Sofia Adams - Novembro, 1997
- Por quê mesmo essa casa é azul? - Perguntou Anne antes de subir pelas escadas da nossa casa na árvore.- Eu não sei, Ethan que escolheu quando estava ajudando papai a pintar - Respondi dando de ombros a seguindo.- Ah, então tá explicado - Disse Anne pensativa.- O quê? - Perguntei.- É azul por quê é sua cor favorita, todo mundo sabe disso e ele sempre faz tudo pra te agradar - Respondeu Anne chegando no topo e entrando na casa.Não questionei, era verdade.Ethan mesmo com quatorze anos era meu melhor amigo ele já não brincava comigo e com Anne, éramos apenas garotinhas de dez anos, mas eu gostava que ele conversava comigo sobre coisas sérias.Ele era o único que me tratava igual. Ele sabia que eu era uma criança esperta e eu me sentia assim perto dele.Ele ainda saía com Nick e Tom, principalmente para jogar bola ou videogame e estava ficando mais próximo do irmão mais velho de Nick, Eddie.Se eu fosse admitir isso me irritava um pouco também... Era mais fácil quando todos éramos pequenos gostar das mesmas coisas, mas agora, enquanto eles entravam na adolescência Anne e eu permanecíamos na infância. Aprendi uma palavra com papai ontem que parecia caber na nossa situação: tudo era uma bela droga.- Ele gosta de azul também - Respondi por fim.Chegamos lá em cima e ficamos brincando por horas fingindo que éramos princesas do nosso próprio castelo.Fui até a janela da árvore gritando e correndo com Anne atrás de mim tentando me pegar quando olhei para a rua e vi Ethan voltando da escola acompanhado pela prima de Tom, Maggie. Ela morava duas ruas após a nossa, ia fazer 16 anos no próximo mês, e meu Deus, ela era tão chata. Sempre ficava soltando risadinhas quando Ethan estava por perto e sendo gentil, mas quando ele não estava ela agia como se fosse dona da gente e só queria mandar Anne e eu fazermos um monte de coisas para ela. Ela achava que éramos empregadas, isso sim. Mamãe também tinha palavras feias para mulheres que ela não gostava, mas eram grandes demais para eu aprender.Apesar de tudo Maggie e Ethan pareciam ter se dado bem. Olhei para onde eles tinham parado em frente a casa dele, sentados nos degraus da porta conversando.Ele não nos viu, estava gargalhando com a garota. Anne automaticamente se escondeu ao máximo para espionar que nem eu. Estreitei meus olhos, isso estava esquisito... Ethan ria baixinho, mas nunca, nunca gargalhava.Eles continuaram conversando até que em um momento Maggie pôs a mão na coxa de Ethan e ele congelou. Arregalei meus olhos para aquilo. Parecia tão... íntimo. Ela se aproximou e deu um beijo nele.Ele pareceu chocado inicialmente mas depois de um tempo ele continuou e apoiou a mão no ombro dela. Como se não soubesse direito onde pôr a mão.Eu nunca vi Ethan beijar alguém, mesmo ele sendo o mais velho de nós.Foi estranho e meio nojento.Maggie se distanciou depois de um tempo, deu uma das suas risadinhas, disse tchau e saiu correndo. Ethan apenas ficou encarando tudo meio desligado.Desci da casa da árvore curiosa e com Anne seguindo logo atrás. Chamei a atenção de Ethan antes mesmo que ele me percebesse.- Desde quando você tem uma namorada? - Perguntei. Ele deu um salto de onde estava ficando de pé.- O quê? Como você... - Ele olhou em volta confuso - Você estava me espionando? - Perguntou soando bravo.Por que ele ficou bravo? Era ele quem estava beijando para qualquer um ver, não era exatamente um segredo, né?- Você beija alguém na frente de casa, de dia e espera que ninguém veja, gênio?Ethan aparentemente se cansou daquela conversa. Suspirando, ele se abaixou na minha altura e olhando fundo nos meus olhos disse:- Isso não é assunto pra criança, Sofia -Agora quem se irritou fui eu.Senti minhas bochechas esquentarem e podia jurar que vi fumacinha saindo das minhas orelhas tamanha fúria que senti.Ele nunca falou assim comigo. Lágrimas subiram aos meus olhos. Ethan me achava uma criança e tudo bem eu era, mas ele nunca me tratou como uma antes. Mesmo quando eu agia como uma perfeita pirralha, ele ria e entrava na onda.Me senti muito triste de repente.- Então tá - Respondi com toda a raiva que cabia em uma palavra.Já que pra ele eu era uma criança iria me comportar como uma. Dei um chute na sua perna com toda a minha força e saí correndo dali. Ouvi Ethan gemer mas nem olhei para trás. Quem liga pra ele?Só chorei quando cheguei no meu quarto. Anne entrou logo depois.- Por que você tá chorando, foi só um beijo e daí? - Ela perguntou.Não estava chorando pelo beijo.