"Akai Ito
Um fio invisível conecta os que estão destinados a conhecer-se...Independentemente do tempo, lugar ou circunstância...O fio pode esticar ou emaranhar-se,mas nunca irá partir."- Antiga crença chinesa.***Sofia AdamsQuando eu era criança e assistia todos aqueles filmes de comédia romântica eu sonhava acordada. Para mim era quase sagrado aquele enredo de mocinha conhece mocinho, se apaixonam, passam pelo grande clímax de uma briga e depois são felizes para sempre.Esperava ansiosa a minha vez de se apaixonar perdidamente chegar. Achava que seria mágico e instantâneo, que quando eu visse meu grande amor, eu saberia.Acontece que para minha surpresa e choque total descobri que filmes mentem. E que são raras as pessoas que encontram o amor para a vida toda.Quando eu vi meu amor pela primeira vez ele estava tirando sujeira do nariz e comendo enquanto eu só conseguia sentir nojo e curiosidade ao mesmo tempo. Minha mãe dizia que aquilo era feio e ruim, mas se ele estava comendo, será que seria bom?Para que conste: não era.Apesar da minha vida não seguir a linha romântica cinematográfica, tive algo tão bom quanto: amizades verdadeiras.Desde que me lembro eles sempre estiveram lá.Ethan Hernandez era meu vizinho da esquerda, Nick Williams da direita.Crescemos praticamente juntos. Com o intervalo de dois anos cada. Ethan tinha dois anos quando Nick nasceu e Nick tinha dois quando eu nasci. O que fazia de mim e Ethan distantes por quatro anos. Não era muita coisa.Nós três nos tornamos melhores amigos. Enquanto Nick sempre incentivava minhas loucuras Ethan era a voz da razão. Éramos um trio equilibrado. Inseparáveis. Ficamos perfeitos após Anne e Tom se juntarem ao grupo. Os anos que passamos juntos foram definitivamente os melhores da minha vida.Todos os dias, durante anos a fio, nos encontrávamos na nossa casa da árvore depois da escola.Ethan me ensinou a ler durante tardes sem fim, meu primeiro beijo foi lá, e consequentemente também foi o de Nick.A primeira vez que vi Ethan bêbado, o primeiro coração partido de Anne e quando Tom tirou sua carta de habilitação. Ainda que ela tenha sido confiscada mesmo dia por ele bater na árvore da nossa casa da árvore. Típico de Tom.Olhando para trás eu não consigo entender como a minha vida se tornou o que é agora. Como pude chegar tão fundo no poço? Em que ponto tudo deu errado?Penso nas coisas que eu poderia ter feito diferente. Talvez nós ainda estivéssemos todos juntos hoje.Sofia Adams - Outubro, 1994Saí de casa e corri pelo quintal completamente feliz com o que tinha acabado de conseguir. Meus pés descalços tocavam a grama verde e tropeçavam em algumas pedras no caminho. Olhei para esquerda e para direita indecisa sobre para quem deveria contar primeiro. Por fim, decidi correr para a esquerda. Com certeza Ethan adoraria saber, estava tão animado quanto eu, ainda que não desse o braço a torcer. Ethan vinha agindo como um adulto chato ultimamente. Eu o encontrei saindo de casa quando o abracei animada. Ethan estava acostumado aos meus rompantes e logo me abraçou de volta. Havia uma clara diferença de tamanho entre nós, ele estava ficando mais alto a cada dia, tinha feito onze anos mês passado e parecia que eu estava ficando para trás com meus poucos sete anos de vida. Eu detestava a diferença de idade, meu consolo era não ser tão distante de Nick. - Ei Ethan, papai concordou em fazer uma casa na nossa árvore, não é legal? - minha voz estridente e
Sofia Adams - Fevereiro, 2012Suspiro cansada das lembranças e tomo outro gole da bebida na minha frente. Tento focar em algum ponto pra ver se as lágrimas dispersam dos meus olhos, mas já estou ficando tonta demais para controlar meu choro.Lembro do dia em que Anne se mudou e que nesse mesmo dia começamos a montar nossa casa na árvore. Meu pai ficou doido com cinco crianças ao redor dele. Mas foi legal. Levou duas semanas para que estivesse pronta e até lá todos nós já tínhamos uma cicatriz nova da nossa construção e nossa amizade já estava firmada de um jeito que ninguém sabia explicar. Nós éramos o que éramos. E foi bom enquanto durou. Se eu soubesse como as coisas seriam depois eu teria aproveitado mais. Esfrego meus braços e mãos continuamente marcados pelas minhas unhas e meu dedo resvala na cicatriz que tinha no punho ao tentar martelar um prego na casa sem que meu pai visse. O Barman, George, me lança um olhar de soslaio tentando averiguar se eu estava bem. Não estava. Est
Sofia Adams - Novembro, 1997- Por quê mesmo essa casa é azul? - Perguntou Anne antes de subir pelas escadas da nossa casa na árvore.- Eu não sei, Ethan que escolheu quando estava ajudando papai a pintar - Respondi dando de ombros a seguindo.- Ah, então tá explicado - Disse Anne pensativa.- O quê? - Perguntei.- É azul por quê é sua cor favorita, todo mundo sabe disso e ele sempre faz tudo pra te agradar - Respondeu Anne chegando no topo e entrando na casa.Não questionei, era verdade.Ethan mesmo com quatorze anos era meu melhor amigo ele já não brincava comigo e com Anne, éramos apenas garotinhas de dez anos, mas eu gostava que ele conversava comigo sobre coisas sérias.Ele era o único que me tratava igual. Ele sabia que eu era uma criança esperta e eu me sentia assim perto dele. Ele ainda saía com Nick e Tom, principalmente para jogar bola ou videogame e estava ficando mais próximo do irmão mais velho de Nick, Eddie. Se eu fosse admitir isso me irritava um pouco também... Era
