acordada. Para mim era quase sagrado aquele enredo de mocinha conhece mocinho, se apaixonam, passam pelo grande clímax de uma briga e depois são felizes para sempre. Esperava ansiosa a minha vez de se apaixonar perdidamente chegar. Achava que seria mágico e instantâneo, que quando eu visse meu grande amor, eu saberia. Acontece que para minha surpresa e choque total descobri que filmes mentem. E que são raras as pessoas que encontram o amor para a vida toda.Quando eu vi meu amor pela primeira vez ele estava tirando sujeira do nariz e comendo enquanto eu só conseguia sentir nojo e curiosidade ao mesmo tempo. Minha mãe dizia que aquilo era feio e ruim, mas se ele estava come
Sofia Adams - Outubro, 1994Saí de casa e corri pelo quintal completamente feliz com o que tinha acabado de conseguir. Meus pés descalços tocavam a grama verde e tropeçavam em algumas pedras no caminho. Olhei para esquerda e para direita indecisa sobre para quem deveria contar primeiro. Por fim, decidi correr para a esquerda. Com certeza Ethan adoraria saber, estava tão animado quanto eu, ainda que não desse o braço a torcer. Ethan vinha agindo como um adulto chato ultimamente. Eu o encontrei saindo de casa quando o abracei animada. Ethan estava acostumado aos meus rompantes e logo me abraçou de volta. Havia uma clara diferença de tamanho entre nós, ele estava ficando mais alto a cada dia, tinha feito onze anos mês passado e parecia que eu estava ficando para trás com meus poucos sete anos de vida. Eu detestava a diferença de idade, meu consolo era não ser tão distante de Nick. - Ei Ethan, papai concordou em fazer uma casa na nossa árvore, não é legal? - minha voz estridente e
Sofia Adams - Fevereiro, 2012Suspiro cansada das lembranças e tomo outro gole da bebida na minha frente. Tento focar em algum ponto pra ver se as lágrimas dispersam dos meus olhos, mas já estou ficando tonta demais para controlar meu choro.Lembro do dia em que Anne se mudou e que nesse mesmo dia começamos a montar nossa casa na árvore. Meu pai ficou doido com cinco crianças ao redor dele. Mas foi legal. Levou duas semanas para que estivesse pronta e até lá todos nós já tínhamos uma cicatriz nova da nossa construção e nossa amizade já estava firmada de um jeito que ninguém sabia explicar. Nós éramos o que éramos. E foi bom enquanto durou. Se eu soubesse como as coisas seriam depois eu teria aproveitado mais. Esfrego meus braços e mãos continuamente marcados pelas minhas unhas e meu dedo resvala na cicatriz que tinha no punho ao tentar martelar um prego na casa sem que meu pai visse. O Barman, George, me lança um olhar de soslaio tentando averiguar se eu estava bem. Não estava. Est
Sofia Adams - Novembro, 1997- Por quê mesmo essa casa é azul? - Perguntou Anne antes de subir pelas escadas da nossa casa na árvore.- Eu não sei, Ethan que escolheu quando estava ajudando papai a pintar - Respondi dando de ombros a seguindo.- Ah, então tá explicado - Disse Anne pensativa.- O quê? - Perguntei.- É azul por quê é sua cor favorita, todo mundo sabe disso e ele sempre faz tudo pra te agradar - Respondeu Anne chegando no topo e entrando na casa.Não questionei, era verdade.Ethan mesmo com quatorze anos era meu melhor amigo ele já não brincava comigo e com Anne, éramos apenas garotinhas de dez anos, mas eu gostava que ele conversava comigo sobre coisas sérias.Ele era o único que me tratava igual. Ele sabia que eu era uma criança esperta e eu me sentia assim perto dele. Ele ainda saía com Nick e Tom, principalmente para jogar bola ou videogame e estava ficando mais próximo do irmão mais velho de Nick, Eddie. Se eu fosse admitir isso me irritava um pouco também... Era