É só que ele era o Ethan. Ele sempre era legal comigo e hoje ele não foi. E eu sabia que aquela garota tinha alguma coisa a ver com isso.- Ann você não entende? E se fosse o Tom? Vocês são amigos, e se ele ficasse bravo com você por nada? - perguntei tentando fazê-la entender.Anne pareceu entender. Eu sabia que com Tom era diferente pra ela. Eles eram como unha e carne, as vezes eu sentia ciúme de como eles eram. Acho que eu era meio possessiva com meus amigos.- É, eu não ia gostar - Respondeu Anne.Ficamos ali até nos distrairmos com um filme.Quando escureceu eu fui na casa da árvore buscar minha boneca que tinha esquecido e vi Ethan sentado novamente no degrau, ele parecia querer falar comigo, até se levantou, mas o que quer que fosse que ele ia fazer eu não vi por que logo em seguida senti mãos tapando meus olhos.- Adivinha quem é, pirralha - ouvi uma voz brincalhona e inconfundível. Lógico que eu sabia quem era.- Nick! - gritei animada tirando sua mão e me virando pra abraçá-lo, Nick riu da minha empolgação.Quando olhei de volta para a casa de Ethan ele não estava mais lá. E com o passar do tempo, esteve cada vez menos.Sofia Adams - Março, 2012Anne entrou no meu apartamento horrorizada com meu estado. Eu estava bêbada. De novo. Céline Dion tocava ao fundo a música do Titanic e eu com uma garrafa na mão gritava a plenos pulmões enquanto dançava com minha garrafa me sentindo a própria Rose dona da porra do mundo. - NEAR, FAR, WHEREVER YOU ARE I BELIEVE THAT THE HEART DOES GO ON - (Perto, longe, onde quer que você estejaCreio que o coração segue em frente)- Mas o quê? - Anne estava dividida entre estar assustada e confusa e então seus olhos caíram para as minhas roupas. Eu usava uma camiseta social preta grande demais para ser minha, uma cueca samba canção e um suspensório. - São dele? - Ela perguntou cautelosamente, mas ela sabia a resposta. Eram dele. Eu estava arrumando minhas malas quando as encontrei enterrada em uma montanha de roupas minhas. Peguei cuidadosamente em choque inundada pelo turbilhão de lembranças que aquilo me trouxe. Eu sabia que não deveria cheirar. Mas cheirei e então
Sofia Adams - Março, 2012Eu odiava aviões. Tinha um pavor tão grande que não cabia em mim. Mas aqui estava eu, enfurnada em um prestes a decolar em direção a Las Vegas. Para minha sorte seriam poucas horas de vôo.Eu podia aguentar, certo? Ouvi as turbinas começarem a ganhar força e o avião tremer se preparando para levantar vôo. Deus do céu, alguém me tira daqui! Respirei fundo e apertei a mão de Anne que estava do meu lado e ela sorriu para mim. Tom ao seu lado dormia profundamente e não tinha nem 5 minutos que embarcamos. Como ele conseguia? Anne, prática como sempre, cuidou para que ficássemos com as poltronas do meio do avião, dessa forma sentaríamos os três sem precisar nos separar. Agradeci internamente por isso, se eu estivesse sozinha em um avião já teria pirado há muito tempo e tentado sair nem que fosse pela descarga. Comecei a pensar em nossa primeira viagem a Vegas na tentativa de me distrair do pânico crescente na boca do meu estômago. Graças a Deus foi uma viage
Sofia Adams – Março, 2012Era engraçado como em qualquer lugar que fosse eu soubesse encontrar o caminho do álcool como ninguém. Acho que meu corpo farejava a bebida, como um super poder. Eu era a Super Bêbada. Credo, acho que já estava surtindo efeito. Olhei para o lado e vi um cabelo loiro muito familiar, aparentemente Anne farejava o cheiro da diversão só para poder interromper. Ela era a Super Certinha. - Meio cedo para beber, não acha? - Perguntou Anne sentando ao meu lado no bar. - Meio cedo para sermão, não acha? - Devolvi e em seguida tomei mais um gole do meu copo. Anne comportada como sempre pediu um suco de laranja. - Soso, são onze e meia da manhã, o que você está fazendo? - Perguntou.Suspirei. - Eu tive um pesadelo. Esse lugar traz lembranças demais - Sussurrei esfregando meus braços. Dizer as palavras em voz alta só tornava tudo mais real. Após um minuto de silêncio em que Anne olhou atentamente para os vergões em minha pele, ela se manifestou.- Entendo - Respon