Sofia Adams - Março, 2012Anne entrou no meu apartamento horrorizada com meu estado. Eu estava bêbada. De novo. Céline Dion tocava ao fundo a música do Titanic e eu com uma garrafa na mão gritava a plenos pulmões enquanto dançava com minha garrafa me sentindo a própria Rose dona da porra do mundo. - NEAR, FAR, WHEREVER YOU ARE I BELIEVE THAT THE HEART DOES GO ON - (Perto, longe, onde quer que você estejaCreio que o coração segue em frente)- Mas o quê? - Anne estava dividida entre estar assustada e confusa e então seus olhos caíram para as minhas roupas. Eu usava uma camiseta social preta grande demais para ser minha, uma cueca samba canção e um suspensório. - São dele? - Ela perguntou cautelosamente, mas ela sabia a resposta. Eram dele. Eu estava arrumando minhas malas quando as encontrei enterrada em uma montanha de roupas minhas. Peguei cuidadosamente em choque inundada pelo turbilhão de lembranças que aquilo me trouxe. Eu sabia que não deveria cheirar. Mas cheirei e então
Sofia Adams - Março, 2012Eu odiava aviões. Tinha um pavor tão grande que não cabia em mim. Mas aqui estava eu, enfurnada em um prestes a decolar em direção a Las Vegas. Para minha sorte seriam poucas horas de vôo.Eu podia aguentar, certo? Ouvi as turbinas começarem a ganhar força e o avião tremer se preparando para levantar vôo. Deus do céu, alguém me tira daqui! Respirei fundo e apertei a mão de Anne que estava do meu lado e ela sorriu para mim. Tom ao seu lado dormia profundamente e não tinha nem 5 minutos que embarcamos. Como ele conseguia? Anne, prática como sempre, cuidou para que ficássemos com as poltronas do meio do avião, dessa forma sentaríamos os três sem precisar nos separar. Agradeci internamente por isso, se eu estivesse sozinha em um avião já teria pirado há muito tempo e tentado sair nem que fosse pela descarga. Comecei a pensar em nossa primeira viagem a Vegas na tentativa de me distrair do pânico crescente na boca do meu estômago. Graças a Deus foi uma viage
Sofia Adams – Março, 2012Era engraçado como em qualquer lugar que fosse eu soubesse encontrar o caminho do álcool como ninguém. Acho que meu corpo farejava a bebida, como um super poder. Eu era a Super Bêbada. Credo, acho que já estava surtindo efeito. Olhei para o lado e vi um cabelo loiro muito familiar, aparentemente Anne farejava o cheiro da diversão só para poder interromper. Ela era a Super Certinha. - Meio cedo para beber, não acha? - Perguntou Anne sentando ao meu lado no bar. - Meio cedo para sermão, não acha? - Devolvi e em seguida tomei mais um gole do meu copo. Anne comportada como sempre pediu um suco de laranja. - Soso, são onze e meia da manhã, o que você está fazendo? - Perguntou.Suspirei. - Eu tive um pesadelo. Esse lugar traz lembranças demais - Sussurrei esfregando meus braços. Dizer as palavras em voz alta só tornava tudo mais real. Após um minuto de silêncio em que Anne olhou atentamente para os vergões em minha pele, ela se manifestou.- Entendo - Respon
Sofia Adams – Março 2012Ele estava aqui. Pisquei atordoada, tomada pelo choque. Era ele bem aqui, na minha frente me olhando com olhos misteriosos e questionadores. Anos atrás eu poderia dizer exatamente o que ele estava pensando pela suave curva do seu lábio ou pelo leve cerrar de seus olhos. Mas não hoje. Ele se tornou um estranho para mim. Tudo nele estava diferente. Lembro que adorava vestir camisas xadrez de flanela, dizia ser confortável e com seus cabelos mais longos eu costumava o chamar lenhador, combinava com ele. Encarei seu terno formal, seu cabelo curto e perfeitamente cortado e seus sapatos italianos. Sua postura era cansada, como se carregasse muito peso todos os dias. Sua voz era fria e seus olhos... Seus olhos não tinham mais calor. Então era nisso que ele havia se tornado? Eu não podia continuar olhando para ele, não depois de tudo o que aconteceu. - Você tem alguma coisa a ver com isso? - Exigi de Anne para evitá-lo ao máximo. Ela parecia tão surpresa quanto
Ethan Hernandez – Julho, 2003Era o aniversário de 16 anos de Sofia. Ela estava tão linda que eu não conseguia fazer nada além de olhar para ela. Eu me afastei da faculdade esse final de semana apenas para a sua festa. Qualquer outra garota estaria usando um vestido de princesa em sua festa de debutante. Mas não minha pequeña. Não, ela não. Sofia usava um vestido que ao invés de fazê-la parecer uma princesa fazia com que parecesse uma rainha. Era fluído e abraçava seu corpo que estava florescendo e aparecendo. Sofia deixou seu cabelo crescer desde que cortou a última vez com 12 anos em uma moda punk esquisita, agora eram longos, espessos e selvagens. E eu não conseguia parar de pensar como seriam passar meus dedos nele. Sofia estava crescendo e se tornando a mulher mais bonita que já vi. E eu não era o único a notar. Ultimamente Nick só sabia falar dela o tempo todo, acho que eu e meu melhor amigo estávamos apaixonados pela mesma garota. E isso me deixava triste. Seja lá com que