Sofia Adams – Março 2012Ele estava aqui. Pisquei atordoada, tomada pelo choque. Era ele bem aqui, na minha frente me olhando com olhos misteriosos e questionadores. Anos atrás eu poderia dizer exatamente o que ele estava pensando pela suave curva do seu lábio ou pelo leve cerrar de seus olhos. Mas não hoje. Ele se tornou um estranho para mim. Tudo nele estava diferente. Lembro que adorava vestir camisas xadrez de flanela, dizia ser confortável e com seus cabelos mais longos eu costumava o chamar lenhador, combinava com ele. Encarei seu terno formal, seu cabelo curto e perfeitamente cortado e seus sapatos italianos. Sua postura era cansada, como se carregasse muito peso todos os dias. Sua voz era fria e seus olhos... Seus olhos não tinham mais calor. Então era nisso que ele havia se tornado? Eu não podia continuar olhando para ele, não depois de tudo o que aconteceu. - Você tem alguma coisa a ver com isso? - Exigi de Anne para evitá-lo ao máximo. Ela parecia tão surpresa quanto
Ethan Hernandez – Julho, 2003Era o aniversário de 16 anos de Sofia. Ela estava tão linda que eu não conseguia fazer nada além de olhar para ela. Eu me afastei da faculdade esse final de semana apenas para a sua festa. Qualquer outra garota estaria usando um vestido de princesa em sua festa de debutante. Mas não minha pequeña. Não, ela não. Sofia usava um vestido que ao invés de fazê-la parecer uma princesa fazia com que parecesse uma rainha. Era fluído e abraçava seu corpo que estava florescendo e aparecendo. Sofia deixou seu cabelo crescer desde que cortou a última vez com 12 anos em uma moda punk esquisita, agora eram longos, espessos e selvagens. E eu não conseguia parar de pensar como seriam passar meus dedos nele. Sofia estava crescendo e se tornando a mulher mais bonita que já vi. E eu não era o único a notar. Ultimamente Nick só sabia falar dela o tempo todo, acho que eu e meu melhor amigo estávamos apaixonados pela mesma garota. E isso me deixava triste. Seja lá com que
Sofia Adams – Março 2012Eu estava tomando um café com Anne e Tom em uma cafeteria na esquina do hotel. Desde que eu soube que o próprio demônio estava lá, evitava ao máximo estar também. - E então, como você tem lidado com tudo? - Perguntou Anne, preocupada como sempre. Fiz a desentendida. - Com tudo quê? Eu tô ótima, para qual boate vamos hoje? - Perguntei sorrindo falsamente. Anne suspirou. - Okay, Anne não quer te empurrar, mas eu não ligo, que porra foi aquela com o Hernandez no saguão? - Perguntou Tom. - Anne me disse que vocês tiveram uma espécie de briga anos atrás e ele meio que abandonou a gente todos esse anos, eu mesmo daria um soco nele se Anne deixasse, mas caramba, você parecia prestes a matar o cara a paulada. - - Sorte dele que não matei. – Falei baixo bem no momento em que um carro buzinava sem parar do outro lado da rua.Tom ainda esperava uma resposta e dessa vez quem suspirou fui eu. - Ele não estava lá Tom, não estava. Nós precisávamos dele... Eu precisava.
Ethan Hernandez – Março, 2012Olho para a chuva da janela do meu quarto com o pensamento longe. Estava pensando nela. Sempre foi ela.Todos os anos em que voltava para casa eu encontrava uma Sofia diferente. Vi quando ela era uma criança pestinha que sempre estava metida em confusão e eu tomava para mim a responsabilidade de assumir sua bagunça. Vi quando ela cresceu e se tornou uma adolescente rebelde me usando de escada para fugir pela janela do quarto. Eu sabia que ela fugiria de qualquer forma, eu só ajudava para ela não terminar torcendo um pé na tentativa de fugir dos pais para alguma festa. E então, eu a vi se tornar uma mulher. E essa foi a transformação mais difícil, pois nessa eu não pude estar ao seu lado. Tive que assistir de longe enquanto ela caminhava para a vida adulta sem mim.Encosto minha cabeça no vidro e fecho os olhos lembrando de quando a vi de novo após todos esses anos. Se a Sofia de 18 anos já me atormentava, essa Sofia de 25 era para acabar comigo definitivam
Ethan Hernandez - Dezembro, 2005Sofia e eu nos beijamos na fonte duas horas atrás e eu estava na minha cama, de banho tomado ansioso demais para conseguir dormir. Na próxima vez que conversássemos eu iria me declarar. Iria dizer a ela tudo sobre meus sentimentos. Ela tinha 18 anos agora, não havia mais nada de errado no que eu sentia, e se ela quisesse, eu a pediria para ser minha namorada. Infernos, eu me via casando com aquela garota. Ouvi batidas na porta e imaginei ser a bunda bêbada de Nick vindo me perturbar. Ele era um grande chorão quando bebia. Abri a porta e me surpreendi ao ver Sofia de pijama e cabelo molhado parecendo envergonhada. Arqueei uma sobrancelha sabendo o quanto aquele gesto a irritava. - Eu não consegui dormir. - Disse ela sem graça. Sorri com aquilo. Abri a porta dando espaço para ela entrar. Sofia se acomodou na minha cama entre os lençóis de pernas cruzadas e puxou o travesseiro para o rosto. Ela estava o cheirando?Sofia pareceu perceber que eu a observ